junho 29, 2011

Em jeito de epitáfio: - Não devia ser para tão pouco que uma mulher pare um filho…

E, de repente, quase voam.
E, de repente, a vida é um sempre-a-abrir.
E, de repente, tudo é elementar e o mundo curva-se à sua passagem.
E, de repente, nem há regras, nem contenções, nem limites.
E, de repente, a altíssima cilindrada de um motor surge como um destino proposto pelos deuses da glória fácil.
E, de repente, a vicissitude.
E, de repente, o imprevisível.
E, de repente, o nada.

No mesmo espaço temporal, uma menina de oito anos, num outro recanto do mundo, é feita explodir, sozinha num meio de rua, por grosseiro erro de cálculo – que seria sempre grosseiro, mesmo sem erro –  de quem lhe rodeou o corpo frágil de bombas cruéis e cegas, a que aquele frágil corpo não poderia estar alguma vez afeiçoado.

E, de repente, o nada.

E fica-me tão só uma espécie de sensação de desperdício. De imenso desperdício… De tão diverso e gratuito desperdício…

13 comentários:

  1. Eu chamaria a ambos os casos estupidez... além do desperdício.

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  2. Curiosamente e no caso patente dos suicidas, coloco-me espectador, do lado de fora. E olho com o mesmo opinar de estupidez; quer os que do "nosso" lado se sacrificam em nome da nobreza duma causa, dando a vida por ela e recebem a nossa admiração e o título de heróis, quer os outros que do lado de lá se explodem em nome da "ignomia" da sua causa e recebem o nome de terroristas.
    Diferente coisa chamo ao facto de encher uma criança de explosivos: é um crime cobarde em qualquer circunstância...
    Azar? Haverá azar quando rebenta um pneu e se morre em consequência dum acidente?
    Ou é sorte quando nessa circunstância se vida com vida e "apenas" com uns ossos partidos?
    Há dois dias tive sorte: mesmo ao pé da minha casa, um condutor deixou-se dormir ou teve um percalço de saúde qualquer, e saiu da sua mão mesmo direitinho a mim. Por "sorte" não foram as minhas buzinadelas aflitivas que o desviaram nem a minha falta de resolução pois do lado contrário, uma fila de carros em movimento também me impediam de me desviar dele. Um providencial acesso para um portão fez o seu carro encaixar-se como se de um desvio de emergência se tratasse e com o embate ele despertou. Sorte disse eu, azar disse ele aflito e desorientado..- não sei o que me aconteceu...ia bem e de repente isto.... tenho o carro partido..-
    - É melhor ir ao centro de saúde, disse-lhe ja na despedida. voce pode ter tido uma pequena paragem cardiaca ou outra coisa qualquer...
    Se seria sono ñão sei, era quase uma da tarde

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  3. Chamas crime ao que eu chamo estupidez. És mais radical.

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  4. Uma criança apetrechada de bombas é um crime....

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  5. Eu chamei-lhe estupidez (de quem lhe pôs as bombas, claro).

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  6. Desperdício, sim.
    Fanatismo, o que deu origem à morte da criança, certamente. E o fanatismo é sempre estúpido e criminoso.
    Quanto ao rapaz, nem sei... Quantos de nós já não excedemos o limite de velocidade ou não usámos cinto ou... sei lá bem! Sei que nada justifica uma morte e que, numa sociedade desprovida do fanatismo religioso que tudo justifica, deve ser uma dor avassaladora, para uma mãe, uma irmã ou uma amiga,ficar sem um filho, um irmão ou um amigo. E ouvir a tal sociedade que, por vezes, não sendo fanática, toca o radicalismo, justificar a morte com um "bem feita, não estava a usar cinto" ou um "quem manda carregar no acelerador, vedetazinhas da treta?" não lhes deve ser nada fácil...

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  7. Para a família e os amigos, claro que é. Para quem vê as coisas de uma forma menos emocional, nós (todos) procuramos voluntariamente, muitas vezes, a desgraça.

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  8. E, de repente, curtir a vida é bom. Um abraço, Yayá.

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  9. Curtir a vida, claro. De repente e sempre. Mas sem pressas. Apenas com a premência que a vida tem. Sem as urgências que a não-vida inventa e que nos constrangem o viver.

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  10. Outro abraço para o Brasil!

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  11. Ei, mêrmão! Esses braços são meus!

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