novembro 13, 2012

O negócio obscuro. Esse, o da caridadezinha.

....os grandes interesses, que dêem o que deixam estragar por razões de manutenção de preço e de lucro ...

Quem me conhece sabe por experiência própria, que raramente me recuso a dar uma mão, a ajudar, a como se diz em Portugal, desenrascar.
Mas, neste mundo injusto onde a FOME se escreve com letras maísculas, recuso essa coisa da caridadezinha. A caridade é a má consciência da injustiça.
Tenho o trabalho de explicar o porquê às meninas e meninos que de boa vontade estão ali horas a fio a pedir convencidas da boa causa ( e em tese, é) aquando das campanhas dos Bancos Alimentares.
Já fui em tempos colaborador deste tipo de organizações, e por mais de uma vez. Nessa idade em que somos novos e temos todos sonhos... O que vi e assisti depois foi uma vergonha, um saque aos melhores produtos, não por parte dos colaboradores mas sim pelos responsáveis. A campanha "Pirâmide" foi uma delas e é ainda hoje me irrita pensar nela.
No caso dos Hipers, o que se estraga nas traseiras, nas chamadas "contra-lojas" é uma dor de alma. Os produtos que devolvem e que se acabam por deitar fora  por estar fora de prazo neste mundo cheio de fome, são um crime. Os hipers compram em grandes quantidades para terem direito a melhores preços mesmo sabendo que o mercado não absorve determinadas quantidades. É a lógica da maximização de lucros a todo o custo. Comprando em grandes quantidades acabam por ter um preço que não teriam se apenas comprassem o que de facto prevêem vender. Por outro lado, adquirindo mais do que precisam, promovem uma relativa escassez de produtos no mercado o que prejudica a concorrência.
Depois devolvem, e não se importam de deixar estragar o que ainda está em perfeitas condições para ser por exemplo, dado. Mas os produtos alimentares fora de prazo acabam quase na totalidade por serem deitados fora sem que isso lhes custe mais.Os contratos leoninos penalizam, não a garganeirice sôfrega dos Hipers, mas sim os produtores que tem de receber de volta os produtos, devolvidos sem qualquer cuidado, muitas vezes transformados em lixos.
 Uma corja!
Eles, os Hipers, não dão nada rigorosamente: NADA! O negócio deles é tirar. Mas de cada vez que há campanhas, lá surgem nas TV's como beneméritos a fazer caridade, com o esforço dos outros. Ou seja, dão "licença" para que uma equipa da boa vontade recolha o que as pessoas solidariamente  e com muita boa vontade - e muitos com  sacrifício certamente -,COMPRAM NO HIPER, PARA DEPOIS DAR.
Ou seja, na óptica dos Mega-merceeiros, mais uma boa oportunidade de negócio.
Mas o descalabro e pouca vergonha continua depois já noutra escala, com os produtos recolhidos a terem encaminhamentos muitas vezes inconfessáveis acabando paradoxalmente, muitas vezes, no lixo!
Eu não dou nem um bago de arroz.
Os Hipers, os grandes interesses, que dêem o que deixam estragar por razões de manutenção de preço e de lucro, TODOS OS DIAS! E poderiam desde logo por começar por quem os fornece e a quem eles espremem até ao limite da insustentabilidade, logo, falências, desemprego, fome. Sim, a tal...fome...
E quanto ao que acontece ao que depois é dado, é talvez já mais assunto de polícia

p.s. - É descabido neste tema  aprofundar mais, lateralizando, mas sou, nesta coisa da caridade, todo a favor de dar a cana ao pobre em vez da entrega do peixe, e neste particular colo a situação geral do País, cada vez com menos canas e cada vez mais dependente das sobras das espinhas de peixe alheias...

5 comentários:

  1. Ensinar a pescar e dar a cana. Isso sim, já é caridade como eu "deve de ser".

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  2. E tu, São, nessa matéria de dar à cana, és Mestra, upa se és...

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  3. Por um lado, dar a uns a cana e ensiná-los a pescar; por outro lado, a outros dar-lhes com a cana e afogá-los... eis o que me parece uma bela receita para se endireitar o orçamento. ;-)»

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