maio 12, 2012

Estranhas formas de vida

 A nossa forma de vida está por um fio...
E sim, somos animais, que apenas quer dizer sermos seres animados de movimento próprio, o que leva a ilusão da nossa inteligência a concluir que somos autónomos de tudo, dos outros seres animados, dos inanimados e incluso o nosso meio ambiente.
E assim se constroem cenários oníricos onde as sociedades se apoiam, com as pirâmides de poder assentes nessa coisa inqualificável e nada inteligente do crescimento permanente . Como se vivesse em constante orgasmo, sem a maturação dos primeiros olhares, das primeiras palavras, dos primeiros gestos, no fundo, sem disfrutar dessa coisa intangível que é ter-se o tempo para gozar o tempo que as coisas levam a acontecer.

Esta orgia do crescimento permanente, deste colher do fruto sem sequer o semear, conduziu naturalmente à invenção dos valores: já não era a maçã que se vendia na Bolsa mas as maçãs que as sementes daquela maçã iriam dar num futuro, que em termos de valor, era agora! E se se consegue vender tão bem uma tonelada de maçãs a partir de uma maçã, porque não vender uma floresta de maçãs, já não a partir de uma maçã, mas apenas de uma ideia de maçãs que nem sequer existem?
É esta a génese da crise actual: o logro.
A dívida mundial em que todos devem a todos, está baseada num imenso logro. E os poderosos que no topo da pirâmide beneficiaram da mentira, não querem perder o seu poder. Daí que estejam a fazer o contra-ciclo. Das maçãs que eles venderam a partir de uma ideia de maçã que nem sequer existe, querem o dinheiro, não quando as maçãs estiverem crescidas, mas já!
E como sabemos que dinheiro é apenas a expressão abstracta de bens, não havendo maçãs, não pode haver dinheiro.
Tão simples como isto.
Estas coisas estão a acontecer porque eles, os poderosos, os verdadeiros donos do mundo, querem manter o seu poder. Uma vez que estava assente numa virtualidade, ao cair na realidade, o seu valor, o seu poder, ficaria reduzido. Assim, mesmo ficando no fim deste ciclo menos poderosos, o seu poder relativo continua sendo superior. Isto só é possivel se o mundo empobrecer, ou seja, se houver transferência de bens e recursos, do valor real,  para as mãos deles.
E é nesta armadilha que estão todos a cair. Gaspares, Coelhos e seus iguais, não vêem mais do que um palmo diante dos olhos, mordem e engolem o anzol e vem dizer-nos que estão a pescar aquele que os estão a pescar a eles... através das nossa bocas...
As "soluções" que a Grécia seguiu apenas tem feito piorar as condições dos Gregos, as "soluções" que Portugal seguiu tem do mesmo modo feito piorar as nossas. E logo se apressam em novas, que são as mesmas e velhas "soluções" que levam sempre a ficarmos mais pobres enquanto outros ficam mais ricos...

Vem aí mais impostos, mais reduções, mais implosão económica. E depois vem dizer-nos constantemente que não somos a Grécia!
 Não não somos a Grécia?
É como os Espanhóis dizerem que não são Portugueses, e os Italianos a dizerem que não sao Espanhóis, e os Alemães a dizerem que não são os tais escuros do sul, que não gostam de trabalhar, mas que por acaso são até os que mais horas de trabalho por ano contabilizam...Só falta dizer que quem parte  o copo na brincadeira lá de casa é sempre o  outro menino...
E eu a julgar que se tinha construído um espaço económico comum, sem fronteiras, uma Europa solidária, onde todos os países faziam parte do mesmo complexo multicultural.
Mas isso era se calhar no tempo em que os animais falavam, agora temos robôs a repetir a receita do avião sem piloto:

" ...Senhores passageiros, bem vindos ao nosso avião sem intervenção humana aos seus comandos. Este sistema não sofre dos erros habituais que advem das falhas de percepção dos pilotos, das fadigas ou doenças súbitas.
Por isso será um vôo perfeito, sem precalços de qualquer espécie, de qualquer espécie.... de qualquer espécie....de qualquer espécie....de qualquer espécie....de qualquer espécie...de qualquer espécie... de qual......piiiiiiii...."

9 comentários:

  1. Vês, vês, que aqui fica bem melhor?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu também acho. Por mim só falta acrescentar ali em cima que somos "animais tão irracionais como quaisquer outros e comandados pela Natureza como quaisquer outros e ainda por cima muito agressivos, o que é uma grande chatice". Tirando isso, estou plenamente de acordo, embora não esteja de acordo com nada porque para mim isto está tudo errado, do princípio ao fim. A única coisa realmente certa, certinha, é o "piiiiiiii".

      Eliminar
    2. Será por isso que ainda ouvimos tantos piiiii's por cima das palavras que queremos dizer?

      Eliminar
    3. Sim, São Rosas.
      Já o Paulo Moura tinha feito a mesma sugestão... ;)

      Eliminar
    4. E depois, com os números da execução orçamental que são uma desgraça, faz-me de repente vir ao cimo dos neurónios, aquela máxima que diz " ...uma desgraça nunca vem só....traz sempre a sogra..."

      Eliminar
  2. Se ao menos em vez de maçãs fossem bananas das grandes, ou mesmo ananases de média dimensão, as pessoas sempre podiam encaminhar a fruta toda para o devido lugar que, afinal, será o que nos vier à ideia na altura...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Na Cova da Beira as melancias são enormes...

      Eliminar
    2. Ção Rozas melhér, ao menus as milansias ção iscurregadias?"

      Eliminar
    3. Não te contei já 3.249 vezes quando estava de oficial de dia e me pus à conversa com 2 soldados açorianos? Quando lhes disse que nos Açores deveria ser um problema por haver poucas mulheres, um deles disse-me (só não sei escrever com o sotaque dele):
      "Ó meu aspirante, uma aboborinha madura, batidinha pelo sol, faz-se-lhe um buraquinho e não há nada melhor!"
      O outro disse-me que era uma festa sempre que a mãe lhe dizia para ir buscar uma galinha e matá-la.
      ...

      Eliminar