novembro 28, 2013

O que sabia Cristóvão Colombo sobre o Novo Mundo ? I



Cavaleiro do Corvo, esboço: Duarte d'Armas

 Quando o comandante que ficou para a posteridade sob a designação de Cristóvão Colombo regressou da “descoberta” do continente Americano, fê-lo passando pelas Ilhas dos Açores.  Embora os dados sobre a sua localização que constavam nos documentos Espanhóis fossem imprecisos e Cristóvão Colombo estivesse ao serviço da Coroa Espanhola, ele conhecia com exactidão, não só as ilhas sob administração de Portugal, mas todos os fenómenos naturais que as caracterizavam assim como as envolvências técnicas respeitantes à navegação tendo as ilhas como referência. A mais de cem milhas marítimas para Oeste das Ilhas, determinadas particularidades sobre correntes marítimas, ventos dominantes, percurso migratório de aves e alterações na textura da superfície oceânica e que serviram de referência para as ordens dadas no contexto da navegação, revelam alguém com um conhecimento extraordinário, mais ainda tratando-se como se tem feito acreditar durante os últimos cinco séculos, de um estrangeiro que por razões ainda mais extraordinárias teria passado da natural desconfiança inicial para o estrito círculo de confiança intima na corte, atingindo o estatuto de “especial amigo” do rei D. João II.
Não obstante esta proximidade, e a mais do que conhecida forma impiedosa como o monarca tratava os traidores fossem eles quem fossem, Cristóvão Colombo, certamente tornado “persona non grata” regressou da sua viagem inicial, passou pelos Açores e atravessando uma intempérie da qual poderia ter-se esquivado sem problemas rumo a Espanha - os patrocinadores da viagem-, aportou em Odemira a partir de onde se dirigiu às altas instâncias do Reino de Portugal.
Das conversas tidas nada se dirá, por ora, nem da polémica em aberto sobre a nacionalidade do descobridor da América.
Outrossim são os conjuntos de factos quase ignorados, meras curiosidades à margem, mas que progressivamente, e perante novas descobertas, abandonam esse registo. A História tende a ser vista como o relato do imutável, do Passado, da estrada viajada e que por esse motivo permanece igual uma vez percorrida. Uma referência fixa e cómoda arrumação do suporte do Presente, muitas vezes obedecendo mais a interesses do que aos factos, e por isso mesmo passível do mesmo sentimento de desconforto sempre que -tal como os solos Açorianos- nela se mexe. 
A referência a estas ilhas não é meramente metafórica mas fundamental no contexto do conjuntos de posts a colocar.
Tem sido aceite a ideia de que estas ilhas seriam desabitadas e virgens no que à ocupação humana diz respeito.
Contudo, quando os Portugueses chegaram à ilha Açoriana a que chamaram Ilha do Marco, actualmente Ilha do Corvo, deram com uma coisa extraordinária. Encontrada no Noroeste da ilha, uma estátua de um cavaleiro apresentava traços característicos dos habitantes de Norte de África. Este facto, normalmente não referido nos relatos Históricos oficiais tem uma fonte irrefutável. Damião de Góis descreve esta descoberta, "uma antiqualha mui notável", na sua Crónica de Príncipe João (cap. IX) e as circunstâncias em que se teria dado a descoberta. Feita de uma só peça talhada na pedra e fixa assim rigidamente ao seu suporte, o cavaleiro apoiava uma mão na sua montada enquanto a outra livre apontava a poente. Da estátua mais nada se sabe excepto as ordens que o Rei teria dado para a seu transporte cuidadoso para o continente. Contudo, uma vez libertada a estátua do seu suporte, apenas alguns bocados foram trazidos para a corte. Se por efeito de intempérie como se escusaram os artífices contratados, se por inépcia destes, apenas a suspeita permanece.  