PressEurop - Arend van Dam
junho 29, 2012
junho 27, 2012
Portugal-Espanha
este era o que eu gostaria de ver divulgado... mas para a ocasião o indicado é o outro.
Enviei umas perguntas ao Serviço de Informação ao Cidadão do Parlamento Europeu
A resposta ao meu e-mail de ontem foi rápida:
"Excelentíssimo Senhor
Chamo a sua atenção para o facto de a Comissão das Petições não ter por função responder a pedidos de informação ou comentar decisões políticas da União Europeia.
Assim sendo, aconselho-o a utilizar o "Serviço de Informação dos Cidadãos" do Parlamento Europeu:
https://www.secure.europarl.europa.eu/aboutparliament/pt/cites.html
Com os meus cumprimentos,
Karen Lone CHIOTI
Parlement Européen
Comité des Pétitions"
E já enviei as minhas questões por esse "Serviço de Informação dos Cidadãos" do Parlamento Europeu:
"Assunto: Mudança de hora (hora de Verão)
Pergunta:
Exmos. Senhores,
Recentemente, enviei uma petição para o Parlamento Europeu (V/ nº 0132/2010) a respeito da mudança de hora.
Do Secretariado da Comissão de Petições enviaram-me, em 26 de Junho de 2012, uma resposta (V/ refª - 310169 - 13 06 2012 - KLC/sp [IPOL-COM-PETI D(2012) 31137])
A resposta que tiveram a amabilidade de me dar levantou-me muitas questões:
1) Referem um "relatório sobre as repercussões das actuais disposições relativas à hora de verão nos sectores em causa", apresentado pela Comissão ao Parlamento, ao Conselho e ao Comité Económico e Social". Podem enviar-me cópia ou link desse relatório?
2) Pelo que me informaram, esse relatório "permite concluir que os mais recentes estudos quantitativos confirmam que a hora de verão permite realizar poupanças de energia, embora diminutas (...)". E indicam como "sectores mais afectados (agricultura, transportes e turismo)".
Esse relatório só apresenta estudos quantitativos? Não aborda estudos qualitativos, respeitantes ao bem-estar das pessoas e das famílias?
3) Concluem que "as disposições relativas à hora de verão (...) continuam a revelar-se adequadas" e que "o calendário harmonizado (...) deve ser mantido para garantir o funcionamento harmonioso do mercado interno, que constitui o mais importante objectivo da diretiva em questão".
a) não acham que o mercado interno funcionaria da mesma forma harmoniosa (mais até) se a hora de verão deixasse de existir para todos os países da União Europeia?
b) não acham que o mais importante objectivo de uma Directiva da União Europeia deveria ser o bem-estar das pessoas e não "o mercado interno"?
Agradeço que me respondam a estas questões ou que me indiquem que Divisão, Departamento, Secção... da Comissão Europeia ou do Parlamento Europeu devo contactar.
Cumprimentos,
Paulo Moura"
"Excelentíssimo Senhor
Chamo a sua atenção para o facto de a Comissão das Petições não ter por função responder a pedidos de informação ou comentar decisões políticas da União Europeia.
Assim sendo, aconselho-o a utilizar o "Serviço de Informação dos Cidadãos" do Parlamento Europeu:
https://www.secure.europarl.europa.eu/aboutparliament/pt/cites.html
Com os meus cumprimentos,
Karen Lone CHIOTI
Parlement Européen
Comité des Pétitions"
E já enviei as minhas questões por esse "Serviço de Informação dos Cidadãos" do Parlamento Europeu:
"Assunto: Mudança de hora (hora de Verão)
Pergunta:
Exmos. Senhores,
Recentemente, enviei uma petição para o Parlamento Europeu (V/ nº 0132/2010) a respeito da mudança de hora.
Do Secretariado da Comissão de Petições enviaram-me, em 26 de Junho de 2012, uma resposta (V/ refª - 310169 - 13 06 2012 - KLC/sp [IPOL-COM-PETI D(2012) 31137])
A resposta que tiveram a amabilidade de me dar levantou-me muitas questões:
1) Referem um "relatório sobre as repercussões das actuais disposições relativas à hora de verão nos sectores em causa", apresentado pela Comissão ao Parlamento, ao Conselho e ao Comité Económico e Social". Podem enviar-me cópia ou link desse relatório?
2) Pelo que me informaram, esse relatório "permite concluir que os mais recentes estudos quantitativos confirmam que a hora de verão permite realizar poupanças de energia, embora diminutas (...)". E indicam como "sectores mais afectados (agricultura, transportes e turismo)".
Esse relatório só apresenta estudos quantitativos? Não aborda estudos qualitativos, respeitantes ao bem-estar das pessoas e das famílias?
3) Concluem que "as disposições relativas à hora de verão (...) continuam a revelar-se adequadas" e que "o calendário harmonizado (...) deve ser mantido para garantir o funcionamento harmonioso do mercado interno, que constitui o mais importante objectivo da diretiva em questão".
a) não acham que o mercado interno funcionaria da mesma forma harmoniosa (mais até) se a hora de verão deixasse de existir para todos os países da União Europeia?
b) não acham que o mais importante objectivo de uma Directiva da União Europeia deveria ser o bem-estar das pessoas e não "o mercado interno"?
Agradeço que me respondam a estas questões ou que me indiquem que Divisão, Departamento, Secção... da Comissão Europeia ou do Parlamento Europeu devo contactar.
Cumprimentos,
Paulo Moura"
A posta que é na cristoteca que Cristo toca
Confesso: estou em pulgas para saber novidades da anunciada cristoteca de Fátima e tenho devorado tudo quanto a Comunicação Social tem especulado acerca desse ansiado bastião da náite como ela deve ser na interpretação católica dos que tanto torcem o nariz aos antros de depravação espalhados país fora pelo demo.
A sério, acredito que para muitos jovens crentes a cristoteca representará pouco menos do que um milagre pois para a maioria deles será a única hipótese de frequentarem um espaço de diversão nocturna que, de resto, poderá mesmo cometer a ousadia de ter as portas abertas aos fiéis até altas horas da madrugada, havendo quem arrisque a possibilidade de a cristoteca manter as suas portas abertas para lá das 23 horas!
A euforia que invadiu os Seminários e agrupamentos de escoteiros de norte a sul de Portugal impõe a divulgação de toda a informação possível, mesmo que provinda de fontes anónimas celestiais.
É nesses pequenos pecados da fuga de informação que todos bebemos (sem álcool) o essencial para matar a sede de conhecimento acerca de tão abençoada iniciativa pastoral, embora seja de prever que os lucros sejam de imediato distribuídos pelos pobres mais à mão, depois de deduzidas as despesas com o pessoal.
O recrutamento de pessoal também é um mistério, tendo em conta algum tipo de paralelo com as discotecas tradicionais e pagãs em matéria de funções a desempenhar.
É de prever que por detrás do balcão do bar encontremos catequistas formados para formatarem a juventude cristã no sentido de apreciarem o alto teor católico do sumol de laranja ou mesmo de ananás.
Por outro lado, em cada porteiro terá que existir um sacristão da paróquia, altamente especializado na identificação dos fiéis e capaz de impedir o acesso à cristoteca por parte de filisteus embuçados.
O DJ, naturalmente, será um padre. Isto traduz um esforço na racionalização dos recursos por poder acumular com a selecção musical a celebração da Eucaristia, sendo de prever que se trate de um prior bastante prafrentex e com uma abrangência que engloba a malukeira de uns Evanescence ou a sobriedade de um Frei Hermano da Câmara remix.
Claro que esta ideia peregrina envolve riscos calculados por parte da secular instituição que a irá pôr em prática, nomeadamente pela necessária abertura ao exterior imposta pela necessidade de promoção da iniciativa.
E se um dia, depois de meses a filtrarem a playlist em busca de palavrões, obscenidades e outros desvios à moral cristã e aos elevados valores que irão nortear a cristoteca chega o dia em que permitem, sei lá, uma emissão em directo da bué de irreverente RFM ou assim?
O fanico dos mais beatos empreendedores ligados à iniciativa será de tal forma que acabam desmaiados na pista.
Em posição de missionário, se Deus quiser…
junho 26, 2012
E-mail que enviei hoje para o Parlamento Europeu
Para
Secretariado da Comissão de Petições do
Parlamento Europeu
26 de Junho de 2012
Minha petição «Não à mudança de hora» (V/ nº 0132/2010)
V/ refª - 310169 - 13 06 2012
KLC/sp [IPOL-COM-PETI D(2012) 31137]
Cumprimentos,
Exmos. Senhores
Agradeço a atenção que tiveram em responderem à minha petição «Não à mudança de hora».
Mas a Vossa resposta levantou-me muitas questões:
1) Referem um "relatório sobre as repercussões das actuais disposições relativas à hora de verão nos sectores em causa", apresentado pela Comissão ao Parlamento, ao Conselho e ao Comité Económico e Social". Podem enviar-me cópia ou link desse relatório?
2) Pelo que me informam, esse relatório "permite concluir que os mais recentes estudos quantitativos confirmam que a hora de verão permite realizar poupanças de energia, embora diminutas (...)". E indicam como "sectores mais afectados (agricultura, transportes e turismo)". Esse relatório só apresenta estudos quantitativos? Não aborda estudos qualitativos, respeitantes ao bem-estar das pessoas e das famílias?
3) Concluem que "as disposições relativas à hora de verão (...) continuam a revelar-se adequadas" e que "o calendário harmonizado (...) deve ser mantido para garantir o funcionamento harmonioso do mercado interno, que constitui o mais importante objectivo da diretiva em questão".
a) o mercado interno não funcionaria da mesma forma harmoniosa (mais até) se a hora de verão deixasse de existir para todos os países da União Europeia?
b) o mais importante objectivo de uma Directiva da União Europeia não deveria ser o bem-estar das pessoas?
Caso o Vosso Secretariado não possa prestar-me estes esclarecimentos, agradeço que me indiquem que Divisão, Departamento, Secção... da Comissão Europeia ou do Parlamento Europeu devo contactar.
Paulo Moura
junho 23, 2012
«Cai o pano sobre a nódoa da mudança de hora» - peça de teatro em um acto, do Charlie
A respeito da resposta que tive do Parlamento Europeu à minha petição, o Charlie escreveu esta peça:
"Às vezes tenho mesmo essa sensação, sabes? A de que abraçamos causas, ideais, que nos empenhamos nelas, vestimos e damos a camisa, corremos até riscos, e no fim, ou se morre na praia ou nos chamam de parvos, mesmo quando - após muita luta-, se conseguem atingir os fins que ao fim ao cabo, são para o benefício de todos, nós incluídos, pois claro.
Espero que esta luta passe por todas as etapas,a considerar:
Local: algures na Comissão.
- Epá! Lá veio outra carta, sobre a coisa da mudança da hora!
- Não digas?
- Sim, pá...
- Epá... o gajo é parvo...
- Parvo não, é chato.
Passa algum tempo...
- Olha!
- Olho o quê?
- Outra carta do gajo.
- Qual gajo?
- O chato, da coisa da mudança da hora, e agora vem cheia de pareceres técnicos assinados por sumidades nas matérias.
- Isto vai dar uma trabalheira...
Passa mais algum tempo...
- Queres saber uma coisa?
- Diz...
- Lembras-te daquelas cartas?
- Não me digas que é outra vez o assunto da mudança de horário.
- Sim, é.
- Então?
- Desta vez não é uma carta.
- É uma enciclopédia de argumentos.
- Xi, que chatice.
- Vamos ter que analisar isto, temos que reunir um staff para contradizer, a ver se acabamos de vez com isto.
Passa ainda mais algum tempo, reuniões, etc.
