maio 09, 2012

A posta que lhes troikaram a maiêutica


O mais recente sarilho grego, curiosamente nascido dos caprichos de uma criação sua – a democracia, parece bem encaminhado para ser o último acto do pesadelo comunitário em que a zona euro subitamente se tornou.
No momento em que escrevo estas linhas, na terra do Onassis há um líder da esquerdalha a tentar formar governo, já com aviso prévio de tomadas de posição tão vincadas como a nacionalização de toda a banca.
E de repente as respirações ficam suspensas por todo o Velho Continente, temendo-se a qualquer momento a transição menos suave do estado de choque dos mercados para o início de uma indisfarçável apoplexia.

A coisa vista deste lado do naufrágio, cada vez mais perdido por um perdido por mil, até pode parecer de pouca monta. Mas a avaliar pelo pânico mal camuflado da malta que (des)manda os cenários possíveis criam filmes de absoluto pandemónio com ondas de choque impossíveis de prever na sua dimensão, nomeadamente no que respeita àquilo com que se compram os melões.
Os gregos, como nós, não têm jeito para lidar com dinheiro em demasia e a coisa piora quando ao dinheiro a mais se acrescenta o que não se tem e alguém nos empresta.
Os milhões foram manteiga em nariz de cão, lá como cá, e depois surge a fase da casa onde falta o pão e toda a gente protesta mas ninguém tem a razão. Os gregos entenderam somar aos de rua o protesto eleitoral e podem muito bem ter enterrado o país nas urnas (há aqui muita coerência implícita), com a composição de um parlamento demasiado colorido para a necessidade de uma postura tranquila, cinzentona.

Temos mais uma vez instalado o pânico nas hostes e até de golpes militares se fala quando se esboçam futuros capítulos desta caldeirada helénica, tamanha a incapacidade de uma Europa aos tremeliques conseguir suster o eventual colapso nas suas mais temíveis repercussões.
A Grécia está provavelmente apenas a antecipar um desfecho inevitável, mas se há fio condutor nas decisões europeias é o da prioridade em adiar. Ganhar tempo parece ser a única resposta dos decisores e nesse particular os gregos, apressados, perderam.
Como Portugal perderá, pelas contas dos entendidos que nelas se enganaram, por tabela.

Mas Portugal não é a Grécia, eles é que sempre se deixaram embeiçar pela Filosofia e foi um dos melhores entre eles nessa arte quem lhes impingiu a cena de dedicarem mais empenho ao seu desenvolvimento pessoal do que à obtenção de riquezas.
E por isso, em última análise, se houve bronca com dinheiros por lá a culpa só pode ter sido do Socrátes.

31 comentários:

  1. Numa guerra (e não falo de batalhas) há muito perdida (Ocidente/ Oriente), e perante a incapacidade do Ocidente em tentar unir-se ao menos para evitar uma descida a pique... a dada altura não se vê grande vantagem em adiar o inadiável. A alguém que cai num buraco bastante fundo, põe-se-lhe de imediato decisões fundamentais quanto à estratégia de sobrevivência a adoptar: se investir (e despender) energia em tentar pelos próprios meios sair; ou se esperar que alguém surja em socorro correndo o risco de que a energia, por força da espera, se esgote ao limite de já nem a tentativa de salvação ser possível...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. ... por cá, eu (na minha visão de ignorância), com o meu espírito por natureza combativo e revolucionário, muito antes de do país só restarem as espinhas e uma horda exaltada, irracional, rota e morta de fome, antecipando logo que seríamos dos primeiros a ser triturados, pensaria em, pela calada, ir investigando possibilidades de outras rotas comerciais... Brasil, África, Índia, e até Marrocos... e claro, o grande inimigo, a China... E sendo possível, seria a primeira a saltar para o lado do vencedor... Ser pequenino também pode ser uma vantagem... (e muito me agradaria manda-los a todos (aos "parceiros") enfiar o "bem-estar das galinhas" mais as "cotas todas" e as "benfeitorias" num sítio que sei, com todo o respeito pelas galinhas...)

      Eliminar
    2. ... mas toda a gente diz que sem a União Europeia morremos todos... veremos... porque querendo ou não... é para aí que vamos...

