A utilização em massa do verbo inspirar começa a bulir-me com os
nervos.
E nesta saga do quem-é-que-é-mais-inspirador, vale tudo: roubar
ideias (sim, sim, mudar as palavras não implica ausência de plágio -
chama-se-lhe ideográfico), parafrasear sem nomear, fazer suas as palavras de
outrém e, sobretudo, para além de contar com a ignorância alheia (boa aposta, ao
que parece...), cuspir umas balelas para o ar, que não se discutem e de que
provavelmente poucos conhecem o real significado, pelo que "são
inspiradoras".
Ora o verbo inspirar tem uma significação, seja na sua versão transitiva ou pronominal,
pelo que não deve ser usado quando não se sabe o que dizer - mas as mesmas
pessoas que o fazem são as que, quando interpelados e na ausência de argumentos,
atiram com um "é isso mesmo!" ou "muito bem, gostei de ver!", a ver se mandam o
interlocutor inspirar-se para outro lado.
Os inspiradores
denominam-se, normalmente, por "treinadores de vida" (mas em inglês que é bem
mais técnico: só na tradução, ganha-se credibilidade) e pretendem, portanto, sem
formação que convença quem quer que seja (há sempre excepções nestas regras mas
não é delas que aqui falo, porque são uma ínfima minoria) inspirar as
pessoas. Vão mais longe, de resto: pretendem formá-las (suponho que na
arte de bem inspirar ou no engenho de bem se sentir inspirado) a eleger o sentir
em detrimento do pensar, numa dicotomia reaccionária que recupera Descartes e
faz tábua rasa de todos os avanços da ciência e
epistemologia contemporâneas.
E o portuguesinho, que não sabe que não é
life coacher quem quer mas quem tem formação para isso e que, em
troca dos muitos euros que pagam em formações de tanga para se sentirem
inspirados, devia exigir modelos de resolução de problemas e técnicas
de pensamento crítico em vez de frases roubadas aqui e além, fica feliz porque
se sente parte de uma comunidade (o que também não sabe bem o que
significa mas sempre aconchega) de gente inspirada.
Abençoados
os pobres de espírito, que sempre movimentam a economia e dão dinheiro a ganhar
a muita gente que, de outro modo, não passaria de profissionais pouco
qualificados de uma chafarica qualquer. Aproveitem bem, estes últimos, porque no
dia em que esta for a sociedade de conhecimento que um dia terá de ser (sob pena
de se auto-aniquilar), vão andar a inspirar calhaus.
Mais ou menos
como agora, mas sem a parte do dinheirão.
Quando será que esta malta expira?...
ResponderEliminarOra aí está uma excelente pergunta! (dir-te-iam eles)
EliminarVerdadeiramente inspiradora. (acrescentariam)
Nunca a tal eu aspiraria.
EliminarMas eu já fui aspirante.
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