maio 25, 2014

«Reflexões em Dó Maior - VII» - António Pimpão

Nem o Espírito Santo nos salva… e se salva.
É consabido que os bancos, por mais disparates e falcatruas que cometam, estão sempre a salvo de qualquer dissabor, seja financeiro seja reputacional.
Se estiverem financeiramente mal, descapitalizados, o estado põe sempre a mão por baixo e acode-lhes com o dinheiro dos nossos impostos. Se praticarem ações dolosas, o banco e a sua administração safam-se sempre e quem acaba por pagar as culpas são sempre subalternos.
O Banco Espírito Santo é um bom exemplo do que afirmo. Tem praticado toda a sorte de irregularidades e, no entanto, nunca acontece nada, ou seja, paga as multas mas segue em frente:
- nos Estados Unidos foi condenado por lavagem de dinheiro;
- em Espanha, idem;
- no Brasil, também;
- o mesmo em Angola.
- esteve envolvido no caso Portucale, de suborno de políticos para legalização de uma urbanização, com abate de sobreiros, mas apenas os seus gestores e os decisores públicos foram condenados.
- esteve envolvido na compra dos submarinos e no caso das respetivas contrapartidas mas nada se provou por a investigação ter sido feita de forma incompetente, segundo o juiz;
- Ricardo Espírito Santo esqueceu-se de declarar 6 milhões de euros de rendimentos sujeitos a IRS e isso não foi crime fiscal, limitou-se a pagar o correspondente imposto. Assim, vale sempre a pena correr o risco…
- recentemente, em 2012 – e como refere esta notícia –, adulterou a suas contas (melhor, as contas da holding familiar que detém as participações no banco) para camuflar, omitindo-os das contas, empréstimos de 1 200 milhões de euros concedidos a sociedades do grupo em situação económica difícil, isto à custa, e com risco, dos seus clientes, e, de passo, encobrir o facto de os capitais próprios da referida holding terem passado a negativo.
Confesso não entender como foi possível fazer sair o dinheiro do banco sem que, de acordo com a regra contabilística das partidas dobradas, essa saída fosse compensada com um crédito a terceiros. A menos que tenham inventado clientes fictícios para suportar este crédito. Mas, e os auditores não detetaram?!!
Não obstante a fraude envolver empresas do grupo, o seu principal dirigente afirma em entrevista, com uma candura desarmante, que ignorava o assunto e que a culpa foi do contabilista. Que terá sido mais papista do que o papa, pelos vistos. Este – o contabilista, não o papa –acabou por se demitir, imagino que após uma sessão de auto-flagelação e uma opípara indemnização.
Os hebreus, durante as cerimónias do Yon Kippur, ou da Expiação, na antiga Jerusalém, também costumavam apartar um bode do rebanho e enviá-lo para o deserto para ser ele a suportar sozinho a culpa de uma calamidade ou crime de toda a comunidade. É o chamado “bode expiatório”. A história é, pois, já muito antiga. E resulta!
E, no entanto, Ricardo Salgado prossegue incólume e limpo por fora, como se nada de mal tivesse acontecido, sendo olhado como a personalidade mais importante do regime. Foi-o, seguramente, no governo Sócrates e Manuel Pinho.
Assim vai o mundo!...

António Pimpão

5 comentários:

  1. António, será que nossa Fé no Espírito Santo não está arrefecida? (pelo menos neste aí... está)

    A história do bode, aos moldes de hoje, só difere no fato de que já não é um só a suportar toda a carga. Há um número considerável de "bodes", "cabras" e "cabritinhos" suportando a falência do Estado, assim como o "touro" suporta a vaidade do homem a enfiar-lhe as farpas em seu dorso.
    Enfim, há sempre um "burro" a pagar o "pato" .
    E entra o Espírito Santo na história, que relação alguma tem com a "pomba", e nem com a Terceira Pessoa da Santíssima Trindade, e sim em surrupiar a esperança de "terceiros".

    Assim foi... e ainda será para muito tempo.

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    1. E o mais tramado é que a tendência é para piorar.

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  2. Até quando vamos suportar estas afrontas...?
    É tempo de meter no Tarrafal os políticos e os administradores dolosos e recapitalizar os bancos com os bens pessoais desses administradores.

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  3. A minha experiência com os Bancos é igual a de toda a gente: mazinha graças a deus.
    Com o BES onde já não tenho conta também graças a deus, foi então do piorio.
    Faltando-me há uns anos (ainda era em contos de réis )cinco mil contos para acabar de pagar a minha casa, e dispondo, graças a deus nessa altura dessa quantia, fui ao dito Banco disposto a pagar tudo de uma vez e ficar livre de encargos.
    Fizeram-me pagar mais uns quatrocentos (2000€) a coberto do argumento de que o Banco perdia assim "rendimentos expectáveis futuros".
    Paguei de muito mau grado essa roubalheira, mas enfim....
    Ficou infelizmente e bem me arrependo, um seguro da casa na seguradora do dito Banco que em já em Euros valia 300.
    Durante dois anos e até devo dizê-lo muito por causa dos 2000€ que me fizeram pagar, reduzi a actividade nesse Banco, e apenas tinha a quantia necessária ao pagamento do seguro e pouco mais para as "despesas de manuntenção de conta", essa coisa que ainda ninguém conseguiu explicar o que é. ( O peso dos Bits deve dar uma trabalheira carregar, já que o dinheiro tem qualidades voadoras e peso? Desconfio de quem diz que lhe pesa....)
    Três anos mais tarde de ter pago a casa e de ter ficado apenas lá com o seguro anual, e uma semana antes do vencimento do prazo lá fui pôr o dinheiro que faltava para os ditos 300, pois o saldo era insuficiente.
    Ficou a conta provida de um pouco mais dos 300€ e eu descansadinho até que seis meses mais tarde recebo um telefonema do banco a dizer-me que faltava na conta 325€...
    Fiquei assim: O QUÊ????????????
    Faltam 325 mas de quê?
    Fui logo ao banco saber o que se passava e eis o Kafkiano: o seguro tinha aumentado: e como o saldo era insuficiente, (meia dúzia de €uros porque eles tinham cobrado a comissão de manutenção, senão até chegava) o Banco teve a lata , não de me dizer imediatamente que o saldo era insuficiente, mas de me cobrar por falta de provisão todos os meses 50€00!!!!!
    Seis meses depois chega o telefonema: "Tem 325 euros em falta na sua conta".
    É claro que uma pessoa normal, não tem obrigação alguma de manter a urbanidade e desde a chegada até á saida da dependência foi em voz alta que a palavra LADRÕES, se ouviu mais vezes.
    A conta foi de imediato encerrada e o banco BES?
    É como diz o outro: não há nenhum que seja bom e por isso sou com a Dona Prudência, se BES nunca mais, os outros cada vez menos.

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  4. Os bancos têm aquilo a que se chama na minha terra a «lógica do caga-cornos»

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