Os relatos dão conta da sua guarda, nada menos do que pelo próprio rei nos seus aposentos durante algum tempo mas tendo-se perdido o rasto, o seu paradeiro é actualmente desconhecido
O facto desta descoberta é só por si extraordinário e passível de re-escrever toda a História, mas um outro ainda mais surpreendente vem a juntar-se lhe. No Sec. XVIII, um pote com moedas Fenícias datadas de 340 a 320 A.C. foi achado numas ruínas. Já antes durante o Sec. XVI, viajantes não Portugueses teriam dado conta de umas inscrições no interior de umas grutas de S. Miguel e que pareciam ser de origem Fenícia
Estes relatos sobre uma suposta ocupação Fenícia foram reforçados pela descoberta em 1976 de um amuleto com inscrições de Fenício tardio, e que os estudiosos classificam serem o período que vai entre os Séc. VI e IX, já na Era Cristã. Estes factos só por si indicam que as ilhas eram conhecidas e visitadas desde há milénios, facto confirmado desde 2011 dada a descoberta de dezenas de estruturas de planta uterina cavadas na rocha das ilhas do Corvo e da Terceira. Semelhantes às usadas nas margens orientais do Mediterrâneo nas culturas Gregas e Cartaginesas como sepulturas, são estes vestígios de necrópoles assim a prova cabal da ocupação humana muito antes da descoberta oficial dos Portugueses.
uma das pirâmides do Pico com câmaras interiores reveladoras
A juntar a isto, na Ilha do Pico, foi dado o enfoque estudioso a uma quantidade de pequenas pirâmides – cento e quarenta-  perfeitamente alinhadas segundo padrões geométricos. Embora nunca tivessem passado despercebidas, a sua existência era simplesmente atribuída a amontoamento de pedras derivado da limpeza dos terrenos para efeitos agrícolas, os chamados “maroiços”. Os estudos recente realizados nas câmaras descobertas nos seus interiores, abriu contudo mais uma frente sobre o quase desconhecimento da verdade Histórica que urge ser re-escrita. Os Açores eram confirmadamente conhecidos e habitados desde a Antiguidade.
Assim sendo, e dada a imensidão dos oceanos e dos temores ao desconhecido povoado de lendas e mitos e perante a pequenez dos navios e dos meios técnicos, é lícito colocar uma quantidade de perguntas.
Se é praticamente confirmada a tese de que as ilhas eram conhecidas e habitadas por Fenícios, qual teria sido a razão pela qual as ilhas foram abandonadas?
Como é que teriam lá chegado? Que conhecimentos teriam os Fenícios? Teriam ficado pelos Açores ou até onde foram? E sendo assim, que papéis desempenhariam as ilhas? Por outro lado, teriam sido os primeiros ou teria havido visitas por outros povos anteriores a eles? E os Portugueses? Teriam descoberto os Açores por mero acaso, derivado da necessidade de navegar para Oeste de forma a ultrapassar a temível armadilha dos ventos do Equador que empurravam os navios rumo aos rochedos junto às costas de África? Ou será que se confirma estarem na posse de conhecimentos privilegiados e guardados cuidadosamente em segredo durante séculos?
E Cristóvão Colombo? Quem é de facto esta fabulosa personagem?


