maio 04, 2012

Ver des esperança até doerem os olhos


Como toda a gente sabe, há muitos tons de “verde” possíveis. Há por exemplo os “verdes Natureza” que são aqueles, que às vezes até são vermelhos, sobretudo se houver flores, outras vezes glaucos, amarelos ou roxos com pintinhas, que em comum têm o estarem no lugar que Deus lhes deu. Outros são os “verdes jardim”, também de todas as cores do arco-iris, ordenados na maioria dos casos com esmero por razões estéticas, mas na generalidade todos muito afastados do lugar que Deus lhes deu (exactamente por isso, só se mantêm vivos por via de cuidados especiais (rega e tal...)). Há ainda os “verdes domesticados” que são os tais que foram domesticados pelo Homem, muitas vezes por apuramento genético ao longo de milénios, a ponto de, qualquer semelhança que possam possuir com os “verdes Natureza”, seus antepassados, ser mera coincidência. Aqui neste nosso pequeno Portugal, integra esta categoria de “verdes” um património genético hortofrutícola riquíssimo ameaçado (seriamente) por concorrência (desleal e não só) com outros tons de “verdes domesticados” (alguns de genética modificada por processos "modernos"). Há também os “verdes desbotados”, que são aqueles que nem estão no lugar que Deus lhes deu nem tão pouco são “domesticados” ou estão ordenados. E, por último, uma categoria de verdes muito importante e abundante, os “verdes alcatrão”. Embora à vista desarmada do cidadão comum possam ser facilmente confundidos com os “verdes Natureza”, ao contrário destes, os “verdes alcatrão” foram “implantados” com muito boas intenções (não há muito tempo) bem longe do lugar que Deus lhes deu e espalharam-se (e espalham-se) como mancha de alcatrão sobre os “verdes Natureza”, consumindo todos eles, ao limite de que nem as espinhas se aproveitem. Só para dar um exemplo, a nossa costa litoral (pelo menos do que venho a observar da Caparica a Sagres) está neste momento a ser devorada, em muitos locais já a perder de vista no horizonte, por dois tons destes verdes: o chorão-das-areias (Carpobrotus edulis), originário da África do Sul; e uma espécie de Acácia (Acacia longifolia), originária da Austrália, (não obstante os milhares de páginas e os muitos “planos” e “estudos” e “regulamentos” e “directivas” e “normas” e “medidas” e coisa e tal e etc.). E assim os nossos sistemas dunares, adaptados ao longo de muitos milhões de anos àqueles lugares específicos, com as todas as suas sarapintas de espécies, algumas endémicas daqueles locais (isto é, que em todo o mundo só existem ali), bem mais que sob os pés e os veículos dos veraneantes (não que sejam de pouca monta), vão desaparecendo muito rapidamente sob a mancha verde em expansão (com progresso visível de ano para ano), que de forma indiferenciada tanto engole espécies raras como exemplares de crescimento lento com séculos (de zimbro, Juniperus turbinata), perante os olhos dos passantes extasiados pela beleza de tanta “verdura”… Ao menos, chegados ao veraneio, ao cabo das tormentas de um ano inteiro de desastres e de absurdos, podem, por fim, ater-se sobre algo que lhes proporcione verdadeira tranquilidade… e, quem sabe, sonhar que se passeiam pela “Natureza”…

12 comentários:

  1. Libelita, tu és a maior amiga da Ana Teresa que eu conheço ;O)

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    1. É que sabes... a Ana Teresa e eu somos quase assim... como tu e o Paulo... :O) É assim um "tu cá, tu lá" muito pertinho... É por isso que eu me entendo tão bem com ela... embora ela às vezes (com razão) me chame uns nomes feios...

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    2. Pois... eu às vezes também chamo nomes feios ao Paulo...

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    3. Não queres partilhar com a gente, não? :O)

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    4. Por exemplo, "desagradavelzinho".

