novembro 13, 2005

Cavaco Silva critica a retórica...

«Os portugueses sabem distinguir retórica de realidade» - foi o comentário de Cavaco Silva aos jornalistas por Mário Soares o ter acusado de ser um «candidato esfinge», porque se refugia no silêncio.
Como se ele próprio não utilizasse a retórica!
Como dizia um professor norte-americano de Argumentação, o melhor para não cair em falácias é o silêncio. Porque quando Cavaco fala (como qualquer outro mortal) não consegue escapar à retórica. No próprio artigo em que critica a retórica diz que «não há factor de credibilidade e confiança» num «homem que diz uma coisa e depois uma coisa diferente» [ataque ad hominem]; apresentou-se como o garante da «estabilidade económica» e «quem pode, de facto, criar um futuro melhor» [como se uma economia aberta como a portuguesa dependesse do Presidente da República e não do que se passará no contexto internacional]; quer «um Portugal que saiba aproveitar as oportunidades» e que «não tenha medo da globalização» [não estará - deliberadamente - a confundir(-nos) medo com necessidade de estar alerta?]
Fonte: «Portugal Diário»

Numa coisa nunca me engano e raramente tenho dúvidas: enquanto a retórica for vista como algo de negativo - mas sempre usada porque é inevitável - nunca seremos capazes de defender ou criticar racionalmente um argumento. E os portugueses continuarão a ser os bombos da festa de meia dúzia de «iluminados».

novembro 07, 2005

O rei Leão mostra a sua garra

Ao longo de uma entrevista à revista «Visão» (nº 661 de 3/11/2005), Mário Soares mostra conhecer - e saber usar a seu favor - as regras da argumentação racional:

[a propósito de Cavaco Silva] (...) "É um homem um pouco rígido e, provavelmente, não é um homem com a preocupação do diálogo. Não gosta de controvérsia, de debater, de convencer".

[quando os entrevistadores lhe perguntaram "porque escolheu, para lugares importantes, na sua campanha, João Paulo Velez, ex-assessor de Santana Lopes, e Cunha Vaz, que Ferro Rodrigues processou por difamação?"] "Essa pergunta, desculpe que lhe diga, é uma pergunta ad hominem (...)" [ataque falacioso pondo em causa a competência de uma pessoa ao fazer insinuações sobre a sua personalidade. Aqui, Mário Soares argumentou - e bem - que ambos estavam nas suas funções pelas suas competências profissionais]

[a propósito da forma como encara o mandato, se for eleito] (...) "Penso que posso dar um grande contributo para a estabilidade do País na concertação social, uma referência que faltou no manifesto de Cavaco Silva. Não é só coesão, mas coesão através da concertação, isto é, da discussão entre as partes, do acordo".

outubro 29, 2005

Missão cumprida

Na tarde de sexta-feira, 28, tive a oportunidade de apresentar aos colegas presentes no 1º Congresso dos Economistas o que penso sobre a lacuna da argumentação na formação dos gestores em Portugal.
Para quem entender útil, deixo aqui disponível a apresentação em Power Point.
Comecei por dizer algo como isto (enquanto apresentava a primeira imagem, com a capa do livro «Persuacção»):
"Peço-lhes que imaginem, por absurdo, que eu aproveitaria o facto de ser neste momento a pessoa que está mais alto nesta sala e com um microfone ligado para dizer «colegas, têm que comprar este livro». Muito provavelmente seria mal interpretado e a minha atitude não seria compreendida. Mas se tentasse explicar que a minha comunicação é uma síntese do conteúdo deste livro, que está disponível para quem quiser aprofundar este tema, decerto os colegas já aceitariam esta explicação. Saindo da imaginação, o que constatamos na realidade é que, nas organizações, muito frequentemente o argumento da força se sobrepõe à força dos argumentos (...)".
Notei que, não sendo a argumentação um tema assumido pela classe, não deixa de ser sintomático que muitos colegas tenham abordado, nas suas comunicações, assuntos que necessitam, de uma forma ou de outra, de competências em argumentação. Alguns exemplos:

Competitividade
Carlos Ricardo - «Comunicação organizacional e gestão de recursos humanos» - alertou para a relevância das estratégias de comunicação dentro das empresas;
Rui Saraiva - «Gestão e Portugal - propostas para uma 'união de facto'» - propôs aumentar a transparência nas decisões;

Modelo de desenvolvimento económico
Mário Baptista - (comunicação não distribuída) - destacou a importância da gestão participativa por objectivos;

ConferênciaVítor Constâncio (keynote speaker) - citou Myrdal, que alerta para a "necessidade de explicitação de valores".

outubro 21, 2005

É já na próxima semana

1º Congresso Nacional dos Economistas
Como já aqui informei, a Ordem dos Economistas vai realizar no Porto, em 27, 28 e 29 de Outubro, o 1º Congresso Nacional dos Economistas.
Irei apresentar a minha comunicação «argumentação e mudança nas organizações» na secção IV - a formação dos economistas.
Quem vai lá?

outubro 11, 2005

«Persuacção» na revista «Dirigir»

O nº 91 da «Dirigir - Revista para Chefias e Quadros» do IEFP - Instituto do Emprego e da Formação Profissional destacou o livro «Persuacção - O Que Não se Aprende nos Cursos de Gestão»:

Cá está!

Jimmy Wales, fundador e director da Wikipédia, em entrevista a Paulo Moura (meu homónimo do jornal «Público») - revista «Pública» nº 489 de 9 de Outubro de 2005:

(...) Os artigos de enciclopédia devem ser escritos, não por especialistas, mas pelo povo?
Devem ter grande qualidade mas não reflectir o ponto de vista de alguém. Devem ser equilibrados, neutros (...).Não será isso apenas possível se se escrever um artigo muito superficial sobre um assunto?
Não acho. Deixe-me dar exemplos de tópicos onde há controvérsia. O aborto. A minha visão é completamente diferente da da igreja católica. Mas posso sentar-me com um padre muito conservador e...Podem conversar.Mais do que isso. Podemos escrever um artigo juntos. É como se estivéssemos a discutir o tema e entrasse uma pessoa que não sabe nada sobre o aborto. Eu e o padre podemos combinar: vamos escrever um artigo para que ele compreenda o que estamos a discutir. Não precisamos de dar respostas nem de nos entendermos.Talvez se possa fazer isso com um padre católico, mas com um fundamentalista islâmico...
Se é alguém verdadeiramente extremista talvez não aceite alguns dos princípios básicos necessários para se poder cooperar.
Que princípios são esses?
Aceitar a razão, o pensamento argumentativo, a persuasão. Temos também de partir do princípio de que todas as pessoas são razoáveis e inteligentes, que não são desonestas nem têm como objectivo destruir as outras (...).

agosto 25, 2005

Ambiguidade - uma falácia tão comum...

