...Não queremos ser obrigados a aceitar o que achamos inaceitável. E se nos obrigarem, a centelha de Deus que há em cada um de nós, é capaz de não gostar…
Surgiu-me muito a propósito deste post, colocado com toda a
propriedade e sentido do oportuno, os considerandos que a seguir explano.
A ilustração que é repetida à direita no contexto da
mensagem sobreposta, constitui mais do que um escape brejeiro; é um afloramento
natural do mais profundo que existe no indivíduo perante a necessidade absoluta
do viver em comunidade. A pulsão da afirmação tendencialmente infinita do “eu”
versus a pressão de todos os outros “eus” que o rodeiam e que fazem parte do
seu grupo leva naturalmente à limitação da afirmação individual colectivamente
imposta.
Esta imposição colectiva não é porém equitativa, ou seja, os
direitos de afirmação não são iguais para todos e obedecem a escalas, a
hierarquias.
Nos tempos primitivos essas escalas eram impostas pela força
pura e simples, e progressivamente com o evoluir das sociedades, mais e mais
pela astúcia, pela sabedoria e pela experiência: um grande chefe guerreiro, já
idoso era capaz de impor-se aos mais jovens e por extensão a toda a comunidade,
pelas muitas batalhas vitoriosas ou caçadas proveitosas que se conseguiam sob
as suas ordens. O velho chefe não caçava, não lutava, mas a sua palavra era
determinante para o sucesso das operações e por isso, mais do que aceite pelos
seus, vista como vindo de algo superior e tendencialmente sobrenatural. O
património da memória de factos vividos em face aos que dessa memória não tem
experiência, conduz facilmente à efabulação. Sem que o velho guerreiro fizesse
fisicamente coisa alguma, a afirmação do seu Ser era positiva para toda a
sociedade. As oferendas e víveres em sinal de respeito, agradecimento ou
preventivamente como inspiradoras de bons augúrios estavam-lhe assim asseguradas.
Estava-se no início da divinização do poder.
Vemos em todas as culturas como isso aconteceu mais ou menos
de forma recorrente. Dos Faraós ao Rei-Sol das cortes Francesas pouca diferença
prática existe. A evolução a partir da tribo no sentido da complexidade social
necessária ao domínio de um grande território conduz a prazo à estrutura piramidal
do poder e quanto mais junto ao topo, mais perto dos deuses e mais longe da
base, do povo, se fica.
No antigo Egipto, a divinização dos Faraós era determinante
para a sua própria segurança. Tal como no feudalismo da Idade Média, o topo da
pirâmide era constantemente ameaçada pela cintura imediata das estruturas do
poder adjacentes. Se a distância de um poderoso em relação ao seu povo conduz
com alguma facilidade à mitificação, por outro lado, só o isolamento imposto a
partir do topo dá alguma segurança quanto à avidez dos que lhe estão mais
próximos. Os faraós eram deuses e a partir daí tudo era possível. As grandes
obras, certamente feitas com enormes sacrifícios individuais resultaram também
da entrega do individuo, da base, ao seu faraó, ao seu deus, que todos os anos
fazia a riqueza do vale do Nilo. O suporte mais poderoso na segurança dos Faraós,
sendo eles Deuses, era assim o imaginário do seu povo.
Mas o que acontecia quando os tempos corriam a desfavor? A
existência do chefe que já não aceita os víveres e oferendas, mas que as exige
independentemente do volume das caçadas ou das campanhas agrícolas? Um chefe que perde
a maior parte dos seus na estratégia de uma batalha? Um chefe que conduz o seu
povo, não à redenção mas à desgraça?
A História está repleta da essência da ilustração acima. Um chefe
pode não prestar para nada e muito naturalmente deixa de ser aceite pelos seus.
Mas o que acontece quando o chefe não tem qualidades de chefia e apesar disso
se quer impor ? O que se passa com o individuo que se endeusa aquando
do exercício do poder?
Muito naturalmente, a falta de astúcia conduz à regressão e
é o velho e eterno destronar violento que emerge. Faraós foram destronados e
assassinados. O mesmo aconteceu a Reis, Imperadores e em todas as eras. Na
corte Francesa rolaram literalmente cabeças. Nas sociedades modernas
civilizadas o derrube continua a ser violento o que não significa que tenha de
ir ao limite da violência primitiva e física, embora o poder assente
precisamente na imposição pela força física do acordo social.
Emerge assim a mensagem. Não queremos ser chefiados por quem
não nos dá benefícios através da sua chefia. Não queremos ser obrigados a
aceitar o que achamos inaceitável. E se nos obrigarem, a centelha de Deus que
há em cada um de nós, é capaz de não gostar…
Parece-me que estás arreliadito, Charlie...
ResponderEliminarE se tu estiveres contentesãozinha, és sádica...
ResponderEliminarOu masoquista...
EliminarSim, sim, Masoquices é contigo <:O)
ResponderEliminarMariquices com sofrimento?
EliminarTu lá sabes, menina... tu lá sabes ;(calhava bem um bonequinho do diabo agora, ou do anjo, que no fim é o mesmo)
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