maio 03, 2011

Qual liberdade, marionetas?

Livres?
Nem os animais são livres!
Só é livre quem
não tem estômago.
Enquanto o nosso corpo
gradear a vida
para a manter dentro de nós
para que o coração
continue a palpitar
para que o sangue
continue a fluir nas veias
a vida há-de vingar-se
por a fazermos prisioneira
por a usarmos para animar
a nossa pobre carne
e continuará
a fazer de nós
escravos da nossa própria fome.

11 comentários:

  1. Somos tanto de presa quanto de predadores. A libedade, é de facto uma utopia, ninguém é livre, vivemos e viver implica um processo que nos obriga ficar dependentes.
    Mas somos para além do estômago, seres dotados duma centelha de divindade, criamos o perfeito onde não existe outra coisa que biliões, triliões de neurónios, mais livres que o macro-cosmos cósmico repetido no seu micro cosmos, pois inventamos leis onde a gravidade não tem peso, e tamanho não conta. E nessa medida, não há estrelas por maiores que sejam, que não caibam nas palmas da mão de nós, sempre crianças.

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  2. Se tu fosses gaja apertava-te os mamilos com um alicate!

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  3. Para além do estômago, dizes bem... Ainda bem que temos estômago e fazemos cócó e xixi e essas coisas; se assim não fosse, já viste a que ponto cresceria a arrogância do ser humano? Ainda bem que temos essas coisas fisiológicas, animais, mortais, sujas, cheiros e suores, ou ainda nos achávamos Deuses e Semi-Deuses insuportáveis, nada nos batia no topo da cabeça para nos devolver ao nosso lugar no chão. :)

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  4. E mesmo assim, é o que se vê...

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  5. Se me permitem a brejeirice descontextualizada, sempre direi que tal como o poeta falava daqueles «que se vão da lei da morte libertando», há algumas ténues e fugazes tentativas de combater essa amargurada tendência de regressarmos sempre ao chão.

    Há os que levitam... Há os que se excitam... É pena apenas esse tão escasso lapso de tempo.

    Mas como diria outro poeta, «que ele seja infinito enquanto dure...».

    Quanto ao poema joaninowelliano... bem, este foi um dos que já seleccionei para a nossa próxima sessão. E disse.

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. é um naco de carne todo feito de letras, este poema da Joana, poetOrca.
    E quando aos cocós xixis e demais fluidos de que a nossa formatação orgânica depende para o seu funcionamento, podemos afirmar que são bocados de mundo que os nossos corpos atravessam e lhes deixam a vital energia. Somos um mero tubo processador de matéria, e substantivamente, devolvemos à natureza tudo o que ela nos dá, só que sob outras formas. Instantâneamente recebem as designições que conhecemos. Fixamos o instante da matéria na sua momentânea qualidade dando-lhe os nomes como se jamais fossem alcançar outros estados, outos estatutos, na dinâmica de interdependências que formam a vida non seu todo neste planeta. Os cocós, são apenas o momento, assim como todos os outros fluidos. Depressa serão absorvidos, primeiro por insectos e bactérias, depois pela Mãe Terra de cujo ventre voltará a sair o poema gustativo de que os nossos sentidos alimentam os prazeres do corpo.

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  8. Jorge, :)


    é uma honra! :))))))) Muito obrigada! :)


    Sãozinha,
    Vê-se, sim, mas na hora em que o estômago ronca ou que sentam o traseirinho na sanita, nenhum endeusamento brilha nos olhares. ;)


    Charlie,
    o nosso lado fisiológico é a única âncora segura à humildade. :)

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  9. Comprei um livro recentemente que recomendo: «Les objets du désir au Japon».
    É um livro sobre o erotismo na cultura japonesa mas vai muito para lá do mero erotismo... pelo menos na óptica "ocidental". Para os japoneses, as excreções são sagradas. São símbolos de vida, de fertilidade, de não haver fome e sede.
    Ou seja, se fôssemos japoneses, o Sócrates não cagaria em nós só no sentido figurado.

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