- Uffff, estou arrasado, mas....
- Mas o quê?
- O tipo é capaz de ter razão.
- Afinal, isto está a fazer-nos perder muito dinheiro!
- Sabes uma coisa?
- Diz...
- O gajo é um génio.
- Também acho...
Cai o pano sobre a nódoa e acaba a peça, ou seja, a hora fica sossegadinha."
Charlie
"Às vezes tenho mesmo essa sensação, sabes? A de que abraçamos causas, ideais, que nos empenhamos nelas, vestimos e damos a camisa, corremos até riscos, e no fim, ou se morre na praia ou nos chamam de parvos, mesmo quando - após muita luta-, se conseguem atingir os fins que ao fim ao cabo, são para o benefício de todos, nós incluídos, pois claro.
Espero que esta luta passe por todas as etapas,a considerar:
Local: algures na Comissão.
- Epá! Lá veio outra carta, sobre a coisa da mudança da hora!
- Não digas?
- Sim, pá...
- Epá... o gajo é parvo...
- Parvo não, é chato.
Passa algum tempo...
- Olha!
- Olho o quê?
- Outra carta do gajo.
- Qual gajo?
- O chato, da coisa da mudança da hora, e agora vem cheia de pareceres técnicos assinados por sumidades nas matérias.
- Isto vai dar uma trabalheira...
Passa mais algum tempo...
- Queres saber uma coisa?
- Diz...
- Lembras-te daquelas cartas?
- Não me digas que é outra vez o assunto da mudança de horário.
- Sim, é.
- Então?
- Desta vez não é uma carta.
- É uma enciclopédia de argumentos.
- Xi, que chatice.
- Vamos ter que analisar isto, temos que reunir um staff para contradizer, a ver se acabamos de vez com isto.
Passa ainda mais algum tempo, reuniões, etc.
- Uffff, estou arrasado, mas....
- Mas o quê?
- O tipo é capaz de ter razão.
- Afinal, isto está a fazer-nos perder muito dinheiro!
- Sabes uma coisa?
- Diz...
- O gajo é um génio.
- Também acho...
Cai o pano sobre a nódoa e acaba a peça, ou seja, a hora fica sossegadinha."
Charlie
junho 22, 2012
convite
poemas na Comuna (Lisboa), com Oeiras Verde
Será uma verdadeira equipa e jogaremos, seguramente, sem árbitros que empecilhem a jornada.
Como sempre, a vossa presença é imprescindível. E têm sempre lugar reservado.
Grécia - Alemanha de hoje
Árbitro: Alguém tem uma moeda?
Jogadores: Não…
PressEurop - Alex Ballaman
junho 21, 2012
O Parlamento Europeu respondeu à minha petição «Não à mudança de hora»
A petição (texto aqui) foi em tudo idêntica à que apresentei à Assembleia da República, de onde me responderam algo como "este assunto não é da competência da Assembleia da República e sim da União Europeia".
A resposta deles veio em forma de carta:
Transcrição (onde, para já, me limito a destacar a amarelo as partes que considero mais interessantes e passíveis de contestação, que segue dentro de dias pois não se pode deixar arrefecer, agradecendo desde já quaisquer contributos para o que vai ser a minha resposta):
"PARLAMENTO EUROPEU
Committee on Petitions
The Secretariat
Bruxelas,
KLC/sp [IPOL-COM-PETI D(2012) 31137]
Exmo. Sr.
João Paulo Calheiros Proença de Moura
[endereço]
PORTUGAL
310169 – 13 06 2012
Assunto: Petição nº 0132/2010
Exmo. Senhor,
Acusamos pela presente a receção do seu correio eletrónico de 11.04.2012. A petição em epígrafe foi inserida no grupo de petições subordinadas ao tema “Hora de verão e de inverno”.
Gostaria de assinalar que, nos termos da Diretiva 2000/84/CE, respeitante a hora de verão, em 2007 e com base nas informações transmitidas pelos Estados-Membros, a Comissão apresentou ao Parlamento, ao Conselho e ao Comité Económico e Social um relatório sobre as repercussões das atuais disposições relativas a hora de verão nos setores em causa.
O referido relatório permite concluir que os mais recentes estudos quantitativos confirmam que a hora de verão permite realizar poupanças de energia, embora estas sejam diminutas comparativamente ao consumo global. Em termos gerais, no seu relatório a Comissão conclui que as repercussões da hora de verão, abstração feita das vantagens para as mais diversas atividades de lazer e a realização de diminutas poupanças de energia, são praticamente nulas. Por exemplo, nos setores mais afetados (agricultura, transportes e turismo) não foi possível observar quaisquer repercussões dignas de nota.
Assim, a Comissão considerou que as disposições relativas a hora de verão, que é regulamentada pela Diretiva 2000/84/CE, continuam a revelar-se adequadas. 0 calendário harmonizado (início e fim da hora de verão) deve necessariamente ser mantido, para garantir o funcionamento harmonioso do mercado interno, que constitui o mais importante objetivo da diretiva em questão. Por esta razão, de momento a Comissão não tenciona tomar outras medidas nesta matéria.
Muito agradecemos o interesse dispensado às atividades do Parlamento Europeu.
Saudações cordiais,
Karen Lone Chioti
IP-PETI@europarl.europa.eu
B-1047 Brussels - Fax +32 2 284 68 44"
Não resisto a uma pequena/(bem) grande observação: já repararam que a Comissão Europeia se baseou em estudos quantitativos? E o bem estar das pessoas que se lixe?! Vou pedir cópia desse relatório, ai vou, vou...
A resposta deles veio em forma de carta:
Transcrição (onde, para já, me limito a destacar a amarelo as partes que considero mais interessantes e passíveis de contestação, que segue dentro de dias pois não se pode deixar arrefecer, agradecendo desde já quaisquer contributos para o que vai ser a minha resposta):
"PARLAMENTO EUROPEU
Committee on Petitions
The Secretariat
Bruxelas,
KLC/sp [IPOL-COM-PETI D(2012) 31137]
Exmo. Sr.
João Paulo Calheiros Proença de Moura
[endereço]
PORTUGAL
310169 – 13 06 2012
Assunto: Petição nº 0132/2010
Exmo. Senhor,
Acusamos pela presente a receção do seu correio eletrónico de 11.04.2012. A petição em epígrafe foi inserida no grupo de petições subordinadas ao tema “Hora de verão e de inverno”.
Gostaria de assinalar que, nos termos da Diretiva 2000/84/CE, respeitante a hora de verão, em 2007 e com base nas informações transmitidas pelos Estados-Membros, a Comissão apresentou ao Parlamento, ao Conselho e ao Comité Económico e Social um relatório sobre as repercussões das atuais disposições relativas a hora de verão nos setores em causa.
O referido relatório permite concluir que os mais recentes estudos quantitativos confirmam que a hora de verão permite realizar poupanças de energia, embora estas sejam diminutas comparativamente ao consumo global. Em termos gerais, no seu relatório a Comissão conclui que as repercussões da hora de verão, abstração feita das vantagens para as mais diversas atividades de lazer e a realização de diminutas poupanças de energia, são praticamente nulas. Por exemplo, nos setores mais afetados (agricultura, transportes e turismo) não foi possível observar quaisquer repercussões dignas de nota.
Assim, a Comissão considerou que as disposições relativas a hora de verão, que é regulamentada pela Diretiva 2000/84/CE, continuam a revelar-se adequadas. 0 calendário harmonizado (início e fim da hora de verão) deve necessariamente ser mantido, para garantir o funcionamento harmonioso do mercado interno, que constitui o mais importante objetivo da diretiva em questão. Por esta razão, de momento a Comissão não tenciona tomar outras medidas nesta matéria.
Muito agradecemos o interesse dispensado às atividades do Parlamento Europeu.
Saudações cordiais,
Karen Lone Chioti
IP-PETI@europarl.europa.eu
B-1047 Brussels - Fax +32 2 284 68 44"
Não resisto a uma pequena/(bem) grande observação: já repararam que a Comissão Europeia se baseou em estudos quantitativos? E o bem estar das pessoas que se lixe?! Vou pedir cópia desse relatório, ai vou, vou...
junho 20, 2012
A posta numa bosta protegida pela fé (em cinemascope)
Nunca deve ter passado pela cabeça dos dinossauros que um dia iriam extinguir-se. Eram grandes, eram fortes e o planeta parecia feito à medida para nada lhes faltar (tirando uma ou outra alteração climática mais acentuada que lhes podia dar cabo das hortas e da criação).
Ainda não sabemos bem como, mas a maioria aponta para o céu a explicação. Terá sido intervenção divina, um calhau grande o bastante para virar a superfície da Terra do avesso e cobrir a atmosfera com o pó que os privou da luz do sol e abriu caminho ao império dos mamíferos dos quais nos destacámos depois de uns tempos a estagiar com o resto do macacal.
Os dinossauros, coitados, foram apanhados com as calças na mão e acrescentaram um saber que de pouco lhes valeu na altura: tamanho não é documento.
E lá andaram os antepassados das ratazanas a disputar território e recursos com o resto da bicharada estranha desses dias e algures surgiram os símios e os dinossauros devem dar duas voltas no fóssil quando constatam os minorcas que lhes sucederam na fila para uma calhauzada qualquer. Ou uns mísseis bem ogivados, também se chega lá assim.
Tal como os anteriores inquilinos desta esfera azul enquanto não acabamos de a pintar de outras cores, não nos passa pela cabeça que a extinção seja uma possibilidade a considerar.
Soa quase herética tal profecia pois qualquer religião com bom senso soma dois mais dois e arranja sempre forma de haver sobreviventes no dia do Juízo Final.
Os dinossauros perderam-se pela falta de fé, no fundo...
Nós, antes pelo contrário, até já fazemos filmes nos quais enfrentamos telescópios nos olhos os calhaus enormes que nos possam ameaçar e ganhamos!
A esperança é a última a morrer e mesmo o seu funeral será filmado pelaParamount Pictures (os tais sobreviventes que a fé cuidará de salvar, lembram-se?), pelo que os inventores dos coletes à prova de bala nada terão a temer, pelo menos na sua minoria.
Nisso, os dinossauros não tinham o que lhes valer. O perigo caiu-lhes em cima sem que tivessem sequer tomado consciência da ameaça que a grande fisga cósmica lhes catapultou. E os mais agnósticos poderão até arriscar que nem a fé lhes valeria em tais circunstâncias e se calhar nessa até têm razão.
Claro que nós, tão eternos e tão alegadamente únicos seres vivos do universo e arredores, criados à semelhança de Deus (aí, os dinossauros e a Lili Caneças não poderiam competir), temos uma fé à prova de imprevistos e já temos as ameaças possíveis todas catalogadas. Ainda elas mal acabam de se manifestar e já alguém está a proceder ao registo, análise e comentário detalhado em horário nobre nas televisões. Nada nos surpreende, pois acreditamos piamente na inevitabilidade da sobrevivência de mais do que (logo elas) as baratas mesmo em caso de holocausto nuclear.
Aliás, Hollywwod já previu a ocorrência em películas como o famoso The Day After, tudo sob controlo no reino dos cenários.
Tudo isto a propósito da fanfarronice com que todos percorremos o nosso tempo no nosso espaço, certos de que por muita trampa que produzamos jamais ficaremos soterrados (enterrados?) sob a mesma como o Samuel (Beckett) tão bem teatralizou.
Podemos envenenar os rios, abater as árvores todas, intoxicar a atmosfera com todos os dejectos gasosos que conseguirmos soltar como lastro, como um rasto que o progresso justifica e a nossa magnificente e esplendorosa existência impõe. O medo não nos assiste nem relativamente aos calhaus caídos sobre o toutiço (a todos? Não, uma pequena mas irredutível aldeia gaulesa...) nem aos holocaustos nucleares, nem às alterações climáticas.
