novembro 07, 2012

A memória do peixinho, o Lemingue, e os Estaleiros de Viana do Castelo

A Natureza, mãe à qual  todos pertencemos, fornece a todos os momentos as respostas óbvias às perguntas mais intrincadas que as constelações de neurónios colocam aos seus inquietos portadores.
Como é que um certo peixinho sabe onde nasceu de forma a regressar na altura da postura, como é que tem memória para tão grande tarefa quando vezes sem conta é capaz de morder um anzol, magoar-se, fugir, para mais tarde, sem memória aparente da experiência negativa, voltar a cair na mesma armadilha? A resposta é de uma intrigante simplicidade. As instruções básicas de sobrevivência da espécie são mais poderosas do qualquer outra compilação de dados que os centros nervosos vão adquirindo ao longo da vida.  A memória adquirida, de curto ou longo prazo, é assim subordinada a estrutura fixa de uma outra, muito mais poderosa, determinante, fundamental para que a espécie se perpetue.
Isto também é verdade, como não poderia deixar de ser, para os Humanos. Temos todo um universo de comportamentos adquiridos que giram, sem que o saibamos muitas vezes de forma consciente, em redor de instruções básicas e fundamentais à perpetuação da espécie, que por sua vez se ramificam, se especializam em coisas tão humanas tais como etnia, tribo, família, grupo de tribos, grupos  de famílias, regiões, países... Um país é na sua génese a expressão genética de um grupo, de um grupo de grupos, de algum modo geneticamente relacionados.
Seria natural que uma vez organizados em super estruturas dessa punção básica, os dirigentes do interesse comum fossem os primeiros a ter de forma instintiva essa noção  da necessidade fundamental de garantir os interesses para que o seu grupo sobreviva e se perpetue.
Governar é isso no fundo.
É assim, no mínimo lamentável, para não usar outro tipo de pesos nas palavras, que um após outro, se vão alienando a troco de nada o património construído a partir da vontade deste povo que se chama ainda Português.
Em dezanove de Março de 2012, o nosso actual primeiro ministro, Pedro Passos Coelho, disse que os Estaleiros navais eram para privatizar pois o Estado não tem mais dinheiro para injectar na empresa. Empresa essa, diga-se, que tem encomendas de navios para satisfazer, viabilidade económica, e que só estava à espera que patrão Estado libertasse as verbas para o arranque dos trabalhos pelos quais os clientes pacientemente esperam.
Agora que o universo de potenciais compradores se fica pelo número de dois, apareceu de repente mais dez milhões de euros para de algum modo se salvaguarde a construção de um navio que o Estado tinha encomendado, o que não invalida que "não havendo dinheiro" como disse Passos, o governo vá receber uma quantia mínima pela venda dos estaleiros estando o  passivo da empresa rodeada da suspeita de que o governo a vá cobrir. Ou seja, de onde não havia dinheiro para viabilizar a empresa, aparece o mesmo por artes mágicas para dar aos compradores. Um "negócio" do tipo da privatização do BPN, onde os quarenta milhões de euros da sua venda custaram ao erário público, e após os milhares de milhões, mais umas quantas centenas de milhões.  A par da exclusão de um concorrente Norueguês, a Volstad Maritme, empresa de renome mundial, por supostamente se ter atrasado na entrega das propostas, esta privatização -mais uma vez obscura-, previsivelmente a passar ou para mãos Russas ou Brasileiras, remete-nos de novo para a Natureza.
Existem inúmeros casos deste comportamento, mas é mais conhecido o caso dos Lemingues.  Estes pequenos roedores, ciclicamente, e conduzidos por um chefe, seguem em grandes bandos rumo a altos precipícios de onde caem, morrendo assim aos milhares. Uma punção suicida, derivada quiçá de uma instrução básica e inconsciente que tem a ver com a noção instintiva do excesso de indivíduos para um determinado ecossistema. Esta tese, que alguns cientístas defendiam, não está no entanto bem explicada, pois mais que o excesso de indivíduos, parece ser um ritual cíclico que se repete em intervalos de tempo determinados.

Será este então talvez o que se passa no cerne cinzento de quem nos governa. Não será a memória de peixinho ou a falta de mundo, que faz os governantes não aprenderem nada com a História e repetirem sucessivamente os mesmos erros. É antes um fenómeno transgénico: o ritual de suicídio é mais forte do que o instinto de sobrevivência. E placidamente, embora gritando alguns por vezes bem alto que vamos no mau sentido, seguem todos o mal amado lider, rumo às falésias, rumo à desgraça...

4 comentários:

  1. O que me "Leminga" é que me parece que tens toda a razão.

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  2. Faço aqui um copy paste disto a ver se entendo melhor esta cumplusão suicida:

    -Na sua teoria das pulsões Sigmund Freud descreveu duas pulsões antagónicas: Eros, uma pulsão sexual com tendência à preservação da vida, e a pulsão de morte (Tânatos) que levaria à segregação de tudo o que é vivo, à destruição. Ambas as pulsões não agem de forma isolada, estão sempre trabalhando em conjunto segundo o princípio de conservação da vida. Como no exemplo de se alimentar, embora haja pulsão de vida presente - sendo a finalidade de se alimentar a manutenção da vida - ela implica-se à pulsão de morte, pois é necessário que se destrua o alimento antes de ingeri-lo. Aí presente um elemento agressivo, de segregação, este se articula à pulsão primeira, como sua necessária contraparte na função geral de conservação.

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  3. Será por isso que o Coelho se vinga do coelho, (h)à caçador???

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