setembro 05, 2012

A posta que devia queimar-lhes a reputação


Foto: Shark


Portugal está de novo a arder, muitos hectares depois de muitos palpites acerca das causas e da forma de dar a volta ao problema. Ou seja, vários governantes e responsáveis da Protecção Civil enfrentaram a mesma coisa e a coisa ficou na mesma.
Arde tudo quanto resta para arder, excepto a carreira política ou outra de todos quantos deveriam, no mínimo, sofrer a consequência do descrédito que um fracasso destes acarreta para a credibilidade de todos os intervenientes.
Nem as medidas legislativas, nem o investimento em meios, nem qualquer das iniciativas tomadas obteve sucesso e qualquer devaneio nesse sentido está a arder todos os dias de norte a sul de Portugal que as ilhas também levaram que contar.

Para uns é a limpeza do mato, para outros é a política para as florestas, para outros ainda é a impunidade dos pirómanos. E ainda há os que se queixem da falta de meios, da própria (des)coordenação do comando das operações de combate aos incêndios.
Mas Portugal continua a arder, pessoas continuam a morrer ou a verem-se privadas dos seus bens e absolutamente ninguém vê sequer o prestígio abalado por tão óbvia inépcia.
Poucos países europeus arderam mais que o nosso nas últimas décadas e não vale a pena apontar o dedo a um clima nem mais quente nem menos húmido que o dos outros: a questão passa mesmo pela incompetência de todos quantos estão ou estiveram ligados às decisões nacionais nessa matéria.
E nessa como em muitas outras, o castigo pelo insucesso que possa abrir a pestana aos sucessores é nenhum. Nem criminal, nem político, nem mesmo em termos de progressão na carreira ao longo da qual podem repetir exibições de incapacidade.

Se nas finanças os erros podem em parte, e com alguma boa vontade, ser atenuados pelo pretexto do impacto da crise internacional, quando falamos de incêndios a coisa cheira a esturro sob qualquer ponto de vista.
A cada ano batem-se recordes e a paisagem muda de cor, tal como as vidas de muitos cidadãos apanhados pelas chamas que, na maioria, não nascem de combustão espontânea mas de asneiras imbecis, de actos criminosos sem um enquadramento penal proporcional aos danos causados e à ameaça sobre a vida de quem os tenta evitar ou da incúria que engloba a falta de actuação de quem para tal, supostamente, possui competências.
É triste, é revoltante, é insustentável, esta repetição do mesmo filme em cada Verão que cada novo responsável enfrenta sempre com aparente surpresa, mesmo quando a falta de empenho na prevenção se expõe à luz das labaredas que destroem um país e podem arrasar vários modos de vida.

Por isso este filme passado em sessões contínuas sempre que se reúnem os ingredientes essenciais para este permanente churrasco da Nação é um daqueles que todos sabemos e alguns na própria pele, enquanto não for levado a sério o problema jamais poderá ter um final.
E se esse vier a acontecer, depois de tanto arvoredo queimado jamais poderá ser um final feliz.

5 comentários:

  1. Isto sim que é de uma estupidez inacreditável: por que é que o sistema penal não põe- para começar- os incendiários a plantar os terrenos que queimaram? Porque é que nao se põe de algum modo o pessoal a limpar as matas? Longe de ser uma despesa é antes o recolher de milhares de toneladas e material combustível, uma riqueza que arde assim estupidamente sem deixar qualquer valor...
    Mas pronto, estamos na Era da estupidez....

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É uma Era que não deveria de ser com uma justiça idiota que preveligia o criminoso em vez de olhar para a vítima. Alguém em particular fica sem um bem económico que leva anos a fazer-se e todos nós ficamos sem o valor ecológico e ambiental que uma floresta representa. E perante isto, que é um crime gravíssimo, com inúmeras implicações laterais e sequëlas a longo prazo, os senhores doutores juízes aplicam a lei e dão umas penas que até dão pena. Tem que aplicá-la pois não se pode ira além dela, dizem. Mas essas leis são feitas por gente que está na assembleia, que são lestos a fazer leis por tudo e por nada e que parecem estar assobiar
      Que tal legislar e aplicar o que eu disse: penas pesadas e a re introdução de trabalhos forçados, podem até usar o eufemismo de trabalhos sociais ou outros que já se usam agora em certas condenações, por exempo no caso da condução sob o efeito de alcool. Uma apostinha em como depois de plantar quinze ou vinte anos o arvoredo que queimou, esse alguém nunca mais pega num fósforo nem que seja para acender o fogão.
      Há contudo excepções: conheci no decurso de um espectáculo em Pinheiro da Cruz em Grândola onde fui actuar, uma pessoa que estava detida todos os anos pela altura do verão. Um juizo local e muito bem, perante o sindroma psiquico de um indivíduo afável, não violento, prestável e educado, mas que tinha uma piromania incurável, decretou após e com base em peritagem médica a detenção preventiva do mesmo até ao fim da vida. Ou seja, quando se quer, há "buracos" na lei que podem ser preenchidos com montes de sabedoria, bom senso e boa vontade...

      Eliminar
    2. Custa-me a acreditar que tantos deputados estejam de tal forma alheios à população que representam, ao ponto de não recolherem os elementos necessários para legislarem de acordo com a sensibilidade daqueles que os elegeram, ainda que ponderados os factores que escapam ao cidadão comum na sede de justiça com alguma proporcionalidade relativamente aos crimes em causa.
      Ou seja, temos duas hipóteses: ou sabem e fazem de conta que não (por exemplo por terem outros ofícios em paralelo para lhes ocuparem o tempo e alterarem a definição de prioridades), ou não sabem e aí revelam um distanciamento do mundo real que deveria bastar para jamais voltarem a ser reeleitos para tal função.
      A terceira hipótese, que nem coloco no prato da balança por receio de que alguém me confirme o pressuposto, é o de que mesmo os deputados que têm consciência do que precisa ser feito acabam por amochar à agenda dos seus "superiores hierárquicos" e pactuam, cúmplices por omissão, com o "laisser faire, laisser passez" levado ao extremo da inércia.

      Eliminar