... nomeadamente nos títulos da imprensa escrita.
Um exemplo, a propósito dos incêndios que têm desvastado o país:

"PSD/Coimbra
Tenham vergonha, senhores políticos
Os políticos deviam estar em silêncio numa altura em que a tragédia bateu, de forma tão rápida, à porta das populações. Em vez disso, sacodem as culpas e atribuem-na aos outros. (...)"
Jornal «as Beiras» - 2005-08-25


O PSD/Coimbra é a fonte deste reparo?! Ou o seu alvo, já que não é um artigo de opinião e é assinado por uma jornalista daquele diário?
Quando se lê o corpo da notícia, fica-se a saber que foi o presidente da Concelhia de Coimbra do PSD, Marcelo Nuno, que fez esta chamada de atenção... aos políticos. Ou seja, também a ele próprio. Passo à frente este paradoxo e restrinjo-me à confusão gerada pela ambiguidade do título: a frase é uma citação (sabemo-lo depois), mas como não está entre aspas provoca problemas de leitura. E o antetítulo não ajuda nada. Ajudaria, sim, se fosse "PSD/Coimbra acusa governo". A partir daí, saíamos da ambiguidade jornalística e já poderíamos focalizar-nos no conteúdo do artigo. E no paradoxo dos políticos que se revezam no poder e que dançam o Bailinho das Cadeiras e o Vira das Farpas com a mesma naturalidade com que George Bush diz "nós somos os bons e ___________ são os maus".

julho 30, 2005

Jóias da argumentação - o amor à vida

"O meu padrinho sempre foi um tipo com uma certa piada... daí eu também o ser.
Uma ocasião, andava ele bastante teso e um dos clientes que lhe devia dinheiro arranjava todas as artimanhas para adiar o pagamento.
Um dia, desesperado, foi directamente à caça dele e apanhou-o no escritório.
Depois de o devedor mais uma vez dizer que por isto ou aquilo não podia pagar, o Senhor Salomão Fonseca murmurou:
- Pois é... é assim que eles às vezes aparecem mortos...
- Quer dizer que o senhor... matava-me?
- Já não digo nada.
... ... ...
- Ó Filomena, passe aí um cheque ao Senhor Salomão.
Isto é pura verdade."
Pierre_Verdadinerecebido por e-mail

Jóias da argumentação - quando se fica sem argumentos

"Havia, já lá vão muitos anos, um guarda-redes muito popular chamado Malabiça e que jogava numa equipa de Coimbra.
Pois bem. Certa tarde, num domingo soalheiro, a sua equipa defrontou outra, também de Coimbra, para o campeonato regional.
Os guarda-redes nessa época jogavam quase sempre com um boné de pala, quer fizesse sol ou não! Mas nessa tarde havia mesmo sol.
O jogo decorria com animação e eis quando a equipa adversária do nosso amigo Malabiça ataca a sua área e um avançado dispara forte.
O Malabiça faz a defesa da tarde e evita o golo mesmo sobre o risco da baliza.
Mas sorte macaca. Com o impulso para a defesa da bola, o boné cai para dentro da baliza.
O nosso herói levanta-se com destreza, dá dois ou três passos à rectaguarda e apanha o boné, enfia-o na cabeça e pontapeia a bola para o meio campo!
Só que o árbitro, cumpridor zeloso das regras, validou o golo, para desespero do nosso valoroso Malabiça!"

Rafael
recebido por e-mail

Jóias da argumentação - nada como ser o chefe de pessoal

"Em 1988, eu era Engenheiro Estagiário numa empresa de construção. Estávamos a fazer uma obra em Sever do Vouga e... já estava atrasada.
Nessa semana havia um feriado à sexta e o chefe de pessoal telefonou-me a dizer que era necessário que o pessoal trabalhasse no feriado.
OK, pensei eu. Eu, o 'inginheiro', ainda por cima acabadinho de vir da tropa, onde mandava lá nuns tipos com uma certa facilidade, pensei: «Sim. Eu chego lá e, falo, um por um e... mainada!»
Lá fui eu, escada acima.
- Ó Senhor Mário, sexta feira pode trabalhar?
- Não, porque já tinha destinado ir com a minha mulher à feira.
- Ó Senhor Sabino, sexta pode trabalhar?
- Não, porque não tenho transporte;
- Ó Senhor Vicente, sexta-feira pode trabalhar?
- Não, porque tenho que ir podar.
(...)
«OK - pensei eu... - vou ligar ao chefe de pessoal a dizer que não trabalhamos porque os tipos não podem».
Trrim... Trrim... Trrim...
- Senhor Hermínio?
- Sim.
- Olhe não temos hipótese de trabalhar porque... bla, bla, bla...
- Ó senhor engenheiro, eu já passo por aí.
(...)
Chega o Senhor Hermínio à obra e, cumprimentando o primeiro, diz:
- Então, ó Vicente, sexta-feira cá estamos, não é?
- Tem que ser.
- Ó Sabino, sexta-feira...
- Cá estamos.
- Ó Mário...
- Está bem.
Percebes bem o que é um chefe de pessoal?"
Pierre_Maçariquinerecebido por e-mail

julho 27, 2005

Passatempo


primeira página do diário 24 Horas - 26 de Julho de 2005

Tente identificar a(s) falácia(s) presente(s) neste argumento em que a conclusão é implícita:
«... logo, são demasiado velhos».

Como distinguir um argumento fraco de uma falácia?

"Olá mais uma vez.
Como distinguimos se estamos numa situação de fraco argumento ou de uma falácia? Exemplo: acabei de ler no Público um artigo de fundo sobre as posições do PS. Às paginas tantas, o artigo usa este argumento: «se não fizermos o TGV e a OTA ficaremos mais marginalizados face à Europa».
Estamos perante o quê? É que o artigo mais adiante contra-argumenta: «os países escandinavos também não estão no centro da Europa e estão-se nas tintas para o TGV... o seu modelo de desenvolvimento não passa por obras inúteis».
José Pinho
(recebido por e-mail)"

Os argumentos fracos e as falácias - tal como os dogmas, os erros grosseiros e falhas em responder a questões críticas - são ambos erros de argumentação.

Mas o que é um argumento fraco? Um argumento é válido se for impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa (em simultâneo). Se isso não acontecer o argumento é inválido, sendo que, neste caso, poderá ser forte ou fraco. Um argumento é muito forte se for quase impossível as premissas serem verdadeiras e a conclusão falsa (ao mesmo tempo). É fraco se for possível que as premissas possam ser verdadeiras e a conclusão falsa (ao mesmo tempo).
É que para termos um bom argumento é necessário que, em simultâneo:
1) o argumento seja composto apenas por juízos;
2) seja válido ou forte, ou pelo menos tão forte quanto possível;
3) não contenha quaisquer frases vagas ou ambíguas;
4) haja fundamentos para acreditarmos que as premissas são verdadeiras;
5) as premissas sejam mais plausíveis que a conclusão.

