julho 24, 2012

Cursos, recursos e percursos...


Sempre conheci, ao longo da vida, uns tipos que conseguiram uma pretensa «formação superior» à conta de fintas de corpo e/ou dos dinheiros dos papás. Coisa de longa data, já do tempo da «longa noite»…

Sempre tive conhecimento daqueles outros que obtinham cursos que, como se dizia, «saíam na Farinha Amparo», sem esforço nem mérito para além do tráfico de influências por apadrinhamentos vários.

Felizmente e tanto quanto me é dado saber, não conto com nenhum destes espécimes na minha carteira de amizades.

E desde cedo aprendi, também, que «uma mosca pequenina / poisa com a mesma alegria / na careca de um doutor / como em qualquer porcaria», como nos ensinava o sábio Aleixo.

Por circunstâncias da vida que não vêm ao caso, frequentei a universidade, mas nunca concluí um curso. Primeiro porque essas referidas circunstâncias foram impeditivas, depois porque impedimentos vários me suscitaram outras circunstâncias impeditivas.

No entanto, consigo, hoje, apurar uma carreira profissional que tem singrado bem e satisfatoriamente, ainda que sem deter uma licenciatura oficialmente reconhecida. E sem ter tido, nunca, a necessidade de vergar a cerviz. Também quando os tempos se tornavam profissionalmente insustentáveis, sempre fui capaz de alterar o meu rumo, sem necessitar de empurrões.  

Desenvolvo, também, inúmeras acções, sempre não remuneradas, em prol da cidadania e da participação de e com os meus semelhantes, que me proporcionam gozos imensos.

E devo confessar que, para além de uma certa e vaga nostalgia por um futuro na área da investigação, não senti nem sinto qualquer necessidade de pendurar nenhum canudo à lapela, para além da minha licenciatura, com mestrado e pós-graduação que a chamada Escola da Vida sempre dá a quem a queira viver de olhos, ouvidos e coração bem abertos.

Se calhar, tive sorte. Ou, se calhar, fiz boas e atempadas opções. Nada disso, entretanto, interessará ao girar do mundo, mas apenas a mim e, creio bem, àqueles que me estão mais próximos.

Claro que no País que tivemos as malas-artes de construir, já me aconteceu ver «chumbado» um pedido de patrocínio mínimo para uma obra literária minha com o argumento de que eu não era licenciado e a instituição em causa – em prol de quem, aliás, desenvolvo inúmeras actividades a título gracioso – apenas patrocina, estatutariamente, obra a licenciados (…?!...).

Claro que o trabalho produzido em favor da citada instituição pelo não licenciado que eu sou não lhe suscita pruridos, mas a aquisição proposta de escassa trintena de volumes da referida obra – o que orçaria na inaudita importância de cerca de € 300 – já é incompatível com a alta dignidade que uma licenciatura confere e de que eu não sou, hélas!, portador.

Entenda-se, entretanto, que não há nada que mais suscite a minha reverencial admiração do que aceder ao saber e ao conhecimento através de alguém que, tendo uma formação superior e uma vida dedicada ao aprofundamento desse saber e conhecimento, me dá a sublime honra de os partilhar comigo, mero passeante de saberes e conhecimentos diversos e desvairados.

Vem todo este arrazoado a propósito dos nossos mais recentes e paradigmáticos casos em volta destas questões, a saber, mestre Sócrates, José, e não menos mestre Relvas, Miguel.

Não! Estes estão nos antípodas de quanto admiro acima. Parolos, burgessos, arrivistas e sentados no poder, desunham-se pelo verniz quebradiço de uma licenciatura, apenas para que a senhora dona do cafezinho do bairro onde sorvem a bica matinal ou o chófer do carrinho do Estado que lhes foi atribuído, os mimoseiem com um sonoro «bom dia, dótor», o que se pode presumir que os deixa numa situação pré-orgástica, que lhes animará decerto o dia, sem sequer se aperceberem o quanto desse cumprimento carrega, tanta vez, uma dose de sarcasmo perturbadora de qualquer boa consciência… que, de resto, não têm.

A mim, em boa verdade e até pelo que fica dito, nada me repugna que um político de topo, ou até um gestor de topo, ou qualquer outra posição de topo não esteja assente no tal canudo, preconceito misérrimo e acabrunhante dos tempos salazarentos (e não só…), que estas alimárias vêm transportando ao lombo até aos dias de hoje.

A mim, o que na verdade me incomoda, é a aldrabice destes pulhas e a imoralidade e ausência de ética que lhe está subjacente, mesmo se hipocritamente sedimentada em legislação que eles tiveram artes de cozinhar para lhes atribuir créditos a martelo, em proveito próprio e exclusivo.

E não teria contemplações: se, porventura, mandasse no que quer que fosse, para além de mim próprio, correria com esta cáfila à pedrada, por indecente e má figura, vacinando-me também, contra eventuais contágios infecciosos que a sua baba peganhenta pudesse ocasionar.

Perturbadora é, neste contexto, a seguinte reflexão: - como esse distanciamento e punição não ocorrem, por força das estuporadas lógicas dos partidos do «arco do poder», tenho para mim que quem se junta a eles é como eles.

Diz isso a nossa dita sabedoria popular, que foi tendo graduações sucessivas na tal licenciatura da Vida, comprovadas com sangue, suor e lágrimas, que estes tratantes aparentemente nunca souberam o que fosse.

Assim sendo, aqui se declara que nem ao Sócrates, José, nem ao Relvas, Miguel, nem a qualquer outro quejando que, através das suas vis práticas, eles sim denigrem e apoucam o saber e o conhecimento, eu serei jamais capaz de confiar 1 cêntimo meu, certo que estou de que nunca mais o veria.  

Não vale de nada o desabafo? Ora, vale o que vale… e de desabafo em desabafo, quem sabe não irão, um destes dias, atribuir-me alguma licenciatura em Comunicação aos Ventos?      

4 comentários:

  1. E da ciência do saber comunicar superiormente aos ventos, vem-me um cheiro pelo ar e que me diz que assar um bácoro das relvas não vale nada, os bons são os alimentados longamente a bolota.

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  2. Jorge Castro, tu só falas assim porque não tens no teu curriculum vitae teres sido presidente da assembleia geral da Associação de Folclore da Região de Turismo dos Templários!

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    1. Isso é muito mais do que elemento de curriculum vitae. É um verdadeiro curriculum caspité!

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