Sou propenso à adopção de um Código Penal mais severo para os crimes que a todos enojam. Nisso, Lei alguma deveria contrariar a voz do povo a quem visa proteger . O que sentimos, o grau de repulsa, deveria determinar a medida da compensação que as punições representam, a par com a necessidade de preservar a sociedade de algumas aberrações que preferimos enclausuradas.
Contudo, e em perfeito antagonismo com o espírito da coisa acima descrito, tendo a dedicar alguma solidariedade para com aquele tipo de criminoso que em nada nos intimida porque não magoa seja quem for nem lesa os interesses de quem é mais vulnerável às perdas.
Mais concretamente, falando dos três piratas informáticos que foram agora presos acima de tudo pela ameaça que representam em termos de propagação do apelo à desobediência civil e de payback relativamente a grandes corporações e poderes políticos que cada vez mais percebemos estarem na origem de quase todos os males do mundo, não consigo sentir-me, enquanto cidadão, hostil a esses três marginais que o são (considerando as opções milionárias possíveis para gajos tão bons nisto da informática) por opção própria e porque acreditam que é preciso alguém tomar iniciativas para despertar as gentes da letargia que é o seu maior inimigo nesta guerra em que somos cada vez mais os perdedores.
Nesta perspectiva vejo os três homens agora apanhados como vítimas do desequilíbrio de forças que tentaram combater com a sua sabedoria num domínio onde se podem explorar as escassas vulnerabilidades do sistema montado para nos transformar a todos em escravos camuflados de uns quantos poderosos, como no passado aconteceu com diferentes contornos e protagonistas mas idênticas motivações.
São presos políticos aos meus olhos e não passam de vítimas, de prisioneiros de guerra num conflito para o qual ainda muitos não estão mobilizados porque não perceberam a dimensão do problema que nos afecta a (quase) todos por igual e que é a perda de controlo do sistema financeiro devido ao erro de construção de base do sistema capitalista que faz depender a respectiva sobrevivência de um ritmo de crescimento impossível de garantir sem perdas significativas de regalias por parte daqueles que o sustentam, a multidão dividida para que continuem a reinar os responsáveis por todos os excessos que nos ameaçam.
Não é de ideologias que se trata, mas da constatação óbvia da falência do modelo em que investimos a maior quota das nossas existências, afastados daqueles que mais amamos e daquilo que mais gostamos de fazer com o tempo curto de que dispomos.
É essa verdade que arrasta homens como aquele trio agora detido para uma luta que só assusta aqueles que julgam terem mais a perder e nos tratam a todos como crianças de colo incapazes de sobreviver sem os brinquedos que a máquina se esforça tanto para tornar indispensáveis nas nossas consciências moldadas de acordo com a voracidade mercantil.
É essa a realidade que me leva a criar empatia com estes zés do telhado a quem acredito que um dia, num futuro não muito distante, iremos homenagear como heróis de uma revolução que está a acontecer à revelia da esmagadora maioria daqueles a quem ela mais pode interessar e da qual ainda nem se deram conta.
É. A malta vai acordar morta...
ResponderEliminarE de marcador fluorescente em riste!
ResponderEliminar:)
Isso é obra do Paulo Moura. Eu sou mais hacker do marcador rosa.
ResponderEliminarEm rosa também deve ficar bonito.
ResponderEliminarNão achas que ficaria demasiado hackerosa?
ResponderEliminarNão estando eu muito «por dentro» do assunto referido, parece-me, em essência, estar completamente de acordo com as conclusões que o Shark tira das permissas enunciadas.
ResponderEliminarE, sim, são estes os novos perseguidos políticos por não perderem esse «mau feitio» de abanar as periclitantes estruturas existentes e tão malfazejas.
Os actuais incompreendidos pela sociedade por quem lutam... e que afinal tão mal os compreende, perdida que está na defesa insana do seu miserável prato de lentilhas.
Pois. É como dizia a Banda do Casaco: «Hoje há lentilhas, amanhã não sabemos»... ou seriam conquilhas?!
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