(HARMAN, Gilbert
- "Thinking", in SMITH, Edward E. and OSHERSON, Daniek N.
- An
Invitation to Cognitive Science, vol. 3, London, The MIT Press, 1995, p.
177)
Ou seja, partimos do princípio que o homem do
talho não nos vai envenenar a carne porque lhe apetece, que a cabeleireira não
vai usar máquina zero quando lhe pedimos para cortar as pontas, que o empregado
do restaurante não nos vai espetar a faca no bucho quando vem pôr a mesa, que os
amigos agirão sempre como tal, que no trânsito tudo fluirá normalmente, que a
colega não nos vai fazer a folha, que o fulano que está ao meu lado na aula de
pump não me vai dar com a barra na cabeça.
Porque é o racional a fazer, pensamos - mesmo que
nunca o tenhamos pensado, de facto. E o racional é sempre o que faríamos, se
estivéssemos no lugar do outro, pelo que inferimos (e trata-se de um salto sobre
um enorme abismo) que evidentemente que o outro o fará também.
(e depois admiram-se que eu seja a stressadinha
com angústias e reacções que [aparentemente] mais ninguém tem?! Experimente-se pensar a sério
nestas coisas e conclua-se [inevitavelmente] como a racionalidade não é necessária [no sentido de
dado adquirido] a ver se eu não pareço a mais calma das pessoas do
mundo...)
Se fosses uma pessoa franzina como eu, aprenderias desde a infância que racionalidade dos outros é aquilo com que menos deves contar.
ResponderEliminarAliás a racionalidade é um processo decorrente da compilação sucessiva de experiências, daí até à caverna de Platão vai apenas um passo de dança: podemos estar mesmo quase a pisar o pé de quem julgamos a anos luz de distância e descobrirmos ser nosso o pé que julgávamos distante.
ResponderEliminar-Há muitos aí dentro? - perguntava um louco agarrado no interior às grades do hospício ali a seguir a Entre-campos que agora vai ser qualquer coisa do finório, tipo condomínio ou coisa que valha.
Ele tinha razão, há cada vez mais dentro cá fora, por isso os que ainda não descobriram a loucura querem fechar-se fora, lá dentro...
Já não se sabe onde começam e acabam os hospícios.
EliminarNo ensaio sobre a lucidez, Saramago escreve genialmente como por ordem superior se coloca um gradeamento à volta da única parte de um território que está sadia.
EliminarLembro-me da emoção que de repente toma um inspector - infiltrado na cidade sitiada- quando este recebe uma ordem para se despachar rapidamente e por isso que fosse à casa de banho do comissário:
o agraciado corou de satisfação, a sua carreira tinha acabado de dar um grande passo em frente, ia mijar na retrete do chefe...
ahahahahahah
EliminarNesse caso concreto, a única parte do território que estava sadia era a casa de banho do comissário :O)
Não estaria a retrete contaminada com algo e o convite não seria mais do que procurar um experimentador incauto...?
EliminarOlha que é bem observado...
EliminarO que nos surpreende sempre é a irracionalidade alheia com que não esperávamos... e, se calhar, nunca deixou de andar por ali.
ResponderEliminarMas é muito melhor, Ó Ana e ó todos, que as coisas, uma vez por outra, decorram como esperado e, de súbito, tudo desponte: a Primavera, uma palpitação inesperada, uma quase-falta-de-ar apenas e só porque se nos depara a resposta que esperávamos
Dito dessa forma, não admira que quase-falte-o-ar...
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