maio 22, 2011

A posta que não me apetece brincar

Cada um de nós vive em função da conjuntura, da personalidade, da formação pessoal, de uma série de factores que nos distinguem por dentro e por fora, a influência do exterior que nos educa e acaba por nos encaminhar para determinada forma de estar que encaixa ou não nos valores que subscrevemos.

Essa diferença que nos torna únicos não impede que exista uma interacção, o apelo social irresistível que lima as arestas ou fornece os pretextos para ultrapassarmos aquilo que nos distingue e pode, pelo conflito de interesses ou mera incompatibilidade de vivências ou de características, afastar.

Por vezes as tais diferenças podem tornar-se obstáculos incontornáveis, quando o comportamento dos outros colide de forma frontal com a escala de valores que abraçamos. O conflito pode (embora não deva) nascer dos termos em que manifestamos a nossa opinião, esse exercício de liberdade de podemos gozar enquanto estiverem salvaguardados os seus limites mais ou menos consensuais.

Por isso confesso que estou a fazer um esforço para reprimir a expressão linear do repúdio que uma das notícias para encher chouriço de uma televisão qualquer me provocou, tentando moderar as emoções que as palavras deveriam transmitir.

Em causa está uma iniciativa levada a cabo em Braga, nomeadamente uma tomatada que um grupo de cerca de mil pessoas entendeu copiar dos espanhóis.

Durante dois ou três minutos vi no ecrã a forma como largas centenas de pessoas investiram a sua energia, o seu tempo e recursos, toneladas de comida, que poderiam salvar vidas noutro lugar qualquer. Mais de mil pessoas, numa praça, divertidas a arremessarem comida umas às outras apenas porque lhes deu para aí e não para encherem contentores com os seus projécteis improvisados e tratarem de os fazer chegar às bocas de outras pessoas que, neste mesmo país, jamais se divertiriam daquela forma por não terem com o quê. Nem força anímica para o conseguirem.

Podia agora dissertar uma moral qualquer, a minha, acerca do que está implícito de hostil na brincadeira tão pueril daquela gente minhota.

Mas prefiro entregar a ti que lês este texto a conclusão que a tua visão das coisas, a tua escolha, entenda extrair.

Já disse o que precisava de dizer.

10 comentários:

  1. Não estás mesmo para brincadeiras. Levaste a sério a minha ameaça de te atirar com um par de tomates...

    :O)

    ResponderEliminar
  2. Eu levo sempre a sério as ameaças que envolvem tomates. Sobretudo quando são os dos maridos (dantes eram os dos pais...).
    :)

    ResponderEliminar
  3. Não, Shark, não estás com alucinações. Havia aqui mesmo outro comentário.

    ResponderEliminar
  4. Lá estamos nós outra vez de acordo. «Brincadeiras» que envolvem desperdício de bens alimentares - para além do consumo de água que, no caso, acarretam para limpezas -, deveriam ser considerados actividade criminosa. Nem mais, nem menos.

    Quanto aos meninos e meninas e restante família que tanto curtem este tipo de manifestação decadente e insultuosa, tenho aqui uma proposta à mão de semear: que tal divertirem-se a bater com as respectivas cabeças contra um penedo até ela estalar? Seria uma alegria ainda mais radical, talvez sujasse um pouco mais o chão e as paredes, mas era só por uma vez...

    ResponderEliminar
  5. E o chão, quem o limparia? Não. Atirem-se ao mar e digam que os "empurrarem"...

    ResponderEliminar
  6. Ao mar é boa ideia. Senhoras primeiro!
    :)

    ResponderEliminar
  7. O Povo, (conceito que se transmuta ao longo dos tempos) teve sempre formas "sui generis" de expressar-se, passe o termo. Vamo-nos modificando colectivamente, o que ontem parecia bem, pode parecer diferente passadas uma ou mais gerações, para poder depois voltar a ser bem aceite de novo. Isto dos valores, pertence a um campo difuso, subjectivo e volátil.
    Como exemplo sórdido para mim mas perfeitamente inserido no seu contexto cultural numa determinada localidade no centro norte do país, partilho um episódio ocorrido aquando das épocas das romarias, altura do ano enriquecida pela chegada dos emigrantes. A festa decorria animada até que chegou a altura da nossa actuação. Subimos ao palco, e após uma história pitoresca para criar ambiente, lá começamos a actuação. Foi quando, enrolado duma corte de risada geral, um castiço se aproximou do palco, visivelmente embriagado, partiu uma garrafa de vinho na beira do palco e puxou com os braços os cacos para o chão. Acto contínuo tirou a camisa e pos-se a dançar, deitado e de costas, sobre os bocados de vidro. Nós paramos de tocar, obviamente estarrecidos perante a imagem duma pessoa toda cortada e ensanguentada, mas - pasme-se fomos censurados pela assistência que se ria à bandeira despregada com o desempenho do artista local. Segundo parece, era tradição, uma espécie de prova de iniciação, ou prova de virilidade ou coisa que valesse, e a nossa obrigação seria a de ter continuado a tocar e a cantar como que a dar moldura a um dos momentos altos daquele festejo...~
    Por isso, embora ache perfeitamente estupida essa coisa dos tomates atirados uns aos outros, sou a dizer, que já vi tanta coisa que já nada me espanta....

    ResponderEliminar
  8. Eu também já vi elefantes a andar de bicicleta...

    ResponderEliminar
  9. Olha, eu por exemplo,
    Quando comecei a andar de BTT, era um verdadeiro Olifante

    ResponderEliminar
  10. Pois... a mim só me faltou ainda ver-te a andar de bicicleta... ihihihihihihih

    ResponderEliminar