No exemplo que dá, onde estão os fundamentos? Em lado nenhum! Argumento mais fraquinho que este é difícil. Porque é que sem a Ota ficaremos marginalizados? E porque se assume que com a Ota já não ficaremos marginalizados? Idem para o TGV...

É tão fraquinho que nem merece que se chame falácia. Mas poderá sê-lo, se tiver o poder de persuadir alguém que não consiga detectar a falha monumental deste argumento. Ressalve-se que, por outro lado, poderemos estar perante uma falácia por parte do Governo se houver dados que não nos estejam a ser revelados: agenda escondida. Mas agora estou eu a cometer uma falácia: insinuação (sem provas concretas).

julho 22, 2005

Será que nunca mais aprendem?

"O primeiro-ministro solicitou ao Presidente da República a exoneração do ministro das Finanças, Luís Campos e Cunha.
Segundo uma fonte oficial, terá sido o próprio ministro a pedir a sua substituição, alegando razões pessoais, familiares e cansaço."
Agência Lusa
20/07/2005

"Razões pessoais, familiares e cansaço"?!
E é assim que querem persuadir os portugueses?
Desta forma, senhores governantes, cada vez o fosso será maior entre os políticos e a população.


Depois quem se admira das anedotas, como esta que circula por aí?
O senhor primeiro ministro afirmou há pouco que, por razões de controlo do défice, a luz ao fundo do túnel irá ser apagada.
Ou desabafos como o de um amigo meu:
Quem me dera ser ministro para me poder demitir por cansaço...

julho 21, 2005

Falhas de comunicação do Governo

"Diogo Freitas do Amaral considera que houve falhas na forma com o Governo apresentou e explicou aos portugueses as medidas de austeridade para equilibrar as contas públicas. Na opinião do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, o Executivo não foi tão persuasivo como podia ter sido na defesa das suas políticas.
«As medidas eram tão difíceis, demoraram tantas horas de trabalho e de ponderação a definir e a aprovar, que todos nós, a começar por mim, descuidámos a frente externa, a frente da explicação ao País das medidas tomadas. Mas isso certamente se vai intensificar», afirma o número três da hierarquia governamental, numa
entrevista ao DN.
Depois de citar o filósofo grego Xenofonte para sustentar que «hoje o poder político não se traduz apenas pela capacidade de mando, mas também pela capacidade de persuasão», Freitas considera que o Executivo «tem tido bastante, mas porventura seria necessário mais». E assume que «se alguma deficiência se pode apontar» a José Sócrates e à sua equipa, «é de não se ter explicado suficientemente a inevitabilidade da subida dos impostos».
Na opinião de Freitas do Amaral, nos próximos tempos os socialistas têm pela frente «um combate pela adesão do povo português às medidas» de redução do défice, impondo-se que cada um faça «o que lhe compete». «Os sindicatos e a oposição criticam - estão no seu direito. O Governo e o partido que o apoia têm que defender e explicar as medidas do Governo - esse é o seu dever. Se cada um fizer o que lhe compete, estou convencido que a maioria dos portugueses manterá a confiança no Governo e no primeiro-ministro.»"

Diário de Notícias
19.07.2005

A necessidade de persuadir - e de simultaneamente sabermos defender-nos de falácias - encontra-se presente em todas as vertentes das nossas vidas. Para o tema específico da persuasão política, recomendo a tese de mestrado de Paula do Espírito Santo, «o processo de persuasão política» (1997). Está disponível aqui em formato pdf.

julho 20, 2005

As premissas são o argumento?

"No modelo simples (premissas logo conclusão) as premissas sáo os argumentos? (porque o argumento é um conjunto de razões para justificar um juizo ou conclusão).
Exemplo: "meus senhores, está a haver profundas mudanças estruturais no nosso negócio, com a entrada da China na OMC, o nosso negócio está ameaçado (e apresenta uns estudos). Por isso, é necessário encetar um processo de raciocínio estratégico e reconfigurar a nossa empresa".
Conclusão: repensar a empresa.
Argumentos ou premissas: entrada da China e dados técnicos.
Correcto ou não?
José Pinho
(recebido por e-mail)"


No exemplo que dá, as premissas são essas e a conclusão surge identificada com "por isso" (como podia ser com "logo", "ou seja", "isto é", "então",...).
E, de facto, em linguagem corrente chama-se frequentemente argumentos às premissas. Mas em rigor o argumento é o «conjunto completo»: premissas e conclusão. Basta pensarmos, no seu exemplo, que não havia conclusão: "meus senhores, está a haver profundas mudanças estruturais no nosso negócio, com a entrada da China na OMC, o nosso negócio está ameaçado (e apresenta uns estudos)."
O que é que aconteceria? Aposto que todos pensariam:
- E onde é que quer chegar?...
É que o argumento estaria incompleto. Só com a apresentação das premissas, não há um argumento. Obviamente, pode ser esse o objectivo: deixar a conclusão para depois de uma discussão entre os participantes. E a conclusão também pode estar implícita, como neste exemplo: "Continuem a esbanjar dinheiro em investimentos supérfluos". Está implícito "que vão para o charco".

julho 19, 2005

Uma confissão e uma dúvida

"Tenho estudado (não lido) o seu livro. Confesso que me sinto intelectualmente impreparado para assimilar esta matéria, ainda por cima tão importante para uma boa preparação para funções executivas. Serei uma excepção ou sou apenas mais um exemplo de como estamos, em Portugal, tão mal formados, humana e profissionalmente?
Dúvida: argumento e premissa não são a mesma coisa?
José Pinho
(recebido por e-mail)"

Pode ter a certeza que não somos só nós os dois a sentirmo-nos impreparados, em Portugal, para argumentar racionalmente e evitar armadilhas colocadas por quem connosco dialoga. Mais grave ainda seria nem sequer pensarmos - como acontece com muita gente - que estamos expostos, nas organizações, a todo o tipo de falácias. Sejam elas apresentadas por má-fé ou simples «nabice» dos nossos interlocutores.
Quanto à sua dúvida, um argumento é um conjunto de juízos, um dos quais é a conclusão, cuja verdade se pretende estabelecer, com base nas premissas, que se supõe conduzirem, suportarem ou convencerem que a conclusão é verdadeira. Ou seja, num modelo de argumento simples («premissas, logo conclusão»), as premissas são os juízos que permitem chegar a uma conclusão. No modelo que proponho no livro «Persuacção», o argumento é algo bem mais complexo, já que para se chegar à conclusão temos dados que terão que ser justificados, com fundamentos e assumindo-se restrições. A conclusão estará sempre sujeita a qualificadores (raramente é peremptória), estará sujeita a refutação e haverá certamente restrições à sua aplicação:



Fui suficientemente claro?
Não hesite em escrever e colocar todas as dúvidas que tiver.

julho 18, 2005

1º Congresso Nacional dos Economistas

A Ordem dos Economistas vai realizar no Porto, em 27, 28 e 29 de Outubro, o 1º Congresso Nacional dos Economistas.
O Congresso desenvolver-se-á em quatro secções:
I - a gestão
II - a economia
III - a profissão de economista
IV - a formação dos economistas
Propus à organização do Congresso uma comunicação enquadrada nesta última secção - «argumentação e mudança nas organizações» - que foi aceite.
O desafio fica lançado:
"Julgo que concordará comigo quando defendo a utilidade de o agente de mudança aproveitar as bases da argumentação filosófica para poder ultrapassar os obstáculos e resistências com que se irá certamente deparar. Até porque estou certo que terá experiências vividas e presenciadas por si em que este tipo de situações «se passou mesmo assim».
Não deveríamos ter tido formação nesta área nas nossas licenciaturas?"

