setembro 11, 2012

Na república da aldrabice

Não ruíram, hoje e até à hora em que se escrevinha este arrazoado, nenhumas torres por esse mundo fora, pelo que podemos imaginar que a coisa vai! Ninguém sabe para onde, mas vai. Em Portugal, país garganeiro e sempre dado a arroubos de originalidade, há um Verão tardio que incomoda, porque nos deixa a roupa colada ao corpo em pleno emprego, tal como se por nós passeasse manada babosa de caracóis. Eis notícias dos caracóis:

Nuno Crato veio dizer-nos que o rácio quantidade de professores/quantidade de alunos, em Portugal, está na média europeia. Mas não informou de qual era a média europeia de alunos por turma. Ora, imaginando que, em Portugal, muito indivíduo-professor, daqueles que Crato está a contabilizar, nunca terá visto uma turma de galfarros pela frente e anda, por aí, entretido com outras actividades extra ou circum-escolares, com o beneplácito dos mandantes, talvez se perceba de onde vem – a ser verdade, o que não é líquido – aquele aparente paradoxo… Claro que tudo isto se fundamenta num «supônhamos», tal como nos ensina o governo no que toca ao rigor da análise.

Paulo Portas, não desaparecido em combate mas muito arredio das lides domésticas, diz-nos e vangloria-se de que o fado, no Brasil, é o novo bandeirante de Portugal e o caminho certo para a descoberta de outros Brasis, eventualmente alimentados a pastel de Belém pelo ministro Álvaro. Mas a Cultura continua sem ministério e, pelos vistos, para este governo e para nós todos nem precisa, pois vamos vivendo muito bem sem isso. Já do País que é suposto sermos, já não estou tão certo… ainda que a ideia de podermos viver sem governo cada vez se me depara mais aliciante.

A oposição institucional ao PSD encontra-se dentro do próprio PSD e talvez também na Presidência da República que, como se sabe, também partilha a mesma «cor»… e só se opõe um bocadinho, para logo mais desistir. Virá um prof. Marcelo à Presidência? Cá fora apenas existem uma «vozes ao alto» e pouco mais… Seguro é inseguro, periclitante, mesmo, se não peripatético. O facebook assumiu-se como o muro de lamentações preferencial para o portuga verter as suas angústias – mas já lá tentei comprar um bitoque com batatas fritas e ovo a cavalo e não consegui; possível defeito meu. A UGT talvez denuncie agora o acordo em que se meteu, a bem (ou assim-assim) das classes trabalhadoras, e a CGTP organizará mais uns quantos passeios pela avenida, promovendo uma oposição sana em corpinho sano  

Relvas, o das licenciaturas prematuras, não se demite nem é removido, porque não lhe está a apetecer. Sócrates, também engenheiro de conveniência, lá está, filosofando tranquilamente em francês. Sucatas, freeports e bepêenes, singram no mar pasmo da intocável iniquidade. Gestores peritos em afundamento de empresas em tempo recorde medram e prosperam como escaravelhos bosteiros. E no pasa nada!

A preclara procuradora Cândida Almeida tranquiliza-nos definitivamente quando afirma que Portugal é um país onde é evidente que há corrupção – até o dizem insuspeitas instâncias internacionais e, se calhar, só por isso… -  mas onde não há corruptos, corruptores ou corrompidos. Será, pois, assim a modos que um estado metafísico de ente sem ser, que nos inunda de misticismo a caminho de um qualquer nirvana por esclarecer, mas absoluto por imperecível.

Um governo admoestado por um Tribunal Constitucional quanto à inconstitucionalidade de uma medida que tomou, borrifa-se na admoestação, dá a volta ao texto num esquema manhoso de ludíbrio da opinião pública, tipo chico-esperto e cheio de lata, anuncia-o a cinco minutos de um jogo de futebol da selecção nacional e avança para bingo é, necessariamente, um governo com tomates. Não terá mais nada e as eleições que se lixem, mas tem tomates. Suspeito que sejam pelados…

O esbulho ao cidadão, eivado e sustentado pela mais imbecil hipocrisia argumentativa, embate contra um povo aparentemente anestesiado. Será?

Mas que merda de país é este em que nos transformámos e que eu ajudei a criar para deixar aos nossos filhos?  

