março 01, 2012

«Capitalismo democrático/ Mercado social. Capitalismo e Pobreza» - Jaime Ramos

Não defendo um capitalismo selvagem, liberal. Sou pelo capitalismo democrático, com preocupações sociais. Defendo um regime que assente na propriedade privada, nas diferenças entre iguais, com ideais de justiça social.
Quero uma sociedade justa, fraterna, solidária, cristã no amor ao próximo, que não precise de grandes catedrais de poder para se fazer respeitar.
Não sou um darwinista social. Recuso uma sociedade onde os mais fortes dominam e impõem a sua força, aniquilando os mais frágeis. Sou por uma sociedade que permita a evolução dos melhores, controlada por regras que não deixam esmagar os mais fracos.
No capitalismo democrático, as pessoas têm acesso a um espaço de liberdade nunca conseguido em qualquer outro regime político e económico. Não acredito no sucesso de um capitalismo sem liberdade pelo que aguardo o evoluir da experiência chinesa. O futuro da ditadura chinesa será o fragor da destruição do Estado e a falência da economia ou uma evolução para a democracia a exemplo da passagem do comunismo maoísta para o actual modelo capitalista. Sonho com a implementação da democracia na China. Quero estar cá, para ver e festejar.
No dia em que caiu o Muro de Berlim, tive a sorte de almoçar com o Prof. Barbosa de Melo, ex-presidente da Assembleia da República, homem de cultura, excepcional contador de histórias. Espero poder festejar, com excelentes companheiros, o nascer da democracia na China.
Capitalismo é liberdade porque não dependemos de um Estado central, não dependemos de uma autarquia, de uma empresa, de uma organização espiritual ou sem fins lucrativos.
Um cidadão funcionário público trabalha para um Estado laico, onde é livre de ter fé ou não, de ser egoísta e só pensar em si, de dedicar tempo e dinheiro às causas sociais. Num regime de capitalismo democrático, ninguém, nenhuma instituição, é dona de nós. A liberdade é um bem disponível, que até podemos prescindir de usar, ou mesmo abusar… A única condição é não violar a liberdade dos outros.
Quero um sistema capitalista onde possamos ter o ideal de desejar o bem do outro. Onde cada um não pense só em si.
O objectivo da política é conseguir que as pessoas vivam melhor, permitindo que sejam mais felizes.
Um sistema económico, para ser eficiente e aumentar a sua eficácia, tem de saber libertar as pessoas, descobrir o que há de melhor em cada um, rentabilizar as diferenças e a criatividade.
Pela mesma razão defendo um sistema de ensino que descubra os melhores, que não despreze o talento, que seja instrumento de um sistema económico que permita criar riqueza, sem agravar as desigualdades. Em simultâneo, ao querer a liberdade, para despertar a criatividade e as potencialidades de cada um, para aumentar a produtividade, temos de ser capazes de refrear os instintos de tudo ter, de nada ceder aos outros. Temos de saber criar regras que impeçam a lei do mais forte e o “gangsterismo” ganancioso, sem escrúpulos.
O capitalismo democrático está para o desenvolvimento da humanidade como o sexo para a evolução das espécies.
Da mesma forma, quer no capitalismo quer no sexo, temos de conciliar liberdade com respeito, criatividade, imaginação e desejo sem violência, sem abuso nem violação. Amar as pessoas não é apreciar a sua tendência natural para o pecado e para o abuso da força. Devemos valorizar o humanismo, a inteligência libertadora, que nos possibilita o desejo de fazer bem.

Jaime Ramos
Excerto do livro «Não basta mudar as moscas»

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