Sejam que horas forem (exceptuando a manhã), estão ali.
Avisto-os aqui da secretária, se esticar o pescoço e olhar para a direita: são sempre entre dez e quinze, têm todos entre 16/17 e vinte e (muito) poucos anos, ar de gunas e nada que fazer. Passam infindáveis horas repartidos por dois dos bancos do enorme jardim à frente do meu prédio e vão repartindo o tempo entre o jogo da sueca, os cânticos que insultam um clube de futebol e muita cerveja. Quando partem, deixam vidros no chão e os bancos vazios: nunca vi mais ninguém ocupá-los.
Moram dois ou três quarteirões acima, num bairro (não no sentido portuense do termo, de bairro social, mas de bairro enquanto zona de uma localidade) que ali estava muitas décadas antes de estes prédios terem ocupado o lugar de campos de lavoura. São filhos de ninguém: desconhecem regras, horários ou a necessidade de fazer pela vida. São mal-educados, falam alto, sujam tudo mas fazem festas aos cães.
Um dia, pu-los em debandada porque deram pontapés num caixote do lixo até o fazer cair do poste onde ele estava agarrado (surpreendentemente, a vizinhança age como se eles fosse invisíveis e silenciosos, ignorando-os e passando ao largo); voltaram mais tarde, vi-os aqui da janela do escritório, para o pôr no sítio. Não sei se foram eles que me riscaram a porta do carro, mas tenho a certeza que lhes ganho o respeito de cada vez que passo rente ao grupo e não me importo que a Petra se aproxime.
Não gosto deles nem do barulho que fazem nem da indolência que personificam. Mas não posso deixar de me compadecer com o ar quase feliz com que vêem passar uma vida que não têm capacidade de agarrar. E, só por isso, quase me apetecia mandar deitar a Petra, sentar-me com eles, jogar uma cartada, partilhar uma mini e perceber como é que se acabou assim, sem sequer se ter começado.
Faz isso, Ana. Para todos aprendermos.
ResponderEliminar(E tinhas a cobertura de actos de vandalismo na apólice? Se fosses minha cliente a questão nem se colocava, claro...)
ResponderEliminarAprendi que em cada rato de esgoto há aquele resto daquilo que os homens deitam fora quando para trepar rumo ao sol sobem, empurram e pisam, o que todos chamamos de Humanidade...
ResponderEliminar(Não, Shark, não tinha. Vai daí, uso aquilo como uma marca de guerra, por um lado, e para dissuadir o obreiro a intentar novo ataque: pode ser que ache que me estou a borrifar e que não me afecta! :D)
ResponderEliminarCharlie - Nos ratos de esgoto, talvez; nos tubarões de mar alto, os tais que rumam ao sol, duvido...
Ó Shark, tu a seres amigo e a Ana manda-te para o mar alto!
ResponderEliminarJá não é a primeira vez, nem que por omissão...
ResponderEliminarMas eu, solidário, tenho por imperativo moral respeitar os maus feitios alheios.
:)
(E rendo-me sempre em respeito às poucas mulheres que me indiciam serem senhoras de si e por inerência capazes de discernirem na perfeição quem e o quê merece prender mais do que o estritamente necessário a sua quota de atenção.)
ResponderEliminarIsto é inédito, ver um tubarão a arrastar a asa :O)
ResponderEliminarOh minha gente, que festa é esta na minha ausência??? Então eu mandei o Shark para o mar alto como?: Shark é shark, tubarão é tubarão, não se baralhem!!! ;)
ResponderEliminarEu sou uma gaja de baralho.
ResponderEliminarTubaralhas-me!
ResponderEliminarSe balhar...
ResponderEliminarCum menus baralhu ja tinha papado um, ou çe calhari unsh doisótrês...tubarõeis e açim
ResponderEliminarÇeqahlare hè puriço qêlenâuvai!
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