maio 15, 2012

«Sem rumo e sem gente» - Jaime Ramos

Confrontados com o quadro que vivemos e que acabamos de retratar, a primeira prioridade deve ser a nossa manutenção como nação. Estamos envelhecidos e sem capacidade de produção adequada de novas gerações.
Portugal tem falta de crianças. Vários estudos apontam para um perigoso declínio da população portuguesa.
Veja-se o caso do Alentejo ou de Trás-os-Montes. São regiões portuguesas, têm a mesma moeda, as mesmas leis, beneficiam de novas infra-estruturas, mas a população continua a envelhecer e os jovens continuam em fuga para o estrangeiro e para as cidades do litoral. O resultado é um ciclo vicioso de pobreza regional. Estas regiões ficam cada vez mais pobres.
Não é por estarmos na Europa e termos a mesma moeda que Portugal vai deixar de se “alentejenizar” no espaço europeu, tornando-se num imenso Trás-os-Montes, envelhecido, sem crianças, sem empresas, sem postos de trabalho que permitam não só manter os novos como conquistar mais gente, muitas vezes farta de viver mal nas grandes cidades.
O envelhecimento populacional, associado à incapacidade para repor efectivos, criará imensos e graves problemas sociais e económicos.
Não consigo entender como é que a baixa taxa de natalidade não constitui uma preocupação diária das nossas elites, da política à comunicação social.
O que é que podemos e devemos fazer para que a população produza crianças, garantindo a continuidade e renovação?
Este insucesso reprodutivo não se deve a nenhum problema biológico.
As pessoas continuam a gostar de ter sexo, de constituir família, e os problemas de esterilidade, embora em número crescente, têm hoje terapêuticas que não existiam há alguns anos.
Impõe-se detectar e corrigir as dificuldades de carácter socioeconómico que afastam as pessoas da mater/paternidade.
Devemos ter a noção que a incapacidade reprodutiva actual vai ter consequências enormes à distância de várias décadas.
Basta pensar que os trabalhadores actuais só poderão ter efectivo direito à pensão de reforma se no futuro houver contribuintes suficientes para suportar a segurança social.
Se o Estado investe no apoio aos empresários para criação de postos de trabalho deve, por maioria de razão, preocupar-se com o facto de as famílias não estarem a cumprir com o seu objectivo prioritário: produzir crianças.
Investir em pessoas passa em primeiro lugar pela produção de novos elementos. A valorização dos recursos humanos, educação e formação profissional, exige matéria-prima.
A segunda prioridade deve ser a preservação do nosso território numa lógica ambiental e de ocupação populacional. Não podemos continuar a alienar o nosso espaço geográfico.

Jaime Ramos
Autor do livro «Não basta mudar as moscas»

2 comentários:

  1. É mesmo por isso que não entendo o paradoxo que consiste no gesto do governo que privatiza tudo o que é público mas corre ao roubo das poupanças privadas, nacionalizando os fundos de pensões, aumentando assim drasticamente os encargos para a segurança social...

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    1. E eu que estava à espera que tu me explicasses...

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