Somos invulneráveis, insubstituíveis, todo-poderosos senhores do planeta que Deus limpou de lagartos de maiores dimensões para nos oferecer um paraíso para pintarmos de fresco com a nossa natureza de térmitas talhadas para roer os próprios pilares de sustentação da vida.
Toda a bicharada do Mesozóico, mesmo que defecasse em simultâneo, não conseguiria melhores resultados na transformação disto tudo numa gigantesca (à nossa pequena escala) instalação sanitária a céu aberto por mais que se tente esconder.
Chamamos-lhe evolução, mas eu não vejo grande diferença entre a bosta imensa de um brontossauro do jurássico e a merda produzida pelos actuais broncosauros de um período que a indústria cinematográfica e a Ciência só poderão, no futuro dos amanhãs que sorriem na tela, retratar como a era do patético.
Inferior.
junho 19, 2012
O lugar da Europa no G20 (México)
(Europa): Onde é que eu me sento?
PressEurop - Nicolas Vadot («L'Echo» - Bruxelas)
junho 18, 2012
O absolutismo das definições
A questão prende-se com o que nos define.
Neste sentido, vejamos um caso 1: Z, modelo internacional famosa com uma licenciatura numa das faculdades da Ivy League, daquelas que as mulheres invejam e os homens desejam, no seu mês de férias, sai à rua para pôr o lixo no ecoponto de cabelo desgrenhado, nariz de constipação, depilação de buço por fazer e roupas andrajosas. Há um transeunte, alheio ao mundo da moda e da cultura (nos intervalos entre desfiles, ela dá palestras sobre retórica medieval), que se cruza com ela e comenta com o amigo com quem fala ao telefone: "eishhh, acabei de me cruzar agora com um destroço que nem imaginas, parecia uma girafa peluda, esta nem se Anna Harendt tivesse encarnado nela me faria virar a cabeça".
No mesmo sentido, analisemos um caso 2: Y, comummente reconhecido como uma besta por quem lhe é próximo, por quem lhe é distante e pelos que estão ali a meio, salva, um dia, uma criancinha de se afogar no lago do parque da cidade onde mora. Fê-lo contrariado, porque não queria sujar os ténis novos nem molhar os jeans, mas a "chata da velha" (sic) que ia a passar chorou e berrou até ele ceder; ainda por cima, durante o salvamento a criancinha vomitou-lhe o pólo que a irmã lhe dera no aniversário (de que nem sequer tinha gostado muito) e só lhe apetecia esbofeteá-la, mas conteve-se, porque entretanto viu um amontoado de gente, de entre os quais saiu um homem com uma câmara e uma mulher de microfone em punho. Acabou entrevistado para o telejornal mais visto do país e é hoje tido como um abnegado herói, adorado pelas mulheres e imitado pelos petizes; consta-se que participará do próximo reality show da TVI.
O que é que quero provar com estes casos ficcionados?
Que um dos nossos actos isolados não nos define. Que uma opinião que emitimos não diz quem somos. Que uma fase muito boa ou uma muito má da vida não nos rotula. Que uma falha não nos condena. Que uma nota medíocre numa prova não nos legenda.
E poderia continuar infinitamente com exemplos, se não acreditasse que estes bastam para chegar onde quero: um jogador de futebol (ou um político, ou um cantor ou o vizinho do lado, ou um amigo/conhecido) não pode ser uma besta hoje e bestial amanhã, ainda que nos pareça. Provavelmente, não é uma coisa nem outra (como todos nós): é só uma pessoa que, por mais bem cotada que seja no exercício da sua profissão/relações (como alguns de nós), é muitas vezes brilhante e outras falha (se bem que é bom - para ele - que brilhe mais do que falha, sob pena de perder o emprego, algo a que também nós, comuns mortais, estamos sujeitos).
E é justamente por isto que quando vejo, num dia, críticas de meia noite ao indivíduo A (e muito poucos em sua defesa) e, passados uns dias, vozes a enaltecê-lo como se fosse uma qualquer divindade que nos dá a honra da sua presença entre nós, aproveitando para desancar os que anteriormente o criticaram (não percebo é porque não o defenderam com a mesma garra antes de o homem brilhar que nem estrela), não é do indivíduo A que tenho pena.
É de quem não percebe que os seus absolutismos, sejam em que direcção forem (para idolatrar ou para achincalhar), nunca deixarão de ser isso mesmo: absolutismos. E o cenário agrava-se se pensarmos que o futebol ou a nossa reacção a ele, é só uma amostra do resto da vida.
A boa notícia (porque as há quase sempre) é que somos mais facilmente definíveis, de acordo com estas atitudes - ou má, depende do ponto de vista.
Neste sentido, vejamos um caso 1: Z, modelo internacional famosa com uma licenciatura numa das faculdades da Ivy League, daquelas que as mulheres invejam e os homens desejam, no seu mês de férias, sai à rua para pôr o lixo no ecoponto de cabelo desgrenhado, nariz de constipação, depilação de buço por fazer e roupas andrajosas. Há um transeunte, alheio ao mundo da moda e da cultura (nos intervalos entre desfiles, ela dá palestras sobre retórica medieval), que se cruza com ela e comenta com o amigo com quem fala ao telefone: "eishhh, acabei de me cruzar agora com um destroço que nem imaginas, parecia uma girafa peluda, esta nem se Anna Harendt tivesse encarnado nela me faria virar a cabeça".
No mesmo sentido, analisemos um caso 2: Y, comummente reconhecido como uma besta por quem lhe é próximo, por quem lhe é distante e pelos que estão ali a meio, salva, um dia, uma criancinha de se afogar no lago do parque da cidade onde mora. Fê-lo contrariado, porque não queria sujar os ténis novos nem molhar os jeans, mas a "chata da velha" (sic) que ia a passar chorou e berrou até ele ceder; ainda por cima, durante o salvamento a criancinha vomitou-lhe o pólo que a irmã lhe dera no aniversário (de que nem sequer tinha gostado muito) e só lhe apetecia esbofeteá-la, mas conteve-se, porque entretanto viu um amontoado de gente, de entre os quais saiu um homem com uma câmara e uma mulher de microfone em punho. Acabou entrevistado para o telejornal mais visto do país e é hoje tido como um abnegado herói, adorado pelas mulheres e imitado pelos petizes; consta-se que participará do próximo reality show da TVI.
O que é que quero provar com estes casos ficcionados?
Que um dos nossos actos isolados não nos define. Que uma opinião que emitimos não diz quem somos. Que uma fase muito boa ou uma muito má da vida não nos rotula. Que uma falha não nos condena. Que uma nota medíocre numa prova não nos legenda.
E poderia continuar infinitamente com exemplos, se não acreditasse que estes bastam para chegar onde quero: um jogador de futebol (ou um político, ou um cantor ou o vizinho do lado, ou um amigo/conhecido) não pode ser uma besta hoje e bestial amanhã, ainda que nos pareça. Provavelmente, não é uma coisa nem outra (como todos nós): é só uma pessoa que, por mais bem cotada que seja no exercício da sua profissão/relações (como alguns de nós), é muitas vezes brilhante e outras falha (se bem que é bom - para ele - que brilhe mais do que falha, sob pena de perder o emprego, algo a que também nós, comuns mortais, estamos sujeitos).
E é justamente por isto que quando vejo, num dia, críticas de meia noite ao indivíduo A (e muito poucos em sua defesa) e, passados uns dias, vozes a enaltecê-lo como se fosse uma qualquer divindade que nos dá a honra da sua presença entre nós, aproveitando para desancar os que anteriormente o criticaram (não percebo é porque não o defenderam com a mesma garra antes de o homem brilhar que nem estrela), não é do indivíduo A que tenho pena.
É de quem não percebe que os seus absolutismos, sejam em que direcção forem (para idolatrar ou para achincalhar), nunca deixarão de ser isso mesmo: absolutismos. E o cenário agrava-se se pensarmos que o futebol ou a nossa reacção a ele, é só uma amostra do resto da vida.
A boa notícia (porque as há quase sempre) é que somos mais facilmente definíveis, de acordo com estas atitudes - ou má, depende do ponto de vista.
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junho 17, 2012
A tal «mão amiga», que tem vários proprietários, mas todos eles estimáveis criaturas, fez-me chegar esta pequena curiosidade. Sinal dos tempos, quer uma, quer outra das imagens em presença...
A unir as duas épocas uma constante: um excepcional jogador de futebol em quem alguns depositam um mar de esperanças mas que nos elucida de que não é salvador da pátria.
Felizmente ainda há gente lúcida.Eu também sempre achei que não seria pela excelência de uma vintena de tipos a jogar futebol que Portugal ficaria melhor enquanto país no concerto das nações. Nada como ter um Cristiano Ronaldo a dar-me razão. Principalmente enquanto permanece a não dar uma para a caixa...
Nota a posteriori: são 21h40. Ronaldo acaba de dar duas para a caixa. Na rua, as buzinas desataram a apitar. O prof Marcelo vai comentar. Presume-se que, a partir das 21h41, Portugal tenha voltado a ser um estado soberano.
junho 15, 2012
«Negócios sociais, saúde, competição internacional» - Jaime Ramos
Perdeu-se a noção dos objectivos dos Estados, organizações saídas da sociedade civil, ao serviço da comunidade e das pessoas. Deixámos de discutir ideias e abandonámos as ideologias.
Discutem-se meios e recursos, esquecem-se objectivos e visões de futuro.
Gere-se o dia-a-dia e esquece-se que as nações não se podem limitar ao ritmo do imediatismo, sejam anos económicos, sondagens ou ciclos eleitorais.
A Pátria é muito mais do que uma sociedade anónima. Tem pessoas, língua, tradições. Tem território e história.
Um governo não tem de ser uma autoridade em gestão. O seu objectivo é o equilíbrio interno da sociedade facilitando o bem-estar e a felicidade das pessoas.
Os indicadores de macro economia são importantes mas o fundamental é a felicidade sustentável, o equilíbrio entre as pessoas, com menos desigualdade e maior respeito pela natureza.
Devemos criar uma colectividade com sucesso material mas também com valores morais, que garanta uma sociedade humanista, assente na liberdade e na fraternidade.
A economia actual parece estar numa permanentemente corrida de velocidade. Os mercados assemelham-se a montanhas russas, cheias de adrenalina. A sociedade deve viver com uma estabilidade diferente, que respeite as gerações. Nem os velhos são trapos para deitar fora nem os jovens produtos para colocar em armazém, à espera de melhores dias.
Perante as corridas de velocidade entre as empresas e os grupos financeiros, compete ao Estado perceber que a vida de uma nação se faz de décadas e séculos, que, contra os riscos de tensões, mutações bruscas e roturas, se constroem organizações que apostam na coesão social e na sustentabilidade.
Uma sociedade deve evitar convulsões graves, criando um Estado forte, solidário e fraterno, que tenha um forte terceiro sector como companheiro para os bons e maus momentos.
Há o sector público com os organismos dependentes da administração local, regional e central e as empresas cuja propriedade pertence ao Estado. O sector privado com fins lucrativos engloba a generalidade das empresas cujo fim é garantir o lucro e a remuneração de capital dos donos e accionistas. O terceiro sector é privado, não dependente do estado, englobando as organizações não governamentais sem fins lucrativos, desde as religiosas, misericórdias, fundações laicas, associações ambientalistas, mutualistas, cooperativas, colectividades desportivas e culturais.
Portugal tem um terceiro sector importante, com grande capacidade e longa experiência de actuação na área social, saúde e educação.