      Eliminar
  2. União Europeia?! É mais Incógnita Europeia...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu não vejo incógnita nenhuma... Estamos naquela fase em que o pequeno cardume (que na verdade nunca foi cardume nenhum, mas um ajuntamento de indivíduos reunidos por interesses variados em período de abundância) está a ser desmembrado para a seguir ser comido, peixinho a peixinho, pelo peixão grande. Os chineses começaram a aprender com a Natureza há milénios!! Nós a jogar xadrez com eles não temos hipóteses... mas o mais triste é que nem sequer damos luta... e somos tão animais e tão previsíveis que até é desanimador... quase que nem precisávamos de ajuda para irmos ao fundo a comermo-nos uns aos outros ao mínimo sinal de escassez... É só do que eu me queixo... isto assim não é "desportivo"...

      Eliminar
    2. Continuo a achar que é uma incógnita. Os chineses também andam a fechar lojas por Portugal fora...

      Eliminar
    3. Mas vão comprando outras coisitas... electricidade, banca... e hão-de comprar muitas mais e por muito pouco...

      Eliminar
    4. É tudo tão complexo... tantas variáveis...

      Eliminar
    5. Os meios de produção já lá estão todos... Isto não vai custar nada... À velocidade a que vai, vai ser um instantinho... Quase tudo em que tocamos, tirando os alimentos, é feito na China... Também foi um instantinho... quinze, vinte anos... Um dia destes a nossa electricidade, a nossa água, e sabe-se lá mais o quê... serão chinesas. E não serão só as nossas do portuguesinho... os outros não se ficam a rir. Esta guerra, em que estamos já todos enfiados até ao pescoço, será seguramente a mais mortífera da história da espécie humana (pode é não haver muito sangue...). O raio é que à velocidade a que vamos, corremos o risco (nós) de assistir ainda a parte dela... É assim que se vão resolver os problemas de "recursos planetários" para os próximos tempos... e vendo bem... talvez depois os chineses tomem melhor conta disto...

      Eliminar
    6. ... os chineses são muito diferentes de nós... são muito "naturalistas"... têm muita paciência... sabem esperar... sabem fluir com a Natureza... por isso isto vai ser assim que quase nem se dá conta... como quem entra num rio...vai mudando de cor... Com eles não é aos tiros. E se nós do lado de cá não vemos "boi" do que está a acontecer... do lado de lá de certeza que não é assim...

      Eliminar
    7. (... a estratégia deles é "boa"... :O) )

      Eliminar
  3. Qual foi a lição da natureza que os chineses aprenderam para aplicarem no Tibete?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Lição "tubarão"???

      Ainda ontem andei por aqui...

      http://www.youtube.com/watch?v=0o1TLD-UYAE&feature=related

      Os tipos evoluíram muito, não foi?

      Eliminar
    2. Diz na Wikipédia que:

      "A história da China está registrada em documentos que datam do século XVI a.C."

      Incrível, não é?

      Eliminar
    3. Ainda há poucas semanas andei por aqui...

      http://www.youtube.com/watch?v=rPILhiTJv7E

      É a globalização?