«Persuacção» à venda na Bisturi

junho 27, 2005

O grande desafio

No suplemento de economia do Expresso deste sábado, Daniel Amaral escreve, na sua coluna «a Força dos Números», a respeito do Programa de Estabilidade e Crescimento 2005/2009:
"Não vale a pena iludirmo-nos. Este PEC é de uma violência brutal. Mas não havia alternativa. (...)
Seja como for, é estranho. Se estamos perante uma política não só necessária como insuficiente, como é que as pessoas a não entendem e respondem com com ameaças, greves e paralisações? (...)
É preciso contrariar esta ideia, e a melhor forma de o fazer é através de uma explicação serena do que está em causa. Um bom programa, para ser eficaz, necessita de uma boa comunicação. Este é o desafio em que o Governo não pode falhar"


Durão Barroso, pouco tempo depois de tomar posse como primeiro-ministro, «pôs merda no ventilador» (como dizia um chefe meu brasileiro) ao proclamar que o país estava em crise. Fiquei arrepiado logo quando o ouvi e lembrei-me das mentiras piedosas dos médicos: se um médico diz a um doente que está a morrer, a angústia, associada à doença, só piora o estado de saúde do paciente.
Uma das muitas coisas que aprendi no curso de Economia da FEUC foi que as expectativas (e a sua gestão) são fundamentais. Se as expectativas dos indivíduos e das empresas forem pessimistas, comportam-se assumindo a expectativa como realidade... transformando assim a própria realidade (causando ou agravando os problemas). Há anedotas engraçadíssimas sobre isto.
Concordo a 119% (100% mais IVA, enquanto não passa para 21%) com Daniel Amaral: é fundamental que haja uma boa comunicação. Com recurso a uma argumentação racional. Evitando cair na «retórica no mau sentido». E o tema do livro «Persuacção» aplica-se perfeitamente à economia política e às finanças públicas.

A quem interessa governantes à prova de lapsos?!

«É um pronunciamento sobre um despacho do Governo Regional de um tribunal dos Açores, que não é de Lisboa nem respeita à República Portuguesa, portanto não respeita ao nosso sistema»
Maria de Lurdes Rodrigues, ministra da Educação
[a respeito de decisões distintas tomadas por um tribunal dos Açores e outro de Lisboa]

O que foi dizer Maria de Lurdes Rodrigues! A comunicação social e os sindicatos caíram-lhe em cima. Mesmo depois de ela ter assumido o lapso.
Aos jornalistas, sindicatos e pessoas que cometeram estas falácias «3 em 1» - peixinho vermelho, ridículo e espantalho - recomendo fortemente que leiam o livro «Persuacção - o que não se aprende nos cursos de gestão»:

Peixinho vermelho – quando alguém introduz algo irrelevante para o tema em discussão, mudando de tópico, como manobra de distracção;

Ridículo – tentativa de reduzir ao ridículo o oponente. Em discussão racional, reduzir ao ridículo é um mecanismo para terminar argumentos, menosprezar o seu oponente e criar inimigos;

Espantalho – pôr palavras na boca do interlocutor, de forma caricaturada (isto é, distorcida ou exagerada), para tornar os seus argumentos alvos mais fáceis de crítica (o espantalho «afugenta» os bons argumentos).

junho 22, 2005

livro/livre

"Li:
«Faça uma crítica literária
Se quiser, envie-ma que eu publico».
Escrevi:O livro sobre o qual estou a tecer esta crítica ainda não existe, relata a história duma tapeçaria feita com os pés e mãos de uma artesã que resolveu contar a sua história: dela e da tapeçaria. Quando acabei a entrevista, tinha um romance dumas centenas de páginas. Guardei-o, uma voz, ainda e só gravada num registo digital onde os dedos apenas foram fazendo pausas na gravação. Não fiz nenhuma pergunta, não foi necessária. Evitem fazer perguntas a esta crítica, é tão crítica que nem o livro de que fala é mais do que uma fala...
Só depois li...
É pois "boa ideia" nada criticar, até ler o livro?
Boa sorte para o dito cujo e seu autor, um abraço.
Francisco Coimbra

P.S. Talvez lhe possa fazer uma entrevista sobre aquilo que não escreveu no livro que escreveu e fez parte "da forma" como escreveu, por certo daria para um livro!"

Meu caro, ainda não foi desta que recebi uma crítica desfavorável.
E esse desafio da entrevista é muito aliciante. Vamos combinar isso?

A Banca e o endividamento das famílias portuguesas

«Há oposição da banca no que respeita a arriscar alguma coisa para as empresas que querem realmente inovar. Naturalmente que se quiserem um automovelzinho , a banca está disposta a fazer umas prestações que eu até penso ‘Que pena não ter de comprar carro porque é uma maravilha’ . É um embuste» - Jorge Sampaio, 2005.06.21

Fiquei perplexo quando ouvi ontem o presidente da República dizer isto. Não por ser uma descoberta revolucionária, pois é demasiado evidente; mas por ter sido dito por quem foi e a quem foi.
É que se a publicidade em geral é uma mina de falácias, no caso da publicidade ao crédito feita pelos bancos salta à vista a falácia da supressão de dados.

junho 13, 2005

Faça uma crítica literária

Se quiser, envie-ma que eu publico.
Ou então, faça-a na página


CriticaLiteraria.com

Terei todo o gosto em transcrever aqui a sua crítica.
Eu já lá deixei «algumas notas do autor».

Mais locais onde pode comprar o livro

Publindústria

Byblos

O livro pode ser ainda encontrado em todas as boas livrarias que tenham livros técnicos. Por exemplo:

Livraria 115



Almedina

Espero que valha a pena...