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  2. Ela mesma, A Libelita, é uma Deusa da Natureza, mas não só. Ela e a São são e Dalila, formam a santa trindade da força geradora de vida. Três deusas. Mas não cortem o cabelo pela calada da noite ao Paulo, digo ao São são favas contadas se fizerem isso e ficarão as costas da Ophiussa carregadas de chorão pelos pêlos idos.
    ( o chorão, sendo infestante, tem uma aplicação comercial espectacular no campo do tratamento do ferro de forma a protegê-lo contra a corrosão. Aplicado sobre o ferro, quase sem tratamento algum, a sua seiva proporciona a formação de sexquióxido de ferro que é estável e anti-corrosivo, evitando a ferrugem e a deterioração do metal. A sua utilização comercial e industrial faria com que deixasse de ser infestante, apanhada numa primeira fase e depois cultivada em recinto controlado como se faz na agricultura.)

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    1. Desde que não ponhas esse sexquióxido de ferro no (pouco) cabelo do Paulo...

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    2. O chorão-das-areias e a acácia foram introduzidos com a intuito de estabilizar as areias das dunas e impedir o seu avanço para o interior do território. À época, a plantação destas espécies foi feita justamente porque no interior do território havia campos de cultivo a proteger. Mais tarde veio a descobrir-se que afinal eram muito ineficazes na promoção da estabilização dunar (e que a planta que o permitia era bem outra, uma gramínea, de sua graça Ammophila arenaria). A questão que se põe com estas duas espécies "infestantes" é que não é "uma coisinha de nada", é mesmo a destruição completa da nossa costa para breve. E quando digo "breve" falo em mais vinte, trinta anos... Actualmente recuperar uma daquelas áreas imensas (que são muitas) completamente revestidas destas "coisas" é já muito difícil e tarefa para muitas décadas com grande dispêndio de energia e de recursos. Mais adiante, maior sendo a degradação, não haverá volta a dar-lhe. Além da perda estética e turística, etc., outras consequências serão uma chatice (e são essas que mais me preocupam). Mesmo sendo o chorão-das-areias a menor destas duas ameaças, por ser muito mais fácil de eliminar, que uma acácia nem a bala de canhão, suponho que estejas enganado. O aproveitamento comercial e industrial seria argumento para promover o avanço da espécie. Seja como for, nem sequer se pode chegar a uma área destas e "rapar tudo" deixando só a areia, sendo que em muitos locais a perder de vista o "tudo" já é mesmo só isto. Com tanto estudo e tanta merda e tanta coisa já se deve ter gasto muito dinheiro. Não se percebe é porque razão não se vê nada. A única coisa que se vê é isto a acontecer diante olhos (para quem vê, porque muita gente não vê. Nem vê isto, nem vê que a degradação dos últimos vinte a trinta anos do território nacional, a ser reposta, seria coisa para uma fortuna impensável e séculos de trabalho. Em muitos casos nem sequer nos restará a palha, só ficam mesmo as pedras... talvez possamos fazer com elas uma sopinha. Mas pior, pior, é que as consequências, que também ninguém vê, vão muito além disto. A Natureza está-se nas tintas para nós. Para a Natureza tanto lhe faz um homem como uma formiga. Tanto desfaz um homem como uma formiga... que é o que vai acontecer não tarda nada perante o espanto de todos, tão concentrados nos seus umbigos sociais e económicos e tal que nem se aperceberam ainda da sua real insignificância).

