abril 15, 2014

O parapeito

Foto: Virgina Gálvez


Num parapeito faz-se a capital do mundo, o ponto de partida ou a meta de uma chegada. E tem sido assim…de partidas e chegadas e de momentos em que não pensamos em nada. Absolutamente nada. Pode parecer estranho mas é verdade que um parapeito não é uma coisa qualquer, é onde se deixa assentar um peito cheio de tudo, é onde se vê o cair da noite ou o romper do dia, é onde se ouvem e soltam vozes. Uma linha, uma dimensão que muda abruptamente e ali fica tantas vezes entre dois lugares, a realidade e o sonho, a linha onde se fita ou se finta a vida, num misto de equilíbrio e desafio entre os pés firmes e o abismo.

O parapeito que muitas vezes dividido mas poucas vezes partilhado, suporta esperas, esperanças, dúvidas, mas mantêm-se ali firme, robusto, e mesmo que pareça oferecer apenas um palmo, está ali como um verdadeiro amparo de peito.

Um lugar, um reduto, uma ilha que surgiu despontando réstia de destino como se toda a nossa vida tivesse acontecido para que aqueles momentos de partilha se proporcionassem.

E bebemos. E sorvemos tudo o que o destino nos quis dar.

Vi sempre um lado livre naquele parapeito, livre mas não desocupado, é como se estivesse reservado desde sempre, para suportar o peso de uma alma debruçada que procura forças para viver a luz dos dias.


4 comentários:

  1. No parapeito bate o coração extenso
    feito areal e espuma onde o infinito do olhar
    liga o céu ao mar

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  2. Madalena, bem hajas por usares este nosso cantinho como parapeito.

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