"Comprei recentemente o seu livro.
Iniciei a sua leitura e estudo. Pelo conteúdo, estou convicto que será um instrumento valioso para o meu desempenho profissional.
Parabéns pela iniciativa e esforço. Bem haja.
José Pinho
recebido por e-mail"

Eu é que agradeço as suas palavras e a iniciativa que teve em me escrever. Isto altera um pouco o estatuto de livro como uma obra solitária (do autor, quando a escreve, e depois do leitor).
Espero que dê por bem empregue o dinheiro que pagou e, já agora, ficar-lhe-ia muito grato se pudesse depois dar-me a sua opinião crítica sobre o livro.
Pela minha parte, estou aqui à disposição.

junho 12, 2005

A política é o domínio por excelência das falácias

O Ministério da Saúde anunciou na semana passada a redução de 6% no preço dos medicamentos.
Como explica Abílio Ferreira no «Expresso» "é uma falácia que assenta em contas erradas. A verdade é que a queda no preço final será inferior a 4%, tendo em conta que o efeito da perda de 2% na margem de distribuição se aplica aos 27% que ela representa no preço de venda. Um medicamento que agora custe € 100 sofre uma primeira redução para € 97, suportada por todos os agentes da fileira, acrescida da quebra de 1% da margem do grossista e de 2% da farmácia. Este efeito vale € 0,50 - o preço final será de € 96,5. A queda é, como é notório, inferior a 4%".

Isto faz-me lembrar, nas empresas, os descontos feitos em vendas por grosso. Por exemplo, "40% mais 20% mais 5%". Parece que o desconto é de 65%, mas quem anda nestas lides sabe que não é nada disso e sim "40% mais 20% sobre o preço com o primeiro desconto mais 5% sobre o preço com os dois descontos anteriores". Por exemplo, um artigo que tenha € 100 de preço de tabela tem um primeiro desconto de 40% - fica a € 60 -, um segundo desconto de 20% sobre estes € 60 - fica a € 48 - e finalmente um desconto de 5% sobre os € 48. Resulta então um preço final de € 45,60. Ou seja, o desconto total foi de 54,4% e não os tais 65%.

junho 11, 2005

Há argumentação nas escolas de gestão

"Caro Paulo, o mundo é uma aldeia ou, como diria um tio meu, Coimbra é que é grande!
Como sabes passei por várias universidades para além da FEUP! Nesta nunca tive nenhuma cadeira relacionada com os temas que referes; nem nesta nem nas outras. Contudo, ao nível de mestrados sim.
Aliás, depois de ter estudado em Coimbra, no Porto e em Lisboa, foi na Católica que encontrei uma escola de livre pensamento, onde os alunos podiam refutar o professor desde que, para isso, apresentassem argumentação sólida e estruturada.
E nada melhor do que fazer business cases em equipa com pessoas de origens académicas e profissionais manifestamente diversas (falo do MBA). Aprendi a trabalhar e a pensar em equipa, a negociar melhor, a argumentar na defesa das conclusões face a uma plateia que, não sendo céptica, era exigente.
De facto, os temas que referes são cobertos nas cadeiras de negociação, ética e outras, não havendo uma cadeira específica para elas.
Termino com uma pequena estória contada por um professor que tinha acabado de regressar de Harvard, onde se doutorara. Dizia ele que na defesa de um trabalho de grupo, um colega pedira desculpa ao professor por apresentar um documento com demasiadas páginas, mas que de facto eles não tinham tido tempo para o sintetizar.
João Mãos de Tesoura"

Meu caro João, eu não digo que nos cursos de gestão não se usa argumentação. Aliás, uma tese é um argumento, não é? O que digo é que não se aprendem as bases e as regras da argumentação. Assume-se - quanto a mim muito erradamente - que os alunos devem saber desenrascar-se por si próprios. Ou seja, pratica-se sem enquadramento teórico. E depois dizemos que os portuguesinhos têm espírito de desenrascanço. E, tal como o vinho, que tanto pode servir para comemorar como para esquecer, essa característica portuguesa tanto é vista como um mérito como uma praga cultural. No meu ponto de vista, é algo que só deveria ser «usado em caso de emergência» e não como se verifica: a torto e a direito.

junho 09, 2005

"a obra deve ocupar a biblioteca joanina de Coimbra"

O João Mãos de Tesoura - que nem sabe ainda que me conhece - fez o seguinte comentário ao livro "Persuacção» no blog Aliciante:
"Pelo título, «o que não se aprende nos cursos de gestão», a obra deve ocupar a biblioteca joanina de Coimbra... e estou a falar só do índice! :D
Não conheço o autor, mas li que tirou o curso em Coimbra o que fará com que esta obra traga capítulos dispensáveis noutras escolas (provocação saudável de alguém da católica de Lisboa, mas com a qual estou certo que o autor concordará). Temos em Lisboa cursos de empreendedorismo, isso sim, fazer com que o curso de gestão crie valor e não somente engenharia de carreira. Alonguei-me, o tema era aliciante! (...) Espero sinceramente que o livro venda muito! Já estou cansado dos gurus das revistas cor-de-rosa de gestão!"


Meu caro João Mãos de Tesoura, só saberei se posso ou não concordar contigo se me esclareceres o seguinte: durante o teu curso, tiveste alguma cadeira (ou um banquinho que fosse) em que abordasses argumentação racional, pensamento crítico, retórica... ou algo deste género? Além da lógica formal nas matemáticas? Se tiveste, óptimo, mas não foi a informação que recolhi enquanto preparava o livro.

junho 06, 2005

A capa do «Persuacção» segundo um especialista

"Desculpe esta intromissão.
Não sendo eu um candidato a gestor, não li o seu livro, mas... olhando para a capa, abria-o de certeza.
Parabéns pelo seu livro e parabéns pela capa.
Boa... em qualquer parte do mundo
ABC Dário"

Este comentário, vindo do designer gráfico que põe as
letrinhas e os objectos a argumentar de forma deliciosa, deixa-me extremamente satisfeito.
A capa foi realizada pela Sílabo com base numa ideia minha. E também acho que está muito conseguida.
Pena é que nas livrarias as obras de gestão não mereçam, em regra, qualquer destaque.