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  3. Libelita, acho que os estudos servem para manter o equilíbrio ecológico nas estantes onde os bichinhos se entretem a desenhar tuneis e mais tuneis na papelada inútil, poupando assim as madeiras dos recintos.
    hehehehe....
    *
    Claro que não se pode tirar as plantas todas e deixar só areia sem mais. Isso seria algo tremendo, como diz o outro, o Kalinas, "pior a ementa do que o sorvete".
    Para recuperar as enormes extensões de costa e repôr a flora original, não só é delicado como muito naturalmente caro. E é aí que reside o problema deste Estado que só quer cobrar dinheiro e gastar o minimo possivel (menos nas benesses da fauna que vive à custa do sistema). Mesmo que se recupere uma determinada área, há que permanecer vigilante pois como é sabido, as infestantes voltam à carga como uma doença ruim que nunca se dá curada e fica sempre endémica. Poderia tentar-se usar os mecanismos de autocontrolo da natureza mas isso implicaria importar outras plantas o que naturalmente ainda pioraria o estado das coisas como ficou provado nas experiencias lamentáveis ocorridas quando se tentou o controlo da rápida expansão de animais que não sendo originais de uma determinada região, ali encontraram condições para a sua explosão demográfica. Em muitos casos apenas se substitui uma praga por outra.
    A verdade é essa mesmo, a Natureza é amoral, e tanto faz uma formiga como um homem. Acredito contudo na mão invisivel da Ana Teresa, pois tudo o que o Homem está a fazer é preparar o habitat para o próximo inquilino que chamará dono ao que o Homem julga ser seu. Ao estragar o seu meio ambiente com este ritmo, em breve chegará ao ponto do não retorno. O complexo climático é um sistema dinâmico que encontra os seus equilibrios através dos dramas naturais. Aquilo a que nos habituamos durante séculos, este jogo de equilibrios, está a um passo de se agigantar. Ventos de centenas de quilómetros por hora, tempestades impensáveis, amplitudes térmicas impossiveis de suportar... Tudo pela culpa da estupidez e falta de inteligência, dessa incapacidade lúcida de estabelecer nexos de causalidade. E estamos a ver como os ciclones são cada vez mais abundantes, como a temperatura aumenta, como se reduz a biodiversidade, etc etc, mas vemos ainda hoje certos politicos a duvidar que seja a acção humana a causadora da catástrofe eminente...
    Quiçá daqui a quarenta ou cinquenta milhoes de anos, alguma formiga esteja a escrever algo do mesmo teor deste que estamos aqui a colocar e culpar as suas semelhantes das acções nefastas que as suas acções estejam a produzir sobre o meio ambiente...
    Talvez isto seja uma never "ending story"

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    1. Tenho ouvido muita gente a falar destes problemas. Mas parecem todos muitos concentrados nos seus domínios de especialidade, e os restantes (o cidadão comum) reúnem informações gerais e concretas, mas aparentam não ter conhecimento específico suficiente. O problema, Charlie, que parece que ninguém está a ver... é que isto está tudo ligado! A Natureza não é uma peça de museu que se conserve em formol (ou com uma rede à volta). Para já a Natureza funciona (este equilíbrio). Lisboa é uma cidade há milénios. Outrora, neste território, existiu uma floresta de sobreiral. Se hoje se abrisse uma clareira de dois hectares no centro da cidade, com solo, e se esperasse o bastante, apesar de toda a contaminação de espécies exóticas e de todas perturbações, embora demorasse muito, voltaria a surgir ali uma floresta de sobreiral. É "magia". A Natureza ainda funciona numa grande parte do planeta... mas estamos por um fio. Se isto "avaria", o mais provável é que comece tudo a cair como um dominó... Não fica um (humano) para contar história. O que está a acontecer é uma estupidez muito grande. E eu insisto que é vital que tomemos consciência da nossa irracionalidade. Isto de sermos educados desde pequeninos para pensarmos que somos "racionais" e diferentes de todas as outras espécies é uma estupidez imensa!! e transtorna tremendamente a nossa lucidez e a nossa relação com o planeta e com a Natureza e até a nossa orgânica social!! Além da coisa em si mesma, ser um erro do tamanho dum bisonte!! Estamos cegos!! (E é por assim dizer certo que temos os dias contados e para breve... um próximo post que publicarei será sobre isto...)

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    2. (De resto, se ninguém faz nada por isto (a questão do artigo) acho que é essencialmente porque não rende "votos". É uma obra que ninguém vê. Coisa para entreter académicos, que ainda mais ninguém (ou quase) deu conta que se passa ali algo de errado...)

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  4. Experimentem fecha-los numa jaula onde a única água que podem beber é a que sai das suas próprias mijinhas, pode ser que começem a despertar para a importância da coisa....

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