junho 20, 2011

Ena, pá, tanta água em Mangualde…!

Há coisas que se passam em Portugal que, como nos exclamaria o grande guru Marcelo, não lembram ao careca.

E falo de quê? Ora, muito bem, pois falo do complexo balnear marítimo de Mangualde (!?).

Passeio-me interneticamente por essa interessante localidade do interior do país em busca de confirmação de uma notícia alucinada com que deparei em canal televisivo e que me dava conta da existência de um complexo «marítimo» em Mangualde, muito recentemente inaugurado, e qual não é o meu espanto quando deparo, antes de mais, com OUTRA existência de um complexo de piscinas municipais, de recentíssima inauguração - http://www.cmmangualde.pt/index.php?option=com_content&view=article&id=169&Itemid=200 -, também em Mangualde… e quedo-me, pasmo e abismado.

Escarafunchando um pouco nesta realidade, concluo que as tais piscinas municipais, coisa sofisticadíssima e, como o nome indicará, construídas sob a égide da autarquia e, provavelmente com recurso a algumas parcerias privadas tal a dimensão da coisa, de repente tropeçam com a ainda mais recente realidade de um complexo balnear com água salgada (?) - http://www.tvi24.iol.pt/sociedade/mangualde-areia-praia-artificial-agua-salgada-tvi24/1260569-4071.html -, com níveis de sofisticação ainda mais extraordinários… que, obviamente, retirará às primeiras todos os eventuais clientes/utilizadores, pois sofisticação por sofisticação, quanto mais sofisticada melhor. E até parece que o preço de entrada é idêntico…

«Projecto único, em Portugal e na Europa», claro, que para megalomanias idiotas destas estamos cá nós…

Para além de uma imensa quantidade de especulações que podemos erigir sobre a necessidade/conveniência/utilidade de uma praia artificial marítima (!) em Mangualde, cujos habitantes hão-de ter – benza-os e bafeje-os qualquer deus das coisas pequenas – o conhecido direito universal à existência e usufruto de praias em qualquer recôndita parte do mundo, ainda para mais marítimas, Tibete incluído, uma dúvida temível me sobressalta:

- e, agora, as piscinas municipais vão servir para quê? Talvez para viveiro de batráquios, cobras de água e quejanda fauna e flora fluviais, pois que não estou a ver quem lá haverá de pôr o distinto e mangualdense traseiro de molho, perante uma oferta, ali à mão de semear, que até dá na televisão e tudo! E com água salgada, que até se sai de lá já temperadinho e tal…

E os investimentos que poderemos imaginar que tenham sido feitos para as primeiras piscinas, serão recuperados como?

E se as piscinas são municipais como é que o município autoriza a construção de OUTRA piscina – e porventura também lá investe –, esta agora até com água salgada, em absoluta concorrência a si mesmo?

Será algum desidério de concurso ao Guiness das piscinas ou teremos Mangualde na crista da onda para os próximos campeões mundiais de natação?

Admitindo que isto seja caso de miopia minha e que uma piscina monumental de água salgada seja uma prioridade ali para aquelas bandas, por favor e muito encarecidamente, alguém sabe explicar-me o que se passa neste país e, no caso, mais propriamente, em Mangualde?

É que podia ter-lhes dado para melhor… Para pior parece-me difícil.

21 comentários:

  1. Mas podia ser bem pior! Podiam-se lembrar de fazer a piscina de água salgada em cima da outra, tipo camarata.

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  2. É um projecto extraordinário, apenas lunático e megalómanonquando quando se tem em conta a população alvo, a tal "massa crítica" e se contabiliza o trinómio, benefício-custo-retorno. Porque tudo em economia tem de ser (em tese)regido pelo equilíbrio, esta obra será então algo do tipo das pirâmides do egiPto: Grandiosas, simbolos supremos e de utilidade imaterial, que terão custado ao Egipto séculos de encargos. Ou seja, e estabelecendo um paralelo, estas piscinas/praias de água salgada, ficarão como dívida em herança para as gerações futuras em vez destas as receberam sob a forma de um activo, de património.
    E aqui atrevo-me a lançar um repto universal de boa gestão: que nenhum governo marque a sua geração pela capacidade de se endividar, mas sim pela de deixar obra, cujos custos jamais ultrapassem o espaço tempo util dessa geração a poder saldar.

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  3. É tão sensato o que dizes, Charlie, que ninguém lhe pega.

