Vem aí, no próximo dia 22, uma nova greve geral. Pelo menos, assim está anunciado.
Aprontam-se, uma vez mais, os comentadores mais ou menos liberais ou das diversas nuances da direita, se quiserem, a iniciar qualquer comentário com o hipócrita, ainda que cauteloso, lugar-comum à guisa de intróito: «- Sem querer negar o inalienável direito à greve…, etc., etc. , etc.», cabendo em todos estes et coetera, as verborreias mais demagógicas ou retrógradas que imaginar se possa no sentido de denegrir o acto cívico e constitucionalmente consagrado.
À esquerda, para além do consabido cumprimento de receitas que nos chegam já dos egrégios avós – que, aliás e pelo que se vai vendo, não hão-de guiar-nos à vitória… – , legítimos e legitimados por tanta abnegação, solidariedade e sangue derramados no longo caminho da História, não se vislumbra golpe de asa que nos aponte caminhos de outros voos, que nos afastem do atoleiro em que estamos.
Receio bem, com estas apreciações, deixar-me eu resvalar para a apologia do pântano da anarquia e do caos, tão pouco apelativos para a imensa mole humana a que pertencemos, mas a verdade é que, após cada acto cívico e de luta como o que se aproxima, me fica depois uma sensação de vira-o-disco-e-toca-o-mesmo – expressão que hoje não dirá nada às novas gerações, mas que é bem conhecida dos cinquentistas, sessentistas e setentistas que ainda por cá andamos. Gerações do vinil, dir-se-ia.
Veja-se, como mero exemplo, o caso das históricas mega-manifestações dos professores, nas convulsões agónicas do recente período «socrático», abafadas pelo silêncio e omissão criminosos do governo de então e, afinal, completamente inconsequentes no que toca ao rumo sindical a que a coisa levou, em absoluta néscia ou não menos deliberada e, assim, criminosa descapitalização de tanta e tão grande mobilização de uma classe profissional, porventura a maior do País que somos.
Na verdade, parece que basta um governo impopular, qualquer que ele seja, constituir-se como peso morto e sem resposta para, pelos vistos, qualquer manifestação – onde se inclui a greve – deixar tudo e todos indiferentes. Ainda que sempre em pior estado, pois a História, tal como o tempo, não pára e são especialmente duros com a inércia.
No entanto, bastaria que os professores anunciassem uma greve às notas dos alunos – como já ocorreu, pelo menos em termos de ameaça – para logo cair o Carmo e a Trindade!
Ocorre-me, até, uma greve à cobrança de bilhetes nos transportes, que se fez em tempos já longínquos, mas que motivou um ouriçamento desusado por parte do governo de então.
Ocorre-me, ainda, uma velha luta, hoje abandonada, que consistiria em promover aumentos salariais mais equitativamente distribuídos, em função da massa salarial disponível, e não os injustos e tão cómodos aumentos com base percentual, que levam a que, após intensos meses de negociações, venham a ser mais beneficiados os que mais avessos são à boa conclusão dessas negociações.
Parece-me, pois, que aqui é que residirá o busílis da coisa: há que sermos capazes de descobrir novas pontas a esta meada emaranhada que nos constrange; há que sermos, aqui também, criativos e originais e dar a porrada no sítio onde dói e faz mossa e não desperdiçarmos mobilizações e ímpetos revolucionários ou de mero descontentamento em mezinhas que se revelam invariavelmente ineficazes e inócuos… e que o «capital» agradece.
O Estado ou o governo que em cada momento o representa, enquanto representante zeloso desse «capital» e não do povo que supostamente devia representar, agradece, também, reconhecidamente… e aproveita para agravar os impostos
Isto tudo, claro, sendo obviamente a greve, também, um direito inalienável dos cidadãos…
Sobre isso de fazer algo onde doa a quem decide, de forma criativa, já me soa bem.
ResponderEliminarGreves... já sabes a minha opinião: acho que batem onde não devem...