Um exercício que me parece democraticamente interessante, em período de «novo» ciclo governativo, havia de ser o levantamento dos bens patrimoniais dos elementos do elenco governativo cessante e correlativa comparação com esse mesmo património antes do nobre exercício de governação da coisa pública.
Dir-me-ão que não é bonita esta prática, porventura com laivos persecutórios e, sobretudo, de ética muito discutível, porquanto teria de ser levada a cabo pelo novo poder na governação ou, no mínimo, sob o seu alto patrocínio, o que, perante a evidência da «alternância democrática», levaria a que, frequentemente, os cessantes fossem escrutinados pelos mais recentes adversários.
Ora, com tais pruridos, estaremos apenas a contrariar a transparência democrática com os panos negros do preconceito, alimentando assim as mais vis suspeitas e, inquinando, outra vez, o regime.
Fartos que estamos de ouvir as queixas dos «pobres sacrificados» governantes que abrem mão, com notável espírito de sacrifício, das suas promissoras ou efectivas vidas privadas a bem dos superiores interesses da nação, e se articularmos esses lamentos com outra evidência consabida que é o relativamente baixo nível remuneratório de quem integra qualquer governo, estou em crer que o apuramento que aqui se propõe até deveria ser bem acolhido por cada cidadão honesto, desses tais que tanto se sacrificam pela coisa pública.
E seria bonito de ver, até, um adversário político no exercício do poder louvar e, mesmo, agraciar com eventual comenda aquele que, em boa verdade, viu o seu anterior património exaurido pelo exercício de governação do interesse público.
Agora, atenção a um elemento decisivo no apuramento a fazer: ele teria de ser extensivo a familiares próximos do círculo de gravitação de cada um dos envolvidos…
E isto porque as malhas que o império tece são, geralmente, muito mais entretecidas do que à primeira vista se vislumbra.
Perguntar-me-ão a que propósito vem isto num momento em que o País tanto se aflige com problemas tão momentosos e complexos.
Ora, muito bem, exactamente porque esses problemas advêm do facto de que aquilo com que se compram melões andar de paradeiro incerto, mas que se presume que deve andar «por aí»…
E, em maledicência pura e dura, remato com a circunstância que me suscitou esta reflexão:
- muito estranho que alguém que acabou de ser despedido, ainda que com justa causa, e sem que se lhe conheça actividade produtiva consistente nos anuncie, de sorriso alvar, que agora sim vai ser feliz. Como? Com o subsídio de desemprego ou a vender fatos de alta costura em segunda mão na Feira da Ladra…?
Receio bem que não seja esse o motivo de tal contentamento e felicidade. Mas se todos temos de pagar os desmandos de alguns, porque não haverão alguns de ter de prestar as contas que (quase) todos prestam?
O absurdo disto tudo é que exigir isto de que falas é visto por muitos como sendo absurdo.
ResponderEliminarHá por aí tantos telhados de vidro...
Exactamente! É que se se começa a puxar a corda podem começar a vir à tona os amigos, os amigos dos amigos, os correligionários, os supostos «adversários políticos», os primos, os afilhados... e tudo agarradinho à mesma corda de interesses. Por isso, há que dizer que a coisa é feia e nem é própria de um sistema democrático... deles, claro.
ResponderEliminarPobres, sabes? O que nós somos é pobres, principalmente de espírito...
E puseste poucos na lista. Só fizeste uma síntese sintética da sintetização.
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