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  4. é como pregar pregos na testa...queria dizer, pregar no deserto,... :((

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  5. O que a mim mais me aflige, devo confessar-vos, é a inexistência de mecanismos locais e, até, centrais que possam, no mínimo, estudar a razoabilidade deste tipo de desvarios e, em caso de manifesta idiotia ou descarada mancomunação de interesses - como poderá muito bem ser este mais um caso - impedir que o projecto avance.

    Nem me incomoda tanto a «praia marítima» em Mangualde - conceito parvo de todo, claro... -, mas mais o facto de ela ter sido construída «em cima» da existência muito recente de um complexo de piscinas municipais cuja grandiosidade, por si só, até poderia ser motivo de orgulho para Mangualde.

    Agora, os dois projectos a atropelarem-se mutuamente e, por razões óbvias, a tornarem obsoleta uma infraestura recém-criada, que deve ter custado uma pipa de massa e de cujos investidores privados devem estar sem ver de onde lhes poderá vir o retorno, é que não se entende.

    O elemento de ligação, por sua vez, teve de ser o Município. No mínimo, pelos licenciamentos, mas podemos admitir que tenha metido o bedelho até ao financiamento, etc.

    Claro que os privados lesados irão pedir contas à Câmara Municipal... e lá entramos em mais uma saga telenovelística onde, geralmente, tudo acaba em bem, através das célebres «contrapartidas»...

    Se as tais «contrapartidas» foram as do costume, é muito natural que, dentro de dois ou três anos - ainda na vigência do actual autarca - Mangualde seja a localidade de mundo inteiro com mais piscinas por habitante.

    Entretanto, as próximas duas ou três gerações, além de poderem dar as suas braçadas numa piscina diferente em cada dia, nadarão, também, no mar de dívidas de que fala o Charlie.

    E lá vamos, pagando e rindo...

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  6. Faltou-me um dado presuntivo no comentário anterior:

    - como não haverá, entretanto, dinheiro para pagar a água necessária, pois as verbas disponíveis se destinarão a pagar os encargos assumidos pela confecção das piscinas e das «contrapartidas», aquelas estarão a seco, sem outra serventia que não seja, talvez, para a salga do bacalhau, atendendo à aparente propensão marítima desta simpática localidade do interior de Portugal...

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  7. É liiiiiiiiindo de morrer...
    Uma foto cheia de elementos quase subliminares: o soutien a segurar as generosas mamas do mesmo modo que os cabos de corrente parecem segurar o cenário de mar e céu (bem azul) por trás do tanque, prolongando a vista do mesmo modo que o soutien prolonga o imaginário mulher adentro até ao gordo infinito, certamente tão gordo quanto imaginamos serem os tais custos, pendurados sabe-se lá de que arames, que os "soutêem"

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  8. Aquele cenário está mesmo um espanto... principalmente visto por trás.

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  9. E eu, pràki à beira-mar, ansioso que me pespeguem com a Serra da Estrela em cima do areal para poder fazer escaladas e assim...

    Mas falta ali um pormenor importante: um esgotozinho a escorrer delícias para a praia.

    E burriés? Onde estão? No narizito da Senhora das Banhas?

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  10. Não, Orquita, filho
    Do nariz da São só pendem búzios às duzias, e cracas que fazem as honras, até que a casa consiga recuperar a fauna dos perceves, percebes?

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  11. Ora toma lá "per izemples"

    http://search.babylon.com/?s=img&babsrc=conduit&q=cracas

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  12. Nunca imaginaria que isso se comesse...

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  13. A São vai mais em cricas do que em cracas... ;-)»

    Por este andar, chegaremos ao berbicacho como sendo um saco de berbigão pendurado... Olha, há por aí um dicionário onde esta era capaz de ter cabimento, ou cabidela.

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  14. Se lhe deres o toque erótico ou malandreco necessário, marcha.

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  15. Orca, a São lésmica pela-se por cracas, cricas, ameijoas abertas ao natural, ou em cascata de champanhe. E claro, como ela memsmo diz, há coisas nas profundezas dos nossos mares, das quais nem imaginamos o quanto podem ser comestíveis.

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  16. E já vêm com vapores do rego... Do tectónico, claro. Ou do telúrico, como dizia o outro.

    cracas, ameijoas e ostras
    abertas ao natural
    venham de frente ou de costas
    comê-las nunca fez mal...

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  17. Tal como cricas em molho de limão

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