julho 10, 2012

A posta que no pior pano também cai a nódoa.


Sempre que um político é apanhado nas teias de uma situação menos apropriada a sua prioridade é garantir que tudo foi feito nos termos da Lei. Nada ultrapassa em urgência a certificação de qualidade da pessoa sob suspeita, espalhando ao vento o artigo do decreto que legitima, do ponto de vista legal, a actuação em causa.
Essa definição da prioridade dos políticos em maus lençóis deixa clara a preocupação em manter impoluto o registo criminal, em detrimento de qualquer outra aflição acessória pelo efeito dominó que os escândalos sempre impulsionam.
Porém, começa a ser cada vez mais notório o interesse dos cidadãos por coisas que pareciam ter caído em desuso.
A legalidade permanece obrigatória mas a idoneidade, sobretudo em tempo de crise, adquire maior relevância e para mal dos nossos pecados a maioria da classe política ainda não percebeu esse trocadilho.

O caso da moda é o do Ministro Relvas, o político que aparece mergulhado em todas as caldeiradas que este Governo produz e agora foi identificado como um dos felizes contemplados com um canudo que podia ter saído na farinha amparo.
Mais uma vez, e trazida a inconveniência à baila depois de tanto tempo de distração, o esforço foi concentrado na sensível questão da legalidade, da transparência, de uma legitimidade estritamente formal.
O problema do Ministro Relvas, como de todos os que o antecederam nesse tipo de assunto melindroso e de todos os que lhe venham a suceder no embaraço, é a tal percepção do povo que não acha piada nenhuma a falsos doutores, ainda que a lei e suas alarvices os licenciem.
É que o povo até reconhece o mérito de quem queima as pestanas para lá chegar e por isso não se mostra compreensivo para com os cábulas e os oportunistas.

É no fundo um problema de formação, ou de falta dela. Mas acima do cariz muito duvidoso das equivalências múltiplas já comprovadas ergue-se a falta de formação pessoal implícita na aceitação deste tipo de expedientes, muito para lá da respectiva legalidade. É um problema ético e moral, porque suscita questões pertinentes acerca da capacidade de liderança.
Esse é um ponto fraco absolutamente inaceitável num momento decisivo para o país, tão necessitado de um Governo como lhe foi prometido na sequência da queda forçada do anterior.

E é por esse mesmo motivo que pouco mais restaria a um Ministro digno desse nome, a um doutor digno desse título ou a um senhor propriamente dito do que a demissão do cargo, por iniciativa própria e a bem da vergonha na cara que é o mínimo que a população pode exigir.
Cada dia que passa sem que essa demissão aconteça é menos um que falta para mais um Governo cair.

28 comentários:

  1. O problema do Ministro Relvas é em simultâneo a virtude que dá jeito ao governo: a mais completa falta de vergonha, coisa pouca já que assume foros de perturbação severa de outra ordem.
    Uma vez que é uma área à qual estou por razões profissionais ligado, foi com todo o interesse que segui o desempenho do Ministro posto perante os profissionais aquando da malfadada extinção do serviço de Radiodifusão Internacional Portuguesa, chamada, RDP Internacional.
    Já tínhamos visto e ouvido algumas pérolas desta figura meteórica, mas foi de facto no confronto com personalidades de craveira ,quer técnica quer de formação e carácter, indiscutivelmente muitos pontos acima do senhor ministro, que lhe tirei então as medidas.
    Não é só a prepotência e ânsia de mandar, é a falta de conhecimento ligada ao despudor que lhe coroam a formação académica: o homem não sabe nada de coisa alguma nem quer saber, mas a sua voz é como a do Pápa, infalível e a materialização da Verdade Absoluta!
    Ninguém no mundo ouve a RDP internacional diz ele, nem os milhares de Portugueses, condutores de pesados por todo o mundo, nem os emigrantes, nem os que trabalham remotamente nos mais variados sítios do planeta onde não podem estar diante de um computador, quer pelo local de trabalho quer pela natureza deste, quer ainda, coisa esquecida neste mundo esquisito, por falta de recursos económicos. Nem os que em Timor e Goa, gentios por não terem fé e que insistiam teimosamente em continuar a ouvir Portugal.
    Prestou um grande serviço à Nação já que poupou ao erário público 800.000 euros anuais (oito cêntimos por ano e por português o que é muito bom para nos aliviar dos milhares de milhões que ele e os seus correlegionários nos sugam para entregar á Troika).
    Já o tremendo impacte que sobre os negócios resulta derivado da deslocalização da nossa influência linguistica para outras culturas que já ocuparam as nossas frequências de rádio por estas terem ficado livres, disso, ele nada disse, nem poderia dizer, pois, tirando a prepotência do quer posso e mando, de pouco mais ele percebe.
    Esta Verba que ministro achou ser demasiado, é o que normalmente os figurões não executivos sacam dos tachos nas empresas onde os metem, mas como para emitir a voz de Portugal por todo o mundo é muito, então, muito zelosamente, Relvas fechou os emissores.
    E é destas mãos que depende mais uma machadada contra o serviço público, imagem institucional da nossa portugalidade: no prelo está mais um atentado, alicerçada nas mesmas ( deve dizer-se as palavras como são) mentiras. Vender a RTP a Columbianos, Angolanos ou Brasileiros e tudo com o aval tipo carta branca da parte do Governo....
    O que mais nos falta para encher esta canalha de bostas e corre-los de pontapé no cu, do que sobra de nosso neste rectÂngulo para fora?

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    1. A lata é muita. Estes gajos já nem se apercebem da merda que dizem e que fazem.

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  2. Com muita pena minha tenho mais uma vez a lamentar a incapacidade do cidadão para se fazer respeitar a este ponto da falta de vergonha!! já nem as aparências se tentam manter... é o cúmulo!! Infelizmente, isto não é mais, parece-me, que o resultado de uma manobra psicológica infantil mas eficaz que leva a população a confundir caras com as estruturas organizadas de partidos que há muito fazem do eleitor o que querem (mesmo que seja mijar-lhe na cara). Diabolizam-se algumas caras, saem uns, entram outros, e a saga continua... tudo na mesma como a lesma... Não será jamais com o meu voto, insisto. Um partido que integrasse um elemento destes, a menos que ao haver conhecimento público da situação o pusesse na rua de imediato pelas orelhas com um pedido de desculpa aos eleitores, estaria condenado numa eleição próxima a qualquer coisas semelhante a ZERO votos.

    Tanto lamento, tanta indignação, tanto atestado de burrice, tanto de tudo, até fome!! e tanta falta de atitude onde e quando ela é precisa... Não será jamais com retórica que se mudará este estado de coisas, nem sequer com manobras intempestivas, mas apenas e só quando uma parte suficiente da população for capaz de se fazer respeitar. Nunca com retórica se evitou o roubo nem a falta de respeito... por alguma coisa todos usamos chaves para fechar as nossas portas... e se as deixarmos abertas bem poderemos todos chorar depois muito lágrimas muito sinceras e dizer mal do mundo com quantos nomes feios (ou eruditos) formos capazes...

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    1. O problema é que, se trancarmos a porta, os ladrões ficam do lado de dentro...

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    2. Xi... o que eu gostaria
      Libelita
      se um dia
      Os votos de toda a gente
      passassem a ter no zero
      o ver melhor
      do que quando pensavam ver
      e não viam....

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    3. E depois Sãozinha,
      meu amor,
      minha linda...
      Os ladrões cá dentro
      bem cá dentro
      fechados atrás de grades
      a pão e água
      que é muita bondade, ainda.
      pois há muitos
      que pelas fartas ladroagens
      já nem para o pão e água
      conseguem vender
      do corpo
      as parcas vantagens...

