março 05, 2012

país anestesiado

Com a devida vénia, aqui fica um texto do nosso amigo casp, que merece apurada reflexão:

Nos dias finais do ano 11, eu que só costumo ver o Telejornal, futebol e um ou outro programa previamente escolhido, comecei a ficar estupidamente com os olhos colados ao ecrã devido a algumas peças relacionadas com a protecção aos nossos idosos, chegando a enternecer-me com o tratamento que as forças policiais lhes davam, o modo como lhes batiam à porta, o chamamento pelo nome os beijinhos e as palavras carinhosas que lhes dirigiam; eu que sempre afirmei e ainda afirmo que polícia amigo é moeda falsa, eu que agentes de autoridade bem fardados ou à paisana não os quero ver nem de perto nem de longe, comecei a vê-los com outros olhos e a acreditar que alguma coisa estava a mudar, e bem, para os nossos idosos; numa outra peça filmada em Lisboa, fizeram - me crer que a maioria dos idosos a viverem sós estavam recenseados e com um dispositivo em casa que em momento de aflição podiam contactar alguém que do outro lado lhes responderia e lhes resolveria qualquer problema; isto sim era qualidade de vida para quem toda a vida trabalhara e merecia a ser amparado e respeitado até ao fim.
De repente, depois de ver notícias tão belas, numa semana falecem treze idosos que, provavelmente, pensei, não estarem recenseados, mas algo me começou a cheirar a esturro e ao comentar as treze mortes repentinas a uma amiga ela respondeu -  me: pelo que de ti conheço, tens mil anos, e se te cheira a esturro deves ter razão! E tinha, porque abruptamente somos confrontados com a notícia de que entre os dias 13 a 19 de Fevereiro faleceram três mil pessoas 95% das quais idosas; o George da saúde aparece na T.V. a dizer que morreram de gripe mas iria ser levantado um inquérito e logo se saberia a razão do acontecimento; de certeza que o inquérito vai ser levantado aos falecidos porque isto de inquéritos nunca sabemos as causas finais.
Alguém ouviu o ministro da saúde falar em surto gripal?
Alguém ouviu o P.R. na recente conferência de imprensa falar em três mil mortes?
Alguém do governo nos olhou olhos nos olhos e falou no assunto?
Claro que não, eles sabiam que o pior ainda estaria para acontecer ou já tinha acontecido? Não divulgaram absolutamente nada porque de imediato seria acusados desta mortandade devido às medidas de austeridade por eles implementadas; notícias tão nefastas teriam de sair a conta - gotas, teríamos de ser anestesiados para que se evitasse um levantamento popular; foi o que eles decidiram naquela reunião de fim - de - semana da qual nunca ninguém soube o que tinham discutido.
Quando estava para encerrar este escrito, ontem dia dois de Março, vi em roda pé na T.V.: Em 15 dias morreram 3.110 idosos, serão estas mortes para somar aos 3.000 da semana 13 / 19? Com as nefandas não-notícias-conta-gotas que nos têm facultado está, quanto a mim. instalada a confusão, 3.110 ou 6.110?
Convém lembrar: há dois anos, aquando do surto gripal, faleceram1960 pessoas de todas as idades espaçadas por três meses e não apenas numa semana. O que se passou afinal?
Corei de vergonha e raiva quando ouvi uma pseudo-jornalista falar em 3.000 mortes, e de caminho aconselhar: mantenham a vossa casa à temperatura de 22 graus, bebam coisas quentes e agasalhem-se. Se ela fosse procurar saber em que condições morreram tantas pessoas, faria jornalismo, mas não, limitou-se a transmitir a voz dos donos que ainda não tiveram a coragem de nos dizer a verdade.
A verdade digo-lhes eu:
Os nossos velhos morreram porque desde sempre pedem licença para viverem.
Os nossos velhos morreram porque têm reformas miseráveis.
Os nossos velhos morreram porque lhes retiraram o resto da dignidade com a austeridade.
Os nossos velhos morreram porque recearam o aumento da renda de casa.
Os nossos velhos morreram porque lhes retiraram o direito à saúde com taxas moderadoras.
Os nossos velhos morreram porque a fome lhes bateu à porta.
Os nossos velhos morreram porque lhes aumentaram a electricidade que os defendia do frio.
Os nossos velhos morreram porque até ao fim ajudaram os filhos que estão no desemprego.

                                                                                                                     Oeiras, 03/03/2012
                                                                                                                                casp

2 comentários:

  1. Não é que o assunto mereça louvores, mas a forma como foi exposto, merece-os sem dúvida!
    Subscrevo a 150% mais I.V.A., e se for capaz tecnicamente de o fazer, vou atirá-lo para outras bandas internéticas, se assim não acharem mal... para que outras pessoas o conheçam...

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    1. Mal?! Só podemos achar bem. Este texto é para divulgar, pois.

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