maio 31, 2011

A opinião dos outros

Os meus alunos têm tendência para, nas primeiras aulas de cada semestre, avançarem as suas opiniões sobre os mais variados assuntos a medo, enquanto testam as minhas, no sentido de averiguarem como reajo a posturas diametralmente opostas ou mesmo apenas parcialmente divergentes. Mais tarde, é vulgar um ou outro, mais arrojados, não se coibirem de me perguntar, preto no branco, se os meus critérios de classificação incluem a comunhão de opiniões. Que não!, lá tenho de lhes explicar pela enésima vez, o que não impede que, naturalmente, creia que a minha posição é a mais forte de todas (de outro modo, não a perfilharia) - sendo que também isto não é impedimento para que, um dia, não venha a perceber que essa posição, que eu concluí ser a mais defensável, passe a não o ser.
Costumo dizer-lhes que, se sou paga para ensinar os outros a bem fundamentar o que apregoam, tenho a obrigação (ética e profissional) de fazer o mesmo, o que implica o necessário conhecimento do que não defendo, para estar segura do que defendo. Nesse sentido, obrigo-me a aprofundar teses diversas, que não necessariamente as minhas, por que ganho o respeito que me merece qualquer posição bem estruturada, sem falácias nem contradições de qualquer espécie, ainda que patenteadoras de conclusões que não subscrevo.
Por isso, gosto de discutir sobretudo com oponentes ideológicos (com os outros, limito-me a ficar preguiçosamente na mesma: são óptimos para consolidar mas nunca me farão evoluir), desde que não haja:
a) violação das regras da boa educação e do bom senso (e se tiver de explicar o que é o bom senso, temos a regra violada);
b) ataques pessoais (são fáceis mas muito cobardes);
c) amuos;
d) bocas à socapa;
e) manifestação de soberba intelectual (que é sempre a outra face de uma moeda carregada de ignorância acerca da opinião alheia);
f) dogmas camuflados de opinião;
e) zangas e rupturas porque o outro não aceitou a verdade iluminada (a.k.a. dogma) do oponente.

Nestes casos, acabo com a discussão cortando com ela (nas aulas) ou retirando-me de campo (fora delas).Claro que o/a outro/a desgraçado/a pensará que, porque me retirei, ganhou. E eu deixo, coitado/a. Já bem lhe basta carregar a cruz de ser quem é.

3 comentários:

  1. Deixa cá ver como é que eu vou conseguir assistir, um dia, a uma aula tua...

    ResponderEliminar
  2. Deixas um belo elenco de deficientes atitudes... Muitas delas, tropeções do nosso dia-a-dia de insuficiências, temperadas com mal-ajeitados conceitos de «sobrevivência». Podes escrever um manual com esse elenco, que me parece bem apanhado quanto à arte de bem cavalgar em toda a sela relacional...

    Mas não posso evitar um sorriso ao imaginar a São assistindo a uma aula tua, torcendo-se e retorcendo-se em vascas de agonia, principalmente quando chegada à alínea d)... ;-)»

    ResponderEliminar
  3. Lá estás tu a mandar bocas à socapa :O)

    ResponderEliminar