maio 18, 2011

A posta na crise de pacotilha e no patriotismo trôpicáu

Para além de desconchavarem as finanças às pessoas, as crises provocam um dano colateral que é o de desconchavarem as próprias pessoas. Isso é fácil de constatar em dois ou três dias de maior atenção às conversas de café, nas quais se expurgam as emoções violentas provocadas pela dificuldade em escolher o destino de férias ou em jantar todos os dias ou em encher por completo os recintos de diversão, nomeadamente os centros comerciais e os estádios de futebol.

Se a pobreza envergonhada é constantemente denunciada por tudo quanto é organização de índole humanitária presume-se que os mais aflitos não falam da crise, antes a calam bem fundo e tentam disfarçá-la a custo perante os olhares atentos da vizinhança habituada a topar esses indicadores de oscilação no estatuto social que tanto pesam nos moldes de relacionamento a adoptar.

Quer isto dizer que as conversas de café são alimentadas precisamente por quem não faz ideia do que é a falta de dinheiro para pagar a prestação ou a renda da casa, apenas ouve falar, e não quer dar nas vistas pela positiva.

Quem fala da crise acaba sempre por denunciar o seu alheamento às respectivas consequências. Claro que não falta por onde pegar, os dramas do quotidiano nos telejornais, o problema dos outros, e o inevitável malandro do Sócrates que provavelmente foi o responsável até pela crise financeira mundial.

E um gajo fica calado a mexer o açúcar na chávena, a ouvir a multidão de entendidos acerca disto das crises, gente de gerações recentes, de camadas da população que não fazem ideia da dimensão que a coisa assume no quotidiano de quem precisa de pedir batatinhas na mercearia porque no hiper ninguém as fia.

É gente que numa altura em que a Pátria mais precisa de força e de coragem para dar a volta prefere rosnar que mais valia entregarmos esta merda aos espanhóis (ou aos filipinos, tanto faz desde que sejam mais abastados).

E um gajo continua calado a mexer o açúcar na bica que já é um luxo enquanto os entendidos nesta coisas das dificuldades de uma pessoa, a prestação do leasing do carrão, a reparação do plasma, a mensalidade do colégio privado, as férias que já não podem ser na Tailândia mas, a muito custo, talvez no Peru ou assim.

E só dá ganas de um gajo romper o silêncio com algo mais do que a pancada da colher na chávena, de lhes chamar estúpidos com as letras todas por não saberem do que falam e por exibirem a estupidez numa coisa tão óbvia como virarem-se para Espanha, preguiçosos, quando toda a gente sabe, ignorantes, que não faltam argumentos para justificar como melhor escolha para a entrega do país, sobretudo em termos de futuro na única preocupação que os move, uma potência emergente como a China.

Ou, na que seria a minha alternativa de eleição (para aproveitarmos o acordo ortográfico e assim, sua gente burra e sem visão estratégica global), o mais ensolarado dos novos-ricos, o nosso irmão Brasil…

13 comentários:

  1. Para quê direccionarmo-nos para a China se a China já há muito se direccionou para nós (como para África)?

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  2. Eu disse a China porque é o eldorado espanhol que atrai muitos patriotas da treta, podia ter dito a Índia ou assim...

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  3. Pode ser a Tailândia? É que... estava a precisar de uma massagem...

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  4. Foge se te propuserem a aiuvédica. É semelhante a uma carga de porrada mas sem poderes ripostar...

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  5. Aiuvédica?! Credo... até o nome assusta...

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  6. Eu já ouvi dizer que essa "gaja" era muito boa...

    Quanto ao resto... ando mortinha para ser brasileira... Portuguesa é a minha alma e a minha língua (sem acordo ortográfico possível), e essas vão comigo para onde eu for... de preferência para mais perto da selva e do equador e para bem longe desta salada...

    A nação são as pessoas, e em condições destas, um dia destes não se encontra por cá ninguém conhecido...

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  7. Não me digas que irias para uma tribo com o José Castelo Branco...

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  8. ... não era propriamente o que eu tinha em mente...
    Mas no sítio para onde eu gostava de ir há borboletas verdes de três quilos... e "negões" daqueles que sobem aos coqueiros e que têm sorrisos dos tais que vão daqui até às muitas estrelas daqueles céus que por cá já não há (exceptuando os que foram mordidos pelo insecto do "sonho europeu", que esses já nem no paraíso conseguem ser felizes...)

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  9. ... é que o meu problema, ao contrário do desta malta, não se resume a trocar de carro, mudar de sofá, beber muitas coca-colas, trazer pendudicalhos ao pescoço, e trabalhar muito para pagar muitas dívidas e impressionar muito os vizinhos... Do que eu gosto a sério é de plantas e de bichos e de estrelas e de pessoas não sejam de plástico... e sei de um sítio onde até os urubus são bonitos, ao contrário dos de cá, que são muito feios...

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  10. Pessoas de plástico também não aprecio... ou de borracha...

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  11. ... por acaso aquelas moçoilas que noutro dia apareceram no afunda tinham muito bom ar... e deviam ser simpáticas, um tanto reservadas, é certo, mas tirando isso... :)

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  12. Deve-se gastar uma fortuna em lubrificantes... e toalhetes...

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  13. Como eu hoje estou assim a dar para o exaurido - isto tem sido muita actividade para contrariar a «apagada e vil tristeza...» - sempre vos digo, irmãos e irmãs, que há algum conforto, contra esta vida mal-sã, em metermos as mãos na terra-mãe... e descobrirmos os eldorados, as borboletas, os sorridentes negrões, as saudáveis e lascivas moçoilas dos nossos contentamentos na emergência de uma semente lançada à terra, de um fruto amadurecido na árvore, na couve sem artifícios que nos dará o consolo da sopa de antanho e cheia de futuro...

    Chamavam-lhe a «aurea mediocritas» - e, note-se, não tem nada a ver com os actuais e ridículos apelos da cavacal figura sobre a agricultura. Não! É apenas esse simples e primordial acto de sentirmos a terra, encher dela as mãos e a alma...

    Garanto-vos uma coisa: não corrige nada no mundo; mas traz-nos, a cada um de nós, um novo alento e, porventura, capacidades para novos olhares. E é, apenas disso que se trata, no que às preocupaçõpes de cada um respeita.

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