As lições da História em matéria de (maus) comportamentos humanos impede-me de fazer finca-pé na noção de que não existem alegados ecologistas que aproveitaram a onda do ambiente para surfarem o sucesso financeiro. Concedo esse benefício da dúvida aos que tentam a todo o custo desacreditar os avisos e os números (que são factos) que comprovam não apenas as alterações climáticas que vamos sentindo na pele mas igualmente a sua ligação com um dos preços mais altos do nosso progresso movido a combustíveis fósseis.
Porém, a concessão que faço à possibilidade de infiltração de oportunistas em qualquer causa humana estende-se à que aplico à hipótese de existirem alguns indivíduos inteligentes mas tragicamente equivocados entre a falange de imbecis que tentam desmentir sem sucesso uma verdade tão inconveniente quanto insofismável.
Aquilo que os números provam, o disparar da carga de dióxido de carbono na atmosfera ao longo das últimas décadas e a relação directa entre essa subida a pique com as das temperaturas no mundo inteiro, as mesmas que derretem glaciares e transformam o mar numa fábrica de temporais como a Humanidade nunca enfrentou, é algo de tão temível como a queda de um calhau semelhante ao que aterrou no Iucatão, México, em termos de possibilidade de extinção global da vida no planeta.
Nem os apoiantes da indústria petrolífera, a mais interessada em chutar o assunto para canto enquanto ainda duram as reserva de crude e que se lixe o resto, conseguem desmentir a verdade dos instrumentos de medição. Apenas refutam a explicação óbvia para esses números assustadores, empurrando a culpa para a própria Natureza e para os seus ciclos que já impuseram meia dúzia de períodos bem gelados ao longo do último meio milhão de anos, na sequência de aquecimentos globais espontâneos.
É essa a principal teoria daqueles que tentam, por ordem, desacreditar e ridicularizar cientistas ou políticos de topo que tenham a desdita de abraçar o combate pelo planeta, dos que denunciam os sinais de alarme que a cadeia de poder político-financeira predominante tenta abafar a todo o custo para salvar o que resta de um modo de vida que sustenta as suas fortunas pessoais e garante muitos postos de trabalho, é certo. Mas em causa estão consequências dramáticas num futuro tão próximo que já começaram a fazer-se sentir, nomeadamente na perda irreversível de vidas em calamidades naturais, de espécies entretanto extintas pelos efeitos da poluição e nos danos cada vez mais irreparáveis no equilíbrio já de si instável dos humores da mãe-terra.
Fecha-se a ritmo acelerado a pequena janela de oportunidade que permite uma existência normal, ou apenas a própria existência, a seres tão frágeis como os que habitam este planeta entre os intervalos de eventos, cataclismos, que redesenham e repovoam a superfície da Terra que estamos agora a envenenar.
A minha maior irritação, para além de começar a perceber o lugar que ocupará na História, em havendo uma, o grupo de gerações que integra a minha, é perceber que não existe um esforço real de argumentação por parte dos advogados do diabo que se concentram em alijar responsabilidades ao ponto de criarem um espaço de manobra reduzido, reasonable doubt, de apostarem no descrédito de mensagens importantes a que urge prestar mais do que a devida atenção, que clamam por uma urgente intervenção à escala mundial no sentido de inverter a actual tendência ou, no mínimo, de preparar a Humanidade para a colheita de tempestades que a apatia generalizada continua a semear.
Já o Génio de Platão dissera há milénios, que o Homem vive fechado na sua caverna de conforto. Tendo a capacidade de deslocar-se para onde quiser, prefere limitar a sua esfera de acção para as envolvências de conforto. Tão fácil ver como mesmo quem viaja, raramente vai à sorte e de mente aberta ao eventual desconhecido. Vão em bando, viagem e hotel comprados, para um resort qualquer onde nada de diferente acontece, onde comem o mesmo ou quase, que em casa e onde a única aventura da descoberta se resume à angústia de um poço de ar ou à queca com uma profissional do sexo, perfilada para o estereótipo do eventual cliente estrangeiro.
ResponderEliminarÉ este o principal culpado de tudo o que acontece ao ambiente: gente a mais num planeta finito onde a caverna de conforto de cada um é o caixote do lixo do vizinho.
Falemos de nós: gostamos de andar de carro. Sim, gostamos de viajar dentro da nossa esfera de conforto. Andar a pé três horas? Não obrigado, além de que não vamos quase a lado nenhum. Mas a nossa comodidade cai em cima de todos sob forma de milhares de toneladas de carbono, que aqueçem o ar, a água e reduzem progressivamente o oxigénio de que dependemos para todas as outras nossas actividades. Mas antes que o carro comece a queimar o combustível, já milhares de toneladas foram libertas para o ar. Para a produção do combustivel, queima-se combustivel. Nas torres de refinação e catalização das fábricas petrolíferas uma parte substancial do crude é logo ali consumido. Depois, fazer os carrinhos. Minas ou reciclagem de metais, quaisquer que sejam, os processos implicam o uso de altos fornos, mais combustível queimado. E todo esse calor liberto para a atmosfera, acrescentado do calor que o CO2 faz concentrar por via do aprisionamento no ar dos raios solares, é energia pura que se acrescenta à energia que já existia naturalmente na camada gasosa à volta do planeta. Constitui um sistema energético cujo equilíbrio se manisfesta por correntes maritimas, regimes de chuvas e de ventos.
Julgar que se pode mexer num dos dados duma equação sem que se altere o seu resultado é uma perfeita estupidez matematicamente mais que comprovada. A alteração dos níveis de energia na biosfera irá, (está já) mudar o modelo de equilibrio do sistema. Haverá ventos mais intensos, mais tufões, mais secas prolongadas e mais dilúvios. O degelo irá provocar um aumento dos níveis do mar e por essa via uma deslocação de biliões de toneladas de água dos polos para o resto dos oceanos com predominância das regioes do equador. Isto fará aumentar de forma dramática as tensões sísmicas devido ao aumento do peso sobre a crosta terrestre. São de prever tremores de terra de grande magnitude. É o planeta a acerta a equação energética, alterada pelo Homem...
Este cenário dramático a somar à subida do nivel das águas não parece porém assustar por aí além a grande maioria das pessoas.
" Se calhar não é bem assim " pensam enquanto nos seus carritos continuam a atirar as pedras para o quintal do vizinho que julgam nunca lhes vir a cair em cima....
E que tempestades aí vêm...
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