junho 07, 2011

Reflexões pós-eleitorais – dos eleitores às sondagens

Tendo ainda bem presente o incontornável quantitativo de 41,1% de abstencionistas, neste mais recente processo eleitoral para a Assembleia Legislativa, quantitativo tão avassalador que retira, na minha mais do que modesta opinião, alguma legitimidade democrática, em sentido estrito, a qualquer força política que não tenha obtido votos de idêntica proporção, é com a maior perplexidade que ouço, da boca do primeiro magistrado da nação, Cavaco Silva, a emissão pública da sua própria dúvida relativamente aos números em presença.

Segundo ele, as listas de votantes, a nível nacional, carecem de expurgo de inúmeras situações obsoletas, adiantando que o número total de eleitores não deve exceder os oito milhões e quinhentos mil… ou por aí.

Ora, sabendo nós que os números «oficiais» apontam os nove milhões e quatrocentos-e-tal mil, estamos em presença da perturbante realidade de existir cerca de um milhão (!!!) de eleitores «desaparecidos em combate» e que se encontram a sobrecarregar indevidamente os cadernos eleitorais.

Esta ocorrência, a confirmar-se, subverte de forma dramática todas as contabilizações eleitorais a que vamos assistindo, bem como as decorrentes análises e, até, consequências políticas inerentes. Uma minudência de uns 15% de eleitores que não existem…

Percebe-se mal, de facto, ou não se percebe de todo o que se vai passando nesta terra, quando é o próprio Presidente da República que, com bonomia, o transmite informalmente à nação.

Não me parece curial, na verdade, esta queda para o vale-tudo, logo seguida do faz-de-conta em que somos useiros e vezeiros. Ainda se isto fosse um jardim ou parque de diversões infantis, vá que não vá… Mas, se o fosse, também o senhor Presidente não seria mais do que um mero animador de crianças, vulgo palhaço, o que – ainda estou em crer – não será o caso.

*

As sondagens! Essa coisa execrável que tomou conta de todas as televisões e demais órgãos de «informação»… Pessoalmente, se se desse essa temível ocorrência de eu ter poderes para tal, a sua divulgação pública seria liminarmente proibida e submetidos a pesadíssimas coimas todos aqueles que violassem essa proibição.

Na verdade, mesmo admitindo que elas tenham interesse para os diversos aparelhos partidários a fim de delinearem e adaptarem as respectivas campanhas; mesmo admitindo, ainda, a cientificidade na recolha de opiniões – que é profundamente discutível – a sua divulgação ANTES de as eleições terem lugar mais não são do que uma descarada acção de condicionamento de decisões individuais.

A sua divulgação mais não é do que tentativas – pelos vistos cada vez melhor sucedidas – de condução do rebanho que se quer que sejam os eleitores, criando «lógicas aritméticas» de onde o chamado voto útil, esse filho bastardo da democracia, se transforma em «príncipe primogénito», numa estapafúrdia ilação, a que todos podem rapidamente chegar, de que se são tão «certas» as sondagens, às duas por três, já nem será preciso votar…

Se isto não é uma depravação orwelliana, é o quê? Ou, colocado de outro modo, alguém me sabe explicar, nesta incomensurável burrice de que me sinto possuído, qual é o benefício que essa divulgação de resultados de sondagens pode trazer para o cidadão, contribuinte, eleitor?   

16 comentários:

  1. Benefícios? Respondo-te com o título de um álbum da Banda do Casaco, de 1975: «Dos benefícios dum vendido no reino dos bonifácios»

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  2. Venceu o candidato do 4º Poder... que até há uma semana não descolava do Socras...

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  3. As sondagens são apenas mais um mecanismo de controlo das massas.
    Sim, a expressão "massas" assume uma ambivalência manhosa neste contexto...

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  4. Quase me apetece dizer que se pedem meças às massas com missas que mal fazem mossas às moças e moços que se maçam e amassam...

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  5. Por acaso agora marchava uma massada...

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  6. Se há coisa que não me agrada nas "massas" é que me façam lembrar as "massas"... e enfia-las na panela... e cozinha-las e tal... é sempre um exercício metafórico pouco digestivo...

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  7. Ainda por cima em doses maciças!

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  8. abraço, meu caro

    parece ser aqui mais fácil comentar.

    no caso para concordar contigo...
    sem maçada!

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  9. Pois é, o sistema de comentários do Sete Mares é uma maçada...

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  10. Por isso ninguém comenta. Já andava deprimido... Tenho de ver o que passa com aquele maçador mecanismo googliano...

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  11. Como já te lá disse, se quiseres que te ajude a pôr aquilo com o sistema do Blogger, "diz põe".

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