novembro 10, 2015

Tanta dor, senhor doutor...!

O apego cego e tão pouco democrático ao poder, o argumentário, que de tão contraditório é esquizofrénico, a raiva incontida que desce, com frequência, ao insulto político ao nível de disputa entre vizinhas histéricas, a futurologia catastrófica… que dizer mais de quantos notabilíssimos comentadores da chamada direita portuguesa arrepelam os cabelos, por estes dias, qual coro dos aflitos de novo tipo, em face de uma possível modificação das passadas a que o baile mandado do sacrossanto «arco da governação» nos habituou? 

Eu, cidadão, muito se me dá, hoje, que um possível governo de esquerda… governe. Quer gostem ou não as sumidades do comentário televisivo, isso decorre do regime democrático, ponto final! Se possível, que esse governo, como se espera, assuma diferente feição daquela conhecida a que nos votou a perversão neoliberal (onde alguns «socialistas da oportunidade» também navegam…) – que, essa sim, meteu a social-democracia não na gaveta, mas nos esconsos mais pútridos de tantas subcaves de interesses. 

E é vê-los que, ao longo de quatro anos, com arrogância inaudita mas atoleimada, cuspiram, espezinharam, ignoraram ou, sempre que lhes ocorria, gozaram à fartazana com tudo quanto é oposição, com o PS incluído e em destaque, estarem agora a perorar amarguras e crocodilinas lágrimas perante o desprezo olímpico com que António Costa os mimoseou na Assembleia da República.

Entretanto, recorrem à habitual castração pelo medo: ele é os mercados, ele é o Banco Central, ele é a conjuntura internacional… ele é o Diabo, como prova aparentemente inequívoca (para esta gente) de que «Deus nem sempre é bom para os homens», conforme Calvão dixit.

O que sobressalta é tentar apurar em que recôndita parte da anatomia – aquela onde, porventura, o próprio Deus é Diabo – é que esta gente guarda o conceito de Democracia. Talvez tão-só onde o Sol não brilhe… 

Enfim, como pedra cimeira deste arco imperfeito da governação, ainda não estou convencido de que o senhor presidente da República não se assuma mais como o conjurado de Boliqueime e dê luz verde ao governo proposto por António Costa. Só nos faltava mesmo este para transformar em cinza este sol radioso que hoje, em São Martinho antecipado, teima em nos iluminar…

4 comentários:

  1. Ontem, até a Bolsa de Nova Iorque tremeu por causa disto... e hoje os juros da dívida desceram só para ganharem balanço para darem um pulo... e o Sol ontem pôs-se mais cedo...

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    1. Sim, também reparei. E mesmo quando o Sol bateu no mar, ao pôr-se, achatou, achatou, achatou... só mesmo porque não queria deixar de assistir ao que se estava por cá passando. Se não tivessem sido os chineses a puxar-lhe por uma perna, ainda agora não teria anoitecido!

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  2. Até o inverosímil Paulo Arroja se descartou de presumíveis aventuras com as «esganiçadas» do BE para - como poderemos imaginar - se lançar nos braços do finalmente irrevogável... A cada um as suas opções, se dirá, pois isso sim é o funcionar da Democracia...

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  3. Afinal, somos nós que damos o voto de confiança a quem, em tese, nos defende .... dos interesses

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