Tenho muito cá para mim que, em Portugal, o sistema geral de prestação de cuidados de saúde, desde que o dinheiro directo do paciente não se imiscua, vive algures entre o activo tóxico e o síndrome comatoso…
Vem isto a propósito de (mais) um episódio recente que envolve um familiar muito próximo e que não resisto a divulgar, para memória futura ou para algum ouvido atento, tentando eu ser muito breve e sintético.
Então, é assim: este meu familiar, bem passado dos sessenta, morador na região da chamada Grande Lisboa, padece de hérnia inguinal, não grave, nem urgente, mas recomendada para cirurgia, a curto prazo.
Pelo caminho, o Médico Assistente, no SNS, informa-o que, já que se apresta a levar a facadita, o melhor seria torná-la extensiva a uma próstata que começa a fazer-se sentir e, aproveitando a operação e a proximidade dos males, fazer o que pode chamar-se de dois em um, com plena propriedade.
Enfim, a próstata não seria urgente… mas, já agora, que se anda por ali, já com a incisão feita e tal…
Plena concordância do meu familiar e vamos a isto!
Espera que não espera, passam dias, passam meses, passam anos, até que é convocado para uma entidade privada para se realizar a operação patrocinada pelo SNS… à próstata, que a hérnia, não, ali não estavam equipados para a fazerem.
Vai, então, o meu familiar ser operado a uma próstata que não era premente, por causa uma hérnia, que afinal ainda não vai poder tratar. Como é delicada a saúde em Portugal!
Lá é operado, espera mais uns mesitos e, certo dia, em viagem pelo País, recebe um telefonema a dizer-lhe que, se quiser (?) ser operado à hérnia, terá de comparecer nesse mesmo dia em determinada unidade de saúde de Lisboa. O que não era exequível, como ele teve oportunidade de fazer notar ao interlocutor. E lá ficou mais uns meses largos à espera.
Passados que são já dois anitos da operação à próstata, da qual nem precisava muito e continuando a habitar em Lisboa, enviam-lhe agora uma carta para ser internado e operado à hérnia… em Cantanhede, a quase 300 km de casa!!!
Ora, eu sei que há zonas sazonais para coisas como a lampreia, a perdiz, o IRS, etc.; julgo saber, também, que Cantanhede é afamada pelo seu vinho e pelo leitão, agora o que eu não sabia era destas potencialidades particulares de Cantanhede para as hérnias.
Ah, se for preciso, até pagam as deslocações ou arranjam transporte… Claro, pagamos todos, por isso nem se nota.
Se isto não envolvesse algum dramatismo seria risível. Mas como não é trágico, é apenas estúpido.
O que teremos nós TODOS andado a fazer a Portugal para convivermos tão assiduamente com este tipo de idiotices institucionais e perdulárias?
(Continua a haver uma coisa que muito me perturba: como é que um gajo não há-de dizer mal «disto»?)
(Continua a haver uma coisa que muito me perturba: como é que um gajo não há-de dizer mal «disto»?)
Isto é pornográfico, carais!
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