julho 28, 2012

«Discutir ideias, afrontar poderes, mudar o regime, salvar a democracia» - Movimento Ideais do Centro

"Portugal alienou soberania para ter acesso a empréstimos internacionais…
As desigualdades sociais agravam-se com crescente injustiça e risco de pobreza…
O capital assegura lucros e os trabalhadores perdem poder de compra…
As elites revelam-se moralmente indigentes adquirindo, sem esforço, rápidas formações académicas, ou traficando influencias para enriquecimento acelerado…
O sistema de ensino garante a estratificação social, impedindo a mobilidade e a ascensão dos desfavorecidos…
Somos crescentemente um país de velhos, incapaz de apoiar as famílias e gerar crianças …
A Justiça assemelha-se a jogo de roleta onde os donos do casino ganham sempre…
O território nacional desertifica-se, com a população concentrada numa pequena faixa de litoral circundante de algumas cidades…
Cresce a insegurança e o medo perante uma criminalidade mais frequente e violenta…
A comunicação social garante um pensamento único, assente em poderes económicos que controlam a liberdade de informação…
A democracia está capturada por aparelhos partidários, do poder e da oposição, feitores dos interesses financeiros…

Coimbra, capital do Centro, berço da Lusofonia, deve usar o seu prestigio e massa critica para gerar um Movimento Cívico de mudança do regime.
Não serão os extremos, de direita ou esquerda, que poderão salvar e melhorar a democracia.
As ideologias coladas aos partidos estão gastas por promessas incumpridas, e cedências desonrosas, que contrariam sucessivos compromissos eleitorais.
O futuro de Portugal exige o respeito por valores e princípios que se assumam acima das táticas e estratégias de grupos económicos ou partidários.

Na segunda-feira, dia 23/7, pelas 21h no Hotel D. Luis, Coimbra teve lugar a primeira reunião, com a presença de mais de setenta pessoas, para se analisar a possibilidade de criar um Movimento Cívico que assuma um conjunto de Ideais do Centro.
Discutir ideias, para que não se fique pelo pensamento único, que recusa alternativas…
Afrontar poderes para que não seja meia dúzia a impor o nosso futuro…
Mudar o regime para que se restabeleça a dignidade nacional e se restitua a soberania ao povo
Salvar a democracia porque as crises económicas e morais podem fabricar ditaduras.

Ideias básicas do Movimento

1. Para unir o grupo (e não dividir) é fundamental que as pessoas pensem no coletivo. Podemos não gostar de alguém … mas todos são necessários. Não estamos um jantar íntimo de amigos. Somos um movimento com pessoas muito diferentes… Não temos de gostar de todos os participantes. Temos de trabalhar em conjunto. Todos temos passado e não somos perfeitos.
2. Temos de encontrar e reforçar o que nos une e não o que nos divide. Não devemos focar pormenores mas só grandes ideias. Não somos Governo. Propomos ideais, ideias, causas. Não projetos de lei. Não temos o poder…. Sentimos o dever de mudar o regime
3. Temos de ter causas, importantes, fundamentais. Verdadeiras prioridades nacionais. Por elas lutaremos. Não somos um grupo de estudos. Somos um Movimento que, com noção das dificuldades, quer propor a mudança do regime, para melhor.
4. Não somos oposição. Somos construção. A crítica não é o nosso objetivo. Não somos um grupo de má-língua ou de ressabiados. Somos um Movimento para criação de uma sociedade melhor.
5. Temos a noção da fragilidade e insuficiências dos partidos… Mas não desejamos lutar contra eles. Queremos que melhorem, se democratizem e que trabalhem por Portugal. Que sirvam e não que se sirvam. Que não tenham como objetivo instalar clientelas no aparelho administrativo do estado. O estado não pode ser coutada dos partidos. Estamos fartos de alternância entre estados laranjas ou rosas…
6. Sabemos que se continuarmos quietos os extremos irão tomar conta de Portugal. A história está cheia de maus exemplos a começar pelo nazismo e a terminar no comunismo.

Quatro Ideais

1. Mais liberdade
Queremos prevenir derivas totalitárias e garantir mais liberdade.
O papel da comunicação social, o 4º poder, deve ser regulamentado impedindo que seja dominado por uma minoria.
A propriedade e o controlo do 4º poder não pode cair na mão de meia dúzia de nacionais ou de grupos estrangeiros, como está acontecer.
A soberania popular exige que a comunicação social garanta o pluralismo ideológico e esteja ao serviço do interesse nacional.
Não pode estar toda concentrada em Lisboa contribuindo para o apagão do território. Exige-se que a comunicação social instalada em Lisboa dê cobertura noticiosa a todo o país, não só quando há calamidades ou desastres.
A privatização da RTP , a manter-se a atual legislação, é perigosa para o interesse publico nacional.
O Estado deve possuir órgãos de comunicação social, radio e televisão, que compensem a deriva populista e mercantilista do sector privado.
As empresas publicas, na comunicação social e não só, devem ser administradas segundo regras de boa gestão, em principio com lucro, não sendo tolerável que administradores ou trabalhadores ganhem mais que o primeiro-ministro.

