Qualquer aluno de Psicologia no ensino secundário o debita com à-vontade, de tão
simples que é: aproximamo-nos e mantemo-nos perto de quem nos faz globalmente
bem (e se não digo "absolutamente bem" é porque nem a Madre Teresa de Calcutá
era sempre correcta), rejeitamos e tentamos manter afastado quem genericamente
nos maça, quem nos faz mal, quem não respeitamos (estes hão-de ter um qualquer
lado bom, e daí o advérbio, embora, assim de repente, não esteja à
vista).
Pelos primeiros, tudo.
(e não tem de ter lógica, nem ser
racional)
Pelos segundos, nada.
(a não ser uma imensa vontade de fugir,
quando se os avista - e não é de medo...)
Não importa se alguém do
primeiro grupo começou por pertencer ao segundo, ou se por lá passou, graças a
um qualquer mal-entendido ou má-vontade, ou graças a circunstâncias por que
somos responsáveis ou a outras, que nos são alheias. Não tem interesse o
percurso de quem faz agora parte do segundo grupo, mesmo que provenha do
primeiro (a viagem neste sentido também ocorre, embora com menos probabilidade):
se se quis bem a alguém que agora não nos diz nada, que importa o bem que se
quis quando o que vale é o que ora se sente?
Acresce que é verdade que pode
haver esta transferência entre grupos mas que, normalmente, só acontecem uma vez
e a coisa depois estabiliza. De resto, e a despeito desta situação inicial, é
tudo muitíssimo simples. Se não vejam:
Bem = Perto
Mal = Longe (e vale
abusar da distância)
Não me parece que seja assim tão complicado.
O George Bush, "dono do Bem", atacava o Mal...
ResponderEliminarNa linguagem teatral, o bem e o mal têm, em relação ao afastamento e a proximidade, da parte do espectador um outro tipo de resposta.
ResponderEliminarComo espectadores, estamos simultaneamente envolvidos e distanciados da (e na) acção.
A boca de cena, junto à ribalta no centro do palco, é o portal mágico onde a ficção e uma pausa da realidade se cruzam, um fio tenue que torna quase real o que apenas a um metro ou dois mais atrás se funde no cenário, uma mera virtualidade, uma proposta, aceite pelo público de forma sublime.
Aproxima-se do espectador o herói, ou o anti-herói. É a proximidade destes que dá o encaixe emocional, o terreno propicio à acção dos bons. Porque é sempre entre bons e maus que tudo gira e são os maus que dão o tiro da partida a partir do qual se espera que o bem vença.
Os distanciamentos e aproximações dos actores e figurantes ao longo do desenrolar da trama dramática apenas se destina, em síntese, a seguir o pulsar da acção, da história ficcionada.
Podemos viver sem os maus?
Sim, mas temos que ao menos ficciona-los.
Projectar a sua carga de forma a alavancar por contraponto a noção do bem.
Assim, nunca poderemos afastar os maus.
Ou fingir que não existem.
Eles são essenciais.
Temos de fazer é como disse uma velha raposa;
Os amigos, temos de te-los bem próximos,
ao pé da gente.
Os inimigos, ainda mais...
Repara como eu não falei de "maus" e de "bons" mas tão só de gente de quem eu gosto e que por isso me faz bem e de gemte de quem não gosto e cuja presença me desagrada (ao que chamei "mal"). Não preciso do mal para saber que estou na presença do bem mas preciso, certamente do bem, de cada vez que o mal me bate à porta, para me lembrar de que há mais do que aquilo.
EliminarE não, não alinho na conversa da velha raposa, mas isso é só porque eu não sou assim tão importante que tenha inimigos. Às vezes, cruzo-me com gente de quem não gosto e esses, nem perto nem bem próximo, apenas muito longe...
É claro que não pessoalizamos aqui nada nem ninguém, apenas exercitamos os neurónios.
EliminarNão gosto nem quero gostar de toda a gente. A nossa escala de valores gira em torno de referências. Precisamos delas para estabelecer coordenadas.
E a coordenada principal é o "ground zero" que é precisamente nós mesmos. Temos do mundo que nos rodeia uma noção que tende por necessidade imperiosa de estabilidade referencial, a ser durante algum tempo imutável enquanto a nossa, entre essas referências, se movimenta. No entanto, tudo mexe, tudo se altera, tudo muda. E quantas vezes nos damos conta de que a mudança nos apanha?
É muitas vezes uma sensação dolorosa. Não gostamos da surpresa da descoberta que desilude. A "culpa" é apenas nossa porque projectámos um universo de conforto baseado nas tais referências que julgamos imutáveis e dados adquiridos.
Temos por outro lado o direito, digo mesmo a obrigação de estabelecer as rotas da nossa vida, e não gostar à partida de um determinado quadrante de respostas que as equações de terceiro grau nos possam dar como opção. Não gostamos e pronto, tá dito :)
Eu cá quero é ter-vos sempre por perto.
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