Neste sector é exigível que o Estado tenha uma grande intervenção para, de acordo com o sonho europeu, criar uma sociedade com elevado bem-estar social.
Na Europa é consensual a ideia de que compete ao Estado manter um sistema de educação, um sistema de saúde e um sistema de reformas/aposentações, que permitam uma sociedade humanizada.
Todos queremos que o Estado garanta que todas as crianças possam cumprir um período de escolaridade obrigatória, que impeça o analfabetismo.
Ao contrário dos EUA, todos os países europeus criaram sistemas que garantem a todos os cidadãos cuidados de saúde.
Na Europa um trabalhador, após uma vida de trabalho, com pagamento de impostos e taxas legais, sente-se com direito a que a sociedade lhe assegure uma reforma que lhe permita continuar a viver com dignidade, com um nível de vida semelhante ao que tinha enquanto trabalhava.
A sociedade europeia exige que o Estado crie serviços sociais de apoio a algumas necessidades dos indivíduos e das famílias, desde creches e residências para criança especiais, a lares, serviços de apoio domiciliário ou centro de dia para idosos.
Embora todo este conjunto de necessidades, na educação, saúde e acção social, exijam soluções assumidas pelo Estado é aceite que, a arquitectura de serviços que garantem estas funções, possa ser gerida por entidades privadas.
Não se pode confundir serviço público com serviço do Estado. Serviço público é diferente de negócio lucrativo, assenta no princípio do bem público, não no lucro privado.
As IPSS têm vindo a ser parceiras privilegiadas do Estado na prestação destes cuidados. Situação legitimada pelo facto de que algumas, particularmente as ligadas à Igreja, como as Santas Casas de Misericórdia, exercerem há séculos estas actividades, mesmo antes de o Estado ter estas preocupações.
Sendo instituições sem fins lucrativos são parceiras ideais para operar nestas áreas.
Infelizmente nos últimos tempos os Governos têm vindo a reduzir o campo de intervenção destas instituições abrindo estes sectores a entidades sem fins lucrativos.
Este tem sido um dos erros estratégicos cometidos, que compromete o crescimento na produção de bens transaccionáveis, desviando o capital com fins lucrativos para as áreas sociais.
Esta mudança foi muito evidente na Educação onde o Ministério alargou as respostas na área do ensino obrigatório através de empresas com fins lucrativos. Muitas das escolas do ensino obrigatório são propriedade de empresas lucrativas que operam com contratos com o Ministério.
Na saúde também os Governos têm vindo a privilegiar a entrada de empresas com fins lucrativos de que são exemplo as parcerias público-privadas na construção e gestão de novos hospitais.
A grande questão é que o Estado, ao privilegiar a entrada de empresas do sector lucrativo nestas áreas, tem cometido um erro estratégico.
O capital privado tem de procurar lucros, não se podendo limitar a ter dinheiro a prazo nos bancos ou a investir em acções. Os investimentos têm sempre risco mas os donos do dinheiro não gostam de o perder. De preferência deixam o risco para os outros.
Sempre que possível o dinheiro gosta de lucrar muito e rápido, em vez de se limitar a ganhar pouco e de forma lenta.
O capitalismo que investia a décadas de distância, como o que plantava sobreiros no Alentejo, a pensar nas próximas gerações, tem estado em extinção.
Os donos do capital gostam que as suas empresas tenham sucesso e apreciam bons negócios com o Estado, sem risco, com lucros garantidos.
O Estado paga mal, com atraso, mas paga sempre. O Estado cumpre os contratos e com frequência, para não dizer por norma, negoceia-os mal.
Nas negociações, a representar o Estado, estão funcionários ou políticos que não lucram directamente com o negócio enquanto, do outro lado da mesa, estão empresas que vivem do que ganham no contrato. É um jogo desigual, mesmo quando são pessoas honestas a representar o Estado, no qual os intervenientes têm motivações muito diferentes.
De um lado uma entidade pública, serviço, empresa ou organismo, representada por alguém que tem ordenado assegurado e que não perde nem ganha com o negócio. Do outro lado da mesa gente cujo nível de vida depende das vantagens que conseguir na negociação.
Muito mais desigual fica, com claros prejuízos para a comunidade, representada pelo Estado, quando a negociação é realizada por corruptos e corruptores. Quadros de corrupção que têm sido favorecidos e incentivados pela actuação da justiça portuguesa, com decisões judiciais a punir gente que não se deixou corromper e a desculpabilizar quem corrompe.
Desigualdade agravada quando o Estado se representa por pessoas “sérias” que quando terminarem as funções no sector público vão trabalhar, como prémio, para a empresa ou grupo com quem estiveram a negociar. Basta pensar na carreira de muitos políticos em Portugal para se ter a ideia da frequência com que se verifica.
O capitalismo assenta no desejo legítimo de ganhar dinheiro, transformando-se com frequência num jogo vicioso, que exige ganhar cada vez mais, numa espiral de ganância, que cega espíritos que julgávamos sensatos, como se demonstrou nas polémicas recentes ao redor da banca, em Portugal e no Mundo.
Ganhar muito e sem risco de perder é o máximo, no espírito ganhador de quem não suporta o insucesso, porque está na actividade para gerar lucros, de forma elevada e rápida, de preferência.
Criar uma empresa é sempre um risco, maior se ela está no mercado livre a concorrer sem beneficiar de protecção especial.
Ninguém garante a um empreendedor que o produto que vai produzir não seja igualmente produzido por um outro empresário. Este pode, por capacidade própria ou por beneficiar de melhores circunstâncias externas, produzir mais, melhor, com menor preço, criando graves dificuldades à concorrência.
Já li uma entrevista de um dos nossos maiores capitalistas que nem lhe passeava pela cabeça fazer um investimento industrial pois nada lhe garantia que um qualquer “chinoca”, expressão do próprio, não fizesse o mesmo muito mais barato… Este é um exemplo de falta de espírito de risco e de empreendedorismo, mais adequado a beneficiário de rendimento mínimo.
No mercado livre nada garante sucesso a um investidor que pode perder com o melhor negócio. Mesmo empresas adultas, com grande implantação e elevado know how no ramo, são frequentemente surpreendidas e arruinadas por novos concorrentes, mais ágeis e mais inovadores.
Estes riscos não se verificam em regime de condicionamento, como são muitos negócios com o Estado.
Se o governo faz um acordo com uma empresa para num determinado local criar uma escola, para responder à população existente, não vai incentivar a que, no futuro, apareça no local a concorrência de uma nova escola.
Se convenciona a prestação de serviços de saúde numa região com frequência não aceita acordos com novos concorrentes. O caso mais conhecido é o das farmácias, mas acontece o mesmo com clínicas, fornecedores de análises clínicas ou outros exames médicos.
Se o Estado faz uma parceria com uma empresa, para construir uma ponte ou uma auto-estrada, não é expectável que o Estado venha a negociar com outro grupo a construção de alternativas só para garantir que os clientes possam escolher o melhor serviço ou o melhor preço.
Não havendo concorrência, e havendo a garantia de ser o Estado a pagar a conta, estamos perante um excelente negócio, de risco mínimo. É capitalismo protegido, sem sujeição às leis do mercado livre.
É compreensível que um grupo empresarial goste destes negócios com o Estado, passando a viver da renda segura. Não são só os beneficiários do rendimento mínimo que vivem à custa do Estado…
É humano que os donos do dinheiro gostem destes negócios protegidos e movam influências para que gradualmente o Estado lhes crie áreas de negócio em outsourcing e em parcerias público-privadas.
Gradualmente foi criada a ideia de que o Estado gere mal e que por essa razão tem de passar a gestão para os privados. Se é verdade que o sector privado pode, com maior facilidade, implementar gestões eficientes, nada garante que o Estado não venha a pagar maiores facturas.
O sistema capitalista assenta na oferta e na procura, e na manipulação destas variáveis. Antes de ter sido posta à venda ninguém consumia Coca-Cola. Mas quando foi colocada no mercado iniciou um processo de publicidade que fez a procura disparar. Não era um produto necessário; passou a necessidade social para muitos jovens e populações “urbanas” a nível global.
Um hospital público servirá a sua população de acordo com a procura de cuidados e sempre reagindo com atraso às necessidades sentidas pelos seus utentes. Um hospital privado comportar-se-á como os produtores de Coca-Cola, gerando oferta, fazendo marketing para criar mais necessidades, mais pessoas a procurar serviços de saúde, porque lucra tanto mais, quanto mais serviços prestar.
A educação, a saúde e os serviços sociais são áreas que tradicionalmente e historicamente foram desenvolvidas por organizações não lucrativas que constituem o terceiro sector, com grande frequência dinamizados pela Igreja, dentro do espírito cristão de apoiar quem precisa. Destinavam-se a responder a necessidades, não tendo como objectivo inventar novas necessidades.
A economia social moderna não pode prescindir da bondade, da proximidade ao nosso próximo, do primado do cuidar do outro.
Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»
Discutem-se meios e recursos, esquecem-se objectivos e visões de futuro.
Gere-se o dia-a-dia e esquece-se que as nações não se podem limitar ao ritmo do imediatismo, sejam anos económicos, sondagens ou ciclos eleitorais.
A Pátria é muito mais do que uma sociedade anónima. Tem pessoas, língua, tradições. Tem território e história.
Um governo não tem de ser uma autoridade em gestão. O seu objectivo é o equilíbrio interno da sociedade facilitando o bem-estar e a felicidade das pessoas.
Os indicadores de macro economia são importantes mas o fundamental é a felicidade sustentável, o equilíbrio entre as pessoas, com menos desigualdade e maior respeito pela natureza.
Devemos criar uma colectividade com sucesso material mas também com valores morais, que garanta uma sociedade humanista, assente na liberdade e na fraternidade.
A economia actual parece estar numa permanentemente corrida de velocidade. Os mercados assemelham-se a montanhas russas, cheias de adrenalina. A sociedade deve viver com uma estabilidade diferente, que respeite as gerações. Nem os velhos são trapos para deitar fora nem os jovens produtos para colocar em armazém, à espera de melhores dias.
Perante as corridas de velocidade entre as empresas e os grupos financeiros, compete ao Estado perceber que a vida de uma nação se faz de décadas e séculos, que, contra os riscos de tensões, mutações bruscas e roturas, se constroem organizações que apostam na coesão social e na sustentabilidade.
Uma sociedade deve evitar convulsões graves, criando um Estado forte, solidário e fraterno, que tenha um forte terceiro sector como companheiro para os bons e maus momentos.
Há o sector público com os organismos dependentes da administração local, regional e central e as empresas cuja propriedade pertence ao Estado. O sector privado com fins lucrativos engloba a generalidade das empresas cujo fim é garantir o lucro e a remuneração de capital dos donos e accionistas. O terceiro sector é privado, não dependente do estado, englobando as organizações não governamentais sem fins lucrativos, desde as religiosas, misericórdias, fundações laicas, associações ambientalistas, mutualistas, cooperativas, colectividades desportivas e culturais.
Portugal tem um terceiro sector importante, com grande capacidade e longa experiência de actuação na área social, saúde e educação.
Neste sector é exigível que o Estado tenha uma grande intervenção para, de acordo com o sonho europeu, criar uma sociedade com elevado bem-estar social.
Na Europa é consensual a ideia de que compete ao Estado manter um sistema de educação, um sistema de saúde e um sistema de reformas/aposentações, que permitam uma sociedade humanizada.
Todos queremos que o Estado garanta que todas as crianças possam cumprir um período de escolaridade obrigatória, que impeça o analfabetismo.
Ao contrário dos EUA, todos os países europeus criaram sistemas que garantem a todos os cidadãos cuidados de saúde.
