É complicado desistirmos de algo. A desistência é muitas vezes encarada como uma derrota ou como um esgotar de forças. Não é possível continuar mais. Podemos desistir de tanta coisa. Pode ir desde a situação ou objeto mais banal até à desistência de um sonho. Pode ser porque já fez mas já não faz sentido ou até porque não apetece mais. No meu percurso tenho desistido de várias coisas e de alguns sonhos também. Não é guardar numa gaveta para depois ir recuperar quando apetece ou quando já tenho novo animo. É mesmo desistir e abandonar por completo. Há aquelas situações ou até desejos que sei serem difíceis ou até impossíveis de alcançar mas não desisto deles de forma alguma. E depois surgem outros cenários em que o melhor mesmo é desistir e começo um processo interno. Conheço-me tão bem que sei quais são os primeiros sinais.
Mas quando se desiste de algo nem sempre é mau ou desolador. Bem pelo contrário: é libertador. O início do processo é que é amargo porque estou em carne vida a dar tudo de mim e a expor a minha alma e os meus argumentos e a dar tudo de mim. Faço-o uma e outra vez até esgotar todas as minhas forças para poder sentir no mais profundo da minha consciência que fiz tudo o que estava ao meu alcance. O culminar deste processo é o mais simples de se fazer: é desistir. Simples porque já estive todo o tempo a mentalizar-me e a mostrar em todas as frentes o que sinto. Simples porque a consciência está preparada. Simples porque depois da dor só pode haver morte ou alívio e se é para morrer que morra a vontade de acreditar que há pessoas que ainda valem a pena, porque na verdade não valem mesmo. E sinto alívio. Alívio em todas as partes, como se se soltasse um balão e ele voasse para longe, sem destino. E a vida continua porque é no que vale realmente a pena que eu devo concentrar todas as minhas forças.
"é no que vale realmente a pena que eu devo concentrar todas as minhas forças"
ResponderEliminarIsso, rapariga... concentra-te ;O)
Estou concentradíssima Sócio ;)
ResponderEliminar"Acardito!"
EliminarCreio que em muitos casos, o coração teima em bater enquanto a vida já não se deseja, enquanto em muitos outros, é ele que pára quando ainda há tanto para viver...
EliminarNo caso presente, até salta à vista que tudo está operacional.
EliminarSalta á vista, numa vista que salta
EliminarE nem precisa de salto alto...
EliminarEu gosto muito de reinícios, embora me custem as desistências. Mas a vida é feita de opções e nenhuma lei diz sequer que temos sempre que tomar as mais acertadas.
ResponderEliminarShark, até podem nem ser as mais acertadas mas são as que fazem mais sentido, no momento.
EliminarA questão aqui está em desistir-se dos outros e não de nós mesmos. Quando o coração dos outros deixa de bater em nós, não porque tenhamos feito algo mas por sentir que já fizemos tudo e chegar à conclusão que só persistem as situações que nos magoam se nós continuarmos a insistir. É menos penoso desistir e seguir em frente.
ResponderEliminarExplicadinho assim, a tua desistência soa bem sensata.
EliminarSaber desistir é uma arte.
EliminarCompletamente de acordo.
Obrigada meus queridos.
EliminarManda sempre ;O)
EliminarHá um amargo na constatação de que a disestência é própria dos fracos enquanto a persistência, coisa de teimosos. Uma e outra em excesso são sinónimos de estupidez. Quem desiste de tudo é igualzinho ao que insiste na batalha perdida. No entanto ambos são motivos de elogio alheio quando por um sortilégio dos Deuses triunfam:
Eliminar- Foi a tempo, dizem as vozes, se tivesse insistido, teria sido a sua desgraça....
- Ainda bem que teve a necessária força para continuar, dizem as mesmas vozes, segurou e conseguio o intento. Assim é que é....
- Olha lá o parvo... (as mesmas vozes) podia ter deixado aquilo há que tempos, mas continuou... Grande besta...mas olha, quem corre por gosto não cansa... Bem feita...
- Vejam lá a palermice... (quem diz, quem diz?) A insistir naquela coisa, Aquilo é chão que já deu uvas. Em vez de deixar aquilo da mão... Há gente muito parva...
Ora tomem lá o velho e burro e o puto, em versão Rap...iô
E uma versão «o rei mago, os bons rapazinhos e o coelho», iô?
EliminarIô-iô
EliminarPerdoa-me, Mad, que vulgarize um pouco o discurso, mas lendo o teu texto ocorreu-me uma espécie de parábola, também sugestionado ali pelo comentário do Charlie, e que é assim:
ResponderEliminarEu, deliciando-me com uma tenríssima, suculentíssima e saborosíssima costela de vitela grelhada... Eu, quase geneticamente impedido de desistir seja do que for, tanto por obstinada convicção, como por determinada estupidez (confesso aqui alguma fraqueza, com franqueza)... Eu, enfim, perante a ânsia de ferrar os dentes aos nacos de carne ainda desafiadoramente agarrados ao osso - os melhores, como se sabe - mas recuando, nos limites da paixão carnal, e cobardemente por me lembrar da gritante fragilidade de dois molares que, apesar de tratamento já aprazado, ameaçam rotura iminente.
E eu quedo-me, na angustia da desisência, sopesando a incomodidade que poderá advir da minha persistência. Mero calculismo ou instinto de sobrevivência?
Também assim a desistência, seja ela qual for, ocorre sopesando os prós e contras que cada um muito intimamente transporte consigo. E creio bem que isso é que faz de nós, também, sobreviventes, essa capacidade de sopesar o que se nos oferece, em nosso redor...
E a carninha junto ao osso, marchou ou desististe?
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