D. Afonso Henriques “era audaz, temerário até, pessoalmente bravo, qualidades nem tão comuns no tempo, como a muitos acaso pareça […], mas era seco, astuto, friamente ambicioso, sem quimeras nem ilusões. Submisso e humilde quando se achava vencido, subscrevia todas as condições, aceitava todas as durezas; para logo mentir a todas as promessas, rasgar todos os tratados, com uma franqueza ingénua, uma simplicidade natural, que chegavam a espantar a própria Idade Média.”
Afinal, nem sequer o rei tinha palavra de rei! Com tais fundamentos, não é de admirar que os nossos atuais governantes façam o mesmo, que mintam sobre todas as promessas, pois “a fama do Constantino já vem de longe”. A fama e o proveito.
Porém, a situação é muito grave: perante tanta trapaça, quem mais pode acreditar no que diz um político nas campanhas eleitorais e na hora da governação ou da oposição? E como se pode decidir em consciência, e com fundamento, e votar em conformidade, se o que eles dizem num dia é o oposto do que farão no seguinte? Como se pode eleger o melhor, o mais íntegro? E já não falo da ideia que pretendem transmitir-nos de que agem e se sacrificam para o bem do povo.
Sabendo-nos intrujados, são legítimas todas as dúvidas que nos assaltam.
Como se pode transmitir princípios éticos aos filhos e netos, se os mandantes do país não os têm, nem palavra, se são uns mentirosos, se não são exemplo para ninguém?!
A etiqueta de mentiroso ficou indelevelmente colada a Sócrates (o nosso), mas alguém está em condições de afirmar que o atual PM e vice-PM são melhores, neste particular? Assim, onde iremos parar? Só nos resta encolher os ombros?! Ou esperar por D. Sebastião?!
Afirma J. Rentes de Carvalho (Portugal, A Flor e a Foice): “ Olhando para trás, ao longo de oitocentos anos, há aqui e ali um estadista íntegro, outro que é sábio e avisado, um jurista capaz e justo. Houve políticos de valor, homens de vistas largas e generosas. Alguns vice-reis voltaram da Índia mais pobres do que para lá tinham ido. Raras exceções. Mas nenhum dos seus atos justificavam a profusão de estátuas, nem as comemorações, nem os discursos bombásticos de ontem, de hoje ou amanhã. Nos oitocentos anos, mais que as virtudes isoladas ou as benfeitorias de um ou outro governante, avultam os crimes contra o povo”.
Mais palavras, para quê?!"
António Pimpão
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