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    4. O Homo sapiens sapiens sempre se roubou entre si, nunca foi de outra maneira, pelo que, em teoria, os ladrões nunca podem ficar do lado de fora. A malta sempre viveu e conviveu com isto, há câmaras nos supermercados, ataduras nos catálogos dos correios, os sumidouros são muitas vezes soldados aos aros, o povo fecha a porta de casa à chave, guarda os valores em cofres, põe grades nas janelas, etc., e mesmo assim nunca se pode evitar um desaire ou outro... Para os tipos que nos "governam" o sistema anti-roubo que possuímos (julgo que o único) é o voto. Claro que as coisas nunca deveriam ter chegado ao ponto a que chegaram... a malta já devia ter posto o sistema a funcionar há mais de trinta anos... não passa pela cabeça de ninguém (ou pelos visto passa) deixar a porta escancarada à vontade do freguês, sem vara nem rédea... E agora? Não vai de um dia para outro (com tiros ou sem eles), os "ladrões" não se podem meter atrás das grades por serem aos milhares ou centenas de milhares (para não dizer milhões), de onde, a única hipótese que vejo é começar agora aquilo que deveria ter sido sempre a prática corrente. É tarde, é certo... mas mais vale tarde que nunca (digo eu...) Insistir na retórica e no elogio da ética é outra possibilidade mas receio bem que não funcione...

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    5. E a prática deve passar a ser...?

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    6. ... se em tudo o mais nunca ninguém se esqueceu de pôr as trancas à porta, nesta questão do Governo não se percebe porque raio toda a gente aguarda (qual milagre!) a honestidade e a ética caídas do céu por obra e graça do divino espírito santo... (continuem a rezar... sentados).

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    7. E onde estás a pensar enfiar-lhes as trancas?

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    8. A prática (aqui há tempos publiquei um artigo sobre o assunto... http://persuaccao.blogspot.pt/2012/05/manifesto.html) deverá ser, por exemplo, não voltar a votar em partidos que integrem elementos destes... aliás, nenhum dos partidos actualmente na assembleia deveria já existir. Se outro tipo de atitude por parte da população estivesse em prática desde há trinta anos teria havido limpeza e renovação... assim temos a bosta que temos, mas é o que temos, é daqui que teremos que começar... não sei... é preciso votar e não pode ser em ladrões ou em vigaristas assumidos... muito menos com "experiência"... cada um que se amanhe com a listagem de partidos que exista... ou crie um novo... do que li, a nossa legislação é muito favorável à criação de novos partidos... quem se achar capaz que faça o seu... é da maneira que há mais por onde escolher... Quando um desequilíbrio se cria, a coisas tendem a seguir para um novo equilíbrio... Se se tirarem de lá aquelas pessoas e aquelas organizações, surgem outras...

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    9. ... qualquer pessoa que cultive uma horta sabe isto. Se consentir o desenvolvimento de certas espécies, aquela que convém não se desenvolve. Se a coisa chegar ao ponto de já só haver infestantes, a alternativa é fazer uma horta nova... e cuidar para que as infestantes não progridam... nunca foi de outra maneira.

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    10. ... a alternativa é continuar com este sistema (para sempre? enquanto não houver porrada da grossa...) não vá suceder uma TERRÍVEL situação de "vazio"... Numa próxima eleição o governo será rosa, e depois laranja, e depois rosa, e talvez rosa outra vez, depois laranja, rosa, laranja, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, laranja, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, laranja, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, laranja, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, laranja, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa, rosa, laranja, rosa, laranja, laranja, rosa, laranja, rosa, laranja, rosa...

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    11. (... nesta horta só há disto... e só dá disto de Relvas e outros legumes aparentados... O mais difícil de entender é do que é que a malta se queixa... se eles lá estão é por vontade do povo (com o meu voto não é de certeza)).

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    12. Pois já tinhas exposto isso... e eu também já tinha comentado algo como "receio que isto esteja a ir por um caminho tal que não vai ao sítio com métodos suaves e paninhos quentes"...