2. Melhor democracia
Queremos mais Politica, mais discussão, uma população mais interventiva, como maior capacidade de decisão.
Queremos mais pessoas interessadas na política e muito menos políticos profissionais.
O numero de políticos remunerados deve ser reduzido em mais de 50%.
As autarquias devem ser espaço de liberdade politica, exemplos de transparência, e escolas de serviço público onde os políticos remunerados devem ser uma minoria.
Todos os votos , incluindo os votos brancos e nulos, devem contar tal como as abstenções.
Todas as pessoas devem ter iguais em direitos consagrando o princípio, esquecido e não cumprido, de uma pessoa/um voto.
Entre a alternativa entre o poder legitimado pela nomeação e o emanado de eleições, somos claramente pela escolha popular.

3. Menor desigualdade
Somos um país com desigualdade crescente. Cresce a pobreza e a concentração da riqueza numa minoria. A classe média está em risco.
O estado deve dar o exemplo reduzindo as desigualdades. Os ordenados ,no âmbito do Estado, e as pensões pagas pela segurança social têm de ter um teto máximo, não sendo toleradas acumulações milionárias.
A economia não pode apostar na competitividade pelos baixos ordenados.
Os rendimentos mais baixos devem ser aumentados tal como o salario mínimo.
O problema não é só a falta de produção mas também a inexistência de clientes, compradores, que sustenham a economia
A criação de emprego é prioridade devendo Portugal assumir o ideal do pleno emprego. Um país pobre não pode prescindir do trabalho de centenas de milhares de pessoas.
Não se pode apostar na desregulação das relações de trabalho, fragilizando os trabalhadores. O respeito pelas empresas empregadoras não obriga a trabalho escravo.
Vivemos numa sociedade estratificada.
A educação deve garantir a mobilidade social apostando na descoberta dos talentos individuais.
A segurança social não pode continuar a ser sustentada unicamente pelos trabalhadores mas por todas as formas de criação de riqueza incluindo os rendimentos de capital. Os rendimentos de capital terão de ajudar a subsidiar o estado social tal como os salários.

4. Dignificar a justiça
Sucessivos escândalos, fugas de informação, decisões judicias questionáveis, e demoras injustificáveis nos processos criaram uma péssima imagem para a Justiça.
A demora na aplicação da Justiça beneficia os criminosos e incentiva a ilegalidade.
Queremos uma Justiça célere que não permita que se consolide a ideia que há quem esteja acima da lei.
A insegurança provocada pelo aumento da criminalidade é fonte de medo.
Temos de garantir um sistema policial/prisional/judicial que garanta a segurança dos cidadãos e permita uma economia competitiva, onde os crimes económicos sejam punidos em tempo útil.
O enriquecimento ilícito tem de ser efetivamente punido. A impunidade por parte de políticos , que fizeram (fazem?) fortunas graças á politica, não pode continuar.
Não é legítimo pedir sacrifícios á classe média e permitir que a corrupção seja atividade de sucesso.
A economia paralela, e todo o submundo criminal incluindo a corrupção e o trafico de influencias, têm de ser combatidos sem hesitações. Não se aceita que se continue a sobrecarregar a classe media sem um combate sem tréguas à economia que assenta no crime e na fuga fiscal.

Quatro Causas

A. Aumentar a natalidade, apoiar as famílias, evitar o envelhecimento populacional.
Portugal enfrenta a maior redução de natalidade de sempre. Somos um dos países mais envelhecidos do mundo.
Esta demografia vai originar pobreza e a falência do estado Social.
Urge apoiar as famílias e incentivar a natalidade.

B. Evitar o despovoamento do território e as assimetrias cidades do litoral/interior.
Na ultima década Portugal enfrentou uma politica centralista que tem desertificado e empobrecido o interior. A crise atual é em larga medida resultado deste centralismo.
Urge desconcentrar e descentralizar a administração pública, sempre que possível através de órgãos eleitos. A esta democratização do aparelho do Estado designamos como regionalização, acabando com os feitores nomeados pelo terreiro do paço. Esta democratização terá de ser feita com redução do pessoal político e com diminuição da despesa.
A capital política terá de sair de lisboa desconcentrado os órgãos do poder do estado por várias cidades.

C. Criar riqueza, melhorar a divida externa, resgatar a independência nacional. Precisamos de uma estratégia nacional de aumento da produção nacional em todos os sectores: turismo, agricultura, floresta , industria, serviços, comercio… Nas ultimas décadas seguimos uma politica económica prejudicial aos interesses nacionais.

D. Temos de garantir um estado forte, promotor de riqueza e com visão de longo prazo. Não podemos continuar a permitir que obriguem o estado ao estatuto de inquilino, pelintra e caloteiro; recusamos um estado falido dependente dos senhores do dinheiro. As privatizações em massa, a preço de saldo, num período de crise, transferindo o poder e os rendimentos para o estrangeiro, é um crime contra os interesses nacionais. Defendemos um estado promotor que defenda e desenvolva a economia nacional, bem diferente de vender os anéis e os dedos a potências estrangeiras.

