fevereiro 13, 2014

«Paga, Zé!» - António Pimpão

No meu post anterior, a que dei o título de SOVITEJBO, referi que o IFCP – Instituto de Gestão do Crédito Público era um dos principais interessados no agravamento da dívida pública, por ser remunerado pelo governo português com uma permilagem calculada sobre o montante dessa dívida. Mas não será o único interessado.
Referi ainda que, estranhamente, o governo português, através do referido IGCP, mantinha uma almofada de dez mil milhões de euros em excedentes de tesouraria, para cuja constituição foi necessário recorrer a empréstimos e sobre a qual se está a pagar juros a uma taxa superior a 5%.
Afinal, eu estava enganado. De acordo com esta notícia, essa almofada não é de 10 mil milhões mas, sim, de 20 mil milhões de euros e a sua manutenção implica o pagamento de 50 milhões de euros em juros por mês. Ou seja, 600 milhões por ano. Ou seja, ainda, várias vezes o custo ESTIMADO do Metro Mondego, por exemplo. Este excedente de tesouraria representa quase 30% do valor do resgate da troika, aquando do acordo tripartido. Que exagero!
Em 2013 e em 2014 o governo português procedeu a 4 emissões de dívida que atingiram o montante global de 11 mil e 600 milhões de euros. Se não fosse para criar a referida almofada, não teria sido necessário, afinal, recorrer a novos empréstimos, nem no ano passado nem neste ano.
Ainda de acordo com a notícia do Público que venho comentando, os economistas Paulo Trigo Pereira e João Duque são contra a existência desta almofada ou excedente de tesouraria, o que subscrevo inteiramente.
O principal argumento para o recurso à referida almofada é que isso dá um bom sinal aos mercados e é um bom indicador para Portugal não precisar de recorrer a um segundo resgate ou a um programa cautelar quando, em maio próximo a Troika concluir o programa de ajustamento. Isto parece conversa de remediado que gasta o que tem e o que não tem só para impressionar a vizinhança. Mas a que custo!
Não consigo vislumbrar qual o problema em assinar um novo programa cautelar, desde que isso implicasse a fixação de objetivos sérios para a reforma do estado e o pagamento de juros mais baixos. Sem esse programa, é certo e sabido que mais nada se reformará – mesmo com o programa em vigor as reformas foram quase nulas – e que os juros da dívida serão muito mais elevados.
Quem acha que Portugal não deveria subscrever novo acordo com os credores internacionais são os administradores da banca, como o afirmou ontem o presidente do Santander.
Enquanto os economistas defendem que Portugal deveria subscrever novo acordo e reduzir a almofada financeira, a banca defende exatamente o contrário. E o governo vai fazer o quê? Não custa adivinhar: servir a quem serve, naturalmente.

António Pimpão

7 comentários:

  1. Este desgoverno faz lembrar-me muito do making of do filme "Titanic".
    A grandiosidade do enorme e (in)afundável navio não resistia a uma rotação de poucos graus das câmaras: miniaturas, maquetes e porções de cartão pintados e alinhados sobre andaimes que por trás tinham um cenário de suporte digital em cor verde. No nosso caso, os arames são os mesmos, os cartões sim senhor e os andaimes idem, sendo a diferença na cor de fundo da ilusão montada.
    A única coisa onde a ficcção parece coincidir com a realidade é no pormenor factual de que ia no bom caminho mesmo quando a água já ia pelos joelhos dos elementos da orquestra.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não reparei em nada disso, quando vi o filme. Das falhas no cenário, quer'd'zer...

      Eliminar
    2. Claro
      O cinema é o mais perfeito desempenho do que se chama ilusionismo.
      As câmaras são cuidadosamente alinhadas de forma a dar uma perspectiva perfeita. Conseguem-se criar cenários extraordinariamente grandiosos a partir de poucos centímetros de vidro pintado, inventar distorções de perspectivas impossíveis como as de Escher, e nos tempos de hoje, com os computadores, só não fazem o que não quiserem.
      Quem assiste ao filme vê aquilo que os artífices da imagem querem que seja visto. E nós, digamos, estamos lá mesmo para isso: para nos embalarmos nas histórias na embalagem com que nos são servidas.
      Quando não damos por nada em relação aos truques dizemos que o filme é perfeito. Coisa que também os nossos país diziam dos truques de imagem de alguns filmes de então que hoje nos parecem de uma ingenuidade confrangedora.
      Sobra-me (nos) então essa raiva de nos quererem fazer passar por ingénuos quando se montam em cima destes truques baratos que só enganam os que - por estar alinhados com eles- se encantam com a ilusão apresentada.

      Eliminar
  2. Se isso se "visse" no filme seria a chamada "barraca", mas eles existem e são bastantes que escapam ao olhar
    Contudo há uns cromos que tem como hobby ver e rever todos os segundos dos filmes de forma a apanhar os chamados buracos.
    Eis alguns apanhados
    Se tiveres paciência, são sete minutos de pormenores, alguns com piada, como verem-se câmaras reflectidas nos vidros, um despenteado que por artes mágicas aparece penteadinho, um chapéu que salta do colo para a cabeça, um casaco que de repente muda de cor, etc.
    Para o Passos, somos os tais gajos que passam a vida a desmontar-lhe os truques....dum filme que ele apresenta como perfeito.

    ResponderEliminar
  3. http://www.youtube.com/watch?v=8B6eD6NqaMM

    ResponderEliminar