Na Europa um trabalhador, após uma vida de trabalho, com pagamento de impostos e taxas legais, sente-se com direito a que a sociedade lhe assegure uma reforma que lhe permita continuar a viver com dignidade, com um nível de vida semelhante ao que tinha enquanto trabalhava.
A sociedade europeia exige que o Estado crie serviços sociais de apoio a algumas necessidades dos indivíduos e das famílias, desde creches e residências para criança especiais, a lares, serviços de apoio domiciliário ou centro de dia para idosos.
Embora todo este conjunto de necessidades, na educação, saúde e acção social, exijam soluções assumidas pelo Estado é aceite que, a arquitectura de serviços que garantem estas funções, possa ser gerida por entidades privadas.
Não se pode confundir serviço público com serviço do Estado. Serviço público é diferente de negócio lucrativo, assenta no princípio do bem público, não no lucro privado.
As IPSS têm vindo a ser parceiras privilegiadas do Estado na prestação destes cuidados. Situação legitimada pelo facto de que algumas, particularmente as ligadas à Igreja, como as Santas Casas de Misericórdia, exercerem há séculos estas actividades, mesmo antes de o Estado ter estas preocupações.
Sendo instituições sem fins lucrativos são parceiras ideais para operar nestas áreas.
Infelizmente nos últimos tempos os Governos têm vindo a reduzir o campo de intervenção destas instituições abrindo estes sectores a entidades sem fins lucrativos.
Este tem sido um dos erros estratégicos cometidos, que compromete o crescimento na produção de bens transaccionáveis, desviando o capital com fins lucrativos para as áreas sociais.
Esta mudança foi muito evidente na Educação onde o Ministério alargou as respostas na área do ensino obrigatório através de empresas com fins lucrativos. Muitas das escolas do ensino obrigatório são propriedade de empresas lucrativas que operam com contratos com o Ministério.
Na saúde também os Governos têm vindo a privilegiar a entrada de empresas com fins lucrativos de que são exemplo as parcerias público-privadas na construção e gestão de novos hospitais.
A grande questão é que o Estado, ao privilegiar a entrada de empresas do sector lucrativo nestas áreas, tem cometido um erro estratégico.
O capital privado tem de procurar lucros, não se podendo limitar a ter dinheiro a prazo nos bancos ou a investir em acções. Os investimentos têm sempre risco mas os donos do dinheiro não gostam de o perder. De preferência deixam o risco para os outros.
Sempre que possível o dinheiro gosta de lucrar muito e rápido, em vez de se limitar a ganhar pouco e de forma lenta.
O capitalismo que investia a décadas de distância, como o que plantava sobreiros no Alentejo, a pensar nas próximas gerações, tem estado em extinção.
Os donos do capital gostam que as suas empresas tenham sucesso e apreciam bons negócios com o Estado, sem risco, com lucros garantidos.
O Estado paga mal, com atraso, mas paga sempre. O Estado cumpre os contratos e com frequência, para não dizer por norma, negoceia-os mal.
Nas negociações, a representar o Estado, estão funcionários ou políticos que não lucram directamente com o negócio enquanto, do outro lado da mesa, estão empresas que vivem do que ganham no contrato. É um jogo desigual, mesmo quando são pessoas honestas a representar o Estado, no qual os intervenientes têm motivações muito diferentes.
De um lado uma entidade pública, serviço, empresa ou organismo, representada por alguém que tem ordenado assegurado e que não perde nem ganha com o negócio. Do outro lado da mesa gente cujo nível de vida depende das vantagens que conseguir na negociação.
Muito mais desigual fica, com claros prejuízos para a comunidade, representada pelo Estado, quando a negociação é realizada por corruptos e corruptores. Quadros de corrupção que têm sido favorecidos e incentivados pela actuação da justiça portuguesa, com decisões judiciais a punir gente que não se deixou corromper e a desculpabilizar quem corrompe.
Desigualdade agravada quando o Estado se representa por pessoas “sérias” que quando terminarem as funções no sector público vão trabalhar, como prémio, para a empresa ou grupo com quem estiveram a negociar. Basta pensar na carreira de muitos políticos em Portugal para se ter a ideia da frequência com que se verifica.
O capitalismo assenta no desejo legítimo de ganhar dinheiro, transformando-se com frequência num jogo vicioso, que exige ganhar cada vez mais, numa espiral de ganância, que cega espíritos que julgávamos sensatos, como se demonstrou nas polémicas recentes ao redor da banca, em Portugal e no Mundo.
Ganhar muito e sem risco de perder é o máximo, no espírito ganhador de quem não suporta o insucesso, porque está na actividade para gerar lucros, de forma elevada e rápida, de preferência.
Criar uma empresa é sempre um risco, maior se ela está no mercado livre a concorrer sem beneficiar de protecção especial.
Ninguém garante a um empreendedor que o produto que vai produzir não seja igualmente produzido por um outro empresário. Este pode, por capacidade própria ou por beneficiar de melhores circunstâncias externas, produzir mais, melhor, com menor preço, criando graves dificuldades à concorrência.
Já li uma entrevista de um dos nossos maiores capitalistas que nem lhe passeava pela cabeça fazer um investimento industrial pois nada lhe garantia que um qualquer “chinoca”, expressão do próprio, não fizesse o mesmo muito mais barato… Este é um exemplo de falta de espírito de risco e de empreendedorismo, mais adequado a beneficiário de rendimento mínimo.
No mercado livre nada garante sucesso a um investidor que pode perder com o melhor negócio. Mesmo empresas adultas, com grande implantação e elevado know how no ramo, são frequentemente surpreendidas e arruinadas por novos concorrentes, mais ágeis e mais inovadores.
Estes riscos não se verificam em regime de condicionamento, como são muitos negócios com o Estado.
Se o governo faz um acordo com uma empresa para num determinado local criar uma escola, para responder à população existente, não vai incentivar a que, no futuro, apareça no local a concorrência de uma nova escola.
Se convenciona a prestação de serviços de saúde numa região com frequência não aceita acordos com novos concorrentes. O caso mais conhecido é o das farmácias, mas acontece o mesmo com clínicas, fornecedores de análises clínicas ou outros exames médicos.
Se o Estado faz uma parceria com uma empresa, para construir uma ponte ou uma auto-estrada, não é expectável que o Estado venha a negociar com outro grupo a construção de alternativas só para garantir que os clientes possam escolher o melhor serviço ou o melhor preço.
Não havendo concorrência, e havendo a garantia de ser o Estado a pagar a conta, estamos perante um excelente negócio, de risco mínimo. É capitalismo protegido, sem sujeição às leis do mercado livre.
É compreensível que um grupo empresarial goste destes negócios com o Estado, passando a viver da renda segura. Não são só os beneficiários do rendimento mínimo que vivem à custa do Estado…
É humano que os donos do dinheiro gostem destes negócios protegidos e movam influências para que gradualmente o Estado lhes crie áreas de negócio em outsourcing e em parcerias público-privadas.
Gradualmente foi criada a ideia de que o Estado gere mal e que por essa razão tem de passar a gestão para os privados. Se é verdade que o sector privado pode, com maior facilidade, implementar gestões eficientes, nada garante que o Estado não venha a pagar maiores facturas.
O sistema capitalista assenta na oferta e na procura, e na manipulação destas variáveis. Antes de ter sido posta à venda ninguém consumia Coca-Cola. Mas quando foi colocada no mercado iniciou um processo de publicidade que fez a procura disparar. Não era um produto necessário; passou a necessidade social para muitos jovens e populações “urbanas” a nível global.
Um hospital público servirá a sua população de acordo com a procura de cuidados e sempre reagindo com atraso às necessidades sentidas pelos seus utentes. Um hospital privado comportar-se-á como os produtores de Coca-Cola, gerando oferta, fazendo marketing para criar mais necessidades, mais pessoas a procurar serviços de saúde, porque lucra tanto mais, quanto mais serviços prestar.
A educação, a saúde e os serviços sociais são áreas que tradicionalmente e historicamente foram desenvolvidas por organizações não lucrativas que constituem o terceiro sector, com grande frequência dinamizados pela Igreja, dentro do espírito cristão de apoiar quem precisa. Destinavam-se a responder a necessidades, não tendo como objectivo inventar novas necessidades.
A economia social moderna não pode prescindir da bondade, da proximidade ao nosso próximo, do primado do cuidar do outro.
Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»
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junho 14, 2012
junho 12, 2012
junho 10, 2012
Discurso de Sampaio da Nóvoa nas comemorações do 10 de Junho de 2012
"António Sampaio da Nóvoa aponta os nossos falhanços colectivos enquanto Nação e apela ao nosso desígnio que afinal não é o futebol mas o Estudo e o Conhecimento. E mostra que Portugal falhou quando se afastou da Ciência, do Ensino e do Conhecimento. Caminhos dos quais a Europa desenvolvida nunca se afastou."
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junho 08, 2012
Amor, paixão e sexo: teoria e convicção
O amor é um sentimento de um altruísmo e generosidade inacabáveis. O amor tende a ser definitivo. O amor transcende-nos. Transcende a razão. O amor anula o egoísmo, o orgulho, a posse, a guerra… O amor vai além da distância. O amor vai além de tudo. Depois do amor, não há nada. Mas o amor é … raro. Além da ordem natural dos laços estabelecidos pelo sangue (entre pais, filhos, irmãos…) e da verdadeira amizade, suponho que sejam poucas as pessoas que realmente o experimentam. Acredito que possa também haver um “estado de amor” que não dependa de ninguém ou de nada específico… há-de ser isto qualquer coisa semelhante à “iluminação”. O amor é um sentimento muito elevado que depende por isso também da capacidade emocional para amar. Entre um homem e uma mulher, quando acontece, o amor é “o princípio”… é onde a vida começa… e é também, muitas vezes, onde ela acaba. Casos destes são aqueles extraordinários em que do princípio ao fim dois seres atravessam a vida intensamente apaixonados, sobrevivem ao desgaste do tempo e dos corpos, e ao cabo de décadas, até que a morte os separe, ainda os olhos do outro lhes fazem brilhar os olhos. É também o que sucede em casos daqueles em que toda uma vida não chega para fazer desaparecer a dor pela ausência da pessoa amada… sendo tão escassa a probabilidade de salvação como o milagre de um outro amor. Em ambos os casos, não há um minuto sequer nestas vidas em que não desejem “o outro” ao lado, e a quem, independentemente disso, possam não desejar “o bem”, seja isto uma bênção ou uma maldição.
Semelhante ao amor nalguns sintomas, a paixão é algo de muito mais “terreno”, de muito mais sujeito aos caprichos da natureza humana. A paixão exige a presença física, a “posse”, e evolui para estados de ira quando não satisfeita. Quase todas as pessoas se apaixonam, geralmente mais do que uma vez ao longo da vida... A paixão é temporária. Dificilmente irá além de um ano ou dois… Seja como for, mais tarde ou mais cedo, acaba. Pode resultar em profunda amizade, uma forma suave de amor… ou então, resultar em coisa nenhuma. É um estado passageiro de euforia em que a natureza suprime os defeitos do outro, intensifica o desejo, e promove a harmonia de modo a permitir um período de adaptação de um casal entre si. Para quem o aproveita bem, resulta bem. Para quem não o aproveita bem, resulta mal. Aqui se incluem todos os casos de casais que começam com “um grande amor” e acabam sem se reconhecer, à porrada, ou a digladiar-se pelas razões mais absurdas.
