maio 25, 2011

Reflexões pré-eleitorais I – melancólicas e deprimentes. Se calhar…

Quarenta e tal anos de trabalho na função pública, a maior parte dos quais como quadro jurídico em ministério. Formação académica conceituada… e suada, coisa algo inabitual no pós-modernismo. Obstinada integridade de postura, sendo tal da maior irrelevância hodiernamente. Indefectível quadro de serviços prestados, para o que ninguém olha nem olhará. Empenho profissional sem limites e sem mácula, ontem porque o hoje já passou e o amanhã já esqueceu.

Designação óbvia: funcionário público.

Únicos atributos para além das chamadas habilitações académicas: probidade, integridade, honestidade – coisas perfeitamente imprestáveis. Até já foi convidado, por mérito, para director de serviços, apesar da sua absoluta isenção partidária – circunstância ainda mais alienígena –, o que, entretanto, recusou..

Danos colaterais:

  1. Pela degradação progressiva e inelutável dos serviços, em desespero de causa e de paciência, decidiu-se pela reforma, cujo limite já ultrapassou bem, em idade e prestação de serviço. Mas terá de permanecer de um a dois anos à espera de despacho favorável (?) pela entidade competente (?) – Pergunto eu, muito lateralmente: já agora e para além de outras eventuais e momentosas considerações, quem é que arca com este um ou dois anos muito para além do tempo devido pelo cumpridor cidadão?
  2. Ainda plenamente ao activo, vê-se espoliado de alegadamente europeísta quantia mensal de  € 300 (trezentos euros), sob a forma de roubo à mão armada pelo Estado que é a sua entidade patronal. Euros supostamente determinantes e ainda há pouco expectáveis, para a salvaguarda de uma condição de vida modesta e regrada, com familiar idoso a cargo…
  3. Teve um aumento de cerca de 3% no vencimento, em 2009, após cerca de dez anos, dez (!), de congelamento de carreiras e de aumentos, 3% esses que qualquer economista de meia-tijela lhe faz pagar com língua de palmo, de cada vez que são pagos para virem à televisão «denunciar» os exercícios de má governação.  
Circunstâncias adicionais irrelevantes:

Detém uma viatura própria com mais de vinte anos e não é por coleccionismo. Não sai de casa, em gozo de férias, há vários anos, por gritante escassez de fundos. Tem um escrupuloso cumprimento das suas obrigações com o fisco. Felizmente, até à data tem sido razoavelmente saudável.

Aviso provisório:

Se houver por aí um, mas só unzinho, que ponha em dúvida um milésimo de milímetro do que acabou de ser dito, venha a terreiro que eu terei a disponibilidade para lhe mostrar o caso ao vivo e a cores. Um entre muitos, diga-se.

Conclusão, em lógica formal:

Não tenciona suicidar-se, entretanto, por formação e filosofia de vida. Mas estou em crer que já faltou mais para lhe apetecer matar alguém…

Responsáveis? Uns quantos. Sócrates? Claramente. E Cavaco e Durão e Guterres e… e… e… Algo difusas as responsabilidades directa e indirecta.

Portanto, já sabem: perante as extraordinárias sondagens a que vamos tendo direito, se houver só um, unzinho, que não tenha votado no «centrão» - porque parece que, afinal, toda a maralha vai votar ali… - e estiverem muito interessados em saber quem foi, falem comigo que eu saberei esclarecer com mais detalhe. Sob reserva de confidencialidade, claro, não vão ainda mover-lhe algum processo disciplinar, a ele que nem faz ideia de que eu esteja para aqui a desvendar estas intimidades…   

Perante este tipo de violência social, alguém duvida que a selvagem agressão a uma jovem por parte de uma seita qualquer de energúmenos a que assistimos, hoje, nas televisões não é nada mais do que o corolário de um silogismo que todos vamos ajudando a criar e em que nos perdemos da Humanidade?  

13 comentários:

  1. E tantos casos dos outros, ou nunca nenhum de vós levou com o lado negro da Função Pública?
    Eu concordo em absoluto com a perspectiva relativamente ao caso em concreto, mas não deixemos de fora as dezenas de milhar que fazem frete e constituem boa parte das perdas financeiras neste sector em particular.