      Eliminar
    4. É a estupidez humana por todo o lado... mas do ponto de vista civilizacional não sei se será assim tão relevante... Ainda há dias estive a ler umas partes do "Choque das Civilizações" do Samuel Huntington de que li uma parte quando saiu. Há um ano ou dois comprei o livro no intuito de voltar a dar uma olhadela… e achei muito interessante, mesmo surpreendente... Este livro saiu em 1996 e na altura era uma referência, julgo que uma das melhores neste domínio. O tipo é um especialista em "civilizações". Mas do que eu gostei mais, que achei mesmo um "estouro", foi o facto do livro estar completamente desactualizado. Tudo o que está para trás, muito bem... tudo o que são antevisões do futuro, muito mal. E tem piada. Já o Ocidente tinha entrado em decadência, mas nada que se compare ao que temos agora. Na altura a maior ameaça era a pura decadência e embora o perigo "China" pairasse, o inimigo potencial exterior mais feroz que antevia eram os árabes... Nestes dezasseis anos as coisas mudaram muito. Que isto está a cair, está, e depressa. Por muitas razões (e porque encaixa tudo muito bem) a mim parece-me que a civilização em melhores condições para ganhar uma guerra por assim dizer inevitável entre grandes civilizações é a China... mas o futuro... é o futuro... embora nada leve a crer que as coisas não sejam como sempre foram. Diz o tipo: “o Ocidente tornou-se uma sociedade adulta, entrou no que as gerações futuras, segundo este modelo de periodização das civilizações, considerarão uma "Idade de Ouro", um período de paz resultante, segundo Quigley, "da ausência de qualquer forma de conflito entre unidades dentro da área da civilização e da improbabilidade ou mesmo ausência de lutas com as sociedades exteriores". É também um período de prosperidade que resulta do "fim da destruição beligerante interna, da redução das barreiras comerciais, do estabelecimento de um sistema de pesos, medidas e moedas e da generalização de um sistema de despesas públicas associado ao estabelecimento de um império universal". (parágrafo) Nas civilizações anteriores esta feliz fase da idade de ouro, com as suas visões de imortalidade, terminou ou dramática e rapidamente com a vitória de uma sociedade exterior, ou lenta, mas também penosamente, devido à desintegração interna". Isto dizem os especialistas em "civilizações", neste aspecto este livro é perfeitamente actual. (Estes gajos destes estudiosos são uns chatos! complicam tanto! Nha-nha-nha para afinal dizer uma coisa tão simples e no fundo, quase de senso comum.) Resumindo: quando a malta se convence toda de que isto está perfeitamente sólido, é justamente quando já está por um fio(e até pode já estar a cair em grande velocidade, como é o nosso caso) e nunca ninguém vê, nunca ninguém dá conta. As civilizações sempre nasceram, cresceram e morreram como as árvores. No nosso caso, com a agravante do esgotamento de recursos à vista, julgo não temos escapatória… é mesmo, a bem dizer, quase inevitável, uma guerra entre grandes civilizações (resta saber se será com muito ou pouco sangue e quem serão os intervenientes. Talvez eu esteja a imaginar um cenário demasiado suave…) A malta esquece-se muitas vezes de que somos “animais”. Mas que ninguém se atrapalhe, de uma maneira ou de outra, logo à frente estaremos todos (espécie humana) arrumados... e dessa, eu apostava já o pescoço, em que não escapamos. Somos animais. Não conseguimos controlar isto… e também estamos por um fio… é só a questão de esticar a coisa a ver se dá mais um bocadito... que isto assim como vai, vai mesmo para muito perto... e é tão fixe a gente andar aqui a brincar nos blogues...

      Eliminar
    5. (Findas as contas, de tudo o que aqui li, além da confirmação do que já sabia, aproveito apenas este conceito de Toynbee da "miragem da imortalidade"... bem como algumas reflexões pessoais a respeito da desactualização do conhecimento...)

      Eliminar
    6. Agora é que avisas?! ahahahahahahah

      Não me parece que a espécie humana esteja "por um fio". Está mais do que "por um fio" é esta nossa... estranha forma de vida.

