junho 27, 2012

A posta que é na cristoteca que Cristo toca


Confesso: estou em pulgas para saber novidades da anunciada cristoteca de Fátima e tenho devorado tudo quanto a Comunicação Social tem especulado acerca desse ansiado bastião da náite como ela deve ser na interpretação católica dos que tanto torcem o nariz aos antros de depravação espalhados país fora pelo demo.
A sério, acredito que para muitos jovens crentes a cristoteca representará pouco menos do que um milagre pois para a maioria deles será a única hipótese de frequentarem um espaço de diversão nocturna que, de resto, poderá mesmo cometer a ousadia de ter as portas abertas aos fiéis até altas horas da madrugada, havendo quem arrisque a possibilidade de a cristoteca manter as suas portas abertas para lá das 23 horas!

A euforia que invadiu os Seminários e agrupamentos de escoteiros de norte a sul de Portugal impõe a divulgação de toda a informação possível, mesmo que provinda de fontes anónimas celestiais.
É nesses pequenos pecados da fuga de informação que todos bebemos (sem álcool) o essencial para matar a sede de conhecimento acerca de tão abençoada iniciativa pastoral, embora seja de prever que os lucros sejam de imediato distribuídos pelos pobres mais à mão, depois de deduzidas as despesas com o pessoal.

O recrutamento de pessoal também é um mistério, tendo em conta algum tipo de paralelo com as discotecas tradicionais e pagãs em matéria de funções a desempenhar.
É de prever que por detrás do balcão do bar encontremos catequistas formados para formatarem a juventude cristã no sentido de apreciarem o alto teor católico do sumol de laranja ou mesmo de ananás.
Por outro lado, em cada porteiro terá que existir um sacristão da paróquia, altamente especializado na identificação dos fiéis e capaz de impedir o acesso à cristoteca por parte de filisteus embuçados.
O DJ, naturalmente, será um padre. Isto traduz um esforço na racionalização dos recursos por poder acumular com a selecção musical a celebração da Eucaristia, sendo de prever que se trate de um prior bastante prafrentex e com uma abrangência que engloba a malukeira de uns Evanescence ou a sobriedade de um Frei Hermano da Câmara remix.

Claro que esta ideia peregrina envolve riscos calculados por parte da secular instituição que a irá pôr em prática, nomeadamente pela necessária abertura ao exterior imposta pela necessidade de promoção da iniciativa.
E se um dia, depois de meses a filtrarem a playlist em busca de palavrões, obscenidades e outros desvios à moral cristã e aos elevados valores que irão nortear a cristoteca chega o dia em que permitem, sei lá, uma emissão em directo da bué de irreverente RFM ou assim?

O fanico dos mais beatos empreendedores ligados à iniciativa será de tal forma que acabam desmaiados na pista.
Em posição de missionário, se Deus quiser…

11 comentários:

  1. Eu irei lá quando actuar o DJ Ratzinger!

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  2. Eu para ver o Rato-de-Sacristia não vou com a Sãozinha.
    De resto e rementendo-me ao post, sou a dizer que na verdade estas tentativas e procedimentos da Igreja são recorrentes e não tão inusitados como podem parecer. Ao longo destes dois mílénios e de forma continuada, a estratégia desta instituição foi sempre a de ter duas atitudes perante os fenómenos de comportamento, a considerar: a diabolização do sexo, e, o salto para a frente como quem cavalga a onda. Sempre que de alguma forma sentem perder influência, não hesitam em incorporar toda a sorte de ritos, procedimentos, e costumes que dantes condenavam pela óbvia razão de que estes estão umbilicalmente ligados à poderosa atracção entre sexos, punção que desde sempre pretenderam controlar por todos os meios.
    Como sempre fizeram, a primeira fase é a tolerÂncia, a segunda, a colagem, a terceira, a dominação, sendo a fase final, a quarta, reservada à purga, ou seja, a transformação lenta daquilo que abominam até ficar irreconhecível relativamente ao que lhe deu origem. Foi assim com os milhares de santos que a Santa Igreja, aos longo dos Séculos, rapidamente se apressou a beatificar numa altura em que as antigas religiões mantinham a sua força em populações que observavam um misto de sensibilidades, superstições e crenças. Os velhos deuses, maiores ou menores, foram assim primeiro tolerados, depois as suas propriedades divinais coladas a determinados santos os quais quase sem excepção foram de imediato beatificados.
    Por esta razão, uma "cristo-teca" não é coisa que me faça ficar admirado, e até é de prever que de algum modo e perante um quadro de crise económina duradoura, elas possam vir a aumentar. Como sempre, o desespero e a frustração encontra no transcendente e o sobrenatural algum conforto, um dos escapes, e é precisamente na entrega da vontade ao campo do intangível que a Igreja tem a chave da sua influência.

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  3. E aplaudo: consegues num pedacito de blog dar um cheirinho do teu estudo.
    Mas eu iria assistir ao espectáculo do DJ Bento. Afinal, a primeira encíclica dele foi sobre o amor erótico... e concluía que não é intrinsecamente mau.

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    1. E concluiu muito bem. Na verdade, se fosse mau, nem ele nem todos os ratos de sacristia existiriam. A evolução da vida encontrou muito cedo na sua história, que o cruzamento sexuado permitia cópias dos seres que os originavam mais resistentes e mais bem preparadas para grandes saltos evolutivos. Da punção essencial e primitiva, que impõe aos seres sexuados a necessidade reprodutiva, até ao despertar da consciência do Homem, existe apenas um momento, um despertar. Tal como o sol desperta da noite, a descoberta consciente da sua sexualidade fez o Homem criar por analogia todo um universo de valores baseado nesse força tremenda que é para todos os efeitos e de facto, a vida eterna, sendo os nossos corpos, apenas mensageiros dessa coisa maior que viaja em nós de salto em salto, de geração em geração, como o sol, a lua, as estaçoes do ano, renascendo em cada ciclo: a vida.
      Todas as religiões seguem-na como valor supremo e com as variantes de céus e infernos, reencarnações, castigos, karmas, purgatórios, uns mais outros menos, mas no cerne está sempre o mesmo: o sentimento de maravilha pelo fenómeno consciente da vida e a sua projecção como projecto individual rumo ao infinito. Entre a construção metafísica de um espaço virtual povoado de seres virtuais e eternos e a erecção de um menir vai apenas um lapso de tempo ínfimo: é da erecção do pénis que a vida se eterniza, o penis mensageiro de vida, (a vida eterna), a partir do qual toda a teoria religiosa se descompacta.

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    2. Mas olha que foi um grande avanço, assumir que o erotismo não é mau :O)

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    3. Eu ainda tinha as minhas dúvidas... ahahahahahahahah

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    4. Tu tinhas dúvidas de que o erotismo era uma coisa boa?
      E será mesmo boa?
      Ou é boa a efabulação que a mente humana faz a partir dessa necessidade básica da perpetuação da espécie, isso sim um universo fantástico?
      Seja como for, é uma coisa não boa mas ÓPTIMA ;)

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    5. Se não mo dissesses, eu ainda desconfiava...

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  4. Adorei! Adorei a ideia da "cristoteca" e a invenção da [cristodrink] Jamais faria melhor nem num daqueles dias em que acordo mais "azeda"... Melhor, melhor, só arrancando o tipo da cruz para ele descontrair um bocado e abanar o capacete... E depois... sou totalmente a favor de que o espírito santo também curta os prazeres da night...

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