setembro 15, 2012

A posta na prudência de activista de sofá


Perante a confrangedora falta de alternativas no panorama eleitoral, entre os partidos da coligação que nos governa, um maior partido da oposição com o menor líder da mesma e conotado com o descarrilar das contas, um PC à antiga portuguesa a quem só falta a clandestinidade para estar verdadeiramente na sua praia (a praia de há umas décadas valentes atrás) e um syriza light com um líder de saída e dois por entrar, a pessoa acumula a vontade de gritar bem alto o protesto com a impotência inerente à ausência de propostas alternativas credíveis.
E é assim que se fica sem saber o que fazer perante uma manif como a de hoje.

O dilema é óbvio: se não faltam pretextos para irmos para a rua gritar, sobejam as ausências de soluções, de hipóteses alternativas ao que se quer combater. A estratégia de ir derrubando governos e depois logo se vê é arriscada, porque a instabilidade política é terreno fértil para o caos, além de ser inócua em termos de resultados práticos.
O protesto é necessário e entendi o impulso dos que contribuíram nas ruas para o derrube de Sócrates. Contudo, comparando uma e outra iniciativas, se entendo ainda melhor o impulso dos promotores do Que Se Lixe a Troikacompreendo ainda menos os seus objectivos e ambições.

Uma manif é sempre um sinal de pujança democrática, se há povo nas ruas é porque existe liberdade e existe força para lutar contra o que esteja mal e precise mudar, sobretudo quanto se trate de protestos pacíficos e com objectivos concretos em vista e alternativas para propor.
É neste último aspecto que a porca torce o rabo, pois começam a tornar-se numa moda (correndo a passos largos para a vulgarização) as manifes cheias de gente com vontade de demitir alguém mas vazias de gente com vontade de fazer ou de propor algo de melhor.
Para mim a questão coloca-se de forma simples: temos que pagar o que devemos e nos termos que nos impuserem. A alternativa, mais abébia menos abébia da troika, resume-se ao abandono do Euro e depois logo se vê.
Não vejo seja quem for a sugerir a alternativa mais radical, o papão do fim da classe média confortável a acobardar tudo e todos por falta de, lá está, um programa concreto de salvação nacional em tais circunstâncias, a saída voluntária (ou não) do Euro com todas as consequências que isso iria acarretar.

Não querer sair mas sem saber como ficar

Mas se a saída do Euro implica o pandemónio instalado no dia imediatamente a seguir à ocorrência, a permanência parece caminhar para o mesmo resultado mas com uma agonia mais prolongada no tempo. E parece-me ser essa percepção das coisas que mais gente levará às ruas no dia 15, a de que estamos todos a penar para chegarmos todos a lado algum. Ainda assim, se ninguém faz peito com o orgulhosamente sós e pelintras, também não vejo quem seja capaz de encimar a manif com uma proposta alternativa (a que passa por continuarmos no Euro e por isso pagarmos as dívidas nos termos dos credores) que garanta aquilo que o actual Executivo parece não lograr com as suas opções.
Temos pois mais um levantamento popular contra os que lá estão sem que alguém se preocupe com quem lá vamos meter depois, ou mesmo o Presidente da República por nós, caso a coisa até resulte na demissão do Governo.

É aqui que a lógica me trai na vontade, mesmo sem acesso ao Facebook onde agora tudo parece acontecer, de ajudar a engrossar fileiras. Não me revejo em iniciativas capazes de provocarem um efeito que ninguém pelo menos se afirme capaz de controlar, em climas de instabilidade política que ainda fragilizam mais as nações em aflição, como os exemplos grego e italiano tão bem ilustram.
Vejo imensa vontade de desfazer coisas, governos e assim. Mas não noto indícios de alguém saber como recompor as mesmas coisas depois.

E as lições da História, tão ignoradas, confirmam que são sempre uma péssima ideia os becos sem saída políticos quando se circula nas ruas da amargura financeira e social.

5 comentários:

  1. Mas esse cabrão não me faz falta alguma...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Como a mim. Por isso estou lá: porque posso sair em qualquer momento.

      Eliminar
  2. (não tenho vindo à NET ler e comentar os meus queridos co.bloguistas com imensa pena mas problemas familiares tem-me impedido, apresento desculpas...)

    Não é preciso sair do euro. Basta que tenhamos moeda própria a circular
    internamente a par do euro. É uma solução elegante e que evita o pior da austeridade que consiste em nivelar pela mesma moeda, um espaço económico comum com medidas politico-económicas desiguais de zona para zona.
    Ora para políticas desiguais num espaço comum, só funciona bem se houver moeda desigual. O resto é querer fazer a quadratura do círculo.
    A vantagem de uma moeda local é óptima para estimular o mercado interno, é uma medida poderosa para combater as importações de preços artificialmente baixos que vêm de mercados onde se faz o "dumping" social, ou o "dumping" por via de subsídios.
    Numa palavra: para o delírio da dupla de incompetentes de Passos e Gaspar, habilmente aproveitada pelo epifenómeno chico-espertismo chamado Relvas, que nos propõem vinte anos de miséria, há outra solução. A "TINA" não existe; there is another solution, e a solução, não vejo outra, é moeda própria com a politica cambial determinada pelos estados.
    Se calhar vou até fazer um post com esta ideia...

    ResponderEliminar