13 comentários:

  1. Existem teorias mais ou menos rocambolescas sobre as ditas pirâmides dos Açores que se equiparam às pirâmides das Canárias, onde até foi criado um parque temático dedicado a elas. No entanto, escavações realizadas nestas últimas comprovaram que se trata de construções do séc. XVII/XVIII. Onde é que posso encontrar dados sobre o estudo referido no texto?

    Sobre esta teoria, sobre a qual já li/vi muita coisa, há determinadas questões que subsistem nomeadamente: o "debuxador" Duarte d'Armas viu mesmo a estátua ou fez o desenho baseado em descrições? Damião de Góis viu mesmo a estátua ou reproduziu relatos?

    Já sobre o amuleto com inscrições em fenício tardio, como é que chegaram à conclusão que se tratava de um artefacto dos séculos VI ao IX da nossa era e onde pára esse amuleto?

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  2. O professor Félix Rodrigues, catedrático nos Açores tem estudado - tanto ele como outros- profundamente o tema, e as descobertas ainda estão no principio.
    Além de Damião de Góis o padre Gaspar Frutuoso, Açoreano escreveu sobre as inscrições que estavam na base da estátua entretanto desmontada e desaparecida.
    As moedas foram descobertas em 1790 por um numismático sueco, Johan Podilyn que as descreveu em pormenor-
    Além destes há muitos mais a referir-se às inscrições na pedra e às tentativas para as copiar.
    Por outro lado existem uma quantidade considerável de estruturas cavadas na rocha, em tudo semelhantas às encontradas nas culturas do Este do Mediterrâneo e com orientações específicas destinadas a cultos religiosos e fúnebres.
    Seja como for, não pretendo mais do que ventilar e agitar a polémica.
    Obrigado pelo comentário. ;)

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  3. Eu sempre fui da opinião que a História tem a fascinante particularidade de ser tudo menos cristalizada e imutável mas encaro estes estudos e teorias com grande cautela, pelo menos até se apoiarem em provas materiais concretas. Confesso no entanto que gostaria imenso que isto se viesse a comprovar, mas...

    Não é impossível que se tenha chegado aos Açores antes dos portugueses mas mais depressa se chegaria à Madeira que aos Açores (via Canárias, que tiveram pelo menos presença cartaginesa e depois romana, crendo-se até que foram estes povos que para aí trouxeram os aborígenes que os espanhóis viriam a enfrentar quando decidiram ocupar o arquipélago).

    Acho estranho que outros historiadores/cronistas da época, radicados nos Açores não tenham feito referências a nenhuma antiguidade que aí se encontrasse. Poderia tratar-se de uma forma de valorizar os Açores e de tornar o arquipélago atractivo? É possível. Porque não até uma forma de diminuir o feito de Colombo em chegar ao Novo Mundo, alegando que não era o primeiro e havia até em território português um marco que indicava por onde se devia ir para lá chegar? É certo que não foi o primeiro, os vikings chegaram ao continente americano antes de Colombo mas fizeram-no "saltitando" de ilha para ilha, via Shetlands, Islândia e Gronelândia e usando embarcações mais bem preparadas para as águas mais exigentes do Atlântico.

    Convém também não esquecer que, a partir do século XVIII, época da referida descoberta das moedas, se começou a viver uma febre de materialização da mitologia clássica com a associação desta a locais concretos, e quando não havia elementos físicos, inventavam-se. Recordo um enorme altar com uma inscrição latina, descoberto em Portugal e supostamente de época romana, que referia a gratidão de um soldado romano para com um lusitano que o acolheu e curou, após ter sido ferido numa batalha entre os dois povos. Afinal era uma falsificação e destinava-se a elevar o mito de Viriato e dos indómitos lusitanos. Esse altar existe ainda e creio que está exposto num museu. Depois posso confirmar. As moedas fenícias dos Açores poderiam muito bem enquadrar-se nessa vaga e até nem terem provindo dos Açores.

    Quanto às estruturas cavadas na rocha, conheço uma na Gardunha que me lembra as câmaras funerárias púnicas mas que na verdade foi uma residência escavada por um ermitão em época moderna, quando no local existia uma ermida cujas ruínas ainda hoje lá se encontram.

    Seja como for, e enquanto não temos provas arqueológicas a corroborar ou desmentir factos, temos aqui uma bela discussão em perspectiva.

    Venha de lá o 2º artigo! Abraço.

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  4. Pelas terras do Alentejo, mais concretamente em Baleizão, existiu um artífice perito em produzir vestígios da época romana. De tal forma bem feitos que conseguiram enganar durante mais de dez anos diversos peritos. Desmascarado continuou a fazer o mesmo tipo de trabalhos mas desta feita por encomenda tanto de peritos como de particulares. Desta feita assumidamente réplicas, que assim sob esse estatuto não ofendem a verdade histórica e até constituem elementos de divulgação.
    O fascinante é sempre a procura e o debate, o confronto e o apuramento do caminho para a verdade dê ela as voltas que der.
    Como o outro dizia:; não me interessa quem tem razão, quero é discutir. Ou seja, colocar questões- E é sob este lema que irei colocar os posts.. ;)

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  5. E há aquele preceito de grande impacto na História que sói caracterizar-se como uma espécie de imprecação: «- ai dos vencidos!».

