novembro 11, 2012

Gregos e Troianos

São sempre duais, a roçar a esquizofrenia.
Ora se apresentam extrovertidos e dinâmicos, nas relações interpessoais, ora calados, quase tímidos, na tentativa de passarem despercebidos.
A primeira hipótese acontece quando estão na presença de gregos, sem que haja troianos por perto, ou vice versa. A segunda ocorre quando, estando gregos e troianos nas imediações, tentam agradar a ambos ou, pelo menos, não desagradar a nenhuns.
Evitam opinar, para não se comprometerem, ou tomar partidos, para não ferirem susceptibilidades.
Raramente assumem a posição de líderes e, aparentemente, deixam-se conduzir, sempre disponíveis e dispostos a agradar; não é comum reclamarem ou marcarem posições indubitáveis, salvo se estiverem claramente no seio de um dos grupos, sem que o outro tenha hipótese de saber o que ali se passa (e, se eventualmente o souber, conta a história com outros contornos, os seus). São o que vulgarmente se designa por manada: vão onde os outros (quaisquer que os outros sejam) forem e parecem ficar contentes com isso. O seu principal medo é ficarem sem um grupo a que pertencer; por isso asseguram dois, não vá um deles chatear-se.

Nisto radica o seu principal problema: a vontade de pertença é tanta que, anulando-se, não são senão parte da imensa maioria dos amorfos, dos pobres de espírito, dos que fazem da cobardia uma forma de estar. Almejam ser respeitados por gregos e troianos sem entender que, a curto prazo, ambos lhes perceberão a dualidade flagrante e os remeterão para o saco daqueles que se suportam mas em quem não se confia.

O que é que sinto relativamente a seres que querem agradar a gregos e troianos?
O mesmo que por uma mosca: não me assusta como uma centopeia (com quem não consigo partilhar a mesma divisão), mas reconheço-lhe o aspecto de quem já pousou em muita merda e pousará em muita mais, porque é essa a sua natureza.

5 comentários:

  1. E a malta que limpe as pegadas deles...

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  2. Sempre achei graça a essa expressão que de forma habilidosa limita o universo disponivel de opções: ou gregos ou troianos. Assim do tipo dos inquéritos que tem as respostas já pre-formatadas: Como gosta dos ovos? Bem passados, mal passados, em omoleta ou estrelados?
    E assim, o inquirido só pode escolher entre as respostas previstas, e nunca dizer simplesmente que não gosta de ovos, ou que só gosta em gemadas com cerveja preta...
    Entre Gregos e Troianos, porque não gostar dos dois, de nenhum em particular, ou de fazer como na rábula do "Estado de Graça" dizer " Ah.. Teresa...éu nunca foi a Setubali mas axe que já óvi falare dos iiogurtis...Axe que foi na tlevisão..". Ou seja, nem sei quem são nem de onde vem, nã çê se goste...
    O limitar o universo de opções a dois tem muito a ver com esta necessidade da bipolarização de onde a palavra "diabolis" deriva.

    Uma coisa muito "humana" se considermos homem uma pessoa que tinha nome de arbusto de que dizia aquando da guerra do Irak que "nem é a nosso favor é nosso inimigo" Ora ai está, ou és Grego ou és Troiano, como agora no caso da crise do €uro, ou és alemão, ou vês-te Grego

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    1. Eu sempre associei os raciocínios do Bush às histórias de cowboys (os gregos) e índios (os troianos).
      Mas agora vejo isso nos nossos desGovernantes...

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  3. A mim só afligem os cavalos de Tróia. (Isso e as filas intermináveis para o ferry, no Verão). :)

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