Um dos argumentos que habitualmente me esfregam nas ventas de cada vez que arrisco assumir o meu eurocepticismo é o de que enquanto entraram os milhões que melhoraram a nossa condição de vida não refilei.
Por acaso até refilei, quando percebi que investimos os ditos em cursos de formação da treta enquanto outros apostavam na dinamização da economia onde ela mais precisava. Mas isso não evita deixar-me sempre em maus lençóis perante aqueles que acreditam numa Europa unida e até federada.
Jamé, digo eu, a essa ideia tão peregrina aos meus olhos como a de uma Ibéria que me revolve as entranhas por lhe perceber a única e mesquinha motivação económica, equivalente em muitos aspectos às que impulsionam os euroentusiastas.
No entanto, e mesmo podendo alongar esta posta até quase à fronteira com Espanha com uma argumentação mais sustentada, existem alguns fundamentos que acredito razoáveis para esta minha aversão a qualquer tipo de fusões ou de federações ou mesmo de uniões que transcendam a simples associação de interesses económicos e financeiros, com Schengen e tudo mas sem o alinhar pela mesma bitola dos outros em matérias que dizem respeito apenas à soberania nacional da qual não abdico, ainda que muitos a dêem por perdida na sequência dos nossos problemas com o pilim.
Eu não acredito no modelo europeu de tendência federalista e jamais o levarei a sério enquanto nos Estados Unidos da Europa não deixarem de existir coisas tão estapafúrdias nesse contexto federal como haver diferentes salários mínimos nos Estados-Membro. É como imaginar salários mínimos distintos na Estremadura e no Alentejo.
Também não papo o grupo de uma Europa federada com exército comum enquanto houver países como a França e o Reino Unido a intervirem na Líbia tendo a Alemanha a manifestar o seu repúdio para quem a queira ouvir.
Aliás, isso deixa-me até de pé atrás quanto ao discernimento dos nossos parceiros europeus em caso de conflito de interesses directo entre dois ou mais dos restantes países da União. Basta uma seca prolongada para a questão das fronteiras mudar de figura e percebermos o que vale de facto esta subordinação a um poder central europeu.
Claro que toda a gente adivinha o apocalipse subsequente a deixarmos de pertencer a essa árvore das patacas que afinal produz euros, mas eu sou daqueles que gostam de acreditar que é na adversidade que os portugas mostram o seu melhor e recuso-me a aceitar a noção de que somos um país de putos incapazes de se orientarem a sós e sem a mão que nos embala o berço, sem esses tutores que, de resto, nem se têm revelado tão incólumes assim aos abanões externos desta maravilha que é a economia global.
Por isto e mais uns pós não embarco no grande sonho europeu. Não o acredito viável, não o acredito indispensável e não o acredito capaz de sobreviver aos extremos da adversidade, tão evidentes os nacionalismos à flor da pele.
E por isso, mais uma questão de instinto que me diz ser mesmo uma má ideia e a hesitação finlandesa comprova, só aceitaria uma ligação europeia isenta de interferências em assuntos que, em última análise e com ou sem tratados, quando toca a doer cada país trata dos seus.
Eu sou um português em aflição e mesmo assim sinto-me capaz de tratar dos meus.
A Europa cresceu às mãos da geração de sonho e utopia que emergiram das cinzas da hecatombe.
ResponderEliminarNão há memória entre gerações, a memória não se transmite de forma directa e é sempre à geração anterior que cabe passar os valores em testemunho.
Esta Europa agora é um imenso balão cheio de nada, não levado pelas mãos duma criança, mas pelos que fazem caber o sonho no infinito azul dos umbigos.
Gostei do detalhe do semi-plural de "Estados-membro". É mesmo isso: na Europa, cada Estado tenta enfiar o membro no outro... Estado.
ResponderEliminar... e sem beijinhos...
ResponderEliminar:(
... e sem vaselina...
ResponderEliminar:(
... mas com muita areia!
ResponderEliminarA areia vem-lhe da componente das obras, que a construção civil tem muito a dizer nestas matérias.
ResponderEliminarÉ. A areia que nos lixa.
ResponderEliminarBasta um grão enfiado pela surra no preservativo geo-estratégico e temos logo um problema muito sensível...
ResponderEliminarDevia ser giro, os mercados arrrrrrranharem.
ResponderEliminarE não arrrranham? Com as garras afiadas no lombo da Pátria...
ResponderEliminarDepois nascem novos filhos das Pátria?
ResponderEliminarPosso amandar uma boca assim a dar para o anarco-lírico, posso?
ResponderEliminarIsto é tudo por causa do cacau, do pilim, daquilo com que se compram os melões, do euro-dólar-ién-libra-yuan-rupia... Se se acabar com esse elemento parasitário de todo o sistema produtivo, havemos de chegar, num instantinho, ao paraíso da Utopia.
Entretanto, a nossa criatividade devia levar-nos a fazer acordos preferenciais com a China e com a Índia e com Angola e com o Brasil e etc., etc., etc., nas tintas para os compinchas europeus. À má-fila, à canzana, a torto e a direito, a esmo e a eito, acordos e tratos e negociatas e outras merdas do género, fazendo muitos manguitos aos compinchas europeus e americanos, sem rebuço ou preconceito: camisas de seda da Baixa da Banheira, gravatas de Fornos de Algodres, carradas e carradas de graneleiros a escoarem contentores de tudo quanto é produto de terceira escolha, a que aporíamos, despudoradamente, o rótulo de made in Portugal...
Julgam que brinco? Sabem quantas unidades fabris já praticam tal habilidade? Tratava-se, apenas, de institucionalizar a «ciganice», mas com acordos com os enormes e emergentes parceiros. E até me parece que vamos no bom caminho, pelo menos np que toca `falta de ética que por aí campeia.
Para amigos europeus destes, amigos e meio.
Na Islândia estão a fazer pela vida...
ResponderEliminarhttp://aeiou.visao.pt/o-que-mudou-com-a-crise=f600969
Esses é que deviam servir-nos de exemplo.
ResponderEliminarLeram o artigo de capa da Visão de há duas semanas? Muito interessante, o que os Islandeses estão a fazer.
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