Sexo, é outra coisa. Havendo amor, o sexo é sempre algo de “sublime”, mesmo que seja, do ponto de vista sexual, uma lástima. O amor em si não produz “bom sexo”, mas, havendo união física com a pessoa amada, produzem-se outras coisas: a imensa felicidade, ou mais, a plenitude! E claro… “bom sexo com amor” é… o verdadeiro “êxtase”: o auge do prazer físico e psíquico. A paixão em si também não faz milagres pela qualidade do sexo… mas lá está… faz do sexo sempre uma experiência positiva, ainda que na prática o desempenho sexual possa não passar da pobreza franciscana. O pior é que, findo o período de paixão, para quem não tiver desenvolvido uma boa relação sexual, o desejo acaba. Como é evidente, no que respeita ao prazer, a seguir ao “bom sexo com amor”, o “bom sexo com paixão” é do melhor que há. Depois… não sei: “mau sexo com amor” ou “bom sexo com paixão”? “Mau sexo com amor”, “Mau sexo com paixão”, ou “bom sexo sem amor nem paixão”? É difícil de decidir … se calhar é relativo, tem dias, depende dos gostos … A questão aqui é o que seja um bom equilíbrio entre estados de prazer emocional e estados de prazer físico. Para mim o conceito de “bom sexo” inclui já um mínimo de prazer emocional ou, pelo menos, o conforto emocional (bem-estar, confiança, respeito,...) a partir daqui… como diz Epicteto, o estóico, “há coisas que dependem de nós, e outras que de nós não dependem”…
… mas tenho ao menos por certo que um “bom sexo” é um bom argumento para o despertar do amor e da paixão (mal não faz)… além de ser em si só uma coisa muito agradável… (e de fazer bem à pele e tal…)
Duas questões de educação
I.
Facto inegável: é raro governo(s) e sindicatos estarem de acordo, seja a respeito do que for.
Circunstância: o novo estatuto do aluno, apesar das posições contra do BE e PCP (e novidades?!) grangeia o acordo de todos, menos dos paizinhos: a CONFAP critica o governo por não ter sido ouvida quanto à questão de os pais virem a ser responsabilizados e multados pelas faltas dos seus rebentos à escola. Educar custa e cada um tem o seu papel. E é bom que todos tenhamos consciência disso: professores, progenitores/educadores, meninos e sociedade em geral .
E entretanto, uma vénia ao governo e ao Ministro Crato (as minhas vénias são independentes de cores e a única ideologia a que sou fiel é a minha).
II.
Na Grécia, um deputado de extrema direita resolveu que na ausência de argumentos, há sempre a força bruta. E já surgiram mil e uma interpretações, quase todas remetendo para a miséria e o desconcerto de uma crise mal administrada (ou mais mal administrada do que a nossa). Eu cá acho que um neo-nazi é sempre um neo-nazi e nunca saberá agir de outra forma, na opulência ou na desgraça, num país mediterrânico ou na Escandinávia. Que se faça justiça relativamente a quem ainda não percebeu que as divergências discutem-se, que as discussões nem sempre se ganham, e que o punho não pode ter lugar, em sede de argumentação.
Facto inegável: é raro governo(s) e sindicatos estarem de acordo, seja a respeito do que for.
Circunstância: o novo estatuto do aluno, apesar das posições contra do BE e PCP (e novidades?!) grangeia o acordo de todos, menos dos paizinhos: a CONFAP critica o governo por não ter sido ouvida quanto à questão de os pais virem a ser responsabilizados e multados pelas faltas dos seus rebentos à escola. Educar custa e cada um tem o seu papel. E é bom que todos tenhamos consciência disso: professores, progenitores/educadores, meninos e sociedade em geral .
E entretanto, uma vénia ao governo e ao Ministro Crato (as minhas vénias são independentes de cores e a única ideologia a que sou fiel é a minha).
II.
Na Grécia, um deputado de extrema direita resolveu que na ausência de argumentos, há sempre a força bruta. E já surgiram mil e uma interpretações, quase todas remetendo para a miséria e o desconcerto de uma crise mal administrada (ou mais mal administrada do que a nossa). Eu cá acho que um neo-nazi é sempre um neo-nazi e nunca saberá agir de outra forma, na opulência ou na desgraça, num país mediterrânico ou na Escandinávia. Que se faça justiça relativamente a quem ainda não percebeu que as divergências discutem-se, que as discussões nem sempre se ganham, e que o punho não pode ter lugar, em sede de argumentação.
junho 07, 2012
A posta que está na hora de acordar antes que tenha de ser à bruta
Ver um porta-voz de um partido político de um Estado de Direito agredir alguém no meio de um debate televisivo não é inédito, mas nunca deixa de nos surpreender.
Mas ver esse deputado de um partido político a esbofetear uma deputada de outro partido sem que nenhum dos homens presentes no estúdio mexa um dedo para o evitar, ou mesmo para punir a besta, é algo que sinceramente não estou preparado para engolir.
Em Portugal permitimos a indivíduos como Duarte Lima o acesso ao poder, pelo que não devemos estranhar que na Grécia, onde também estão mais longe do abismo porque continuam a avançar para o subsolo, seja possível eleger como deputado da nação um grandessíssimo cabrão que eu muito desejaria apanhar a sós num espaço qualquer.
O porco que fala pela extrema-direita grega não é diferente dos porcos que falem por qualquer outra organização ou ideologia. Os porcos não se distinguem tanto pelas ideias sujas mas sim pelas acções badalhocas que protagonizam.
E este suíno personificou ao vivo e em directo o tipo de dejecto que não podemos permitir nas instituições que nos governam e representam.
Não gosto da extrema-direita nem da maioria das pessoas que perfilham tal ideologia. Desprezo cobardes capazes de permanecerem sentados quando uma mulher é agredida. Mas odeio bandalhos cuja baixeza conduz a este tipo de comportamento. Odeio, sim, e não renego a minha vontade de os deixar incapazes de se moverem ao longo de meses numa cama de hospital. Ou pior.
Sou (tento ser) uma pessoa de bem até onde as minhas limitações o permitem, mas perante estes cenários o meu único instinto é conseguir ser pior, ainda mais violento e desprezível do que os canalhas como aquele porco que não vejo como de esquerda ou de direita, apenas porco.
E eu não avalio os porcos pelas respectivas tendências políticas, até porque nem lhes reconheço capacidade intelectual para as distinguirem. Um porco segue por onde calha, embora tenda a optar pelo maior chiqueiro e parece-me ser o caso.
Contudo, para lá do nojento que as imagens em causa representam está o sinal de alerta para aquilo que espera os gregos no futuro próximo e que, em circunstância alguma, poderemos tolerar no nosso país.
Mais vale arriscarmos a democracia do que a entregarmos de forma indigna a gente que queremos longe de todo e qualquer tipo de poder, pois a ameaça que representam não é um mal em potência mas sim um facto ignóbil que precisamos afastar ou mesmo abolir.
Cada vez mais não escolho partidos ou ideologias mas sim pessoas. Pessoas de bem sabem sempre escolher em função da sua consciência, sabem definir prioridades, têm mecanismos naturais de defesa contra instintos ou ideias hostis ao que entendemos como decência.
São essas as que quero no poder, qualquer que seja a sua visão do mundo, e nunca as bestas como o suíno grego ou qualquer versão menos espalhafatosa mas igualmente perniciosa que possamos albergar por cá.
A Democracia está em profunda agonia e não é com escolhas ao estilo Sporting ou Benfica, o meu clube é para sempre, o meu partido é igual, que podemos defendê-la ou dar a volta aos cacos em que imbecis e incapazes de esquerda ou de direita ou de nem se sabe bem o quê deixaram a Pátria que temos o imperativo moral de proteger, pelo voto, pela intervenção directa nas decisões importantes.
E se está em causa impedir os porcos de qualquer raça, ideologia ou pretexto de poderem aproximar-se sequer dos mecanismos de poder, perante a ameaça que representam nenhuma arma me parece excessiva.
Há alturas em que Hipócrates é tão parecido com hipócritas...
"Praticarei a minha profissão com consciência e dignidade;
A saúde do meu paciente será minha primeira preocupação; (...)
Manterei por todos os meios ao meu alcance, a honra e as nobres tradições da profissão médica;
Os meus colegas serão minhas irmãs e irmãos; (...)
Manterei o máximo respeito pela vida humana; (...)
Faço estas promessas solenemente, livremente e pela minha honra."
Este é um excerto do famoso Juramento de Hipócrates, o juramento que os novos médicos fazem no início do exercício da sua profissão e que, segundo dizem, é o mote para aquilo que deve ser a verdadeira medicina. Infelizmente, a realidade é outra e por vezes bem preocupante, como pudemos constatar da pior forma no passado fim-de-semana, quando a minha mãe, ao recorrer ao serviço de urgência do Hospital da Covilhã, após ter sido vítima de um acidente grave foi novamente vítima mas, desta vez, de um acto de pura negligência e desrespeito por parte de um médico.
Os antecedentes contam-se em poucas palavras: uma queda de costas a partir do 1º andar de um barracão deixou a minha mãe num estado muito preocupante, cheia de dores e mal se conseguindo mexer. Felizmente, as lesões não afectaram a sensibilidade dos membros inferiores mas as dores eram de tal forma incapacitantes que de imediato foi transportada ao hospital por quem a socorreu.
Chegada ao hospital e cumpridas as formalidades de entrada no serviço de urgência, queixando-se de fortíssimas dores no ombro e nas costas, foi atendida em primeiro lugar pelo clínico geral que solicitou várias radiografias (crânio, ombro, coluna,...) encaminhando depois o caso para a cirurgia e, depois, para o ortopedista de serviço, o Dr Sequeiros (um nome que terei dificuldade em esquecer) que após um exame objectivo e analisados os raios-x declarou que não havia fractura clavicular. No entanto, para surpresa geral informou que lhe parecia ver uma fractura numa vértebra mas que provavelmente seria uma fractura antiga(!!).
Apesar das recomendações de uma colega de profissão que acompanhava a minha mãe "à civil", no sentido de esclarecer a questão da fractura da vértebra com rigor, dadas as dores que a minha mãe estava a sentir, retorquiu simplesmente "Sim, depois temos de ver isso...", desaparecendo para parte incerta e voltando mais tarde para... assinar a ordem de alta. O seu diagnóstico final: uma sub-luxação clavicular que não carecia de imobilização do braço mas tão somente de tempo para curar em definitvo. Alguns dias apenas, disse ele. Quanto às dores nas costas, elas dever-se-iam apenas ao facto de a minha mãe estar dorida da queda, desvalorizando em completo as queixas da paciente.
Na manhã seguinte, verificámos que a minha mãe sofria de vómitos, um sinal sempre preocupante nestes casos. Não tendo por outro lado verificado o abrandamento da dor, pelo contrário, de imediato a levámos de volta ao hospital onde, desta vez, encontrou um médico que merece de facto esse nome: o Dr. Pon.
Sempre muito preocupado, solicitou de imediato uma TAC craniana e outra à coluna vertebral, solicitando radiografias de diferentes perspectivas ao ombro já que, segundo ele, esse é o procedimento normal para esta zona do corpo e não, como havia acontecido no dia anterior, apenas uma radiografia frontal.
Chegado o resultado das TACs, o veredicto foi pesado: afinal 3 vértebras fracturadas! Quanto aos raio-X, revelavam indícios de uma possível fractura clavicular que mais uma TAC esclareceu em definitivo: a clavícula estava de facto fracturada. Sendo assim, a minha mãe passaria a ter de usar um colete imobilizador enquanto não curasse as fracturas das vértebras (que felizmente não careciam de operação e não ameaçavam a medula) e passaria a andar "de braço ao peito" até curar a fractura da clavícula.
Por uma questão de precaução e de melhor assistência, determinou que a minha mãe passaria a noite no hospital, avaliando-se no dia seguinte se teria ou não de ali continuar, dependendo das dores que sentisse.