junho 02, 2005

Uma nova colega com os mesmos problemas de todos nós

"Descobri o seu livro nos escaparates da Bertrand e gostei do título que lhe deu. Agora, descubro o seu blog, no qual apenas «surfei» um pouco.
Li a introdução do seu livro e fiquei curiosa pois, de facto, há muita coisa que não se aprende num generalista curso de Gestão...
E, como eu também tirei o curso de Gestão - mas pela excelente escola de Gestão do ISCTE em Lisboa - vou concerteza ler todo o seu livro.
Agora que comecei a trabalhar, tomei noção que existem muitas formas de fazer diferentes das que nós, universitários, aprendemos a fazer. No entanto, também há muitas formas de «dar a volta à coisa» e nisso os Portugueses são especialistas... Criam-se argumentos falaciosos e rebuscados para evitar uma qualquer obrigação, dever, regra, norma ou mesmo lei.
Há que mudar esta tuga-mentalidade com urgência e evitar que a mesma se propague pelas gerações mais novas - a minha...
Basta ceder uma vez para ficarmos na zona de acomodação que criámos em nosso redor...
Não entrando em questões políticas, o Estado tem um papel fundamental nessa mudança: desde a primária, passando pelo secundário e mesmo o ensino universitário, existem muitos acomodados que incutem a inércia e o «desenrasca» aos próprios alunos, pois ninguém os lidera, controla ou avalia.
Se passarmos esta dimensão para os serviços públicos (segurança social, hospitais, IEFP, tribunais, finanças, ministérios, Assembleia da República...) vemos que o caso português é quase clínico, uma vez que se verifica uma desordem, uma desorganização. Tudo porque todos no sistema interno se sentem assegurados, donos da sua secretária e de nada mais. O Patrão-Estado é uma figura intangível que não pune a sério, que até dá subsídios improdutivos mas chorudos, e que nunca vigia atitudes e comportamentos dos altos gestores públicos. Como tal, esses senhores também não têm necessidade de avaliar o que está a ser feito (erros, gastos,...) pelo restante factor humano da pirâmide.
É, de facto, um problema muito sério e que urge ser resolvido!
Cristina Pereira"

Recebido por e-mail

Independentemente dos pontos de vista que se tenha sobre os mais variados assuntos, é importante que se formem com base em premissas sólidas.
Tu mostras com clareza o que eu refiro no livro: dominar as regras da argumentação racional é muito importante para o nosso dia-a-dia pessoal e profissional, em que somos bombardeados com «verdades de fachada».

Mais blogs e navegantes da Web amigos

Bem hajam:

Nikonman, pelas palavras de incentivo e pela divulgação do livro na «Praça da República em Beja»;

Mad, pelos miminhos tão calorosos que me fazes chegar da «Aliciante» planície.

junho 01, 2005

Mais blogs e navegantes da Web amigos

Bem hajam:

Marca (minha colega de curso), que consegue ter mais entusiasmo por este livro que eu próprio. Recomendo uma visita ao seu blog - Marca Dor - onde ela escreve de economia como dos seus próprios sentimentos: "com as marcas do coração";

Encandescente, a quem alguém já chamou poetusa (por ser poetisa do erotismo) e cujo talento vai muito para além da poesia que nos deixa deliciados no blog «Erotismo na Cidade». Que homenagem melhor poderia eu ter dela do que um link para este blog, em que a Encandescente diz "lendo"?

maio 28, 2005

Livro disponível no Clube BPI

O Clube do Banco BPI disponibiliza o livro «Persuacção» para os seus associados.

maio 26, 2005

«Persuacção» no «Diário de Coimbra»

O «Diário de Coimbra», conhecido pelos amigos como «Times» ou «Calinas», publicou hoje na secção "Empresas & Negócios" um artigo sobre o livro «Persuacção».
Aproveito a oportunidade para mandar um abraço ao director, Engenheiro Adriano Lucas, ao chefe de redacção e meu amigo Manuel de Sousa, bem como a todos os jornalistas e funcionários com quem convivi vários anos e tanto aprendi enquanto coordenei o suplemento de economia do jornal: «Centro Portugal Economia».

Blogs e navegantes da Web amigos

Bem hajam:
Gotinha, pelo post que publicaste no BLOGotinha a divulgar o livro «Persuacção»;

São Rosas, que num comentário no Murcon (do Júlio Machado Vaz), referiste este livro, a propósito da polémica da educação sexual nas escolas:
"Não é possível um diálogo racional com quem vê o sexo como pecado e coisa vergonhosa. As falácias são mais que muitas e, como escreve um amigo meu num livro de gestão fresquinho - «Persuacção - o que não se aprende nos cursos de gestão» - se não estivermos prevenidos, caímos sempre em armadilhas da argumentação falaciosa. O livro não é erótico :-) mas recomendo";

Ognid, pelo post da Catedral em que recomendaste a leitura e em que Aziluth comentou:
"Gosto do título. Auguro boas vendas. Tanta gente a precisar de persuasão e ainda mais de acção! Dava certamente jeito ao governo, agora que nos quer impingir a sua persuacção, aliás coacção tributária (entre outras coisitas pouco graves como seja trabalhar mais cinco anitos para chegar à reforma, eu que aos quarenta já começo a vergar...). Seja como for, quero expressar os meus votos de grande sucesso para o livro e antevejo outro público para além do clássico empresarial"

maio 23, 2005

O velho, o rapaz e o burro

"No final do livro, apresenta no apêndice a história «o velho, o rapaz e o burro». Lembro-me de ler isto nos meus tempos de escola, mas sabe quem é o autor?
José Martins
recebido por e-mail"

O texto que ambos lemos nos tempos de escola...

O velho, o rapaz e o burro


Vivia no monte um homem muito velho que tinha na sua companhia um neto. Certo dia o velho resolveu descer ao povoado com o seu burro fazendo-se acompanhar do neto. Seguiam a pé, o velho à frente seguido do burro e atrás o neto. Ao passarem por uma povoação logo foram criticados pelos que observavam a sua passagem:
- Olhem aqueles tolos alí, com um burro e vão a pé.
O velho disse ao neto que se montasse no burro e este assim fez. Um pouco mais adiante passaram junto de outras pessoas que logo opinaram:
- O garoto que é forte montado no burro e o velho, coitado, é que vai a pé .
Então o velho mandou descer o neto e montou ele no burro. Andaram um pouco mais até que encontraram novo grupo de pessoas e mais uma vez foram censurados:
- Olhem para isto. A pobre criança a pé e ele repimpado no burro.
Ordenou então o velho ao neto:
- Sobe rapaz, seguimos os dois montados no burro.
O rapaz obedeceu de imediato e continuaram a viagem mas um pouco mais adiante um grupo de pessoas enfrentou-os com indignação:
- Desçam, homens cruéis, querem matar o burrinho?
Descendo do burro, disse o velho ao rapaz:
- Desce, continuamos a viagem como começámos. Está visto que não podemos calar a boca ao mundo.

