novembro 16, 2012

O fisco paranóico e iletrado versus o iletrado e paranóico «povo»

1.

Não sei se já receberam o e-mail do director geral das finanças acerca do incentivo à exigência de factura mas, se não receberam, devem estar para receber.

Tirando a parte propagandística da referida mensagem, a minha preferência recai já na parte final do Aviso de Confidencialidade, que reza assim:

É estritamente proibido o uso, a distribuição, a cópia ou qualquer forma de disseminação não autorizada deste e-mail e de quaisquer ficheiros nele contidos. O correio electrónico não garante a confidencialidade dos conteúdos das mensagens. Caso o destinatário deste e-mail tenha qualquer objecção à utilização deste meio deverá contactar de imediato o remetente.

Ora, estou proibido de distribuir o conteúdo do e-mail (gostava de saber qual a lei que me obriga a cumprir isso…), mas não se garante a confidencialidade do mesmo, ou seja, assume-se que ele é passível de uso e distribuição por quem quer que seja…

Se eu tiver alguma objecção devo contactar de imediato o remetente… Ora, o remetente é o endereço no-reply-qsc@at.gov.pt, logo não contactável.

Será talvez este um dos casos em que há alguma coisa a expurgar nos serviços prestados pelo estado. Mas não se fala aqui de gorduras supérfluas, não, senhores, mas antes de quistos purulentos ou «pontos negros», daqueles que os namorados escarafuncham na praia…

*
2.

Pergunto-me o que levará um tipo a pegar num calhau da calçada e atirá-lo contra uma barreira policial que protege de invasão qualquer coisa, mormente a nossa Assembleia da República…

E não encontro em mim resposta. Ainda se fosse ao Passos Coelho da austeridade, ao Gaspar do esbulho, ao Relvas das licenciaturas e das privatizações, aos Belmiros da precariedade, ao Ulrich que sabe que a malta aguenta, à Jonet dos pobrezinhos alimentados a bife, com rock mas sem raio-x, ainda percebia, mesmo concordando muito, pouco ou nada. Mas a estes…?!

Qual é o fito ou intenção? Contestar o facto daquela barreira estar formada, ali, pespegada em contenção daquele povo cheio de razões para reclamar de tudo e de todos? Mas para quê? A malta queria entrar na Assembleia? Para assassinar os deputados, por mero turismo ou para verter águas?

Ah, é só porque eram polícias, logo, representantes da autoridade, logo agentes do Estado, aquele que nos anda a tramar? Mas se é lá por isso, os professores e os médicos e os enfermeiros e os amanuenses e etc., também o são, funcionários do Estado, claro. Pedrada neles, também?

Depois, a carga policial: obscura, excessiva, redundante. Como sempre. Mas também como é de supor que ela seja, ou então não seria policial, não é? De uma carga de cavalaria não se espera que os cavalos peçam desculpas ou perdões aos espezinhados. Nem os cavaleiros, quanto mais…!

Levou quem não devia? E não é sempre assim? Mostrem-me uma novidade, depressa!
Ah, Portugal, Portugal, que vens assistindo descansadinho à destruição da nação, sem tugir nem mugir, sem sequer votar, vai para décadas, naquela bovina sapiência de que «a minha política é o trabalho e dou-me muito bem com isso», em arroubos esporádicos de colocar à janela uma bandeira porque um homem da bola o diz… até que, afinal, não.

E agora? Atiras uma pedra contra ti próprio, emigras ou vais à luta, acordando finalmente para a vida?

(Notas do autor – As aspas que emprego no «povo» do título destinam-se, obviamente, a relativizar muito o conceito.

No penúltimo parágrafo atente-se bem que o interlocutor Portugal é aquele onde todos nós somos. Eu também.)

3 comentários:

  1. Portugal (nós) está (estamos) a seguir por aquilo a que o filósofo alemão Martin Heidegger chamava "trilho da floresta que não leva a lado algum".

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  2. Curiosamente (ou não)
    O filósofo Heidegger
    era como a Merkel
    um gajo Alemão.

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  3. Depois, a coisa das facturas...
    Na Alemanha, ninguém foge a uma factura, ou seja, ao seu compromisso com a sociedade.
    Lá o exemplo vem de cima; o Estado não foge à sua responsabilidade.
    Todo o dinheiro que cobra, retorna.
    Ou seja, os impostos não saem dos bolsos dos contribuintes como por cá se sente, mas antes, são os contribuintes que compram o ensino, a saúde, a segurança, no fundo, a qualidade de vida que têm. Quanto mais pagam, mais recebem.
    Exactamente o contrário entre nós a começar por isto: quanto mais se paga menos se tem, pois argumenta-se com o máxima de que "se tens muito dinheiro podes ir ao privado". Por outro lado, se é pobre, então "o Estado tem uma despesa enorme com os encargos de saúde, e é preciso re-estruturar leia-se: CORTAR! Que quer dizer, receber menos pelo esforço que se faz através dos impostos.
    E perante isto, desta fraude, querem que as pessoas peças facturas???
    Para quê?
    Qual as vantagens?
    O que compramos de volta com os Ivas, Irs, e IRC que damos ao Estado para ele administrar?
    Cada vez mais, pelo facto de pagarmos também mais?
    já adivinharam.... Brux(o)as ...mais uma vez.

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