Tivemos pois num só fim-de-semana passado nas urgências do Hospital da Covilhã uma boa amostra daquilo que deve ser um bom médico e um exemplo perfeito daquilo que não é um médico mediano sequer. O exemplo de um médico que se preocupa e que usa os recursos necessários para esclarecer todas as dúvidas, pois a si diz respeito a responsabilidade do diagnóstico, e o exemplo de um médico que determina o diagnóstico quiçá pela fisionomia. Admito até, dada a sua ausência, que à boa moda antiga tenha ido consultar um oráculo que lhe disse que as fortes dores nas costas, de que a minha mãe se queixava, se deviam apenas ao facto de estar dorida. Tivemos o exemplo de um médico que ouve e respeita os seus colegas e dialoga com eles, mesmo que não estejam de serviço, e o exemplo de um médico a quem a sua longevidade tornou surdo.
Arrisco-me até a dizer que tivemos ali o exemplo de um médico que fez o Juramento de Hipócrates e de outro que, se algum juramento fez, terá trocado certamente devido à sua surdez, o substantivo Hipócrates por um adjectivo semelhante na sua fonética, embora muito pouco abonatório.
Não é isto faltar ao respeito do paciente e quebrar os deveres que a profissão de médico impõe? Será isto ético? Não merecia este caso no mínimo um pedido de desculpa por parte deste médico ou até da própria administração do hospital?
junho 06, 2012
Erro crasso
"(...) one strategy for dealing with
cognition is to start with the assumption that people think and act
rationally."
(HARMAN, Gilbert
- "Thinking", in SMITH, Edward E. and OSHERSON, Daniek N.
- An
Invitation to Cognitive Science, vol. 3, London, The MIT Press, 1995, p.
177)
Ou seja, partimos do princípio que o homem do
talho não nos vai envenenar a carne porque lhe apetece, que a cabeleireira não
vai usar máquina zero quando lhe pedimos para cortar as pontas, que o empregado
do restaurante não nos vai espetar a faca no bucho quando vem pôr a mesa, que os
amigos agirão sempre como tal, que no trânsito tudo fluirá normalmente, que a
colega não nos vai fazer a folha, que o fulano que está ao meu lado na aula de
pump não me vai dar com a barra na cabeça.
Porque é o racional a fazer, pensamos - mesmo que
nunca o tenhamos pensado, de facto. E o racional é sempre o que faríamos, se
estivéssemos no lugar do outro, pelo que inferimos (e trata-se de um salto sobre
um enorme abismo) que evidentemente que o outro o fará também.
(e depois admiram-se que eu seja a stressadinha
com angústias e reacções que [aparentemente] mais ninguém tem?! Experimente-se pensar a sério
nestas coisas e conclua-se [inevitavelmente] como a racionalidade não é necessária [no sentido de
dado adquirido] a ver se eu não pareço a mais calma das pessoas do
mundo...)
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junho 05, 2012
não sei por onde vou, mas sei que não vou por aí...
José Régio e o seu Cântico Negro são referências que me ocorrem ao olhar para a linha evolutiva de Portugal, de há uma trintena de anos a esta parte, cruzando essa observação com as discursetas que nos chegam do poder e dos poderosos e com a realidade que apuro de uma imensidão de testemunhos directos daquilo que poderia chamar-se de «amargura de viver».
Entretanto, o circo. Ele são os concertos inundados de futilidades, os futebóis que continuam a «arrastar multidões» - ainda que mal se apure para onde é que elas estão a ser empurradas – e os seus rios inesgotáveis de dinheiros públicos, os bancos alimentares contra a fome e em favor dos possidentes, as galas do espavento em favor dos possidónios, que nos são impingidos entre profundos decotes e não menos profunda vacuidade.
A par disto, a falta do pão, a miséria do estado para onde se está a levar o ensino público, a saúde pública e tudo que é público, afinal, perante um quase pasmo alheamento dos cidadãos.
E quando, por fim, uma reacção surge – veja-se como exemplo a luta dos professores contra as Marias de Lurdes Rodrigues do nosso descontentamento -, logo ela se torna inconsequente e esvaziada de conteúdo perante a falta de apoio sustentado por organismos de cariz social que sejam capazes de desfraldar a bandeira da cidadania, de modo um pouco mais consequente, mais parecendo que somos todos um rebanho ordeiro e acarneirado, felizes por termos os cães que temos e que nos mordem os artelhos para nos manter no redil, por mais virtual que este seja.
Logo mais, ao descobrirmos que os cães são, afinal, lobos, chacais ou hienas, damos tudo de barato à conta da desgraça do destino no tom dolente de algum fado.
Traímos uma geração e hipotecámos o futuro com a ligeireza, insensibilidade e violência de um gang mafioso; permitimos que o Estado – que somos nós! – seja o principal mentor e factor da mais despudorada, vil e criminosa desregulamentação de todo o «estado de direito» em que alegadamente vivemos, do «estado democrático» que alegadamente constituímos, onde direito e democracia são meras palavras esvaziadas de conteúdo na rudeza clara e bruta do dia-a-dia.
Abandonámos os nossos velhos, condenando-os ao martírio da solidão e da exclusão social – e carpimos hipócritas lágrimas de crocodilo por isso –, expulsámos os nossos jovens com o paleio reles e desconsiderado da «busca das novas oportunidades» em solo estrangeiro, numa invocada nova gesta da diáspora, mas agora sem caravelas; zurzimos a «classe média» - leia-se o trabalhador por conta de outrem, os poucos que ainda têm algo a perder – com a mais abjecta subversão das regras laborais, em particular, e sociais, em geral.
Alinhamos em todo esse circo, impávidos e colaborantes activos, já nem sequer exercendo o direito ao voto pois, como sempre se prova, não vale a pena e atrás de nós virá quem de nós bons fará.
Estarão, estaremos a transformar-nos num povo de canalhas?
Olhando para o futuro e a não ser que desponte uma vaga emergente da turba dos indignados, dos precários, dos desempregados que seja capaz de varrer este lixo em que nos vamos atascando, desespero-me para encontrar sinais de sobrevivência…
Nota de rodapé e desabafo – Não cultivo nem gosto, por hábito, do pessimismo, até por atitude filosófica de vida. Mas há momentos em que essa vida nos dói, porra! E nem só o humor ou a ironia podem ou devem esgotar o nosso espírito crítico.
«Regra de ouro para impedir a dívida pública» - Jaime Ramos
A austeridade que enfrentamos, pondo em causa a sustentabilidade da segurança social, gerando desemprego e falências em série, aumentando a pobreza, deve-se ao irresponsável endividamento. O endividamento não é um exclusivo de Portugal. Com o mal dos outros estaríamos nós bem. A evolução da dívida mundial: «A Global History of Debt By Region: Map from 1970-2010». O problema é que teremos de ser nós a pagar as dívidas que sucessivos governos, eleitos com o nosso voto, contraíram em nosso nome. A perigosa redução da classe média, devido à austeridade necessária a honrar os compromissos da dívida, é uma espiral que agrava o nosso bem estar colectivo. É fundamental que Portugal assegure um pacto de regime, envolvendo os principais partidos políticos e as grandes corporações, que proíba que, no futuro, novos irresponsáveis voltem a endividar a Pátria. É positivo ver Passos Coelho a defender uma regra de ouro, com força constitucional, que impeça no futuro novas irresponsabilidades, que porão em causa a independência nacional. Não percebo o PS, que receia criar uma regra capaz de impedir a loucura de alguns políticos. O PS é o principal culpado do nosso endividamento, mas não o único, pois não podemos esquecer os governos do PSD/PP nem a habitual demagogia do PCP e BE , sempre prontos a aumentar a despesa pública, sem cuidar da sustentabilidade. A EU quer obrigar os Estados, principalmente os da euro zona, a aprovar uma regra de ouro que impeça o crescente endividamento. Só temos de aplaudir.
Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»
Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»
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junho 04, 2012
O dia em que o homem da Leya me expulsou da Feira do Livro
A verdade é que não terá sido bem da Feira do Livro...
Foi mais do stand da Leya onde acabara de entrar (mas que era o último da Feira) e que me preparava para explorar, depois da paragem obrigatória na Bizâncio para os livros de banda desenhada (o senhor é tão simpático que creio que se vendesse livros de Psicologia eu acabaria por trazer um ou outro) e no Círculo de Leitores (que agora é Porto Editora), para mais um capítulo da História da Vida Privada, dirigida pelo Mattoso.
Nos anos anteriores, eu e a mãezinha (a companhia de sempre nas Feiras dos Livros) deixámos lá umas dezenas de euros, porque eles agregam uma série de editoras que deitam cá para fora boa literarura e este ano dificilmente seria excepção.
Mas eu cheguei e comecei por fotografar: a área, um ou outro livro que me interessava, sempre com o fito de fazer promoção de um evento que cada vez menos entusiasma mesmo os malucos por livros, como eu. (Para mim, a Feira ainda é um ritual, a que faço toda a publicidade do mundo.)
Mas veio de lá um marmelo a fumar cigarrilha (não um segurança, esse não me incomodou) e disse que eu não podia tirar fotografias. E eu guardei o telefone (com que fotografava) e perguntei porquê. E ele respondeu que era um espaço privado e não sabia se eu era da concorrência e se não lhe estava a roubar ideias (e o fumo da cigarrilha a entrar-me nos olhos e nas narinas). E eu respondi que por acaso estava a fotografar para relembrar a Feira num blogue, ou seja, estava a fazer-lhe publicidade gratuita, mas que ordens eram ordens e não fotografaria mais, ainda que não entendesse a explicação. E ele a insistir que queria que eu compreendesse que estavam a fazer campanhas únicas que não queriam que a concorrência copiasse. E eu "então explique-me lá outra vez, porque eu não percebo como é que uma concorrente sua, vamos dizer, ali da Porto Editora, não viria aqui à mesma, sem máquina, não veria as tais campanhas especiais e não as roubaria do mesmo modo, mesmo sem fotografias". "Ahh", respondeu, "mas uma coisa é ver e outra é fotografar" (o fumo a toldar-me a vista e o fulano é que não discernia). "Pois continuo a não perceber a lógica da sua argumentação", retorqui. "Mas não pode tirar fotografias", insistiu. E isso eu já tinha percebido, desde o início (ó camelo!).
E foi assim que o senhor da Leya me fez sair destemperada da Feira do Livro (se me tivesse dito apenas que não podia tirar fotografias, sem mais, eu teria aceitado e ficado, o que me incomodou foi a idiotice do raciocínio) e ir enfeirar para a Fnac, logo acima.
Foi mais do stand da Leya onde acabara de entrar (mas que era o último da Feira) e que me preparava para explorar, depois da paragem obrigatória na Bizâncio para os livros de banda desenhada (o senhor é tão simpático que creio que se vendesse livros de Psicologia eu acabaria por trazer um ou outro) e no Círculo de Leitores (que agora é Porto Editora), para mais um capítulo da História da Vida Privada, dirigida pelo Mattoso.
Nos anos anteriores, eu e a mãezinha (a companhia de sempre nas Feiras dos Livros) deixámos lá umas dezenas de euros, porque eles agregam uma série de editoras que deitam cá para fora boa literarura e este ano dificilmente seria excepção.
Mas eu cheguei e comecei por fotografar: a área, um ou outro livro que me interessava, sempre com o fito de fazer promoção de um evento que cada vez menos entusiasma mesmo os malucos por livros, como eu. (Para mim, a Feira ainda é um ritual, a que faço toda a publicidade do mundo.)