O autor desta pérola foi Jean de la Fontaine e a versão original é assim (*1):

Le Meunier, son Fils, et l'Ane

L'invention des Arts étant un droit d'aînesse,
Nous devons l'Apologue à l'ancienne Grèce.
Mais ce champ ne se peut tellement moissonner
Que les derniers venus n'y trouvent à glaner.
La feinte est un pays plein de terres désertes.
Tous les jours nos Auteurs y font des découvertes.
Je t'en veux dire un trait assez bien inventé;
Autrefois à Racan Malherbe l'a conté.
Ces deux rivaux d'Horace, héritiers de sa Lyre,
Disciples d'Apollon, nos Maîtres, pour mieux dire,
Se rencontrant un jour tout seuls et sans témoins
(Comme ils se confiaient leurs pensers et leurs soins),
Racan commence ainsi : Dites-moi, je vous prie,
Vous qui devez savoir les choses de la vie,
Qui par tous ses degrés avez déjà passé,
Et que rien ne doit fuir en cet âge avancé,
A quoi me résoudrai-je ? Il est temps que j'y pense.
Vous connaissez mon bien, mon talent, ma naissance.
Dois-je dans la Province établir mon séjour,
Prendre emploi dans l'Armée, ou bien charge à la Cour?
Tout au monde est mêlé d'amertume et de charmes.
La guerre a ses douceurs, l'Hymen a ses alarmes.
Si je suivais mon goût, je saurais où buter;
Mais j'ai les miens, la cour, le peuple à contenter.
Malherbe là-dessus : Contenter tout le monde!
Ecoutez ce récit avant que je réponde.

J'ai lu dans quelque endroit qu'un Meunier et son fils,
L'un vieillard, l'autre enfant, non pas des plus petits,
Mais garçon de quinze ans, si j'ai bonne mémoire,
Allaient vendre leur Ane, un certain jour de foire.
Afin qu'il fût plus frais et de meilleur débit,
On lui lia les pieds, on vous le suspendit;
Puis cet homme et son fils le portent comme un lustre.
Pauvres gens, idiots, couple ignorant et rustre.
Le premier qui les vit de rire s'éclata.
- Quelle farce, dit-il, vont jouer ces gens-là?
Le plus âne des trois n'est pas celui qu'on pense.
Le Meunier à ces mots connaît son ignorance;
Il met sur pieds sa bête, et la fait détaler.
L'Ane, qui goûtait fort l'autre façon d'aller,
Se plaint en son patois. Le Meunier n'en a cure.
Il fait monter son fils, il suit, et d'aventure
Passent trois bons Marchands. Cet objet leur déplut.
Le plus vieux au garçon s'écria tant qu'il put:
- Oh là ! oh ! descendez, que l'on ne vous le dise,
Jeune homme, qui menez Laquais à barbe grise.
C'était à vous de suivre, au vieillard de monter.
- Messieurs, dit le Meunier, il vous faut contenter.
L'enfant met pied à terre, et puis le vieillard monte,
Quand trois filles passant, l'une dit : C'est grand'honte
Qu'il faille voir ainsi clocher ce jeune fils,
Tandis que ce nigaud, comme un Evêque assis,
Fait le veau sur son Ane, et pense être bien sage.
- Il n'est, dit le Meunier, plus de Veaux à mon âge:
Passez votre chemin, la fille, et m'en croyez.
Après maints quolibets coup sur coup renvoyés,
L'homme crut avoir tort, et mit son fils en croupe.
Au bout de trente pas, une troisième troupe
Trouve encore à gloser. L'un dit : Ces gens sont fous,
Le Baudet n'en peut plus ; il mourra sous leurs coups.
Hé quoi ! charger ainsi cette pauvre bourrique!
N'ont-ils point de pitié de leur vieux domestique?
Sans doute qu'à la Foire ils vont vendre sa peau.
- Parbleu, dit le Meunier, est bien fou du cerveau
Qui prétend contenter tout le monde et son père.
Essayons toutefois, si par quelque manière
Nous en viendrons à bout. Ils descendent tous deux.
L'Ane, se prélassant, marche seul devant eux.
Un quidam les rencontre, et dit : - Est-ce la mode
Que Baudet aille à l'aise, et Meunier s'incommode?
Qui de l'âne ou du maître est fais pour se lasser?
Je conseille à ces gens de le faire enchâsser.
Ils usent leurs souliers, et conservent leur Ane.
Nicolas au rebours, car, quand il va voir Jeanne,
Il monte sur sa bête ; et la chanson le dit.
Beau trio de Baudets ! Le Meunier repartit:
- Je suis Ane, il est vrai, j'en conviens, je l'avoue;
Mais que dorénavant on me blâme, on me loue;
Qu'on dise quelque chose ou qu'on ne dise rien;
J'en veux faire à ma tête. Il le fit, et fit bien. (*2)

Quant à vous, suivez Mars, ou l'Amour, ou le Prince;
Allez, venez, courez; demeurez en Province;
Prenez femme, Abbaye, Emploi, Gouvernement:
Les gens en parleront, n'en doutez nullement.


Jean de la Fontaine
_____________________________
(*1) esta e as outras fábulas de la Fontaine podem ser consultadas aqui.
(*2) la Fontaine ainda se esqueceu de uma outra opção:

maio 18, 2005

O livro já pode ser comprado por aí:

Pela Internet:

Somlivre.pt


Mediabooks



FNAC



Bertrand

As livrarias Bertrand já têm o livro disponível.
Brevemente também em outras livrarias em todo o país...

maio 16, 2005

Falácias formais? Que as há, há...

"No seu livro, refere que as falácias de conteúdo são as que mais facilmente se encontram na argumentação, quando há processos de mudança nas organizações.
De todos os casos práticos que apresenta, só há um exemplo de possível falácia formal (que se verifica que nem sequer é falácia).
Pode dar mais algum exemplo de falácia formal?
Fernando Silveira
recebido por e-mail"


Posso dar-lhe um exemplo recente que tem a ver com mudança organizacional, neste caso induzida por factores externos: o protocolo de Quioto.
As empresas de cerâmica estarão enquadradas na legislação decorrente do protocolo de Quioto (com limites para a emissão de gases com efeito de estufa) se forem "unidades com capacidade de produção superior a 75 toneladas por dia e/ou uma capacidade de forno superior a 4 m3 e uma densidade de carga enfornada por forno superior a 300 Kg/m3" (directiva 2003/87/CE transcrita ipsis verbis para a legislação portuguesa).
Os espanhóis resolveram o problema de uma forma simples: substituíram o «e/ou» por «e» na transcrição da Directiva para a legislação nacional... e deixaram de ter dúvidas. Agora nós: temos A e/ou B e C. Diz o Governo (Instituto do Ambiente) que "basta uma das três condições ser preenchida". Eu digo-lhes que são a A ou a B e também, necessariamente, a C. Mas reconheço que não é claro, também para mim, já que, em rigor, deveria ter «(A e/ou B) e C».
E uma coisa é certa: a condição C não é preenchida por muitas empresas. Pela minha leitura, estariam isentas. Pela leitura do Governo, estão enquadradas porque estão dentro das condições A e B.
Desidério MurchoPedi a opinião a Desidério Murcho: "o governo português parece estar a interpretar a lei assim: A e/ou (B e C), de modo que bastaria ter A para ter de cumprir a obrigação. Haver coisas
destas em legislação internacional é a demonstração de como uma formação elementar em lógica faz falta; pois imagine o que seria um legislador que apresentasse uma lei que dissesse que para se fazer o cálculo de um dado imposto se fazia assim: A + B x C. Claro, neste caso, toda a gente vê logo que há uma ambiguidade porque tudo depende de onde se mete os parêntesis. Com esta bagunça os espanhóis podem defender-se dizendo que a ausência de parêntesis indica que o legislador não pode ter em mente «e/ou» mas apenas «e» pois nesse caso não há ambiguidade por falta de parêntesis!"