Contexto internacional

Portugal não é um caso isolado. A irresponsabilidade por parte das elites políticas não foi nem é um exclusivo nacional. Basta pensar em Itália, Espanha ou França…
Desde a queda do Muro de Berlim a Europa (e a América do norte) entrou numa euforia insensata´, com perda de valores e cedências perante o sistema financeiro. Deixou-se endeusar o dinheiro ao ponto de se sobrepor ao poder político e á soberania dos povos.
Portugal não tem poder para resolver as causas da crise financeira, que atinge o ocidente, e alastra para as potências emergentes.
Portugal tem o dever de contribuir para por os senhores do dinheiro na ordem.
A ganância instalada é eticamente condenável.
O descontrolo do sistema financeiro destrói valores civilizacionais. Os culpados pela crise arrogam-se no direito de impor aos países soluções antidemocráticas, ideologicamente radicais.
A sentida impunidade dos culpados tem de ser contrariada. Não podem viver uma imunidade que lhes permite continuar a destruir os valores da cristandade.
Urge acabar com esta imunidade e a política, legitimada pela soberania popular, não pode depender do poder imposto pela ditadura dos mercados.
A política tem de ser responsável, defender estados fortes, e não ceder as chantagens.
Há necessidade que a UE (tal como os EUA , o Japão) e as Nações Unidas apostem nas soberanias dos países em detrimento da tirania imposta pelo absolutismo financeiro."

Jaime Ramos
Movimento «Ideais do Centro»

5 comentários:

  1. Gosto bastante do que acabei de ler. Uma boa forma de começar o dia após um fim de semana arrasador e complicado, onde quase nada que me tinha proposto fazer foi conseguido, mas isso é um pormenor que apenas a mim e pouco mais importa.
    O importante é o que Jaime Ramos assina no final deste conjunto de ideias e que mexe com a estrada do nosso futuro colectivo, o somatório da cada um dos nossos individuais.
    Que os partidos se esgotaram, é uma evidência. Que o Capital acumulado tem que contribuir para o bem social é incontornável, ainda nos anos 60 e 70 do sec XX se falava da "responsabilidade social da empresa" mas isso foi completamente cilindrado pelos yuppies que não vendo mais que a bolota em frente aos olhos, estão secar a floresta de onde engordam, culpando não a sua gula, mas a incapacidade das árvores em dar mais bolota e por isso chafurdam a terra na voragem por mais e mais enquanto por essa via lhes rebentam com as raízes....
    Se o trabalho tem que capitalizar recursos, porque é que é se permite esta alergia em contrassenso onde o capital não capitaliza nada para o todo, quando esse todo é o conjunto das árvores de frutos?
    Outra ideia em que estou totalmente em acordo, é a da comunicação social pública, referência de qualidade e isenção.
    A questão dos lucros ou prejuizos são muitas vezes falaciosos ja´que consistem na engenharia financeira e contabilística onde se inscrevem as rubricas.
    No caso da RTP, todo o seu vasto partimónio emissor foi retirado pelo consulado Cavaquista e entregue a uma empresa teledifusora que depois se integrou na PT.
    A RTP, que detinha uma rede própria teve que passar a pagar renda para usar os meios que lhe foram retirados e aos quais se atribuiram valores muito baixos os quais, mesmo assim, nunca lhe foram entregues. Fácil inscrever numa folha Excell os deves e haveres e tirar todas e quaisquer conclusões que se queiram.
    A privatização da RTP é uma pulhice insensata que obviamente alimenta interesses de uma minoria clientela do poder e interessada em um público cada vez mais acéfalo. Mas isso não é conducente a uma melhor sociedade, antes pelo contrário como se sabe por isso não interessa ao interesse geral, mas os nossos braços, as nossas bocas de revolta, onde estão? .
    Há entre todos nós uma sensação amarga de podridão e de falta de alternativas; cada passo noutra direcção nos parece ser de destino igual ao ponto onde nos encontramos e isso é muito perigoso para a democracia, para os braços que e vez de dizer sim dizem chão. A ideia de capitalizar votos nulos, brancos e abstenções de forma a dar-lhes um significado político é interessante e remete para " o Ensaio sobre a lucidez" de Saramago, mas o melhor de tudo, é realmente um movimento supra partidário como este se propõe ser. O grande desafio, é o de saber como granjear os apoios sem que os do (mau)costume se instalem, ou saber como tratar com o perigo dos cavalos de Tróia. Mas estes últimos só deverão aparecer na altura em que o movimento começar a incomodar o Centrão, obviamente muito diferente deste Movimento de Ideias do Centro.

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    1. E que tal fazeres um post com isto, pá? Eu até o publicava (ou tu, que já te inscrevi lá) na página do Movimento...

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  2. antes deste ainda há o outro com o qual me comprometi
    Inscreveste-me?
    Obrigado. ;)

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    1. Inscrevi. Mas aquilo tem lá uma opção de "aprovação pela Administração"...

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  3. Acho justo, e não faço lobby.

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