maio 28, 2012

A posta na chata da fiscalização


Gostava imenso de saber que raio de poder é conferido (induzido?) a estes fulanos das secretas para se sentirem no direito de pedir a substituição de quem os fiscaliza.
Esta nova revelação acerca da chata (só sobe na nossa consideração, tendo em conta a função em causa e o transtorno que estaria a causar aos abusadores) confirma os piores pressupostos que os anteriores capítulos desta mixórdia permitiram conceber.
É uma balda, aquilo que se instalou numa área sensível do aparelho governativo. E é uma balda perigosa, considerando a leviandade da actuação dos intervenientes que vão subindo à tona do lodaçal desde que alguém remexeu o fundo da coisa.

Estamos a falar, caso não tenham reparado, nos fulanos a quem é confiada a segurança do Estado contra ameaças externas (pragas de gafanhotos, por exemplo, pois assim de repente não me ocorre outra coisa) e internas (aqui é que a porca torce o rabo pela forma como os inimigos da Pátria são seleccionados pelos espiões).
Ou seja, estamos a falar dos gajos cuja herança, cuja carga, pela natureza das funções e da autoridade conferida, é a da PIDE-DGS.
Claro que toda a gente corre a afastar esse papão, hoje em dia seria impossível, mas a verdade é que uma polícia secreta possui meios para, em teoria, exercer chantagem sobre um político, um banqueiro e, porque não?, um jornalista.
Se essa polícia secreta começa a surgir associada com frequência a escutas e vigilâncias difíceis de explicar no âmbito da segurança do Estado, temos a ameaça interna a provir precisamente de quem é pago por nós para a evitar. Nesse caso só há que desmantelar tudo aquilo e começar de novo pela raiz, sendo que essa deve beber de um terreno fértil em pessoas de bem, patriotas, e de uma legislação muito mais rigorosa na matéria.

A Democracia é uma realidade muito sensível a esta acumulação de agressões aos valores e aos mecanismos que a compõem. Com a classe política sob suspeita, a Justiça sob suspeita, a alta finança sob suspeita e a Comunicação Social no estado que se sabe, pouco resta dos sustentáculos de todo o sistema e só estupidamente exagerados a roçar o imbecil podem dormir sossegados com base na fé de que tudo se componha por si.
Não compõe. Nem por si, nem por mim, nem mesmo pelo superior interesse da Nação que a seita de crápulas e de parasitas pouco a pouco consome e certamente destruirá se a população não começar a falar mais grosso.
É a Grécia revisitada, bastando olhar para o cenário em termos de alternativas que nos espera em próximas eleições, demasiado próximas de uma fase que se adivinha complicada para o país e por isso desde já perfeitas para o desabafo expresso no voto de protesto (logo agora que se fala na saída do Louçã, olha a maçada...) que, exemplos não faltam, é a praia natural de uma fauna que se estende dos Coelhos madeirenses aos pistoleiros fanáticos pseudo-nacionalistas.
É uma lotaria.

Por isso mesmo, todos estes pequenos golpes na pele do sistema fazem-no sangrar credibilidade até a soma de feridas se tornar numa hemorragia de confiança que ninguém no actual panorama parece capaz de estancar, sobretudo quando (e não se) as coisas descambarem a sério.
Ao descrédito das instituições sucede-se a constatação da ausência de opções e somando a isso os efeitos da crise na população temos reunidos os ingredientes para uma revolta desnorteada, sem soluções, desesperadamente hostil.
É esse o resultado final mais provável para países que, no contexto de uma conjuntura terrível, se permitem o luxo da apatia perante as evidências, perante as emergências que se multiplicam e às quais não tarda (sim, a Grécia seremos nós) ninguém poderá ou quererá acudir.

2 comentários:

  1. Para uma hemorragia destas já só com um garrote no pescoço... e a cura não é garantida...

    ResponderEliminar