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  2. (Eu não me posso pronunciar porque estou num período de "intervalo" e a minha religião proíbe-me de pensar em desgraças nestas alturas. Mas posso adiantar que a mim também já me faltou mais para ter vontade de matar alguém... Só o dia de hoje, por exemplo, já me deu várias razões para ficar mal disposta. A secretária do meu cliente telefona-me com 20 minutos de antecedência a desmarcar a reunião, estava eu a caminho encravada no trânsito e já com 20 minutos percorridos: "Ricaço insuportável. Apostava que me está só a querer fazer perder tempo..." A bufar, subo Rua do Alecrim acima, e penso em desforrar-me deste atraso de vida: "Paciência... aproveito para dar uma volta e fazer umas compras..." Primeira paragem: sex shop. Não há direito! Tanto, tanto, tanto do mesmo, e nada daquilo que procurava. Ainda por cima, atendida por uma mulher feia que não entendia nada de sexo. "Bom... Então vou aos tinteiros...". E lá vou rua abaixo à FNAC. "Lamentamos minha senhora, mas o tinteiro amarelo está "descontinuado"". "Como??? Mas então continuam a fabricar todas as cores menos o amarelo?? Mas a impressora... basta que não tenha uma cor que já não imprime..." "Pois, olhe, lamentamos..." Pois é. Eu também lamento muito. Lamento realmente imenso...)

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  3. Esse final de história deve ter-te deixado uma péssima impressão, Lib...
    :)

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  4. Eu tive, por acaso, ainda nesta mesma semana, uma péssima experiência com uma senhora que estava para lá de um balcão de atendimento ao público de uma repartição de finanças. Tive sim senhor.
    Mas acho que aquela gaja não era uma funcionária pública, não senhor. Era uma gaja, só. Malcriada, ressabiada e suficientemente estúpida para não se aperceber que se enganou redondamente ao definir o seu inimigo principal. Ou, então, não é gente de carreira; é só daquela gente que apanhou uma qualquer cunha de boleia e para ali está, a enfernizar a vida aos pagantes, como desagravo cretino do seu desviver.
    É, de certeza, uma daquelas pessoas que é a primeira a dizer amén ao chefe e consegue suplantá-lo na barbárie. Mas a culpa será dela ou é de quem assim a sustenta e mantém, como pilar de uma mentalidade difícil de erradicar, na exacta medida em que é tão conveniente àao «chefe»?

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  5. Muito bem, Jorge, era aí que eu queria chegar.
    Não basta melhorar salários e condições e entretanto proceder de uma vez à reforma administrativa que nunca saiu do papel, para salvar a Função que é (deveria ser sempre) Pública é preciso dar uma rigorosa vassourada nos pousos do bafio.

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  6. O amarelo descontinuado?! Ó Libelita, tens a certeza que quem te atendeu não era um marciano?!

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  7. O barco onde navegamos é o mesmo.
    O que lamento é a falta de visão global das pessoas, dum modo geral.
    A economia é um tecido interdependente que navega em circuito fechado. Não é por alguns se refugiarem no topo do mastro , enquanto os outros estão presos no porão a tirar a água que entra pelos rombos, que os primeiros se salvam do naufrágio. Ir ao fundo é o destino comum que apenas pode ser combatido se todos os braços se agarrarem às bombas.

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  8. Pois é... mas não tem sido e nunca mais é...

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  9. Sãozinha, querida,

    Nos dias que correm não tenho certezas absolutamente nenhumas... muito menos dessa natureza...

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  10. ... com um sorriso, ainda questionei o rapaz: "Mas olhe, pense lá, acha que isso tem alguma lógica?" Ao que ele, imagine-se, ao contrário de simplesmente anuir, argumentou cheio de certezas com uma justificação completamente estapafúrdia! Nem sequer lhe ocorreu que pudesse haver algum erro no supra-sistema informático da FNAC... E eu cá pensei com os meus botões... "Tadinho... O estado em que o mundo está! Tão jovem, e já não pensa..."

    Isto é um estado de coisas. Não depende de nenhum sector: função pública, privada ou pseudo-pública. Está por todo o lado. Com tendência, infelizmente, a piorar. Honrosas excepções existem sempre, embora tendam, lamentavelmente, a ser sufocadas pela regra...

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  11. O OrCa diz isso, no post "em cima".

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