    A lógica do vencedor - seja ele qual for - tende a adulterar a objectiva realidade, se me permitem a redundância.

    Na verdade, navegando entre ventos e marés de conveniência pontual, quantas «verdades» se sedimentam na mentira conveniente? Vejam que o Colombo, até para o «ensino oficial português», continua a ser apresentado como um vendedor de tapetes genovês, coisa que o homem nunca terá sido, como parece estar provado e comprovado à saciedade. No entanto, prevalece este mito, sem consistência de qualquer ordem, mas tão só porque alguns iluminados apostaram nesse cavalo e não querem dar o braço a torcer. E a máquina ronceira do estado permite que o estado assim permaneça.

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    1. Genovês, catalão, ... Era interessante trazer o Laranjeira para esta discussão. Ele defende a tese que Colombo era português e até faz algum sentido. Se era agente de D.João II ou um cidadão despeitado que foi procurar emprego a outras paragens (já nessa altura) permanece a dúvida. :)

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  6. Tenho o livro dele ( do Pedro Laranjeira) e é uma obra importante neste contexto

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  7. Ora bem, o título "O que sabia Cristóvão Colombo sobre o Novo Mundo?" tornar-se-à extremamente esclarecedor se tomarmos em atenção a história dos Mapas de Piri Reis, que publico em http://lucianodasilva.com/colon/colon_pedro_laranjeira.html

    Vejamos:
    Piri Reis era um Almirante otomano que viveu entre 1465 e 1554, de seu nome Hadji Muhammad.
    É autor de um Mapa-Mundi que fez em 1513, onde incluiu descobertas de Colon, que citava frequentemente. Esse mapa encontra-se actualmente no Palácio de Topkapi, em Instambul, Turquia e ficou conhecido como "O Mapa de Piri Reis".
    Hadji Muhammad era descendente de Kamal Reis, outro Almirante turco, lutou e venceu no Mediterrâneo e na costa ocidental de África as marinhas espanhola, veneziana e genovesa, acabando por ser derrotado pelos portugueses, o que lhe valeu ser mandado decapitar pelo Sultão.
    O que há, então, de curioso, sobre estes mapas?
    Foram trabalhos começados muito antes do mapa final em 1513, entre os quais o primeiro mapa que incluía as duas costas americanas, do sul e do norte, com exatas referências ao Brasil, que bebeu de navegações portuguesas feitas em segredo antes de 1500.
    Piri Reis conhecia a circunferência exata da terra e reproduziu-a com dados referentes à Antártida que datam de uma geografia existente 4000 anos antes de Cristo. Isto mostra que as suas fontes eram muito antigas, o que é comprovado por referências a dados do tempo de Alexandre o Grande (332 A.C.).
    Uma experiência curiosa aconteceu quando se tentou sobrepor a área do Mediterrâneo no mapa de Piri Reis com a de um mapa moderno: estava lá tudo, mas fora de sítio.
    Até que alguém se lembrou de sobrepor o mapa sobre a superfície de um globo: milagre,ficou tudo no sítio!
    Ora bem, chegaram até nós afirmações de que Cristóvão Colon estava na posse dos mapas do almirante turco, que terá sempre tido consigo e levado nas suas viagens. Será verdade?... Tudo o indica, pelo conhecimento exato que tinha dos mares por onde navegou.
    Assim, Churchill nunca teve razão ao alegar idiotamente que "Colombo não sabia para onde ia, nunca soube onde estava e tudo isto feito com o dinheiro dos contribuintes". Aliás, como o Tenente Coronel Brandão Ferreira tão humoristicamente costuma comentar, "Colombo sempre soube para onde ia, sempre soube onde estava e, se o fazia à custa do dinheiro do contribuinte, dado que o contribuinte era o espanhol... quanto mais melhor!"
    Portanto, a viagem de descoberta do Novo Mundo não foi uma aventura às cegas, foi um projeto baseado no melhor conhecimento que a ciência de então possuía.

    Portanto, que sabia Cristóvão Colon sobre o Novo Mundo?... eu diria: TUDO!

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