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    13. Eu já fui mais optimista... já acreditei que se tudo mais falhasse a porrada podia ser uma solução... Agora vejo que não, pelo contrário (embora seja o cenário que se vislumbra), pode resultar muito mal, incluindo (além de tudo mais) na perda de direitos que nos são muito caros... E também nunca resolverá a questão de fundo. Tudo o que sejam instituições e organizações que envolvam a gestão da coisa pública, daquilo que pertence a todos (e que por cá quase todos acreditam que não pertence a ninguém), ou poder sobre o semelhante, tem que ser regularmente "limpo", "renovado", "arejado"... não se pode consentir que acumule excesso de bolor e de teias (de aranha)... (muito menos ao longo de trinta anos!!) ou então a mosquinha está sempre a ser comida... Uma coisa assim só se resolve de uma forma contínua, com uma atitude contínua (de uma grande parte das pessoas), progressivamente... Numa altura destas a haver porrada é uma desgraça e não resolve nada de nada... três meses depois está tudo na mesma, possivelmente pior... Eu digo "ZERO votos"... mas é uma força de expressão, claro! É o exagero para que as pessoas compreendam a ideia... porque isto na prática nunca acontece... Este tipo de mudança só se pode fazer progressivamente... Infelizmente não vai ser nada assim... Um dia destes dá merda e pronto. Ou alguém acredita que daqui a trezentos anos ainda andamos nisto do rosa/laranja?? O mais provável é o recurso ao sistema tradicional: porrada. Só que a tradição já não é o que era... Lisboa já não acaba em Alvalade... Quando vires uma nuvens negras a aproximarem-se... avisa!! Vou ter que pôr aquela merda da televisão a funcionar, porra!! Senão como é que vou saber quando devo dar de frosques?? Chatice!! Porra!!

      Aquele sacana do Relvas não sai porquê?? Com aquela carreira artística, o tipo sabe demais... ou sai pelo processo do costume, com um pontapé para cima, ou vai de vez para baixo com um "acidente" (um método pouco usual entre nós... até ver...) Esta coisa a que chamamos "Governo" e afins... aquilo está tudo podre... já não é o A nem o B (já não é bolor)... é tudo podre!! Saem todos aos pontapés para cima... Quanto maior a escandaleira, mais bem pagos passam a ser...

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    14. Libelita, eu concordo contigo: violência não resolve nada. E sou o mais avesso que se possa ser à violência. O que digo é que há por aí um caldo de revolta que pode dar numa situação descontrolada e descontrolável.

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    15. (sim, sim, deveria ser incontrolável, mas de vez em quando gosto de inventar palavras)

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    16. ... suspeito que por este caminho iremos mesmo parar a uma situação descontrolável... o que não dá jeito nenhum... A haver porrada, que fosse ao menos uma porrada com princípio, meio e fim...

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    17. Nunca se sabe como e quando acaba...

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  3. Trancas, trancas....à volta de pescoço.....

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    1. (... de quantos metros de corda precisas? Trezentos mil?)

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    2. (... a lua está a cerca de 384.405km da Terra... mais ou menos o mesmo comprimento de corda deve chegar para resolver este problema de uma vez por todas...)

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    3. Uma corda entre a terra e a lua. Na primeira fase teria que subir a pulso pela dita, depois a pouco e pouco o esforço iria dimuindo à medida que me fosse afastando da Terra-mãe.
      A certo ponto teria que agarrar-me bem à corda para não desaparecer no espaço. Depois a noção de cimo e baixo, após a transição na zona de imponderabilidade, inverter-se ia e desceríamos para a lua. Curiosa esta coisa de dizer-se que alguém anda na lua, quando afinal para chegar a ela tem de descer para ficar com os pés bem assentes na terra de que é formada.

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    4. ... não sei porquê essa ideia de descer para a lua agrada-me (muito!)

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    5. Tens uma boa solução :O)

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