Confuso? Também eu! E seria tão simples, se a linguagem utilizada pelo legislador fosse clara, sem ambiguidades...

maio 11, 2005

Sinopse

Persuacção, s. f. forma particular de persuasão tendo uma determinada acção como fim último.

Embora esta palavra não apareça em nenhum dicionário, os gestores praticam-na. Ter consciência disso torna-nos a todos, elementos de organizações, menos vulneráveis às armadilhas de argumentação falaciosa. De que forma? Só lendo...

A mudança nas organizações nunca é um processo meramente técnico e puramente objectivo. Porque é preciso persuadir, provocando ou aumentando a adesão de terceiros, a argumentação para a acção assume uma importância vital para que as decisões – as escolhas – se tornem, na medida do possível, imunes às armadilhas que são colocadas pelos elementos da organização que resistem à mudança.
Estas armadilhas – as falácias – surgem ao longo de todo o processo de mudança: tanto na fase de preparação, como na de implementação e mesmo no controlo. Assumem a forma de argumentos não válidos, seja por sofrerem de vícios formais, de conteúdo ou por não cumprirem as regras de uma argumentação racional. É assim útil o domínio da argumentação – e das técnicas que lhe estão associadas – para desmontar argumentos falaciosos que interessa contrariar, sob pena de se pôr em causa o próprio processo de mudança, por vezes mesmo antes deste se iniciar.
Nesta obra, Paulo Proença de Moura propõe que se estabeleça uma ponte entre a gestão e a argumentação filosófica, para que o agente de mudança adquira competências que normalmente não são contempladas no ensino de gestão em Portugal.
Os vários casos práticos apresentados permitem reforçar a utilidade desta obra e o domínio da argumentação, não só para os gestores, mas também para todos os elementos da organização.

Autor: Paulo Proença de Moura
Editora: Edições Sílabo, Lda.
Preço de Venda ao Público: 16,90 €
Nº páginas: 200
Publicação: Maio de 2005

maio 03, 2005

Boas novas

Recebi hoje esta mensagem da Sílabo:
"os livros chegaram às nossas instalações durante a manhã de hoje".
Habemus libri!

abril 30, 2005

A capa já está decidida

E será esta, o resultado de um trabalho de equipa entre mim, a Sílabo e todos os meus amigos que fizeram críticas e deram sugestões:


Bem hajam.

março 19, 2005

"Falar em público" - crónica de Laurinda Alves na «Xis»

A Laurinda Alves, na sua crónica "À luz do dia" na revista XIS do Público de hoje, escreve sobre a temática do meu livro. Alguns excertos:
«Debater ideias, defender argumentos, sustentar uma polémica, comunicar pontos de vista ou participar numa discussão de forma assertiva e construtiva é um embaraço para muitos portugueses.
(...) O sistema de ensino português tem lacunas graves e não são apenas aquelas que nos habituámos a enunciar. (...) Acontece que, para além das dificuldades clássicas do sistema, existem alguns vazios por preencher e um deles é seguramente o da comunicação. (...) Não existe nas salas de aula um espaço exclusivamente reservado à troca de ideias, ao ensaio do debate ou ao treino da argumentação (...).
Ao contrário do que é comum nas escolas inglesa, francesa e alemã (para dar apenas três exemplos próximos) onde há disciplinas de recitation, treino e improviso retórico, o sistema escolar português não aposta na capacidade de comunicação dos seus alunos.
Ora uma criança ou um adolescente que não aprende a falar em público, que não está habituado a expor as suas ideias perante os outros, que não treina a sua capacidade de argumentação, que não é estimulado no diálogo e é permanentemente poupado ao confronto verbal, é alguém que corre o risco de ficar para sempre amputado de uma faculdade essencial.
Saber comunicar não é um dom de poucos, mas antes um direito e um dever de todos.
(...) Por tudo isto e porque em matéria de comunicação (como em tudo na vida) ninguém nasce ensinado, valia a pena pensar no assunto e rever os currículos escolares na próxima reforma do ensino.»

fevereiro 28, 2005

Quarta-feira, 17 de Dezembro de 2003

Tenho andado tão nervoso...
Vinte anos após ter terminado a licenciatura, foi hoje o dia em que pude mostrar a mim próprio se ainda valho algo em termos académicos. Já que, em termos empresariais, estamos conversados (e a ambiguidade desta frase é propositada).
Para trás, ficou o período lectivo do Mestrado em Ciências Empresariais na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Que ultrapassou as minhas expectativas, tanto pelo curso como por mim. E em que me senti velhinho, ao lado do companheirão António Ricciulli, rodeados que estávamos de colegas recém-ou-quase-licenciados com idade para serem nossos filhos...
Hoje foi o dia da dissertação. Defendi a tese «Argumentação falaciosa e mudança organizacional», onde tentei sistematizar um aspecto que considero importantíssimo para quem trabalha numa organização: o risco quase permanente de se cair em armadilhas argumentativas.


O júri, composto pelos Professores Correia Jesuíno (meu co-orientador, em conjunto com o Doutor Desidério Murcho), Pina da Silva e Fernando Carvalho, foi extremamente atencioso e honrou-me com a classificação de «muito bom por unanimidade».


Recordarei sempre, em especial, algumas das palavras do Professor Correia Jesuíno: «O seu trabalho abre uma caixa de Pandora» e «convido-o a ir mais longe». Uma grande responsabilidade para mim.

fevereiro 12, 2005

Sábado, 18 de Julho de 1983

Levantei-me às 7h30, tomei o pequeno-almoço no quarto e deixei um papel na porta a dizer:

"o doutor Moura vem já!"

Fui para a faculdade de Economia fazer o meu último exame da licenciatura, que me correu bastante bem.
Coimbra hoje até me parece mais bonita. Será o encanto da hora da despedida? Alguma vez terei saudades dos galinheiros em que tínhamos aulas?...
Telefonei para Caria. O meu Pai atendeu-me. Não estava à espera do telefonema.
Passei o resto do dia com a Luísa, que regressou hoje de Trancoso. Fui buscá-la à estação, almoçámos, num banco do nosso Jardim da Sereia contámos as nossas histórias e voltámos cada um para sua casa, porque ela ainda tem que estudar.
Jantámos juntos na cantina, passeámos um pouco e comemos um gelado no "Troika".
Deitei-me com uma sensação estranha... esta de "ser doutor"...