janeiro 13, 2013

Da relação entre a Pepa e o Benfica-Porto

Durante esta semana, não se ouviu outra coisa: que o mundo está perdido quando uma blogger de moda contratada para participar numa qualquer publicidade a uma marca de telemóveis deseja uma Chanel e a considera uma conquista pessoal, que há que combater a futilidade, que temos de nos manifestar contra o vazio de valores que é apanágio da actual sociedade, que é errado quando alguém emite desejos unicamente para si e esquece o mundo e a fome e a crise e as guerras (blhec lá para a conversa daqueles que têm uma conversa de candidata a Miss Universo em si) e que patati-patatá.
Quanto a esse assunto, já disse o que tinha a dizer e ponto final que o que é demais enjoa.

Só gostava de levar o assunto um nadinha mais longe, desejando, eu, que aqueles que se manifestaram, indignadíssimos, contra a futilidade das Pepas Xavier desta vida não sejam os mesmos que estão agora aos berros lá fora (nas ruas, nos cafés e in loco) ou no mural de Facebook, como se a coisa mais importante do mundo fosse um jogo de futebol a decorrer junto à Segunda Circular. Esses, capazes de beber meia dúzia de minis (e multiplique-se essa meia dúzia pelos não sei quantos jogos para os não sei quantos troféus que cada equipa disputa) e duas sandes de couratos - e nada para os meninos a morrer em África. Capazes de pagarem bilhetes ou quotas (mas a fugirem ao pagamento do IVA, os malandros) ou marcarem férias de acordo com o calendário de uma equipa que decidiram ser a do seu coração (e nada de voluntariado, os grandes safardanas).

Porque eu não vejo grande diferença entre o bem que traz ao mundo o futebol e uma 2.55 da Chanel.
Ou melhor, até vejo: o futebol é mais caro, mais corrupto e mais feio. E nunca ninguém se travou de razões porque gosta mais da 2.55 do que da Birkin.

9 comentários:

  1. E se eu quiser comprar aquela mala Gucci? Agora lixo-me, porque já daria demasiado nas vistas.

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  2. Pois....Uma mala dessas ficar-te ia muito bem para passeares com a São Rosas, ela pegando numa asa e tu na outra.
    Quanto ao "escâncadalo" derivado da futilidade da jovem betinha, sou a dizer que me passa completamente ao lado. Talvez eu até seja um pouco contra-corrente: se ela quer comprar uma mala, fruto do amealhar daquilo que lhe sobra nos rendimentos, então porque não há-de ela comprar a malinha? Pois que compre e que lhe faça bom proveito. No fundo ela até justifica a opção como algo económico: a cor fica bem com tudo, assim poupa umas trezentas malas. Uma verdadeira poupança!
    Já o futebol é outro palco, As paixões são fogo dos deuses que estes nos sopram na alma quando do barro nos fizeram vida. À sua pala toda uma mafia gira, como é mafiosa a fauna que gira à volta das paixões dos corpos, outra oferenda dos deuses. Futebol sim, pintos das costas e vieras do campo, não! Toda a gente sabe que os pintos bons são os do campo e as vieiras, seres das águas e não de sequeiro.
    O que me incomoda de veras é mais de cinquenta mil assinatura contra o abate do cão, e nem uma em memória da criança abatida pela ferocidade louca do animal, Nem uma em memória deste menino (acaso sabem que se chamava Dinis?) nem em memória das dezenas de mortes contabilizadas nos últimos anos em consequência dos ataques de cães ferozes.
    Ainda há poucos meses foi no Porto, uma criança de vinte meses vítima mortal de um dogue que vivia em casa. Quase na mesma altura morreu uma mulher de 46 anos em Matosinhos apenas por ter recusado uma fatia de pão com conduto que o animal cobiçava. O cão em questão era fruto da mesma mistura de raças que vitimou a criança em Beja: leão da rodésia com pitbull. Aqui próximo de onde vido, em Ferreira do Alentejo, uma mulher jovem quase que morria às dentadas de dois cães. Foi salva in extremis quando os ocupantes de um carro deram conta do que estava acontecendo e pararam junto à berma da estrada por onde a senhora caminhava aquando do ataque.
    Era contra isto que eu assinava uma petição a sério. Estes não são animais domésticos, são bombas-relógio, ferozes e imprevisíveis.
    A internet está cheia de relatos como este:

    http://www.youtube.com/watch?v=6dN90KvZVzw&feature=player_detailpage

    Outra coisa que me mexe também é o que está acontecer derivado da incursão dos fundamentalistas no Mali, nomeadamente em Timbuctu, uma jóia da Humanida que tive oportunidade de apenas sobrevoar. Ali os fundamentalistas estão a destruir todo o património cultural não-islâmico tal com os Talibans fizeram no Afeganistão, na localidade de Bamiyan. As duas enormes estátuas de Buda foram destruidas à bomba e tiros de canhão, e Timbuctu está a seguir pelo mesmo caminho.
    Isso sim que me indigna profundamente e não a malinha da betinha. Até porque a malinha é feita por alguém e vendida por alguém e dá dinheiro a ganhar, se bem que possamos discorrer sobre quem é que a faz, quanto ganha, e quanto fica nas mãos de quem comercializa, mas isso são outras contas, se calhar tão mafiosas com as da bola.

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  3. Ainda sobre cães perigosos, persistentes no ataque e muito dificeis de dominar.
    A partir de certo momento, estes cães não obedecem ás ordens dos donos ou tratadores.
    Há aqui cenas só por si mais do que elucidativas sobre o que pode acontecer a uma criança indefesa, mesmo se essa criança for " da casa"

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=znUBNtHrJnY

    http://www.youtube.com/watch?v=ibpto5oZfpw&feature=player_detailpage

    http://www.youtube.com/watch?v=NtUGGeAYNok&feature=player_detailpage

    http://www.youtube.com/watch?v=rOWQrzcKwf0&feature=player_detailpage

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=gJymaLQVjsk

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_detailpage&v=s9wfFFjxxNA

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  4. Eu, que sou alho aloucada, às vezes tenho de ir reler o que escrevi para ter a certeza de que falei sobre o que falei.
    Quanto à primeira parte do teu primeiro comentário, Charlie, não, não és contra-corrente: se leste verdadeiramente os meus dois posts sobre o assunto (este e o do outro dia, para que remeto a dada altura), estás por demais acompanhado, ao menos na ideia de que cada um compra o que bem lhe aprouver com o dinheiro que ganha - e a fultilidade é um conceito por demais relativo.

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