NOTA sem final à vista - com o devido respeito pelo estado democrático de direito em que é suposto vivermos, a questão que se me depara é a seguinte: perante um tão declarado e desbragado desrespeito à lei fundamental do País e Nação que somos, de que estará à espera Sua Excelência o Senhor Presidente da República Aníbal Cavaco Silva, superior garante da Constituição, para demitir este elenco governamental?

9 comentários:

  1. Estás à espera que o supremo magistrado da nação dê tau tau aos seus colegas e amigos?!

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  2. Sua Excelência tem uma entorse marcada para esse dia da demissão do Governo.

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    1. Achas que é uma deMissão Impossível?

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    2. Acho sim.
      É uma missão impossível.
      Por uma questão de coerência e sentido de classe.
      Fazem parte de uma tribo, instalada no olimpo, nada interresados em mudar para as cubatas no sopé.
      Eles mandam os outros mudar.
      O povo, os outros, os que não vivem no Olimpo, esses é que têm de mudar, comer menos, trabalhar mais, receber menos, descontar mais e principalmente, estar caladinhos e ser ordeiros. Mesmo quando os do Olimpo lhes exigem pagamentos em toada crescente, que a par da redução dos recebimentos, impossibilitam os pagamentos solicitados.
      Curiosamente, então, eles para resolver a gula, decretam ainda maior e mais pesada imposição de contributos, julgando - ninguém sabe por que artes mágicas- que os do sopé, com ainda menos rendimentos, conseguem pagar mais.
      Cavaco, relvas, coelhos, etc etc, são do mesmo DNA ou ADN, venha o diabo e escolha, Nunca irão derrubar ou comprometer o status dos outros deuses.

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    3. É no que dá aprenderem na escola o milagre da rainha santa...

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  3. Então vamos lá puxar por uns ensinamentos/conhecimentos que, em tempos que já lá vão, a malta (pelo menos, alguma) usava para caracterizar estes grupos. Estava-se em pleno PREC e os alinhamentos eram mais simples, é verdade. Mas, porventura, algumas coisas não terão mudado tanto.

    Ora, dizia-se então que o PPD, que veio a dar PSD, nas suas linhas mestras e gerais, era o representante de uma burguesia nacional, mais esclarecida e «progressista», em contraponto, por exemplo, com o CDS, mais «tradicionalista e reaccionário», testa de ferro da burguesia agrária e caceteira, sendo que ambos, cada um à sua maneira, olhavam para os interesses imperialistas (leia-se internacionais ou supranacionais) com um misto de avidez, cupidez e algum receio, até por terem a noção mínima de que, em face de grandes decisões, a opinião dos peões pouco ou nada conta.

    Claro que a roda do tempo andou e nada é como era dantes. Os «grandes interesses» transnacionais souberam adaptar-se ao terreno e, utilizando a técnica de distribuir os ovos por vários cestos, foram originando aquilo que vulgarmente se vai chamando o centrão, ou o arco do poder, ou o...

    Comportam, então, todos estes partidos os elementos necessários e suficientes para irem fazendo vingar, internamente, as teorias que lhes vão sendo úteis (às grandes multinacionais), para o que contam, aliás, com esses excelentes cestos abrangentes que são a obra e o avental, onde cabe tudo , desde que saiba «vir às boas».

    Entretanto, por estas e por outras e, fundamentalmente, pelo cruzamento de interesses, nem sempre coincidentes ou convergentes, momentos há em que as chamadas contradições saltam do seio destes senhores, deixando-os descompostos e com tudo ou quase tudo à vela.

    O que nos traz ao Aníbal, não o de Cartago e dos elefantes, mas o de Boliqueime, que pode até, em momento dado, ter algum acesso de zelo patrioteiro e lembrar-se dos pobrezinhos a quem dá esmola lá na rua dele, e achar que era melhor pensarmos um bocado sobre o assunto e... zás!, distrai-se e envia tudo para o Tribunal Constitucional. E talvez venha a ser este um caso interessante para seguirmos nalgum cinema perto de nós...

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    1. Tu vês muitos filmes de ficção científica...

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    2. Até não. Mas escrevi este comentário antes da Manuela Ferreira Leite dizer das suas... e parece-me que, para bom entendedor, ela não andará longe deste alinhamento, eventualmente anunciando o que Cavaco não pode fazer tão às claras.

      Está na hora de se arranjar um governo através de anúncio nos jornais, pago à hora e com metas a atingir. Vale?

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    3. Desde que não seja o Azevedo, Vale!

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