outubro 05, 2013

Hoje, pós-eleições e de feriado roubado, acordei assim: caceteiro!
E viva a República!


Neste dia de encerramento do feriado do 5 de Outubro, sinto pena do povo português. Logo e como corolário, sinto pena de mim. Ora, porquê?

Nada de muito especial ou novo. Atente-se:

- José Luís Vaz, autarca de Sátão, que, por não ser Camões, pode abrir sem poesia os dois olhos para a vida e, principalmente, para a vidinha, atingido que foi o seu limite de mandatos, manda a mulher concorrer; o povo vota nele através dela; ela ganha e abdica em favor dele e o Luís Vaz que não é Camões, enquanto vice da mulher, assume de novo a presidência da autarquia. Elementar, meu caro Luís Vaz.

Não é ilegal? Não foi aqui contornada a lei com uma chiquelina indecente? Não é um expediente indigno, até pelo papel da mulher neste processo?
Ora, que se lixem as eleições e, por extensão, a democracia, já lá dizia o outro, e os bons exemplos vêm de cima, etc. e tal…

Se o povo de Sátão tivesse ainda a consciência, mesmo vaga, do que é um pingo da mais elementar dignidade ou decência teria zurzido o energúmeno espertalhóide por elementar falta de respeito ao povo e pespegado com ele e mai-la mulherzinha, cúmplice da palhaçada, no pelourinho da terra, exposto o seu opróbio à tomatada da populaça e tudo haveria de acabar em bem e num ambiente bem menos poluído para os lados de Sátão.

Mas não. Estão todos bem com as respectivas consciências, desde o voto à aceitação do caso e como burro velho não toma andadura, dificilmente se imaginará que alguma coisa boa nos venha de Sátão, pelas gerações mais próximas. Que isto pega-se, de pais para filhos…

Não será despiciendo apurar que este Luís, noutras carnaduras, foi professor. Pode imaginar-se o extraordinário magistério exercido durante o cargo e a passagem de testemunho de tão elevado exemplo de pendor cívico.

- Já no concelho de Portugal com mais licenciados e outras coisas ainda mais tremendas, Oeiras, um ex-presidente de Câmara, Isaltino Morais, a quem se pode admitir obra feita mas que só não se alcandora à postura de Marquês de Pombal do século XXI por vivermos em mal-amanhada república, actualmente condenado e preso por fraude fiscal ou lá pelo que muito bem seja, mas ainda assim condenado pelos Tribunais portugueses, ganha as eleições por Vistas entrepostas e recebe, ainda que da lonjura da sua cela prisional, uma manifestação de regozijo do povão, mal concluída que foi a contagem de votos.

Ora, as manifestações «espontâneas», sendo ilegais, não costumam ser objecto de cacetada policial? Lembram-se da recente marcha sobre a Ponte 25 de Abril? Vejam bem o que agora se perdeu…! Manifestação de apoio e regozijo a um preso condenado? Porquê? Deveria ter continuado a fazer aquilo que o fez condenar? E por alma de quem? A bem da nação? Ou da carteira dele e dos amigos? A alegada «obra feita» pode justificar o crime?

O povo não tem, necessariamente, pudor, já se sabe, até por ser entidade sem partes pudendas específicas ou explícitas. Mas supõe-se, geralmente, que tem decência e a sua ética enquanto entidade colectiva é o paradigma comportamental do indivíduo.

Aqui, não. Pelos vistos e pelas vistas. De onde se concluirá, no contexto, qual a transcendência da paisagem.

- Também apurei que os três partidos mais votados contabilizaram menos 800.000 votos do que nas anteriores eleições e que a abstenção se situou nos 47% dos votantes, ou seja, em números arredondados, cerca de metade da população de Portugal considera que votar é perda de tempo e, portanto, a alternativa é tratar da vidinha ou ficar a coçar os atributos ou a falta deles no sofá da sala.

Imagino-me, por este caminho, a assistir, em eleições autárquicas daqui a uns vinte anitos, a resultados do tipo:

« - Na freguesia de Alpendurada da Coxa o partido X obteve uma retumbante vitória de 100% nas eleições, como claro e indesmentível indício do apoio esmagador do eleitorado, reflexo da obra transcendente levada a cabo na moradia de residência do actual e já anterior presidente, que tanto enriquece o património da freguesia… O partido X contou com dois votos: o do único residente que se dignou ser levado às urnas, transportado pelo carro dos bombeiros do lar onde se encontrava internado, por sinal o progenitor do presidente da Junta, e o do próprio presidente em funções e candidato, que no-lo confidenciou com um sorriso maroto mas esclarecido… A própria Coxa que deu o nome à freguesia encontra-se com residência incerta no estrangeiro, pelo que não terá votado, e o marido, dono do restaurante O Cantinho Central da Coxa, conforme nos confidenciou, por desgosto ocasionado pelo abandono da extremada esposa, do qual, aliás, responsabiliza o governo em funções e os três anteriores, nunca mais exerceu o seu direito de votar, em sinal muito íntimo e respeitável de protesto democrático».

Entretanto e até que melhores dias venham, que havemos de fazer senão dar vivas à República!?

Nem que seja só para chatear!

3 comentários:

  1. - Isto não vai ficar assim!
    - Pois não. Incha! - respondeu o matulão.

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  2. I cá tôu éu pra ver ça coiza voltó inshado.... çe per acazo dezinshar.....e açim.... ;)

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