Mas veio de lá um marmelo a fumar cigarrilha (não um segurança, esse não me incomodou) e disse que eu não podia tirar fotografias. E eu guardei o telefone (com que fotografava) e perguntei porquê. E ele respondeu que era um espaço privado e não sabia se eu era da concorrência e se não lhe estava a roubar ideias (e o fumo da cigarrilha a entrar-me nos olhos e nas narinas). E eu respondi que por acaso estava a fotografar para relembrar a Feira num blogue, ou seja, estava a fazer-lhe publicidade gratuita, mas que ordens eram ordens e não fotografaria mais, ainda que não entendesse a explicação. E ele a insistir que queria que eu compreendesse que estavam a fazer campanhas únicas que não queriam que a concorrência copiasse. E eu "então explique-me lá outra vez, porque eu não percebo como é que uma concorrente sua, vamos dizer, ali da Porto Editora, não viria aqui à mesma, sem máquina, não veria as tais campanhas especiais e não as roubaria do mesmo modo, mesmo sem fotografias". "Ahh", respondeu, "mas uma coisa é ver e outra é fotografar" (o fumo a toldar-me a vista e o fulano é que não discernia). "Pois continuo a não perceber a lógica da sua argumentação", retorqui. "Mas não pode tirar fotografias", insistiu. E isso eu já tinha percebido, desde o início (ó camelo!).
E foi assim que o senhor da Leya me fez sair destemperada da Feira do Livro (se me tivesse dito apenas que não podia tirar fotografias, sem mais, eu teria aceitado e ficado, o que me incomodou foi a idiotice do raciocínio) e ir enfeirar para a Fnac, logo acima.
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junho 03, 2012
O que até uma criança vê...
É preciso que de vez em quando uma criança, Victória Grant, diga em voz alta o que
entra pelos olhos de todos e que todos fingem não ver.
A dívida é a arma de pressão mais fabulosa que o Homem inventou. Passa muito facilmente - através do comprometimento das partes envolvidas-, de elemento propulsor do desenvolvimento económico para elemento de chantagem, de pressão e de subtracção de bens. Perante o "pecado" da dívida, guardada com vergonha e culpa no fundo do armário - fica o devedor sem as coisas para as quais trabalhou e descontou muitas vezes durante a maior parte da vida, e ainda, - já sem os bens geradores da dívida, - devedor das maningâncias e engenharias do roubo científico que - à volta da propriedade - os Bancos engendram.
Mas a verdade é que na base de todo o processo, os Bancos também não tem os meios financeiros que emprestam, e tem que pedir a outros Bancos, dando como activos, as dívidas dos seus clientes. Pedem entre si, devem uns aos outros, e sempre que a parada aumenta, já não apresentam os seus clientes com activos mas inventam activos e pedem aos Estados que lhes dêem a credibilidade expressa nas Bolsas, que sancionem positivamente o bolo virtual até que a bolhinha de sabão, cada vez maior, cada vez mais brilhante em direcção ao Sol, rebenta na mili, ou micro-gôta - afinal a verdade- que a gerou.
Ora se foram os Bancos que inventaram activos, muito acima do valor daquilo que os seus clientes de facto valem, porque hão de ser eles, os clientes, a ter que ficar surripiados dos seus pertences?
Se, em abono da verdade, são os Estados que emitem o meio de troca entre bens e serviços, o dinheiro, porque razão é que se continua a dizer que a Banca não pode ser pública e tem que ser privada, se cada vez que as coisas rebentam tem de ser o Estado a acudir ao sistema bancário? O que teria sido do BPN se a Caixa Geral de Depósitos fosse privada? E agora que o BPN, nos custou por cada Português algo como 400€uros mas que segundo se prevê poderá ascender aos 800 ao fim do ciclo, por que razão se "vende" aos Angolanos pelo correspondente retorno de quatro Euros por cada um de nós? Porque hei-de eu, que nunca fui cliente do BPN, ficar diminuido no minimo entre 386 e no máximo (?) de 796 Euros?
Interesse do Estado? Mas o Estado somos nós, e esta fracção de 1/10.000.000 desse Estado, eu, I myself, não está nada interessada no negócio. Aposto que cada um dos 1/0.000.000 do Estado que lerem estas linhas comungam da mesma opinião, excepto as fracções iguais a mim e a si, leitor, que de algum modo ficaram do lado do benefício do valor que o Estado me subtrai.
A verdade, verdadinha mesmo, é que a tese que sempre defendi tem cada vez mais sentido: a iniciativa privada só pode ter de facto um desenvolvimento saudável se o sistema financeiro estiver livre dos caprichos e truques que ciclicamente emergem da irracional voragem capitalista que nas Bolsas tem o seus templos. Foi assim na grande crise dos anos trinta do sec XX, a grande depressão, gerada a partir do crash da Bolsa em 1929 também chamada " a tragédia de Wall Street" e que culminou na segunda grande guerra e queira Deus ou o Diabo que agora não desemboque em outra.
Não se pode nem se deve acreditar na sacrossanta auto-regulação dos mercados, pois é sabido desde há muito que essa auto-regulação é uma falácia. É muito fácil transformar uma Bolsa de Valores em Bolsa de Especulação e perverter todo o sentido que está subjacente à participação das poupanças privadas no investimento económico, e ter por essa via um retorno em dividendos. As repercussões tremendas que os estoiros dos Bancos e das Bolsas provocam em toda a economia são de efeito duradouro pois o primeiro activo atingido é o da credibilidade e confiança, fundamentais a todo o investimento. No entanto, os mesmos que provocaram as crises, longe de assumirem os erros, são os mais lestos em encontrar vícios estruturais e culpar os Estados pelo estado das economias! É extraordinária a desfaçatez e pouca vergonha com que surgem a apresentar as "soluções" que passam sempre pelo empobrecimento da macro estrutura social: O Estado! Privatizações e alienações e aumentos de impostos, não sobre o capital, mas sobre os mais fracos.
No entanto, sabe-se como isto não conduz a qualquer outra solução que não seja a do enriquecimento vergonhoso de uma pequena minoria em troca do empobrecimento geral. Ora o Estado não pode ficar indigente, sem recursos e rendimentos como estes Neoliberais pretendem. É um caminho errado e implosivo, como a História já demonstrou por mais de uma vez e as soluções em tempo de crise são precisamente as contrárias: mais Estado e mais responsabilização individual no sentido da recuperação da confiança, e não esta coisa inacreditável que consiste em dar-se o ouro ao bandido....
A Banca, pelo papel que representa na economia, não pode nem fazer concorrência aos seus clientes, nem pode prejudicar os clientes em função de interesses - não há que ter medo das palavras- obscuros, ilegítimos e criminosos, mas é isso que acontece recorrentemente. Por esse motivo, a Banca nacionalizada, como ou sem participação privada,- o Estado seria sempre o patrão- é a única solução que promete alguma estabilidade a prazo. E isso até uma criança entende.
A dívida é a arma de pressão mais fabulosa que o Homem inventou. Passa muito facilmente - através do comprometimento das partes envolvidas-, de elemento propulsor do desenvolvimento económico para elemento de chantagem, de pressão e de subtracção de bens. Perante o "pecado" da dívida, guardada com vergonha e culpa no fundo do armário - fica o devedor sem as coisas para as quais trabalhou e descontou muitas vezes durante a maior parte da vida, e ainda, - já sem os bens geradores da dívida, - devedor das maningâncias e engenharias do roubo científico que - à volta da propriedade - os Bancos engendram.
Mas a verdade é que na base de todo o processo, os Bancos também não tem os meios financeiros que emprestam, e tem que pedir a outros Bancos, dando como activos, as dívidas dos seus clientes. Pedem entre si, devem uns aos outros, e sempre que a parada aumenta, já não apresentam os seus clientes com activos mas inventam activos e pedem aos Estados que lhes dêem a credibilidade expressa nas Bolsas, que sancionem positivamente o bolo virtual até que a bolhinha de sabão, cada vez maior, cada vez mais brilhante em direcção ao Sol, rebenta na mili, ou micro-gôta - afinal a verdade- que a gerou.
Ora se foram os Bancos que inventaram activos, muito acima do valor daquilo que os seus clientes de facto valem, porque hão de ser eles, os clientes, a ter que ficar surripiados dos seus pertences?
Se, em abono da verdade, são os Estados que emitem o meio de troca entre bens e serviços, o dinheiro, porque razão é que se continua a dizer que a Banca não pode ser pública e tem que ser privada, se cada vez que as coisas rebentam tem de ser o Estado a acudir ao sistema bancário? O que teria sido do BPN se a Caixa Geral de Depósitos fosse privada? E agora que o BPN, nos custou por cada Português algo como 400€uros mas que segundo se prevê poderá ascender aos 800 ao fim do ciclo, por que razão se "vende" aos Angolanos pelo correspondente retorno de quatro Euros por cada um de nós? Porque hei-de eu, que nunca fui cliente do BPN, ficar diminuido no minimo entre 386 e no máximo (?) de 796 Euros?
Interesse do Estado? Mas o Estado somos nós, e esta fracção de 1/10.000.000 desse Estado, eu, I myself, não está nada interessada no negócio. Aposto que cada um dos 1/0.000.000 do Estado que lerem estas linhas comungam da mesma opinião, excepto as fracções iguais a mim e a si, leitor, que de algum modo ficaram do lado do benefício do valor que o Estado me subtrai.
A verdade, verdadinha mesmo, é que a tese que sempre defendi tem cada vez mais sentido: a iniciativa privada só pode ter de facto um desenvolvimento saudável se o sistema financeiro estiver livre dos caprichos e truques que ciclicamente emergem da irracional voragem capitalista que nas Bolsas tem o seus templos. Foi assim na grande crise dos anos trinta do sec XX, a grande depressão, gerada a partir do crash da Bolsa em 1929 também chamada " a tragédia de Wall Street" e que culminou na segunda grande guerra e queira Deus ou o Diabo que agora não desemboque em outra.
Não se pode nem se deve acreditar na sacrossanta auto-regulação dos mercados, pois é sabido desde há muito que essa auto-regulação é uma falácia. É muito fácil transformar uma Bolsa de Valores em Bolsa de Especulação e perverter todo o sentido que está subjacente à participação das poupanças privadas no investimento económico, e ter por essa via um retorno em dividendos. As repercussões tremendas que os estoiros dos Bancos e das Bolsas provocam em toda a economia são de efeito duradouro pois o primeiro activo atingido é o da credibilidade e confiança, fundamentais a todo o investimento. No entanto, os mesmos que provocaram as crises, longe de assumirem os erros, são os mais lestos em encontrar vícios estruturais e culpar os Estados pelo estado das economias! É extraordinária a desfaçatez e pouca vergonha com que surgem a apresentar as "soluções" que passam sempre pelo empobrecimento da macro estrutura social: O Estado! Privatizações e alienações e aumentos de impostos, não sobre o capital, mas sobre os mais fracos.
No entanto, sabe-se como isto não conduz a qualquer outra solução que não seja a do enriquecimento vergonhoso de uma pequena minoria em troca do empobrecimento geral. Ora o Estado não pode ficar indigente, sem recursos e rendimentos como estes Neoliberais pretendem. É um caminho errado e implosivo, como a História já demonstrou por mais de uma vez e as soluções em tempo de crise são precisamente as contrárias: mais Estado e mais responsabilização individual no sentido da recuperação da confiança, e não esta coisa inacreditável que consiste em dar-se o ouro ao bandido....
A Banca, pelo papel que representa na economia, não pode nem fazer concorrência aos seus clientes, nem pode prejudicar os clientes em função de interesses - não há que ter medo das palavras- obscuros, ilegítimos e criminosos, mas é isso que acontece recorrentemente. Por esse motivo, a Banca nacionalizada, como ou sem participação privada,- o Estado seria sempre o patrão- é a única solução que promete alguma estabilidade a prazo. E isso até uma criança entende.
junho 01, 2012
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