maio 16, 2014

«Reflexões em Dó Maior - V» - António Pimpão

A reflexão de hoje tem a ver, novamente, com as opiniões dos comentadores desportivos. Falam de tudo com uma pesporrência e uma certeza que nos fazem crer que os presidentes dos clubes fariam melhor, porque mais barato e melhor servidos, se substituíssem o treinador por estes comentadores. Mas um de cada vez: todos juntos também não se entenderiam!
Há dois temas em particular que me fazem eriçar os pelos dos braços: um é quando defendem que o treinador deveria fazer alinhar o jogador A ou B. No caso do Benfica, por exemplo, acham que deveriam jogar o Enzo Peres, o Fejsa, o Ruben Amorim e o André Gomes, o Sálvio e o Markovic, o Lima, o Rodrigo e o Cardoso, ou seja, a concretização destes pareceres só seria alcançável se a equipa jogasse com 20 jogadores, o que, tanto quanto sei, ainda não é possível.
O outro tema recorrente tem a ver com as contratações de jogadores e os resultados alcançados pelos clubes. Ainda pegando no exemplo do Benfica – mas, não há muito, diziam o mesmo do FC Porto – defendem que a gestão é incorreta pois se há uma ou outra venda bem sucedida, há muitos jogadores contratados que não se valorizam. E pegam no exemplo da última época em que o Benfica encaixou 25 milhões com a venda de Matic e gastou 36 milhões com diversas contratações. Na sua douta opinião, o Benfica perdeu 11 milhões.
Ignoram, por um lado, que, como qualquer negócio, o futebol é uma atividade de risco, ganhando-se nuns casos e perdendo-se noutros, sendo relevante apenas o resultado global; por outro lado, ignoram que as contas não podem ser feitas desta forma. Um resultado não se apura comparando as receitas do período com as despesas desse período, uma vez que estas despesas poderão ocasionar receita em períodos seguintes (da mesma forma que a receita do ano pode ter tido origem numa despesa de anos anteriores).
O apuramento do resultado só pode ser feito elemento a elemento, comparando a receita apurada na sua venda com o SEU custo de entrada (sem esquecer as comissões pagas aos agentes). É claro que alguns jogadores são um fiasco. Neste caso também se faz a mesma comparação, com a diferença de que o resultado será negativo. O resultado global corresponderá, assim, ao somatório dos resultados parciais e, nunca, à comparação entre as receitas e as despesas da época.
Nesta análise não se está a valorizar o contributo dos jogadores para o desempenho da equipa nem, por outro lado, os salários que auferem ao longo do ano.

António Pimpão

1 comentário:

  1. Sobre essa classe de "parasitas" que qual formigas viajam no lombo do elefante gritando a sete brados:-saiam da frente, deixem-me passar- já me fartei há muito, para dizer a verdade. Não que não se deva falar obviamente do fenómeno. Mas convenhamos que a lei da oferta e da procura, valorizando quando é pouco, e aumentando de valor, quando a oferta não cobre a procura, tem aqui neste particular uma especial expressão.
    Paradoxal até.
    Estando qualquer jogo de bola esgotado em comentários numa boa meia hora, assistimos durante horas ao esfolar vivo, ao desossar, trinchar, curtir da pele e finalmente juntar tudo e empalhar, todo o tema, não por um canal de tv e em um só programa, mas numa quantidade impressionante de canais cabo.
    E aqui, é que assiste o paradoxo, Não sei se têm porventura algum sistema para medir as audiências, talvez o índice de pessoas que telefonam para a pergunta em rodapé, seja indicativo para as estatísticas, mas parece-me que perante tanta oferta, o produto só pode desvalorizar, coisa com que aparentemente os mentores de tais espaços não concordam. É ver o progressivo aumento de comentadores, alguns insuspeitos que verborreiam na sua grande maioria apenas os ataques pessoais, a estupidez e a clubite mais básica, deixando o essencial por dizer, de já tão dito que foi...

    ResponderEliminar