Sempre investi no optimismo moderado no que respeita ao efeito da circulação acelerada da informação na internet. Se, por um lado, as revoluções já iniciadas e as que não tardarão a produzir-se em nações onde tal seria impensável, com as redes sociais a assumirem um protagonismo que me favorecia a melhor expectativa, acabam por constituir uma vitória para valores que nos são gratos, liberdade e democracia, não é menos verdade que a internet pode constituir uma ameaça real para qualquer cidadão pela crescente credibilidade atribuída a tudo quanto circula sem filtro na rede que apanhará sem dúvida muito peixe graúdo pela exposição dos seus esqueletos ocultos mas da mesma forma poderá conferir golpes irreversíveis em reputações comprovadamente imaculadas.
O dilema existe e já deu origem a algumas intervenções do foro jurídico, primeiras investidas do longo braço da lei no mundo virtual onde impera, pela própria dinâmica da net, a da selva. Os mais habilidosos têm ao dispôr uma ferramenta onde estão agora a entrar, depois da fornada inicial de gente maioritariamente jovem ou com formação superior, pessoas de todas as idades e percursos, fascinadas pelo fenómeno e sem o calo que as defenda das múltiplas armadilhas tão fáceis de criar por qualquer espertalhão.
A opinião pública, cada vez mais determinante nas opções dos decisores políticos a nível mundial, está pela primeira vez na História a fazer-se fora do âmbito dos media ou da propaganda tradicionais e já existem sinais claros do quanto cresce a influência deste novo meio na evolução das ideias e na formação de opiniões.
É aqui que entramos no terreno movediço do embuste, da bombástica divulgação de factos e até de alegados documentos cuja autenticidade ninguém pode validar, coisas que acabam por se desmascarar por questões de pormenor tão infantis como os seus criadores. O problema é que os diversos poderes podem dispor dos melhores e a neblina do anonimato é fácil de arquitectar.
Ou seja, é perigosamente fácil dar início a pelo menos um boato suficientemente propagado para obter o efeito da mentira mil vezes repetida e que no caso concreto pode ecoar junto de milhões.
Parece uma questão irrelevante, uma ameaça hipotética. Mas não é. A net, ironicamente um símbolo moderno da liberdade de expressão, é uma ameaça tão séria para as democracias que a promovem como para as ditaduras que a tentam silenciar.
Se para os tiranos em funções a internet pode assemelhar-se a um aríete capaz de fazer desmoronar a muralha da desinformação sempre tão eficaz na subjugação dos povos, para os aprendizes de feiticeiro que tanto se esforçam para dominarem os media pode antes surgir como a chave da porta para a propagação de elementos fulcrais para influenciarem com igual eficácia as multidões necessárias para, por exemplo, alterar o sentido de voto num plebiscito eleitoral.
E se os meios se distinguem em tudo, nos fins existe um paralelo assustador e para o qual o único mecanismo disponível, o recurso à Justiça, assume quase sempre o rosto do papão para a liberdade sagrada que os cibernautas exigem mas em última análise podem com essa euforia libertária hipotecar.
Queres ver que ainda vamos dar cabo de alguma coisa co'este blog?...
ResponderEliminarDo juízo da malta...
ResponderEliminar:)
"Não tivemos culpa, senhor doutor Juízo!"
ResponderEliminarShark,
ResponderEliminarNós ultimamente não vamos juntos à bola... :)
"A opinião pública, cada vez mais determinante nas opções dos decisores políticos a nível mundial, está pela primeira vez na História a fazer-se fora do âmbito dos media ou da propaganda tradicionais" (Graças a Deus!!!)... "É aqui que entramos no terreno movediço do embuste"???
..."uma ameaça tão séria para as democracias que a promovem como para as ditaduras que a tentam silenciar"??? (Ó rapaz, o que é que tu bebeste hoje???)
Pois eu acho que a pulverização da massa crítica, e a perda do monopólio da "informação" e da "formação de opinião" por parte dos media e da propaganda tradicionais, só traz vantagens à informação em si, ao estímulo da capacidade crítica das massas, e à qualidade da democracia (a verdadeira, não a de fachada).
Com muita pena minha suponho, contudo, que de uma maneira ou de outra, não tardarão a tirar-nos a todos o pio, talvez com argumentos semelhantes aos que apresentas... não fosse isso, este seria o caminho que nos levaria uma verdadeira revolução intelectual.
O que é preciso não é coagir e controlar as massas, mas antes que cada vez mais pessoas sejam capazes de pensar pelas suas próprias cabeças. Os "perigos" e "armadilhas" fazem parte dos desafios ao desenvolvimento da capacidade crítica.
Estás a ir à bola com o Shark :O)
ResponderEliminarEstou? Então ainda bem! :)
ResponderEliminarSe calhar houve interfências entre emissor e receptor... também acontece... :)
Pelo menos estás a argumentar, que é o que certamente ele quer.
ResponderEliminar(Deixós poisar...)
ResponderEliminar:)
Olha, Libelita, já mostrou a barbatana dorsal...
ResponderEliminar(Já se sabe como são os tubarões. Uma pequena dentada para provar e depois sim, NHOC!)
ResponderEliminarAté com profiteroles?
ResponderEliminarMarcha o que estiver a jeito. Depois cospe-se o que não interessa. É da natureza dos tubarões, o Charlie que te explique melhor.
ResponderEliminar:)
Também fazes como os escorpiões, que conseguem ter aquela coisa a sair-lhes pelas costas?
ResponderEliminarLibélula, o primeiro trecho que reproduziste não tem nada que possamos debater, pois eu não critico o facto e até já escrevi acerca do assunto. E blogo, pelo que não faria sentido ter uma opinião contrária.
ResponderEliminarJá no segundo estiveste bem pois é precisamente por esse que eu queria que a malta pegasse.
O tema vai ser sempre polémico e eu sei bem onde me posicionar quando e se houver necessidade de tomar partidos. E eu em caso de dúvida privilegio sempre a liberdade de escolha, aceitando os riscos inerentes.
Mas a questão não deixa de se colocar. Se consideramos legítimo que a lei actue sobre os pedófilos que (ab)usam a net para os seus propósitos temos que achar legítimo que actue também sobre quem pratique outros crimes, como o da difamação e da calúnia, certo?
E é aqui que entramos no tal terreno movediço do traçar das fronteiras que uns entendem como tentativa de supressão de liberdades e outros como uma consequência (ana)lógica de existirem pessoas (logo, direitos) no mundo virtual.
É esse o ponto de partida que lancei para a discussão. E posso defender o trecho que te provocou urticária, se entenderes necessário à luz do que já sabes de mim e das minhas posições em certas matérias.
Ó Moura, posso afiançar que entrar pelas costas não entra nada. Quanto ao que sai, não é bem das costas mas fica lá perto...
ResponderEliminar:)
No fundo, no fundo...
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