      Eliminar
    7. Sim, dediquei a este post em particular e aos comentários uma leitura atenta. A nossa forma de vida está por um fio...
      E sim, somos animais, que apenas quer dizer sermos seres animados de movimento próprio, o que leva a ilusão da nossa inteligência a concluir que somos autónomos de tudo, dos outros seres animados, dos inanimados e incluso o nosso meio ambiente.
      E assim se constroem cenários oníricos onde as sociedades se apoiam, com as pirâmides de poder assentes nessa coisa inqualificável e nada inteligente do crescimento perrmanente . Como se vivesse em constante orgasmo, sem a maturação dos primeiros olhares, das primeiras palavras, dos primeiros gestos, no fundo, sem disfrutar dessa coisa intangível que é ter-se o tempo para gozar o tempo que as coisas levam a acontecer.
      Esta orgia do crescimento permanente, deste colher do fruto sem sequer o semear, conduziu naturalmente à invenção dos valores: já não era a maçã que se vendia na Bolsa mas as maçãs que as sementes daquela maçã iriam dar num futuro, que em termos de valor, era agora! E se se consegue vender tão bem uma tonelada de maçãs a partir de uma maçã, porque não vender uma floresta de maçãs, já não a partir de uma maçã, mas apenas de uma ideia de maçãs que nem sequer existem?
      É esta a génese da crise actual: o logro.
      A dívida mundial em que todos devem a todos, está baseada num imenso logro. E os poderosos que no topo da pirâmide beneficiaram da mentira, não querem perder o seu poder. Daí que estejam a fazer o contra-ciclo. Das maçãs que eles venderam a partir de uma ideia de maçã que nem sequer existe, querem o dinheiro, não quando as maçãs estiverem crescidas, mas já!
      E como sabemos que dinheiro é apenas a expressão abstracta de bens, não havendo maçãs, não pode haver dinheiro.
      ~Tão simples como isto.
      Estas coisas estão a acontecer porque eles, os poderosos, os verdadeiros donos do mundo, querem manter o seu poder. Uma vez que estava assente numa virtualidade, ao cair na realidade, o seu valor, o seu poder, ficaria reduzido. Assim, mesmo ficando no fim deste ciclo menos poderosos, o seu poder relativo continua sendo superior. Isto só é possivel se o mundo empobrecer, ou seja, se houver transferência de bens e recursos para as mãos deles.
      E é nesta armadilha que estão todos a cair. Gaspares, Coelhos e seus iguais, não vêem mais do que um palmo diante dos olhos, mordem e engolem o anzol e vem dizer-nos que estão a pescar aquele que os estão a pescar a eles... através das nossa bocas... :(
      As "soluções" que a Grécia seguiu apenas tem feito piorar as condições dos Gregos, as "soluções" que Portugal seguiu tem do mesmo modo feito piorar as nossas. E logo se apressam em novas, que são as mesmas e velhas "soluções".
      Vem aí mais impostos, mais reduções, mais implosão económica. E depois vem dizer-nso constantemente que não somos a Grécia. Não não somos a Grécia?
      E eu a julgar que se tinha construído um espaço económico comum, sem fronteiras, uma Europa solidária, onde todos os países faziam parte do mesmo complexo multicultural.
      Mas isso era se calhar no tempo em que os animais falavam, agora temos robôs a repetir a receita do avião sem piloto: " ---Senhores passageiros, bem vindos ao nosso avião sem intervenção humana aos seus comandos. Este sistema não sofre dos erros habituais que advem das falhas de percepção dos pilotos, das fadigas ou doenças súbitas.
      Por isso será um vôo perfeito, sem precalços de qualquer espécie, de qualquer espécie.... de qualquer espécie....de qualquer espécie....de qualquer espécie....de qualquer espécie...de qualquer espécie... de qual......piiiiiiii....

      Eliminar
    8. Adorei esta tua última ideia, Charlie... ahahahahaahahaha Estamos nesse grau de queda a pique. Também me fez lembrar um disco riscado... que é o que estes gajos são, uns discos riscados (de feira), são incapazes de uma ideia nova, nem que seja apenas uma.

      Eliminar
    9. (... e a respeito do tal vídeo sobre a pobreza e especulação no China, Sãozinha, não sei... aquilo causa-me alguma desconfiança... o vídeo... tive a impressão de sentir no ar um odor de um perfume estranho... até me ocorreu aquela marca de perfumes muito conhecida "Propa Ganda"... Com todos os problemas que possam ter, os tipos estão em ascensão meteórica...)

      Eliminar
    10. Libelita, a China é especialista em propaganda...

      Charlie, que tal fazeres um post com este teu comentário?

      Eliminar
  4. Bai já.....mailogo ponho os bonecos ;)

    ResponderEliminar
  5. E já agora, uma vez que tem a outra pequena, que tenham ao menos a propa glande...

    ResponderEliminar
  6. Eu não desdenho de todo ver Portugal fora da zona euro.
    Dificuldades passaram os meus avós e eu estou cá para provar o seu sucesso em darem a volta.

    ResponderEliminar